Cigarette Daydream [Baeksoo]

By soosaturn

1.4K 165 121

[Apocalipse Zumbi!Au] Kyungsoo era um ranzinza líder de esquadrão que, em uma missão para recuperar a comida... More

Did you stand there all alone?
You sigh, look away
You can drive all night
Funny how it seems like yesterday
Cigarette Daydream pt.2

Cigarette Daydream pt. 1

143 14 5
By soosaturn

5



Os primeiros meses


— Você tem certeza que está melhor? Pra mim, parece que você só está tentando sair da cama. — Kyungsoo arqueou uma sobrancelha. Baekhyun bufou e cruzou os braços.

— Eu estou bem, merda. Capitão, eu já não te falei que não sou nem um pouco frágil? — Ele utilizou um tom zombeteiro. O mais velho massageou as têmporas.

— Baek, olha... — Usou um apelido. Era estranho ouvir seu nome sair de forma carinhosa pelos lábios do líder, mas ele apreciou aquilo. Desejou ouvi-lo mais vezes. — Eu quero que você fique melhor, está bem? Quero que você trabalhe, lute, mostre a sua força. Mas, isso não vale de nada se você cair na cama de novo. Por isso, senta essa bunda no sofá e vai descansar.

Ainda com os braços em frente ao corpo, ele riu. Com humor, dessa vez. O Do não imaginou o por quê de tal gesto e até pensou que o Byun estava caçoando de si novamente, mas não era o caso. Baekhyun riu porque, de fato, havia ficado feliz com a preocupação alheia. Parecia até Baekbeom, colocando o dedo em frente ao seu rosto e lhe gritando para ir tomar banho antes que escurecesse. Com a ideia na cabeça, ele obedeceu, mas, antes, ignorou o próprio ego sendo dizimado e disse:

— Dorme comigo. Que nem fez da primeira vez. — O capitão arqueou uma sobrancelha. — Não me olhe assim! É só que… Eu já passei tempo demais sozinho. Tenho medo de que possa terminar assim novamente. Não me deixa sozinho, Kyungsoo.

O capitão revirou os olhos. Estava indiferente em relação ao pedido do outro. Era estranho e realmente não estava acostumado com tal coisa. Sehun não era daquela forma, normalmente o mesmo apenas virava as costas ou dormia no sofá. Todavia, sentia que precisava acatar o desejo de Baekhyun.

— Tá. — Estalou a língua. — Você me dá tanta dor de cabeça, hein, Baek? — O mais baixo riu novamente e, após dar a língua para o capitão, virou as costas para o mesmo. Naquele dia, dormiu com um sorriso no rosto. 

Kyungsoo não sabia, mas era a primeira vez que o Byun dormia profundamente sem a presença de algum remédio vencido ou algo do tipo. Talvez, no fim, a doença que lhe atingiu não fora uma infecção e sim um resultado daquilo que havia causado à si mesmo. Se tivesse prestado mais atenção em Chanhyuk, se não estivesse drogado com as pílulas que achou na farmácia que ficava grudada em sua casa, iria perceber que o menino estava batendo com um brinquedo de carrinho na madeira podre de seu quarto, teria visto ela se partir, o menino se assustar com o barulho e correr para o sótão, onde ele achava ser seguro. Baekhyun havia dito aquilo: se ouvir um som assustador e alto, corra para o lugar mais alto que puder encontrar!

Ah… Se não estivesse perdido em seu próprio mundo, teria visto seu pai e sua mãe o arranharem e morderem. Quando percebeu, já era tarde demais, a pele de seu corpo pequeno quase já não existia. A culpa era sua, ele e Baekbeom não conseguiram matar os pais, então os prenderam no sótão. A criança estava tão vulnerável com as lágrimas de dor em sua face…

Era assim que os monstros faziam. Primeiro, arrancavam a superfície, a pele e o que viesse com ela. Depois, faziam esforços para morder os ossos e por aí ia, até tudo que restasse fosse o sangue derramado e, talvez, mais um dos mortos que andavam. Acabou com a dor de Chanhyuk e usou aquela arma pela primeira vez naquele dia.

Chanhyuk fora o primeiro amor que Baekhyun matou com aquela arma, mas ele não seria o último.

Baekhyun, Kyungsoo. Kyungsoo, Baekhyun.

— Ei. — Baekhyun chamou a atenção do líder. O mesmo soltou uma risada escandalosa quando o cheiro de queimado invadiu suas narinas. — Tomara que engasgue na fumaça, seu desgraçado, eu estava tentando fazer miojo, mas esse fogo cozinha muito rápido.

— Como se queima miojo, Hyun? — Negou com a cabeça e puxou o isqueiro do jeans. O mais novo achou que este fosse acender mais um de seus cigarros, mas o mesmo apenas pôs o fogo no papel novamente e acendeu o fogão de lenha. — Eu disse que iria fazer a janta, não disse?

— Eu queria fazer ela por mim mesmo, assim poderíamos comer juntos e você não ficaria tão cansado. — Suspirou e jogou a panela na pia com raiva. — Merda. Gastei a porra do último pacotinho.

— Você é bem boca suja, hein? — Repreendeu. — Relaxa, garoto. É só miojo, tem em qualquer casa. Eu trago um pra você quando voltar da viagem. De que sabor você prefere?

— Carne.

— Que mau gosto, Baekhyun… — O Byun lhe levantou o dedo do meio. — Espero que você não fabrique carvão com o próximo pacotinho que eu trouxer.

— Seu filho da puta, eu vou te enfiar nesse fogão de lenha! Eu sei muito bem como fazer miojo, Kyungsoo! Eu só… perdi o jeito.

— Claro, claro… — Estalou a língua de modo zombateiro. Novamente, o mais alto lhe ergueu o dedo do meio.

[...]

— Eu odeio limpar o chão. Aliás, eu acho que aquela cabra me odeia, sabia? Ela quase me deu um coice hoje cedo. Eu nem sabia que cabras davam coice. — Massageou os braços. Estava sentado sobre o sofá de sua nova casa. — Aliás, eu estava esperando para te contar, Kyungsoo, Clarice não é nome de cabra.

— E quem é você para decidir o que é nome de cabra e o que não é? — Arqueou as sobrancelhas. — Clarice é nome de cabra.

— Não, não é! Clarice é nome de, sei lá, pessoa! Cabras são chamadas de… cabras. — Tossiu.

— Você está bem, garoto? Não vai ficar doente. Lembra de como você chegou aqui? Estava quase morto, parecia um zumbi! — Riu com a comparação. — Vê se não pega muito sereno. E para de reclamar do trabalho, é melhor que ficar semi-morto na cama.

— É só um resfriado.

— Vou pegar um remédio pra você. — O capitão se aproximou e pôs a mão em sua testa. — Aí! Tá com febre! Olha só, Baekhyun, se você morrer depois de tudo isso, eu juro que dou três tapas na sua cara quando você virar morto-vivo.

— Não precisa de remédio. Odeio o gosto daquela droga. Eu só tomo se você admitir que Clarice não é nome de cabra.

— Mas por que isso? É o nome dela, coitada! Deixa a porra do nome da cabra, Baekhyun!

— Não é nome de cabra e ponto. — Kyungsoo suspirou, se dando por vencido. Só precisava fazer com que o mesmo tomasse o remédio, após, iriam conversar sobre Clarice novamente.

— Certo, certo. — Ele sorriu. — Podemos chamá-la de Joohee.

E a cara de bravo que o Byun fez fora impagável. Tanto que o líder se permitiu rir alto, deixando o mais novo ainda mais puto da vida com aquela situação.

Tempos que não voltam reprisam em nossa cabeça. A pior tortura é a lembrança e a saudade interminável.

— Ah, Baekhyun. Você beija muito bem, sabia? — Ele assentiu. — Convencido.

— Eu não tive muita gente pra praticar, mas agradeço o elogio, capitão. — Sorriu, travesso, jogando o corpo para o lado do de Kyungsoo. — Você é muito verbal, sabia?

— Sou? — Franziu as sobrancelhas. — Nunca reparei nisso.

— É, sim. E eu meio que odeio e amo isso. Eu sou verbal também, costumo falar o que penso assim que me vem à cabeça. — Riu. Estava encarando o teto da casa do Do enquanto falava, e o capitão percebeu um brilho incomum em seus olhos. — Não conte isso pra ninguém, Kyungsoo, mas… Eu queria ser contador.

— Contador? 

— É. Eu queria ter uma vidinha chata, sabe? Queria me acostumar, criar uma rotina e raramente sair dela. É estranho, mas eu acho o chato bom o suficiente. Eu não era muito ambicioso, eu só queria ser mais um, vivendo uma vida tranquila até ficar velho. — Encarou os olhos curiosos do líder ao seu lado. — Não combina muito comigo, mas a gente muda com o tempo, mesmo.

— E agora?

— Hm? Como assim? — Inquiriu.

— O que você quer ser agora? — Ele se acomodou melhor e pôs as mãos em sua bochecha.

Andavam fazendo aquilo cada vez mais, de vez em quando, conversavam sobre coisas importantes. Kyungsoo colocava a mão em sua bochecha quando queria prestar mais atenção em suas reações.

— Eu só quero sobreviver. Só isso. — Suspirou. — Acho que ainda não sou muito ambicioso, não é?

— Não, não é. — Sorriu e deslizou o polegar para o queixo, onde observou a pintinha que Baekhyun tinha abaixo dos lábios.

— O que você quer ser? — Devolveu a pergunta.

— Eu? Ah… — Mordeu o lábio inferior enquanto pensava. — Eu quero ser o líder. O capitão. Até o final.

— Até o final?

— Sim. Quero morrer e ser lembrado, ao menos por alguém.

— Acho que entendo agora, então.

— O quê?

— Bom… — A mão do outro agora estava em seus cabelos, fazendo um cafuné gostoso. — Você não está colocando os outros acima de si. Você está… sabe… tentando ser alguém para cada um deles?

— Não. Está errado, desculpe. — Baekhyun resmungou. — Quando eu era criança, queria ser um super herói.

— Mesmo?

— Sim. Até hoje, isso não mudou. Só preciso da capa vermelha e do cabelo preto lambido em gel. — O Byun riu. — A questão é que… Eu posso fazer algo significante, eu acho.

— Acho que você já é alguém significante, não? — Sorriu, bobo. — É alguém significante para mim. E se um dia eu descobrir que você é o amor da minha vida? É algo a se pensar. Isso significaria que você já é alguém significante. Pra uma pessoa só, mas é.

— Se eu fosse o amor da sua vida… — Estalou a língua. — Você seria o meu?

— Claro que sim, não é dessa forma que funciona? — Revirou os olhos.

— Gosto de pensar que é mais complexo que isso. Seria simples demais se só existisse um amor pra nossa vida, né? E talvez nem todo mundo sinta o mesmo. — Continuou com o carinho nos fios do outro. — Se eu fosse o amor da sua vida, Baekhyun, você seria o meu?

Demorou alguns segundos, mas respondeu.

— É, acho que sim. Você é a única coisa a qual eu tenho certeza, agora.

Atualmente








Os meses haviam passado rápido. Desde a visita de Baekbeom a seu irmão, três. Baekhyun, nas semanas seguintes daquele evento, se sentiu deveras culpado ao guardar aquele vidrinho no fundo de seu armário. Não iria matar Kyungsoo. Não conseguiria, mesmo se tentasse. Sempre que se lembrava das palavras do Byun mais velho, seu peito parecia que iria explodir e o almoço ou janta, normalmente, era jogado totalmente para fora, pois seu estômago parecia embrulhar completamente. Por aquela razão, evitou a todo custo pensar em Baekbeom, e também não contou nada para o Do. Era demais para aguentar, mas iria o fazer.

Na verdade, havia dito coisas importantes para o mesmo, sim. Se lembrava de que, há algumas semanas atrás, havia falado sobre suas cicatrizes novamente, dessa vez, a verdade. Gostou de como ele reagiu, não foi o mesmo Do Kyungsoo de quando o conheceu. Achava que o mesmo fosse ficar louco para pegá-los, que iria pôr a vida dos outros acima da sua novamente, mas não fora o que fizera. Ele lhe confortou, finalmente, parecia ter percebido que o importante naquele momento era o Byun e não os bandidos da tal tatuagem. O capitão pareceu gostar de passear as palmas por suas costas e arranhá-las, pois passou a o fazer com mais frequência após sua confissão. Sentia que o líder queria cobrir as marcas em sua pele com suas unhas. É, com certeza era melhor admirar os arranhões avermelhados e se lembrar da noite que tiveram, ao invés de se recobrar dos bandidos. Baekhyun também havia descoberto sobre a curta relação que o Oh e o líder tiveram, mas não realmente deu alguma atenção para aquela informação, não era importante, de toda forma.

Apesar da ameaça do irmão, o Byun assumiu que ele estava apenas blefando sobre a invasão a comunidade. Três meses haviam se passado desde aquele dia, e o mesmo não deu nenhum sinal de vida. Talvez fosse melhor daquela forma.

— Você estudava no CNCS? — Baekhyun inquiriu. Estava deitado, novamente, sobre o acolchoado do Do, com a cabeça apoiada no peito deste.

— É, eu estava no segundo ano, eu acho. Você queria entrar lá? — Ele concordou, animado.

— Sim! Eu estava estudando pra fazer a prova de admissão em setembro! — Sorriu, envolvendo o outro com as pernas. — Acho que iríamos nos encontrar de qualquer forma, não é?

— A vida foi um pouquinho mais cruel, mas sim. Não seria melhor se tivéssemos nos conhecido nos corredores do colégio? — Kyungsoo estava com uma espinha na testa e, mesmo tentando, o Byun não conseguia desviar a atenção.

— Talvez a gente não terminasse juntos. Eu era bem feio. — Balançou a cabeça ao se lembrar de seu cabelo tigelinha. — Deixa eu estourar? — Perguntou, se referindo à espinha.

— Não. — Escondeu a mesma com o cabelo e virou as costas para o outro. — Deixa a minha espinha, cara.

— Deixa de ser fresco, é só uma espinha e está muito feia. Deixa eu mexer, vai. — Cruzou os braços.

— Hyun, tira essa sua bunda seca de cima de mim e me deixa voltar a dormir. E não ouse encostar na minha espinha. — O Do, ainda de costas, fora puxado pela cintura pelo Byun, que lhe pôs sentado em seu colo. Kyungsoo estalou a língua em reprovação.

— Deixa de implicância com a minha bunda, tá, ela não é gigante que nem a sua, mas e daí? Você não reclamou na hora de bater nela.

— Eu preciso me levantar, sabe que horas são? — Tentou sair da cama, mas fora puxado novamente pela cintura e jogado de bruços na cama. — Eu te odeio, Baekhyun. Cai fora de cima de mim, anda! Eu tenho trabalho a fazer.

— Shh, você é o queridinho do chefe, ele não liga se você faltar um diazinho… — O outro bufou.

— Se eu sou o queridinho, é justamente por não faltar o trabalho. Agora levanta daí, anda, anda! — Baekhyun resmungou e rolou para o lado, deixando Kyungsoo se levantar e ajustar a camisa do Byun em seu corpo. — Quando é que você ficou tão confortável, hein? — Ele se esfregou nos lençóis e apoiou o nariz ali, encarando o outro de canto de olho.

— Você me faz sentir em casa. — Abraçou o travesseiro. — Eu te contei sobre como meu pai era, não contei?

— Sim.

— E sobre minhas namoradas?

— Também.

— Sobre meu irmão mais novo? — Outro parou para pensar.

— Não, você nunca fala muito sobre ele.

— O nome dele era Chanhyuk, Kyungsoo. Ele era só um bebê quando tudo começou. Ele morreu quando era criança. Foi mordido, e eu me senti muito culpado, porque… Eu era praticamente o pai dele. — Suspirou.

— Por que isso, do nada?

— Porque eu quero que você saiba tudo sobre mim. — O capitão estava lhe encarando, receoso. — Quero que saiba quem eu sou.

Era de manhã. O sol estava forte e, mesmo que ambos estivessem acordados a pouco tempo, Baekhyun não estava grogue quando disse aquilo. Cem dias era muito tempo, muita coisa havia acontecido. O capitão e ele… Era complicado. Kyungsoo lhe levava para ver as crianças na escola, de vez em quando, saíam com o carro para arrumar suprimentos, e também bebiam juntos no bar dali. Todavia, o Byun ainda tinha a preocupação de seu irmão, que pesava como uma pedra em sua cabeça a todo momento. Queria muito contar a verdade, mas o Do iria ficar puto consigo e talvez nunca voltasse a lhe abraçar como fazia quando ouviam música, quando paravam no meio de uma estrada abandonada só para escutar a chuva e conversar sobre coisas banais, como se o mundo não estivesse acabando ao seus arredores. Era como se realmente tivesse um futuro à frente e realmente não queria estragar aquilo. Era especial para si.

— Eu já disse que confio em você, não disse? — Deu a volta na cama e recolheu sua calça jeans que estava jogada por ali. — Não preciso saber quem você era, Baekhyun. Eu sei quem você é agora.

E a consciência pesou novamente, mas a mentira não foi desfeita. Sentiu, novamente, o peito queimar, a boca secar e a pele empalidecer. O enjôo tomou conta de si e a sensação do nervoso ia tomando dominando de cada partícula de seu corpo a cada segundo que passava desviando o olhar do de Kyungsoo.

Então, subitamente, sentiu um selar casto em sua testa, seguido por um carinho em sua bochecha. Era algo simples e singelo, mas a textura da pele quente contra a sua o acalmou. O lugar ao lado do seu na cama fora ocupado, e a mão em sua bochecha acabou em sua nuca, com seus cabelos escapando pelos dedos. O líder enrolou as pernas e braços ao redor do pescoço e cintura do outro e suspirou. Já estava acostumado com o Byun subitamente tenso, e por mais que tentasse descobrir o porquê, não iria invadir o espaço do garoto.

— Acho que ele não vai se importar se eu faltar um dia.

[...]

Jongdae amava sua família. Quando seus pais faleceram, nunca achou que seria capaz de amar alguém com tanta intensidade novamente, mas, agora, com Seiji, Sara e o bebê, estava, realmente, feliz. Às vezes, o Kim pensava em como seria quando o filho mais velho crescesse e tivesse que ensiná-lo a como era o mundo antes de si. O que era um vídeo game? Escolas? Religião? Ah, finalmente, Jongdae entendia. Antes do apocalipse, passavam tempo demais discutindo coisas banais. Alguns ainda se prendiam àquilo, mas muitos já haviam realmente desistido não só das descrenças, mas também de suas próprias vidas e vontades.

— Quando você acha? — Perguntou, aflito. O aperto de Sara em sua mão ficou mais forte. Conseguia ver o lapso do medo em seus olhos.

— Hoje, as contrações estão com um intervalo um pouco maior do que eu esperava, mas até de tarde já deve diminuir bastante. Se tudo der certo, é claro. — O médico que auxiliava o Oh respondeu. Sehun estava ao seu lado esquerdo, no consultório, com Sara no centro.

Após o enfermeiro sorrir reconfortante para a mulher, ambos os homens deixaram o consultório, deixando ali apenas Jongdae, Sara e Seiji. Sehun, apesar de feliz com a notícia de que esposa de Chen iria parir, também suportava tremenda preocupação. Não eram médicos especializados naquilo, o Oh nem mesmo havia feito faculdade de medicina ou enfermagem, só estava fazendo o que aprendeu com seu pai. Todavia, quando saiu do consultório, sufocado pela aura tensa que havia se instaurado no lugar, Chanyeol parou em sua frente, com um sorriso de orelha a orelha, e olha que elas não eram nada pequenas. O maior tinha uma garrafa de água e um pedaço de pão em suas mãos. Sorriu de volta.

No lado de dentro do consultório, Sara e Jongdae conversavam.

— O nome dele ou dela vai ser coreano. — Tentou acalmar a mulher. — Seiji já foi em japonês, é a minha vez de me sentir representado. — Sorriu, bobo, quando a mesma revirou os olhos e bufou.

— Os nomes em coreanos são difíceis e feios, Jongdae, não. — Disse, com o propósito de irritar o marido.

— Seiji não é nada fácil de se pronunciar, sabia? — O garoto, que estava sentado perto do armário de remédios, levantou a cabeça ao ouvir seu nome. Em suas mãos, segurava um carrinho verde.

— Huh. — Novamente, revirou os olhos porém dessa vez enquanto sorria. — Que tal… Seo… Seo…

— Seohyeon?

— Sim! Esse daí!

— É um nome feminino, precisamos pensar nos dois. — Resmungou. — Seiji, vem cá. — O garoto abandonou o carrinho no chão e correu até sua mãe.

— Seu irmão vai nascer hoje. Está animado? — Sara perguntou. Os olhos do garoto brilharam.

—  Eu vou ter um irmão mais velho?

— Ah, bem, não. Não sabemos se é um irmão ou irmã, filho. — Jongdae ainda estava segurando a mão da mulher. Agora, o aperto era mais fraco. — E ele vai ser seu irmão mais novo.

— Por quê? — Cruzou os braços.

— Porque… é, ele irá nascer depois de você. Ou ela.

— Jongdae… — Sara o chamou. — Pegue um copo de água pra mim, querido, por favor? — O homem concordou com a cabeça e saiu do cômodo. — Seiji, ouça bem. Mamãe tem que contar algumas coisas, mas papai não pode saber disso, entendeu? — Ele concordou com a cabeça, assustado pela feição séria repentina da mulher. — Mamãe pode morrer hoje. Sabe o que morrer significa, não é, filho? Significa que eu vou embora e não vou mais voltar.

— Por quê?! — O garotinho se exaltou e segurou o pulso de Sara.

— Porque todo mundo morre uma hora, amor. Seu papai um dia também irá, e você também. Acontece, e vai doer muito. Você vai chorar, mas lembre-se de que não pode fazer barulho. Há monstros, Seiji. Piores que o bicho papão ou o boi da cara preta. Eles podem te pegar mesmo com a luz acesa, querido. — Suspirou, segurando os dedinhos em suas mãos. — E caso mamãe morra hoje, ela quer que você tome conta do papai e de você mesmo. Quero que faça com que papai coma e não pule refeições, e quero que você faça o mesmo. Caso algum monstro lhe pegue, faça o que for preciso, mas não o deixe te morder ou arranhar!

— Mas… Você me disse para nunca machucar ninguém, e que se eu deixasse a luz acesa, eles… não viriam… e…

— Seiji. Olhe pra mamãe. — Ele levantou o rosto. — Quando papai te ensinar a usar a arma, lembre-se de nunca gastar todas as balas.

— Eu…

— Você vai entender mais tarde, quando ele achar que for certo. — Ela engoliu o choro. — Você tem que sempre guardar duas para você e para papai, amor. Coma direitinho. Durma bem, apesar de tudo. Faça amigos, acredite no futuro. Não pense no antes, Seiji, ele não importa. — Os passos de Jongdae foram ouvidos por ambos. Rapidamente, ela terminou de dizer e secou as lágrimas que insistiam em descer: — E por favor, não esqueça da mamãe. Da voz dela, do toque. É importante. Mamãe promete que vai fazer tudo que ela pode para voltar pra você.

— Promete? — Estendeu o mindinho.

— Eu prometo. — Ela sorriu, e meio às promessas daquela tarde, Seiji aprendeu a verdade.

[...]

Já era de tardinha, o sol já havia ido embora e Baekhyun estava estranhamente calmo. Kyungsoo, por outro lado, estava correndo pela casa, procurando pelo álbum que queria escutar com o Byun. Havia guardado aquela música, pois queria ouvir apenas quando se sentisse pronto, e agora, sentia que realmente conhecia Baekhyun o suficiente para fazer aquilo. Ambos já estavam juntos há meses, e para alguns poderia ser pouco tempo, mas para o líder, era o suficiente. Não queria perder nem mais um minuto sabendo que o garoto poderia não estar ali no segundo seguinte.

Quando finalmente achou o CD, não deixou Baekhyun ver qual era, e este resmungou em resposta. Estava com uma garrafa de água e um pedacinho de bolo no colo, se lambuzando todo. Quando a letra começou a tocar, o Do correu para o quarto de cima e pegou o violão que Sehun guardava debaixo da cama. Quando se sentou novamente no sofá, ao lado do outro, este lhe encarou com uma incógnita estampada no olhar.

— Não diga nada, ou eu vou ficar com vergonha. — Baekhyun sorriu de lado, zombando da feição do capitão.

Os acordes balançaram com os dedos ágeis do capitão, pouco a pouco, a melodia era composta. Junto com a voz do vocalista do Cage The Elephants, a de Kyungsoo se misturou.

"Did you stand there all alone?

Oh I cannot explain what's going down

I can see you standing next to me

In and out somewhere else right now"

O inglês do capitão era embolado e imperfeito, às vezes, Baekhyun percebia que estava diferente comparado à letra que o homem no CD, mas não é como se estivesse prestando tanta atenção naquilo, afinal, o Do estava ali, cantando para si, por que se importaria com meros detalhes como aquele? 

A cada palavra, sentia como se um flashback passasse por sua cabeça. Sentiu vontade de chorar ao lembrar-se do começo. Quando entrou na comunidade, o capitão estava tão frágil quanto si, ambos andavam na corda bamba, e não se importavam caso o vento lhes empurasse para baixo. No fim, parecia ser o que ambos queriam, mesmo sem saber.

Todavia, algo em si havia despertado quando suas cicatrizes, literalmente, foram tocadas. Sentiu que não só teve a opção de enfrentá-las, mas também, Kyungsoo havia as aceitado e aquilo lhe deixou estranhamente feliz.

You sigh, look away

I can see it clear as day

Close your eyes, so afraid

Hide behind that baby face

Seria tão fácil se Baekbeom estivesse realmente morto. Seria tão, tão mais fácil se tivesse matado seus pais e não os deixado como mortos-vivos. Seu irmão estaria ali. Queria tanto ele de volta, desejava tanto por uma segunda chance.

You can drive all night

Looking for the answers in the pouring rain

You wanna find peace of mind

Looking for the answer

Mas talvez não precisasse. Havia dito a si mesmo que não se importava mais com o passado, havia prometido que iria parar de pensar no que tinha acontecido, e se caso conseguisse, finalmente, esquecer Baekbeom e seu irmão de vez e dormir em paz? Estaria sendo um assassino ou apenas fazendo o melhor para si?

Funny how it seems like yesterday

As I recall you were looking out of place

Gathered up your things and slipped away

No time at all I followed you into the hall

Doía. Demais. Mas sabia que o presente era importante e tinha outras prioridades, afinal, amava Kyungsoo. Sim, o amava. E não fora fácil para si mesmo aceitar aquilo e muito menos perceber a verdade, mas quando Baekbeom mencionou matá-lo, a raiva e o medo foram tão grandes que se assemelhavam a quando Chanhyuk fora mordido. Não queria que o mesmo acontecesse ao Do, e mesmo que também lembrasse do Byun mais velho como seu irmão, queria que o mesmo ficasse longe de si. Achava que, finalmente, merecia ser feliz, e tal coisa apenas aconteceria com Baekbeom longe.

— Eu sei que é bobo… mas eu realmente quero namorar contigo. Oficialmente. Mesmo que a gente já tecnicamente namore. — Pigarreou. — Então… hm… Você, talvez, assim… Queira namorar comigo? Oficialmente? Sem pressão, mas é que…

— Eu quero. — Interrompeu o líder. — Eu quero namorar contigo, mesmo a gente já namorando.

— Por quê? Eu quero dizer… É só um título. Pensei que você não gostasse dessas coisas.

— Eu nunca disse isso.

— Eu presumi. — Deu de ombros. Cigarette Daydream continuava tocando.

— Eu quero porque te amo. Pra caralho. E é assustador, mas é bom.

— Você… — Não terminou a frase. — Ouviu isso?

De novo, um barulho estrondoso inundou seus ouvidos, como uma bomba que havia estourado bem ao lado dos dois. Baekhyun se lembrou de seus tempos com a família, quando o exército estava bombardeando sua cidade. O mais novo sentiu sua espinha arrepiar-se quando o barulho ficou mais alto e pôde escutar gritos.

 — O que tá acontecendo?! — Kyungsoo correu até a porta e observou, pela fresta, a população da comunidade em desespero. Zumbis atrás, tiros eram dados contra as mulheres e homens que corriam em direção contrária da horda.

Completamente em desespero e sem saber bem o que havia estourado ali enquanto estava em seu mundinho com o Byun, o capitão pôs a arma em suas mãos e verificou quanta munição ainda tinha restando. Por sorte, o pente da pistola estava cheio e carregado.

— Não vá. — Antes que pudesse sair, o mais alto puxou sua mão. — Por favor. — Kyungsoo puxou seu braço.

— Eu preciso. Sou o líder.

— Então eu vou com você. — Baekhyun procurou pela arma de fogo que havia guardado na casa do Do, e, assim que a encontrou, seguiu caminho após a porta com este.

O lugar estava o mais completo caos. Pessoas gritavam, sangue para todo o lado e os mortos-vivos estavam em todos os lugares. O portão havia sido derrubado, logo, qualquer um entrou e poderia entrar com facilidade no alojamento, o que preocupou ambos ainda mais. Baekhyun sabia o que estava acontecendo, mas, ao invés de confessar para o agora namorado que sabia antes de qualquer um sobre o ataque, mentiu novamente e correu com este até o outro lado da comunidade, onde a cabra Clarice, a cozinha, o consultório e a escola ficavam. Kyungsoo atirou em um morto-vivo que tentou atacar o casal, e Baekhyun segurou a pistola com ainda mais força em sua mão, preparado para o que tivesse que vir.

De longe, conseguia ver a fumaça invadir os céus escuros e nublados. Não demoraria muito para os pingos de chuva caírem numerosos.

Finalmente, a tempestade a qual o capitão havia previsto estava ali. E ambos não sabiam, mas haviam esquecido de desligar o aparelho DVD, não que fosse importante naquele momento, de qualquer forma. Ainda dentro da casa, ele tocava.

Cigarette daydream

You were only seventeen

So sweet with a mean streak

Nearly brought me to my knees

Continue Reading

You'll Also Like

529K 61.3K 43
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
84.8K 5.3K 39
~ 𝐀𝐨𝐧𝐝𝐞 𝐑𝐢𝐜𝐡𝐚𝐫𝐝 𝐞 𝐌𝐚𝐫𝐢𝐚𝐡 𝐩𝐚𝐬𝐬𝐚𝐦 𝐩𝐨𝐫 𝐮𝐦𝐚 𝐜𝐫𝐢𝐬𝐞 𝐞𝐦 𝐬𝐞𝐮 𝐜𝐚𝐬𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨.
545K 34.4K 47
Atenção! Obra em processo de revisão! +16| 𝕽𝖔𝖈𝖎𝖓𝖍𝖆 - 𝕽𝖎𝖔 𝕯𝖊 𝕵𝖆𝖓𝖊𝖎𝖗𝖔 Mel é uma menina que mora sozinha, sem família e sem amigos, m...
532K 59K 59
Alguns dígitos de números trocados. Pode não parecer, mas isso pode mudar tudo, principalmente o destinatário que receberá a mensagem. Lara não tinha...