- Ei, não me trate assim. - A sua irmã só queria te proteger. - Ele continuava me abraçando.
- Talvez ela tenha razão, eu perdoei rápido demais você!
- Talvez você não tenha alternativa.
- Claro que eu tenho! Livre arbítrio!
- Você o teve até me conhecer... - Ele pegou meu rosto, e virou para ele.
- Angel, como eu falei, eu entendo a sua irmã. Mas por outro lado, olhe pra mim! - Eu olhava mas não entendia. - Eu fiquei maluco por dois meses te procurando, agora que eu te encontrei você acha mesmo que eu vou te perder? Sabendo que você me ama e que eu te amo? Qual a necessidade que temos de estar sofrendo? Para satisfazer o ego um do outro?
Ele tinha razão em partes.
- Mas só o amor você sabe que não é o suficiente para uma relação...
- Eu sei, apesar de ser mais velho, eu não tenho experiência nenhum com um relacionamento sério. Você é a primeira mulher que eu me relaciono sério, que morei junto, que assumi um compromisso, você não sabe o quanto isso foi um passo gigantesco para um cara que nunca cogitou a possibilidade de namorar... Tudo é novo pra mim também. Eu quero fazer diferente, eu quero fazer dar certo. - Eu já estava de olhos fechados chorando novamente.
- Ainda tem a Jéssica... - Meu coração sofria só de falar o nome dela.
Ele suspirou fundo.
- Tem, ainda tem ela. Mas ela foi uma namoradinha, que como a minha mãe falou, disse não a um menino mimado. - Ele tirou os olhos dos meus e baixou a cabeça. - Me aproximei muito da minha mãe nesses últimos meses, eu nunca pensei que ela me conhecesse tanto... e que fosse tão sábia.
- Por que você não se dá bem com ela? - A pergunta saiu antes que eu pensasse. Ele ficou pensando por um tempo. - Desculpa, eu não queria me intrometer na sua vida, foi apenas um pensamento que saiu alto.
- Agora não existe mais a minha vida, existe a nossa vida Angel. - Ele me olhou sério. - A nossa vida é uma só. Eu apenas estou encontrando palavras para te contar algo tão profundo que eu nunca contei para ninguém.
- Quando se sentir melhor você me conta...
- Eu quero contar, na verdade eu preciso contar. Talvez assim, você me entenda, ou ao menos tente compreender tanta burrada que eu fiz na vida.
Comecei a ficar preocupada, o que um menino tão lindo e rico pode ter passado na juventude para ter tantos traumas? Ele puxou a respiração bem forte e soltou antes de começar a falar.
- Minha mãe separou-se do meu pai quando eu era muito criança. Eu tinha apenas cinco anos e eu era muito agarrado à ela. - Ele estava bem nervoso, agora foi a minha vez de retribuir o abraço carinhoso que ele sempre me dava quando eu precisava. Ele suspirou e continuou, brincando com meus dedos, algo que ele sempre fazia quando nós estávamos relaxados.
- Eu costumava a dormir fazendo essa brincadeira na mão dela até pegar no sono, assim eu me sentia protegido para dormir... - Eu fiquei surpresa. - Sim, eu só faço isso com você, eu me sinto tão bem com você... -Ele se virou e me deu um beijo, eu correspondi.
- Só que ela simplesmente sumiu depois que separou do meu pai... - Eu senti um tremor no seu corpo como se ele relembrasse a dor que sentiu. - eu lembro que eu chorava todas as noites com saudade dela, meu pai nunca foi muito carinhoso conosco, se entregou ao trabalho e praticamente se mudou para o hospital, e vivia viajando administrando os hospitais, operando... deixando eu e o meu irmão sermos cuidado pela governanta da casa, a Ana. - Agora eu entendi porque ela amava tanto Jack. Coitadinho, tão novo, sem a mãe presente.
- May era a cozinheira, também ficamos muito apegados à ela. - continuou. - Mas eu continuava chorando todas as noites com saudade dela. Depois de dois anos e sem nenhuma notícia, eu comecei a me revoltar. - Pensou um pouco. - Acho que foi daí que eu formei minha personalidade nada bonita. - Ele fez uma pausa, meu coração já estava apertado só de ouvi-lo.
- Eu comecei a dar muito trabalho na escola. Eu fui expulso de várias. Lembro-me do meu pai muito autoritário dando vários sermões em mim, mas a única coisa que eu queria era o carinho de um dos dois e eu não tinha. - Ele fez outra pausa, dessa vez eu acho que era para não chorar.
- Ele me colocou na psicóloga, na terapia, acho que só faltou me colocar no psiquiatra. - Ele sorriu nervoso. - Nada acalmava minha personalidade agressiva. Eu lembro que com o passar do tempo, as inúmeras psicólogas a qual eu passei me pedia para desenhar minha família. Eu parei de desenhar minha mãe, e ao ser questionado, eu dizia que ela tinha morrido.
Me arrepiei com a revelação dele, era muito ódio e rancor para uma criança tão pequena carregar.
- Eu tinha quase dez anos, não lembro ao certo, quando ela apareceu na nossa casa para fazer uma visita assistida por um oficial de justiça. Ela estava chorando... - balançou a cabeça como se quisesse esquecer. - Meu irmão já adolescente correu para abraçá-la. E eu... - Balançou a cabeça novamente. - Advinha o que fiz?
- Não faço ideia... - Minha voz saiu como um fio.
- Eu vi meu pai no canto da sala, como um idiota, destruído... hoje eu entendo que aquilo tudo era paixão reprimida... eu senti ódio dela, ódio por tudo o que ela tinha feito na nossa vida, eu a culpei por todo o sofrimento que passamos. Eu falei coisas horríveis para ela. E saí correndo para o meu quarto. - Ele levantou a cabeça.
- A partir desse dia eu nunca mais tive uma conversa civilizada com ela. Eu sempre a ignorava. Para piorar a situação meu pai me colocou em um colégio interno por dois anos, para ver se acabava minha rebeldia... - Ele sorriu nervoso. - Eu voltei pior, eu me senti abandonado pelos dois.
- Todas os psicólogos, eram unânimes em dizer que enquanto eu não perdoasse a minha mãe eu não seria feliz com mulher nenhuma. Pois o exemplo de mulher que eu tinha era ela, e eu a odiava, ela não era nada perfeita, e eu achava que todas as mulheres eram iguais a ela.
Senti um impacto forte das suas revelações.
- E foi assim até eu conhecer você. - Ele me olhou, e sorriu nervoso, ele viu que eu estava abalada com as suas revelações.
- Eu quis você desde que eu te vi esbarrando em mim no hospital. Quando eu te vi seminua na minha cozinha... eu fiquei obsessivo. Eu nunca desejei tanto ter uma mulher como eu desejei ter você. - Ele puxou meus cabelos para trás.
- Eu me assustei quando percebi que você era virgem, eu não me relacionava com ninguém inexperiente desde Mary... era uma promessa que eu tinha feito a mim mesmo.
- Quem é Mary?
- Uma ex que... - Ele calou-se
- Que?
- Tirou a vida depois que eu a deixei... - Ele ficou visivelmente triste ao desabafar. Eu me afastei dele, eu já tinha ouvido esse boato, mas não imaginei que essa história realmente fosse verdade.
- Não se afaste... você não sabe o quanto me arrependo dessa história, mas eu não podia prever...
- Meu pai teve medo que essa história se repetisse com você, por isso ele tentou nos afastar tantas vezes. Ele não te odeia. Na verdade ele quis te proteger.
Agora as coisas começavam a clarear, era por isso que o pai dele tentava a todo custo afastá-los? Ele queria apenas manter a sanidade mental dela e zelar pela sua vida.
- Eu não seria capaz de tal loucura... - murmurei.
- Graças à Deus! Senão seriam três...
- Não entendi...
- Eu não aguentaria te perder... eu pensei que eu era forte, até te perder Angel... Eu sou fraco, muito fraco... eu tenho medo de perder você, muito medo... - Ele me abraçou forte, beijou minhas bochechas, cheirava meu colo como se precisasse dele para respirar.
- São muitas revelações... eu... - Ele afastou de mim e me encarou novamente.
- Você disse que só conseguiria ser feliz com alguém quando perdoasse sua mãe... - Eu não podia me arriscar, se ele me fizesse sofrer novamente?
- Eu a perdoei quando ela me trouxe você de volta. - Os olhos dele estavam marejados
- Me trouxe? Como assim?
- Ela que me avisou que você estava no hospital em Miami!
Eu arregalei os olhos com a surpresa. Mas... eu nem a tinha visto!
- Jack... eu...
- Não me deixe... - Ele me agarrou novamente
- Eu só preciso assimilar com calma...
- Adans contou toda a história para sua irmã essa noite, por isso ela está tão nervosa. Eu entendo o lado dela...
- Por isso você decidiu se abrir comigo? Com medo dela me contar?
- Não, eu só queria que você soubesse a raiz do problema, e não analisasse um fato isolado.
- Que história!
- Minha convivência aqui vai ficar complicada. Mas eu terei paciência, pois eu quero ter você para mim. Eu vou respeitar seu tempo, mas eu não vou deixar você sozinha. Sua irmã está muito zangada comigo. Eu vou embora, e voltarei para te buscar quando você estiver pronto para irmos para nossa casa.
O que? Ele ia embora? Eu senti todo meu sangue sumir do meu rosto! Eu... Merda! Eu teria coragem de ficar longe dele? Logo agora que eu o encontrei e ele abriu o coração para mim? Contou-me todos os seus problemas, me deixando perplexa, mas contou tudo!
E agora? O que eu faço....
Eita confusão! As pessoas apaixonadas tendem a dificultar as coisas!
E agora?
Votem, comentem! (Não esqueçam!)
Amanhã eu volto! ❤️😍