Only God can judge you

By rakeool

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Um romance de faculdade. Nenhuma novidade. Acontece toda hora. Mas não com Lorena, cristã fervorosa que nunca... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capitulo 3
Capítulo 4
Capitulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Especial: They call you monster
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 21

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By rakeool

Havia quase duas semanas desde que eu tive meu... Surto, se é que devo chamar assim, as coisas estavam relativamente melhor agora. Claro, eu continuava mais magra que o normal, e continuei passando mal algumas vezes, mas já estava bem melhor. Pelo menos eu tinha voltado a me alimentar.

Foram duas semanas razoáveis, tirei-as para ter um tempo só pra mim. Estudei um pouco menos que o usual, li um livro, comi bastante e até revi um dos meus filmes favoritos: O cisne negro. E sinceramente, eu nem imaginava o quanto eu precisava daquilo pra relaxar um pouco.

Eu meio que me isolei um pouco por isso também, mal falei com as pessoas a minha volta. Não conversei muito com minhas amigas, Diana e Zoey até tentaram puxar conversa, mas acho que elas perceberam que eu precisava de um tempo sozinha. Nem mesmo com a Jade eu conversei muito! E confesso... Eu senti a falta dela mais do que de qualquer outra pessoa.

Jade, suspirei, o assunto que eu venho tentando evitar. Eu não estava mais tendo crises de choro, também não estava em um estado de tristeza constante, nem mesmo estava sem comer. Mas isso não significa que eu estava bem com isso, muito pelo contrario.

Eu gosto dela, seria impossível e desgastante continuar negando isso. Romanticamente? Provavelmente. Eu estou bem com isso? Não mesmo. Ser lesbica não é bem uma opção pra mim, eu não quero apodrecer no inferno, nem ser expulsa de casa. Eu não posso ser lesbica, simplesmente não posso. Eu não posso gostar dela, eu não posso gostar de mulher.

"Eu não posso gostar de mulher" Ecoou pela minha cabeça. E por um momento, algo passou na minha cabeça: E se eu não gosto de mulheres?! E se eu só gosto dela especificamente?! Como uma exceção, ou sei lá.

Eu já tinha lido sobre algo assim uma vez, 'deminisexual, ou algo do tipo. Peguei meu celular e pesquisei sobre.

Você quer dizer Demissexual? Apareceu na minha tela.

Isso mesmo, pensei, cliquei na correção e olhei os resultados. Cliquei no primeiro link.

"Demissexual é uma pessoa cuja atração sexual surge somente quando existe envolvimento e/ou laço emocional, afetivo, e/ou intelectual com a outra pessoa, não sendo a estética o único fator determinante para o surgimento da atração sexual."

Talvez eu seja isso! Quer dizer, eu nunca me senti atraída por nenhum homem, disso eu sei, e eu não me lembro de me sentir atraída por nenhuma mulher antes da Jade. Então possivelmente isso pode ser ligado a meu emocional, quem sabe eu possa até conseguir me sentir atraída por um homem se eu gostar dele!

Aquilo parecia ser a opção menos pior: bissexual e demissexual, eu poderia optar por só me relacionar com homem, sem precisar pecar. Não era o ideal, mas certamente a opção mais pratica.

Mas... Como eu poderia saber se a Jade era realmente a única mulher que eu me sentia atraída?

Quer dizer, isso nunca aconteceu antes, mas nenhuma garota nunca me quis antes também, então talvez eu não imaginasse aquilo como opção. Então como eu poderia saber?

Peguei meu celular, me sentia idiota por fazer isso, mas parecia a única forma de conseguir essa resposta. Cliquei na barrinha do pesquisar e comecei a digitar... Até que apaguei tudo, havia esquecido de um detalhe. Cliquei nos três pontinhos e selecionei "abrir uma nova guia anônima" Nunca se sabe, né.

Como saber se você gosta de garotas?

E por coincidência, existia um link com esses quase os exatos dizeres, será quis muitas pessoas já pesquisaram isso também?

"Pergunte a si mesmo como você pensa nela geralmente. Você a vê como alguém que você pode se divertir um pouco no fim de semana ou como alguém que você quer beijar?"

...

Os dois.

Fechei o link na mesma hora, eu não preciso que eles fiquem me lembrando que eu gosto de uma garota, eu só preciso saber se eu realmente gosto de garotaS. No plural.

"Sou lesbica?" outro link apareceu.

Dei um longo suspiro, "Meu deus, a que nível eu cheguei?!" pensei. E me sentindo extremamente decepcionada comigo mesma, cliquei.

Bem, tinha muita besteira escrita ali, era muito "Blablabla Talvez você esteja confusa blablabla está questionando sua sexualidade?..." Bem, acho que se eu não tivesse questionando eu nem teria aberto essa pagina, não é mesmo? E digamos que eu não estava com tanta paciência assim, então fui pulando tudo que eu achava que seria inútil de alguma forma.

"Nos não estamos aqui pra te julgar, apenas para te ajudar.

Então, talvez você fique meio animada vendo os comerciais da Victoria's Secrets"

"Calma, espera ai..." pensei, irritada. "O que que tem de errado em gostar dos comerciais da Victoria's secret's?! Agora toda mulher que gosta é lesbica!" Irritei-me, que coisa ridícula! Eu sempre gostei de ver, mas era só por que eu achava as lingeries bonitas!
...

Será mesmo que eram as lingeries que eu gostava de ver?!. Engoli em seco. Bem, talvez eu só apreciasse a anatomia feminina, mulheres são lindas, certo? O que que tem de errado em apreciar a beleza das criaturas de Deus, não é?! Aquelas mulheres todas vestidas de tema angelical! É... Engoli em seco novamente, era melhor eu só fechar aquilo mesmo.

Nada daquilo estava ajudando de verdade, eu precisava de alguma coisa mais concreta, como um quiz com imagens ou sei lá. Não, quiz não. Mas talvez imagens possam ajudar em alguma coisa, mas o que eu deveria fazer?! Simplesmente pesquisar: Mulheres bonitas no Google?! Não, ai já é demais. Até pra mim.

Larguei o celular e me deitei na cama. Quais mulheres eu acho bonitas? Pensei Sem ser família e amigas, obvio. Pensei novamente, talvez ajudasse eu pensar em alguma famosa, sei lá. Então fechei os olhos para ver se eu vizualizava alguém, mulheres famosas bonitas... vamos lá.

E surpreendentemente, alguém veio a minha cabeça: Beyoncé. Sempre achei ela muito bonita, mas sei lá... Não sei dizer se era exatamente isso. Talvez Rihanna? Natalie Portman? Não, nenhuma delas entrava na categoria como bonita daquele jeito, sabe?

Continuei tentando pensar em alguém, até que em pouco tempo, outra mulher me veio à cabeça: Emma Watson, como Hermione. Desde pequena eu sempre gostei muito dela, claro, era difícil ver Harry Potter quando seus pais acham que é apologia à bruxaria. Mas mesmo assim eu sempre dava um jeito de ver escondido quando passava na TV, ou ler na biblioteca da escola.

Enfim, Hermione foi uma das minhas idolas quando eu era criança, ela sempre foi incrível! E foi no Calice de fogo, naquela cena do baile tribruxo em que ela aparece com aquele vestido rosa (Era azul nos livros, mas enfim) que eu notei o quanto ela era linda. Mas eu nunca achei que fosse nada demais, eu só achava que eu queria ser ela.

Além de que, a Bela da Bela e a fera sempre foi minha princesa favorita, e eu meio que posso ter surtado um pouquinho demais quando eu descobri que a Emma Watson ia faze-la no filme...

E agora meu mundo virou de cabeça pra baixo. Hermione era minha idola ou minha crush?!

É muito difícil dizer isso, e ao mesmo tempo isso não é nenhuma prova concreta de nada. Eu precisava ir mais fundo nisso, para ter completa certeza. E eu sabia que só uma coisa poderia me dar certeza absoluta disso... Eu não queria ter que fazer, mas eu precisava saber.

"Como que eu posso... Ver mulheres?" Pensei, mas não era simplesmente ver mulheres, era ver essas mulheres... — Senti meu rosto corar, me sentia envergonhada somente em pensar nisso, mas era necessário. — ...nuas.

Eu não sabia como eu ia fazer isso, eu não ia simplesmente pesquisar no Google, nem ia ver pornô, estava fora de cogitação. Eu precisava de alguma coisa mais sutil, como um filme, ou seriado... Sei lá.

Então, peguei meu celular e pesquisei "Series lesbicas na netflix", não quis nem olhar para os resultados, eu me sentia tão ridícula por pesquisar aquilo. Dei um longo suspiro e encarei minha tela, havia um link com uma lista de mais de 50 opções "Ok, muita informação, mas vamos lá" pensei e cliquei.

Fui rolando a tela vendo as capas, nada me chamava muito a atenção, comecei a ler as sinopses... Todas pareciam meio bestas ou falavam sobre homens gays, nada de meu interesse. Continuei procurando, mas eu também não ia assistir qualquer porcaria só porque tinha lesbicas, faça me o favor, tinha que ser no mínimo razoável.

Até que, uma serie me pareceu vagamente mais interessante que as outras: Orange is the new Black. Era uma serie sobre mulheres na cadeia, nem precisaria estar nessa lista para eu assumir que haviam várias lesbicas.

Ok, ia ser aquilo mesmo. Fechei a guia de pesquisa e abri a netflix, cliquei em minha conta. Por um momento, vi os ícones das contas de papai, mamãe e de Jayjay, engoli em seco. Será que eles iam checar o que eu estava vendo?! Eu espero que não... Mas eles nem mexem muito na conta né, sempre foi mais pra mim e pro Jayjay mesmo, então acho que posso ficar tranquila.

Encarei a tela do celular, hesitante, e cliquei no primeiro episodio...

Bem, começou com um bebe tomando banho, depois uma criança... Depois duas mulheres, se beijando ainda por cima! Desliguei a tela do celular, assustada. Uau, isso foi... Não sabia nem o que dizer, na verdade. Tomei um pouco de coragem e desbloqueei a tela.

E de repente, ela estava no banheiro com um homem, e segundos depois, na prisão, e eles mostraram o corpo inteiro dela, da cabeça aos pés. Isso foi mais rápido do que eu pensei. Mas ok, nada demais, até o momento tudo sobre controle.

Bem, a cena seguinte era basicamente outra mulher falando dos peitos dela... Acho que já entendi o rumo dessa serie. Mas eu precisava tirar isso a limpo, então continuei vendo. E depois de um tempo começou a aparecer mais gente vestida, e mostrar um pouco da historia.

Basicamente era uma tal de Piper prestes a se entregar pra policia por causa de crimes do passado que ela fez com a ex-namorada dela, e ficava mostrando uns flashbacks dela com essa ex dela e tal. E mesmo depois de ter confessado crimes de trafico, a primeira coisa que a família dela pergunta é:

— Você é lesbica?! — Não sei porque estou surpresa, não é como se não fosse ser a primeira coisa que meus pais me perguntariam.

Mas em resumo, fui assistindo o resto do episodio concentrada, eu não senti nada particularmente pela principal, o que é bom, mas já pela Alex... Bem, ela me lembra a Jade, talvez seja isso. Mas ela não é nem exatamente bonita, é mais o jeito dela, sabe? Ela tinha um jeito sussurrado de falar, e um olhar penetrante... (Olhos muito bonitos, por sinal) Não sei explicar, só sei que foi meio... Uau.

A historia era legal apesar disso, é interessante, diferente, eu gostei. Só tem ousadia demais, definitivamente. Inclusive, a serie tinha dado uns bons 20 minutos sem nenhum tipo de sexo nem nada, até que do nada a Piper entra no banheiro, e tem duas mulheres... Wow, era bem explicito. Tinha uma mulher na parede do banheiro, a outra pegando no peito dela e chupando-a, era a bonitinha da van e a com cara de maluca.

E esse foi o momento que eu risquei demissexual da lista de "Opções para eu ser um pouco menos pecadora"

Senti meus olhos encherem de lagrimas, por que isso tinha que acontecer justo comigo?! Caramba, podia acontecer com qualquer pessoa que não ligaria, qualquer uma! E tem varias, mas não, tinha que acontecer justamente comigo para me desestruturar. Limpei os olhos com a mão que não segurava o celular, eu não havia pausado nem desligado, ao mesmo tempo que aquilo me deixava muito triste pelas minhas conclusões, eu meio que não queria parar de ver aquilo.

"Só mais esse episodio" pensei "Só pra eu saber o que acontece, depois eu desligo pra não me sentir assim" conclui, e eu continuei... Assistindo com remoroso, mas era só aquele. E no ultimo minuto do episodio, com a personagem principal passando mal, quando achei que estava pronta para desligar a tela...

— Imagino que não seja uma boa hora pra dar oi, né? — Alex falou

Fiquei boquiaberta, a personagem gritou, o episodio terminou... Deitei na cama, ainda em choque pelo final. Como eu não vi isso chegando?! Agora ela não só vai ter que suportar a cadeia, ela via ter que ficar ali na cadeia com ela!

Pronto. Pensei, frustrada. Agora eu vou ser obrigada a ver o resto.

• • •

Eu juro, eu tentei parar, mas eu assisti uns 5 episódios seguidos. A serie era mesmo muito boa, e nem era só as lesbicas, a historia era legal, legal mesmo. Eu meio que prestava atenção de mais nas mulheres... confesso, mas também não era todas as mulheres que eu ficava olhando, em minha defesa.

Algumas em especifico me chamavam mais a atenção: Alex e Poussey. E elas pareciam a Jade, então também tinha isso (Serio, eu juro que se juntar o jeito das duas fica igual a Jade). Alex era sexy e legal , Poussey era muito engraçada, um amorzinho e tinha nome de Frances. Eram as duas melhores, definitivamente.

E enquanto eu assistia, eu não podia deixar de me imaginar no lugar da principal, literalmente trancada com a Alex. E elas tem uma tensão sexual ridícula, é muito obvio que elas se querem, mas Piper nega, até porque ela tem um noivo fora de lá... Acho que eu meio que me indentifico.

Imagina se eu ficasse trancada com a Jade? Sera que a gente também teria uma tensão sexual ridícula? Sera que eu conseguiria resistir a seus charmes? Eu gosto de acreditar que sim, mas mesmo assim não tenho certeza. Rolei de lado na cama, eu tinha madrugado assistindo e já estava tarde, eu tinha que dormir. Mas sempre acabava me distraindo com a imagem da Jade de caquis... Dei uma risadinha abafada. Não estava com sono, definitivamente, só pensava nisso.

Sentir tudo isso era muito confuso, porque quando eu parava pra pensar, eu ficava mal de estar gostando. Mas enquanto eu assistia, eu estava tão entretida, que eu nem me lembrava de me sentir culpada... Só me sentia culpada as vezes, quando dava replay em algumas cenas de sexo. Me sentia muito envergonhada, mas era mais forte que eu, por mais que eu soubesse que estava errado, meu corpo meio que pedia pra eu ver de novo. Não me orgulho disso.

Fechei os olhos, decidida a dormir, mas o sono não vinha. Jade Vause, nem soa mal. Pensava, rolei na cama. Lorena Chapman, não, ai ficou uma merda. Sou mais Cheslie mesmo. Dei um sorrisinho, e aproveitei aquele momento raríssimo: meus pensamentos começavam e a culpa não vinha, eu simplesmente só pensava nela. Sem ter que lembrar de Deus, meus pais, André, ou de todo mundo, era só ela ocupando todos os meus pensamentos, e sem culpa nenhuma. Era só... uma coisa diferente, uma coisa boa, que não acontecia frequentemente, prazer sem culpa.

Cheslie, sorri de novo, que nome viu.

• • •

Estavamos numa festa da Chloe eu acho, bêbadas, risonhas, e sentadas no chão da festa. A festa toda era como um borrão, nada ali parecia muito concreto, a não ser Jade sentada na minha frente.

— Ok... Você 'ta definitivamente muito bebada — Jade se levantou, me puxando.

— Nãããão!!!! — resisti, rindo — me deixa aqui!

— Nananinanão! — ela ria também — 'Ce 'ta demais ai, eu vou te levar pra seu quarto.

— Estraga prazeres! — reclamei, e ela me arrastou até o prédio dos dormitórios.

Subimos as escadas e paramos na frente da porta, ela sofreu um pouquinho para enfiar a chave na fechadura.

— Pera ai... Esse é seu quarto!

Ela ficou em silencio.

— Oops! — respondeu com uma risadinha.

Fiquei boquiaberta.

— Cara de pau! — reclamei — Você fez isso de proprosito, sua sem-vergonha! — não conseguia não rir

— Eu não! — respondeu, me sentando na cama dela. — E eu também 'to bêbada, da um tempo, vai!

Me joguei na cama dela, deitei de barriga pra cima. Sua cama era surpreendentemente confortável, rolei um pouquinho, abri os olhos para encara-la, ela sorria.

— Ok, agora que eu já te deixei aqui, eu vou voltar pra meu dormitório...

...

Cai numa gargalhada.

— O que foi? — Indagou confusa.

— ESSE É SEU QUARTO, IDIOTA! — declarei, ela fez uma cara de como amém diz "ahhh é". O que me fez rir mais ainda.

Ela se deitou ao meu lado, dei espaço pra ela, estávamos a uns 15 centímetros de distancia e me olhava com uma expressão indecifrável. Urgh, e era tão sexy ao mesmo tempo.

— O que foi? — questionei, curiosa.

Ela se espreguiçou e deu uma risadinha.

— Só acho que você 'ta longe de mais. — declarou.

— Ah é?! — falei, me aproximando até nossos corpos estarem a um centímetro de distancia. — Agora 'ta bom pra você?

— Não... — ela disse, fiquei confusa por um segundo. Até que ela me pegou pela cintura e me jogou por cima dela. — Agora sim ta bom pra mim. — concluiu.

Dei uma risadinha, só me deitei em cima dela, meu corpo inteiro estava quente, meu rosto entre seus peitos, minha perna entrelaçada na dela... poderia ficar anos naquela posição, serio.

— Caramba...

— O que?!

— Seus peitos são incríveis — declarei, levantei o rosto para olhar pra ela. — Alguém já te falou isso? porque seus peitos são muito incríveis.

Ela riu.

— É incrível o que o álcool faz com as "hetero" — Fez aspas no ar.

— Mas é serio! — reforcei. — Seus peitos são simplesmente fantásticos.

— É mesmo, é? — ela perguntou, passando a mão pelas minhas costas, senti meu corpo todo arrepiar-se. E não ajudou em nada quando ela desabotoou meu sutiã.

— Os seus também. — Ela diz

— Safada! — murmurei baixinho, ela abriu um sorriso malicioso. Caramba.

— Safada é você. — rebateu ela, e me pegou pela cintura. E num movimento rápido e suave, ela ficou por cima de mim. Aproximou os lábios de meu pescoço e começou a beijar suavemente, senti meu corpo pegar fogo ao encontro de sua língua em minha pele.

— Caramba, Jade... — tentei falar sem sair gemido demais.

Não satisfeita com essa pouca vergonha, ela passou a mão por debaixo de minha camisa, acariciou minha barriga beeem devagar, ela estava fazendo isso só pra me torturar, não é possível. Até que sua mão finalmente subiu até meu peito, meu corpo todo se esquentou mais ainda, senti vontade de coisas que eu tenho até vergonha de dizer em voz alta... Naquele momento, desejei que sua outra mão deslizasse até minha pernas, e subisse até minha saia.

E como se lesse meus pensamentos, ela fez exatamente isso. Caramba, Jade. Pensei. Sua mão na minha perna ativava coisas que eu nem sabia que eu tinha dentro de mim, e sua mão subia mais e mais...

Caramba, Jade. Caramba.

• • •

Abri meus olhos, fiquei atordoava por uns segundos, sonolenta... Até que notei o que tinha acabado de acontecer. Me sentei na cama rápido, os olhos arregalados, O que acabou de acontecer?! Pensava, assustada. Eu acabei de... Engoli em seco. Ter um sonho erótico com a Jade?!

Merda. Merda. MERDA, MERDA.

Não, impossível, isso não pode ter simplemente acontecido. Não, nem fudendo. Caramba, senti meu rosto ficar que nem um tomate, a vergonha tomava conta de mim. Merda, eu sou um lixo, um lixo de pessoa, uma imbecil, porra. PORRA.

Eu passei dos meus limites, e olha que isso está vindo de uma pessoa que ontem mesmo pesquisou por "Sou Lesbica" No Google. Eu sou simplesmente a pessoa mais ridícula do mundo, porra, eu sou um lixo, eu vou pro inferno, meu deus.

Respirei fundo, orei pedindo perdão para Deus. Uma oração não parecia o suficiente para eu ficar "limpa" depois daquilo, então repeti o mesmo processo três vez, na ultima incluindo até o nome do André. Sonhar fazendo coisas com outras pessoas é traição?!

Me levantei rápido, peguei minha roupa e fui em direção ao banheiro, eu já estava atrasada, e ainda tinha que botar uma absovente. Acho que minha menstruação desceu mais cedo.

O que foi isso?! Eu pensava, meu Deus.

Eu ainda estava perplexa por causa daquilo, mas eu precisava me arrumar logo pois eu já estava atrasada para Filosofia. Tirei meu short rápidamente, mas tive uma surpresa: Olhei para minha calcinha e não tinha sangue nenhum, só um outro tipo de liquido. Arregalei os olhos, então minha calcinha estava úmida por causa... Engoli em seco. Droga.

Vesti minha roupa rápido e me fiz o favor de lavar aquela calcinha bem ali na pia, enfregava o sabão agressivamente. Eu não acredito nisso, meu deus, não é possível. Até que de repente a porta do banheiro se abriu, na agonia eu tinha esquecido de trancar. Era Zoey.

Ela me encarou, olhou para a calcinha molhada na pia sem sangue nenhum, e olhou pra mim abrindo um sorriso doentio. Senti meu corpo congelar.

Fudeu.

— Você... Se mijou? — perguntou ela.

Fiquei confusa por um segundo, ela caiu numa gargalhada.

— Voce se mijou! Meu deus! — Ela não parava de rir.

Bem, menos mal.

Mijei. — Afirmei convicta, tentando não fazer uma cara muito suspeita. — Mijei mesmo, acontece, né?! Não devia ter tomado tanta água, puts! Como eu sou besta! É... Ela me encarou com uma expressão confusa.

Ta... — respondeu, confusa — ...Esquisita.

Aproveitei o momento estranho e atravessei a porta esbarrando no ombro dela, peguei minha mochila e sai em disparada no corredor. Qual a porra do meu problema?!?!? O que foi isso!?!? Isso é um absurdo, não, sem condições. Porque que eu tenho que ficar tendo sonhos assim?!?

Eu odeio quando eu sonho com ela, odeio, urgh.

Andei pelos corredores rapidamente, sabia que estava atrasada, então tinha que ir mais rápido. Atravessei os corredores de cabeça baixa, até que me esbarrei com alguém.

Ah, cê tá de brincadeira comigo, né?

— Eita! Foi mal — Jade disse, se abaixando pra pegar minha garrafa de água caída no chão. — Aqui. 

Peguei a garrafa da mão dela e encarei-a, desviei o olhar rápido. Ela tava me olhando estranho?! Será que ela sabia que eu tinha tido aquele sonho?! Memórias quentes voltaram a minha cabeça só com aquele simples olhar, eu nem conseguia olhar na cara dela direito depois daquilo.

— Ahn...  Alô?! Terra chamando Lorena?! — Ela estalou os dedos na minha frente, me obrigando a voltar meu olhar em direção a ela, e me obrigando a rebobinar minha memória para seu corpo em cima do meu. — Porque você tá agindo assim estranho?! — Ela riu e arqueou as sobrancelhas.

Levantei o dedo indicador e abri a boca pra dizer alguma coisa, sem ter nem ideia do que eu deveria falar. Eu deveria dar uma desculpa?! Não, ela me conhece. Ela sabe que eu minto mal, ela vai perceber e vai ser pior ainda. Mas agora eu tinha que falar alguma coisa. Seu rosto assumiu uma feição ainda mais confusa.

E de repente, ela pegou minha mão suspensa no ar e me girou, cambaleei um pouco pra trás.

— Uai! — exclamei enquanto me desequilibrava. Ela sorria. — Porque você fez isso?!

— Sei lá, cê tava parada ai. — deu de ombros. — E cê não era bailarina? Achei que 'cê manjava desses negócios de pirueta e tal. — Ela pegou minha mão e me girou de novo – Uhul! — exclamou, e girou-se segurando a minha mão também. — É Beyblade!

Balancei a cabeça em negação.

— Idiota.

Ela sorriu. Argh, por que ela tinha que insistir em fazer isso?

— Ok, agora cê tem que ir. Cê tá atrasada. — ela bagunçou um pouco meu cabelo, senti meu corpo estremecer ao seu toque, lembrando de suas mãos em outras partes do meu corpo. — Depois cê termina de me contar isso ai, falou!

E ela ainda queria me cobrar de explicar isso. Pensei.  Mas pelo menos isso né dava tempo de pensar em alguma coisa. Observei-a desaparecer pelos corredores.

— Espera ai... Como você sabe que eu tô atrasada?!  — Gritei na esperança de que me ouvisse lá do final do corredor.

— Porque eu também tô! — ela berrou ao longe.

Dei uma risadinha, ela não tem jeito mesmo.

Mas ela tinha razão, eu estava extremamente atrasada, eu precisava ir logo para conseguir pegar um lugar. Então comecei a correr pelos corredores na esperança de chegar a tempo.

Cheguei na porta da sala ofegante, parei por um instante para descansar e entrei na sala. Sentei-me em minha cadeira de sempre, tentei não pensar naquilo. Encontra-la ali no corredor tinha tido o efeito oposto do que eu imaginava: eu me sentia muito melhor, mais tranquila.

Jade tinha um dom quase que sobrenatural de fazer eu me sentir bem nos piores momentos, com ela não havia aquele medo de ser julgada, o medo de não ser aceita, a sensação de ansiedade por não me sentir pertencente de lugar nenhum e algumas vezes – raríssimas – quase que sem o peso da culpa dos meus pecados sobre meus ombros.

Porque eu sabia que com ela não havia julgamentos, e que ela era uma pecadora assim como eu. Como todos nós. E eu não me sentia ansiosa, porque assim que ela me olhava com aquele sorriso idiota e aqueles olhos brilhantes, eu sabia que era ali que eu pertencia: do lado dela. Era ali que eu queria ficar.

Suspirei. Porque eu tinha que ser tão gay o tempo todo?!

Mas enfim, afinal, o que adiantava ficar remoendo o que já tinha acontecido? Não era como se eu pudesse fazer nada a respeito. É, tava tudo bem então, eu acho. Além de que...

 — Da pra tirar a merda da sua mochila da minha cadeira?! — ouvi uma voz me interrompendo de meu transe.

Reconheci  na hora, revirei os olhos. Como se aquele sonho não tivesse batido a cota de coisas que são demais  pra mim do dia.

— Já ouviu falar em educação, Samantha? — debochei, tirando minha mochila da cadeira ao lado.

— Já ouviu falar em colocar sua mochila na cadeira que você vai sentar?! Folgada! — Rebateu, se sentando. 

Observei-a acomodar-se na cadeira, estava meio diferente, o cabelo antes raspado agora havia crescido um pouco e até formava alguns cachos. E ela era loira, bem loira mesmo. Não que eu não soubesse disso antes, mas o cabelo crescido havia feito eu me lembrar. Ela nem era feia. Mas, sinceramente? Não conseguia acha-la nem remotamente bonitinha, o jeito dela estragava tudo.

E eu já não sou uma pessoa muito paciente, mas hoje em particular eu estava ainda menos tolerante á 'enchessão de saco dela.

Enchessão de saco, essa palavra existe?

— Olha, se eu fosse você eu só calava a boca, 'ta bom! — respondi, ameaçadora.

— Ou o que? Você vai me bater — Debochou — Eu não tenho medo de você, Lorena. 

— Bem, pois deveria. — ameacei, e francamente, nem eu sabia o que eu queria dizer com aquilo.

— Bom dia, classe! — Salva pelo gongo, Patrick entrou na sala com um largo sorriso no rosto. — Prontos pra começar a aula?

Revirei os olhos, nada contra Patrick, mas só de pensar em ter que trabalhar com essa garota ai eu já sinto um reviro no meu estomago. 

Bem, para minha sorte esse não foi o caso, ele havia decidido apenas passar o assunto no quadro. Mas nós tínhamos que copiar lado a lado das duplas, como a formação de cadeiras da sala sugeria, então bom, mas nem tanto.

— Professor? — Samantha levantou a mão de forma exageradamente dramática e ridícula. 

— Sim, senhorita Evans? — ele ajeitou os óculos no rosto.

— Não tem como mudar de dupla não?!  Eu não me sinto confortável com a minha colega aqui.

Revirei os olhos, porque que ela tinha que ser tão...  Assim?

— Bem, não. — respondeu ele — Eu juntei vocês em duplas por uma razão, e eu avisei que não teria como trocar depois.

Ela se encostou na cadeira e jogou a cabeça pra trás, Patrick se virou e voltou a escrever no quadro. Resolvi copiar as informações do quadro em silêncio, torci para que ela não desse mais nenhuma palavra comigo. Pro meu azar, esse não foi o caso.

— Sabe de uma coisa?! — Samantha perguntou.

— Não, também não quero saber. — nem tirei os olhos do caderno.

— Aqui era um lugar melhor antes de você chegar. — continuou. — Eu estava bem com todo mundo, eu tinha a Jade, meu dormitório, meus amigos, ate meu humor era melhor. Você literalmente estragou tudo por aqui.

Não pude conter uma risada abafada.

— Eu devo ser um monstro mesmo. — virei a página do caderno, e peguei minha outra caneta. — E com certeza sua vida 'tá uma merda por minha causa.

Não se faça de sonsa. — reclamou ela. — Se você não tivesse vindo eu ainda teria meu dormitório, você sabia que eles mexeram nos dormitórios por causa de sua transferência?! — ela perguntou, dei de ombros. — E eu teria minha chance de me resolver com a Jade sem você no caminho! — suspirei,  parecia que o monólogo não acaba nunca. — Sabe, eu e ela tínhamos planos, sabia? Nos íamos nos casar e morar na Austrália, perto da praia, já tínhamos planejado tudo. Ter vários cachorros, e quem sabe depois de anos estabilizadas até adotarmos uma criança, quem sabe. — Encarei-a com um olhar irritado pra ver se ela entendia que tava na hora de calar a boca, mas ela apenas olhou pra mim por um segundo e voltou a copiar. — Nos tínhamos discutido, eu sei, só que a gente ia se resolver! Porque a gente sempre se resolvia. Mas nããão! você tinha que estragar tudo chegando aqui e...

— Caramba, chega! — exclamei, gesticulando e borrando meu caderno com a caneta. E a classe inteira me encarava pra completar. Merda.

— Algum problema, senhorita Leslie?  — Patrick perguntou parecendo mais preocupado do que debochado.

— Não, desculpa professor. — respondi — Não foi nada não.

Sua expressão parecia confusa, ele assentiu e voltou-se ao quadro com o piloto, eu realmente não pretendia gritar nem nada do tipo. Mas ela estava me dando nos nervos, como que alguém pode ser tão irritante? Pensei. Ela estava em silêncio agora, um sorriso de leve disfarçado no rosto sardento, ela deve estar feliz depois de fazer com que eu parecesse louca na frente da turma toda. Senti a raiva percorrendo meu corpo, você quer saber? Eu não tinha acabado ainda.

— E você deve ser muito triste mesmo pra não falar de outra coisa, hein? — dei uma risada sarcástica. — Uau, você realmente não deve ter outra vida mesmo.

— Você não sabe porra nenhuma sobre mim! — rebateu, gritando aos sussurros.

— E nem você sobre mim! — respondi em contra partida — Então porque você me odeia?! Caramba, eu nunca te fiz nada!

— Fez sim, você...

— "Roubou ela de mim" — interrompi, imitando-a. Ela franziu a testa. — Cara, eu não roubei ninguém de ninguém não. Isso nem existe na verdade, roubar alguém de outra pessoa. — seu rosto ia ficando vermelho. — Ela nao te quis, foi ela que terminou com você!

— Cala a sua boca... — Ela tremia.

— O que foi?! Você não aguenta a verdade?! — questionei — Vocês terminaram e não teve nada a ver comigo. Ela só não gosta mais de você e pronto! — gesticulei.

— Eu já mandei... Você calar a sua boca. — ela apertou os olhos e serrou os punhos.

— Samantha, acabou! Ela não gosta mais de você, e não tem nada que você possa fazer. Só supere! — falei como um pedido sincero. — Você não pode só ter isso na sua vida, você não depende dela, só aceita que ela não gosta mais de você e...

— Eu disse cala a boca! — Ela se levantou com tudo e empurrou a mesa, batendo na minha perna.

— Wow! — Patrick se virou de novo — O que foi isso?!

— Ai! — exclamei — Minha perna!

— Vai se foder! — berrou ela

— Vai você!

Ela me encarou com um olhar fuzilante, pegou a mochila e saiu batendo o pé da sala. Juro que nunca tinha visto algo tão ridículo na minha vida, e o pior, todo mundo da sala ficou me encarando, como se a culpa fosse minha! Ate mesmo o professor!

Ouvi uns murmurinhos em volta de mim, suspirei. Senti o ódio percorrer pelo meu corpo, odeio fofoca. E aonde eu já ficar nessa história quando contassem por ai? Como a pessoa que levou grito e uma mesa na perna ou como a menina insuportável que irritou a outra até ela sair da sala?

Patrick estava absolutamente sem reação.

— Tem alguma coisa a declarar, Lorena?! — ele perguntou, por fim.

— ...Talvez fosse melhor você ter feito aquela troca de dupla mesmo. — Declarei.

• • •

Finalmente o sinal tocou e a aula acabou, tinha conseguido conter minha raiva pelo longo tempo que aquela aula tinha durado, mas não consegui prestar atenção em nenhuma única palavra do resto do assunto. Que confusão, hein? Meu Deus.

Enfim, ajeitei minha mochila nas costas e andei em direção a porta, deixando aquela sala o mais rápido que conseguia. Atravessei os corredores indo para minha próxima aula, até que alguém se esbarrou em mim.

Suspirei sem conseguir evitar um sorriso, quem mais poderia ser?!

— Heyyy Lobinha! — Jade me cumprimentou, animada. — Você por aqui?! Que coincidência!

Revirei os olhos sorrindo.

— Coincidência, claro. Como que foi que cê descobriu que eu estudava aqui?! — Ironizei, ela riu.

— É, cê me pegou. — deu de ombros. — Eu tava te procurando mesmo. — Senti meu rosto corar, não a olhei, mas senti que me olhava. De verdade, eu acho que ela faz de proposito só pra me ver assim. — Mas eai, como é que cê tá? — saímos do meio do corredor e fomos para perto da parede.

— Ah. — pensei no que responder, escolhi a verdade. — Cê não sabe quem tava me enchendo o saco hoje.

Ela franziu a testa.

— Quem?

— Sua ex, Samantha.

Ela arregalou os olhos, surpresa.

— Sério?!?

— Aham. — assenti — Cê tinha que ver a cena que ela fez, ela simplesmente não aceita que você não gosta mais dela e basicamente me culpa por tudo de errado da vida dela!

Eita

— Pois é! — gesticulei — Sinceramente, não vou nem me estressar mais com isso não. Ela é patética.

Jade riu.

— Uau... Meu sonho se tornou realidade. — comentou

— Que sonho?! — perguntei

— Duas garotas brigando por mim! — concluiu, com um sorriso egocêntrico — Tipo aqueles filmes, sabe?! Sempre achei um máximo. — explicou enquanto eu a olhava boquiaberta

—  O que?! E quem disse que eu tava te disputando com ela?! — cruzei os braços e arqueei as sobrancelhas. — Coragem sua assumir uma coisa dessas.

— Ah, não tava não?! — perguntou com um sorriso malicioso, o mesmo sorriso que ela dava no sonho, naquele sonho. Merda.

— Não mesmo! Eu só... — Encarei-a por um segundo, desviei rápido. — ...Eu só falei que ela não devia viver em função de ninguém, e que ela devia te superar. É...

Ela continuou olhando pra mim com aquela cara.

— É sério! — falei rindo — por que cê não acredita em mim?

— Bem, cê lembra do blog da Zoey?! — comentou — Porque por aquilo ali, parecia bastante uma disputa pra mim. Ai você ainda vem e fala isso.

— Nossa, eu nem lembrava mais disso. — respondi.

— Pois é — concordou — Hey! Mas relaxe! Quem vê esses filmes sempre sabe que isso é puro charme, todo mundo sempre quem que a pessoa que tá sendo disputada realmente quer. — ela deu uma piscadinha sexy. — Eu votei 'Cheslie.

Dei uma risadinha.

— Idiota. — respondi.  — Cheslie. — repeti, dando uma risadinha.

— É um bom nome. — completou.

— Enfim. — comecei a mudar de assunto, já chega da Samanta por hoje. — Cê sabe que horas são?!

Ela pegou a celular e virou a tela pra mim, arregalei os olhos.

Caramba — peguei o celular, espantada. — Eu tô muito atrasada. Melhor eu ir logo. — devolvi o celular e fui andando apressada. — Tchau.

— Ei! Espera ai! — Jade veio atrás de mim.

— O que foi?! — perguntei

— Eu nem te perguntei o que eu vim perguntar ainda! — respondeu.

— Então venha falando, que eu já tô atrasada aqui. — completei.

— Beleza. — assentiu enquanto andávamos pelos corredores — Quer que eu leve sua mochila?! — ela perguntou enquanto já ia tirando minha mochila apoiada por apenas uma alça das minhas costas.

— Não precisa não! — tentei impedir.

— Agora já foi!  — respondeu, ajeitando a mochila nos braços. — caramba, que que cê carrega dentro dessa mochila, Lobinha, chumbo?!

— Não, só muitos livros mesmo. — repliquei. Desisti de impedir, a mochila tava pesada mesmo, além de que foi fofo. Urgh, porque ela tinha que ser tão fofa?!

— Mas sim, que que você ia me perguntar?!

— Ah sim! Então, o que é  que você ia me falar mais cedo antes de sua aula?!

Merda, o que é que eu ia falar agora?! Que desculpa eu ia dar?! Surtei por uma fração de segundo, não adiantava pensar demais, ia ficar estranho, eu precisava de algo pra falar. E rápido.

E de repente, uma solução apareceu.

— Eu comecei a assistir Orange is The New Black! — respondi, aquela foi provavelmente a mentira mais convincente que eu já contei. E nem era totalmente mentira, eu tinha ficado de falar com ela mesmo.

— Sério?!

— Sim, cê já viu??

— Claro que eu já vi! — replicou, animada. — Mas eai, quem é sua personagem favorita?

— Ah, sei lá. — Dei de ombros. — Alex, Red, Poussey, Taystee, Sofia, Daya — contei nos dedos — tem várias legais. Eu não tenho favorita não.

— Eu gosto de todas elas — comentou a Jade. — Mas minhas favoritas devem ser tipo — ela deu uma pausa, lembrando — Nicky, Taystee e Alex. É, acho que é isso. — conclui, abriu um sorriso malicioso. — Mas agora a pergunta que não quer calar: que são suas crushs?

Fiz uma careta.

— Eu não tenho crush em mulher nenhuma, ué. Eu sou hétero. — falei.

Aham, claro. — respondeu, sarcástica.

— Cala a boca! — reclamei, ela riu. — Só que assim, SE eu fosse lésbica, apenas SE. — enfatizei, ela revirou os olhos. — Provavelmente seria a Poussey a Alex. — respondi. — Elas me lembram você um pouco. — demorou um segundo pra eu notar o que eu tinha falado. Meu. Deus.

— Agora eu entendi. — respondeu rindo, fiquei envergonhada. Eu juro que eu falei na inocência. — Minhas crushs são Lorna, Piper, Maritza. Eu acho. Tem a Soso que é gatinha também, mas cê ainda não deve ter visto.

Espera ai — parei no corredor, olhei sério pra ela. — Cê gosta da Lorna?!

— Gosto — deu de ombros.

— Mas ela é racista! — rebati.

— Mas ela é gostosa pra caralho — replicou, fiz uma careta. — E ela é piradinha, então eu relevo algumas coisas. Lorna e Lorena. — comentou — Separadas por uma nacionalidade, racismo e um 'E.

Fiz uma careta ainda pior que antes.

— Você não ouse me comparar com essa racista maluca! — reclamei, ela riu.

— Cê tá é com ciúmes, isso sim. — rebateu. — Por ela também ser minha crush.

— Olha, você nem comece! — gesticulei irritada. Ela ainda ria. Ela me irritava de propósito, certeza. — Enfim, Piper?!

— Ah, ela sim é minha crush desde o início. — suspirei, começando a questionar o gosto dela. Se ela gostava de mim, será que eu tava no mesmo patamar delas duas?! — Sei lá, só queria uma namoradinha pra vender droga comigo.

Olhei feio pra ela.

— Que horror, Jade! 

— Eu sei. Mas parece divertido, então quem sabe, não é? — Ela me olhou,  sugestiva, continuei seria. — Não? É, ok então.

Estávamos quase chegando na sala, e de repente, eu não quis chegar até aquela porta, eu só queria ficar mais um tempinho curtindo a companhia dela, conversando, rindo.

Eu simplesmente estava ali com ela, e não queria deixar de estar.

— É... — pensei no que falar, visto que meu destino já estava próximo. — Eu tô no meio da temporada já, eu gostei muito. Ah, e eu odeio a Pennsatucky, ela é tão cega de religião, idiota. — continuei — Deus nunca aprovaria o que ela estava fazendo ali.

Ela riu.

— Ela não fica essa bosta pra sempre não, cê vai ver. — E enfim, chegamos a porta, ela se apoiou na parede de braços cruzados. — Então, era só isso que voce queria falar mesmo?!

— Como assim? — inadaguei

— Sei lá. — respondeu — Só achei que cê tava nervosa de mais pra só querer falar de uma série comigo.

Eu devia ter pensado nisso, droga. O que eu ia fazer agora? Mentir? Eu já achei que ela tinha acreditado na última vez e não foi o caso, ela com certeza vai saber que eu tô mentindo, o que diabos eu deveria dizer?!

— Ah, e eu... — fingi esforço para lembrar, mesmo já sabendo o que ia dizer. — Sonhei com você hoje, é, acho que foi isso. — a verdade foi a melhor escolha, tentei sooar o mais natural possível pra ela não suspeitar.

— Ah é?! Como foi?!

...

— Não lembro. — respondi.

— Ahhhh entendi. — ela abriu um sorriso malicioso, engoli em seco, será que ela sabia?! — Mas como que foi... Sabe? Era um sonho bom ou ruim?! — perguntou.

Não sabia o que responder para ela, porque, honestamente, eu não tinha essa resposta nem pra mim mesma.

— Foi... — Ponderei, procurando a verdadeira resposta dentro de mim mesma. — ...Bom, eu acho. — conclui, dei um sorrisinho. — É, definitivamente bom.

Olhei nos olhos dela, sua pupila estava dilatada, e ficava bem aparente em seus olhos verdes. O que será que aquilo significava?!

— E você tem certeza que não lembra sobre o que era?! — questionou

— Sim.

Ela me encarou, em seguida balançou a cabeça em negação.

Sonsa. — deu um sorriso.

Naquele momento eu soube, ela sabia. Ela definitivamente sabia. Retribui o sorriso, normalmente, eu teria vergonha de saber que ela sabia de uma coisa dessas, mas naquele momento eu não senti vergonha. Pra falar bem da verdade, acho que eu até gostei.

Bem, acho que agora é melhor eu ir. — falei, por fim. — Já tá na hora da minha aula. — apontei pra porta.

— Tranquilo. — Jade respondeu. — Ah! Uma pergunta, seu aniversário é dia 6, não é?

— Sim — respondi, cruzei os braços. — Como que você sabe?!

— Eu vi no facebook.

— 'Cê tava me stalkeando?! — questionei.

— Oops! — gesticulou. — É, eu tava sim— Deu de ombros — Mas tá, hoje é dia um, falta mais ou menos uma semana. Porque você não faz alguma coisa?!

— Não sei. — respondi — Não pensei em nada não.

— Ah, não se preocupe! Eu falo com a Chloe pra a gente fazer alguma coisa. — tranquilizou.

— Ah... Eu não queria comemorar em uma daquelas festas da Chloe não... — respondi, apreensiva.

— Relaxe. — gesticulou — Não precisa ser um festão nem nada, é só pra não passar batido mesmo. — explicou — E não precisa se preocupar com nada não, pode deixar comigo. Eu resolvo isso.

— Ok então. — Dei um sorriso, meio curiosa pra saber o resultado daquilo. 

— E eu tenho uma surpresa pra você! — comentou.

Arregalei os olhos.

— Surpresa? O que é? — não pude deixar de conter um sorriso

— Se eu te falasse não seria surpresa! — replicou — Agora vai lá pra sua aula que cê tá atradada, vou ir lá falar com a Chloe — ela me entregou minha mochila. — Boa aula ai, Lobinha

Dei um sorrisinho.

— Obrigada. — ela bagunçou meu cabelo e me deu um beijo na nuca, saiu andando.

— Falou! — despediu-se levantando a mão num sinal de "paz e amor". Estranhei o gesto, mas lembrei onde eu estava. Ah, amerianos.

— Tchau!

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