Trapaças do Destino

By HunterPriRosen

182K 18.6K 15.3K

Olivia Mills é uma estagiária que tem sérios problemas com os seus dois chefes, que ela costuma chamar de dem... More

O Cosplay
O suco de maracujá
Sinta medo e o enfrente
Não irrite o Hulk!
Mama Mia!
Eca!
Mensagem do Além
Matemática
Big Brother Midgard
Chocolate e Cafézinho
O Homem de Ferro!!!
Lapso de Loucura
O Par Perfeito?
O que perdemos e o que ganhamos
Saia Justa
Vida que segue
Macumba Poderosa
Sorria e acene
A paciência é uma virtude
Ação e Reação
Hoorayyyyyy
Teatrinho
Sentindo coisas estranhas
Decisão
Crek
Quebra-cabeça
Eu vou sobreviver
Próximos passos
Abre alas que eu quero passar
Desastre em escala global
Vingancinha pessoal
Eitcha lelê
O dia seguinte
A Sessão
Recomeço
Duas amostras
Família
Final
Epílogo
BÔNUS: Cena pós-créditos

Olivia... Sempre Olivia

4.1K 391 361
By HunterPriRosen

Detesto pensar em Olivia. No entanto, desde que deixei o meu exílio para trás e voltei para Asgard, isso virou algo constante em minha existência. Aquela midgardiana abusada e mentirosa simplesmente não sai dos meus pensamentos.

Pior, às vezes, é como se Olivia estivesse dentro de minha mente, falando comigo, dando palpites sobre a forma como venho me comportando desde que voltei, me recriminando como se fosse a dona da razão, como se ainda quisesse me ensinar boas maneiras, sempre com aquele maldito nariz empinado e um dedo em riste em minha direção.

E digo mais, às vezes, é como se Olivia me afrontasse por eu não conseguir tirá-la dos meus pensamentos, por não conseguir silenciá-la, por estar enlouquecendo por causa... Dela.

Achei que no momento em que pisasse na Bifröst, tudo voltaria a ser como era antes e que eu deixaria tudo o que vivi em Midgard para trás, mas eu estava enganado e a verdade é que eu sinto como se nem tivesse voltado. Ou como se tivesse deixado uma parte de mim para trás. Uma parte que me assombra todos os dias junto com uma série de perguntas.

Olivia realmente mentiu para mim? Ela me manipulou? Tudo não passou de um plano entre ela, Thor e seus coleguinhas de equipe? Eu fui mesmo enganado por aquela midgardiana abusada ou só estou buscando um pretexto para odiá-la e fugir do que... Do que talvez eu sinta por ela? E o que eu sinto por ela? Por que me libertei do bracelete ao beijá-la? O que eu senti naquele momento? O que sinto agora? Por que não consigo parar de pensar naquele tormento em forma de midgardiana? Por que ela continua me assombrando dia após dia? Por que Olivia simplesmente não sai do meu pensamento?

Estou sentado em uma escadaria do palácio, com uma vista das imponentes edificações asgardianas atrás de mim, quando uma risada feminina rompe o silêncio, até então absoluto, e formula com deboche:

— Você fica com uma cara engraçada quando está pensando nela.

Ergo a cabeça e analiso a intrusa, lhe lançando um olhar nada amigável.

Sif está escorada em uma pilastra, relativamente perto de onde eu me encontro. Ela move uma adaga de uma mão para a outra distraidamente, enquanto me encara com uma sobrancelha levemente arqueada.

Estou me perguntando há quanto tempo Sif está me observando, quando a infeliz indaga:

— Era na mortal que você estava pensando, não era, gafanhoto?

Já sei o que sinto por Olivia. Ódio extremo.

Maldita hora em que aquela midgardiana desprezível resolveu me dar este apelido tão detestável e ofensivo. Apelido este que não paro de ouvir desde que voltei.

É como se, de repente, todos quisessem me afrontar com isso, como uma espécie de vingança por tudo o que eu já fiz, ao mesmo tempo em que me obrigam a pensar ainda mais em Olivia Mills.

Aquela insolente... Aquela abusada... Eu a odeio com todas as minhas forças. E a odeio ainda mais por... Não conseguir odiá-la por muito tempo.

Seja como for, e tentando mascarar minhas possíveis e impróprias emoções, estreito meu olhar na direção da guerreira asgardiana e articulo de um jeito ácido:

— Lady Sif! O que você está fazendo aqui? Onde está Thor? Por que você não vai espreitá-lo como sempre e... — Paro de falar, finjo que me dei conta de algo elementar, então solto uma leve risada e prossigo com sarcasmo: — Oh! Certo. Eu me esqueci completamente. A midgardiana Jane Foster se encontra aqui, certo? E quando ela está em Asgard, você tende a ficar ainda mais... Esquecida. — Observo Sif parar de mover a adaga, analiso a sua expressão se fechando diante de minhas palavras e resolvo humilhá-la mais um pouco: — Por falar nisso, como é a sensação?

A infeliz me encara de um jeito firme, mas sei muito bem que a atingi em cheio. Prova disso é que ela se defende imediatamente:

— Eu não sei o que você está tentando insinuar, Loki, mas Thor é meu amigo.

— Obviamente. — Rio de novo, inclino um pouco a cabeça e arremato: — Afinal, o que mais você poderia ser para ele, não é mesmo? Além de uma fiel amiga?

A expressão de Sif se fecha ainda mais e eu me delicio com sua humilhação.

Derrotada, ela prende a adaga em sua cintura, desvia do meu olhar, me dá as costas e começa a se afastar a passos largos.

E eu deveria deixá-la ir, mas, para meu desespero, me lembro de Olivia e de que como ela reprovaria o que eu fiz. Pior, imagino como ela ficaria desapontada se estivesse aqui e tivesse ouvido o que eu disse. Quase a vejo por um instante, balançando a cabeça negativamente.

Detesto me importar com a sua opinião — ainda mais porque ela nem está aqui —, mas é inevitável. E como se eu não tivesse mais controle sobre mim, me ouço dizendo:

— Eu não devia... — Paro de falar quando Sif detém o passo, se vira e me encara visivelmente confusa. Me amaldiçoo mentalmente e amaldiçoo aquele tormento em forma de midgardiana também, antes de desviar do olhar de Sif e completar relutante, quase inaudível: — Eu não quis dizer isso.

O silêncio que se segue é sufocante e tenho vontade de desaparecer. Não acredito que fiz isso.

Tão incrédula quanto eu — mas com certeza se divertindo internamente com isso —, Sif sorri discretamente e pergunta:

— Por acaso você está me pedindo desculpas, Loki?

— Claro que não, não seja ridícula! — despejo no susto, tentando me preservar e desviando do seu olhar novamente. — Eu só... Eu só estou... Retirando o que eu disse porque... — Me amaldiçoo novamente e, incapaz de explicar por que estou agindo assim, cerro os punhos, engulo em seco e desconverso como se meu estranho comportamento não significasse absolutamente nada: — Porque sim. Agora me deixe sozinho.

Para meu desespero, Sif não só não se retira, como me provoca com um deboche e uma satisfação palpáveis:

— Ora, ora. Eu não acreditaria se não visse com os meus próprios olhos, mas veja só. Parece que você realmente mudou... Gafanhoto.

Ergo meu olhar em sua direção, lhe fitando de um jeito raivoso por ouvir este maldito apelido de novo. Apelido que apenas me remete ainda mais àquela midgardiana mentirosa. Como se eu realmente precisasse de mais um motivo para pensar em Olivia...

Antes que eu pense em uma forma de me defender, Sif sorri mais abertamente e deixa a sala do trono.

Permaneço sentado na escadaria, pensando na forma como venho me comportando ultimamente. Em como tenho me sentido vulnerável, confuso e... Infeliz. Em como tenho evitado ao máximo conversar com Thor ou quem quer que seja. Em como tenho evitado o assunto proibido — lê-se Olivia. Em como estou com raiva de tudo e de todos. Em como estou com raiva de mim mesmo por começar a cogitar que talvez a midgardiana não tenha me manipulado, afinal. Pelo menos, não o tempo todo.

Sim, Olivia pareceu sincera em alguns momentos. Na maioria deles, eu acho. Como naquela estrada, por exemplo, quando me disse como se sentia, antes de nós nos...

Sinto certo calor ao relembrar o que aconteceu entre nós e me levanto, ainda com mais raiva de mim por ter essas sensações impróprias quando penso nela.

Começo a me afastar, mas me detenho quando uma voz odiosa me chama:

— Loki.

Viro-me imediatamente e observo Odin, o ilustríssimo e pedante Pai de Todos, adentrando o recinto e se dirigindo ao trono.

Ele mal olha para mim quando anuncia:

— Nós precisamos conversar.

Ótimo. Tudo o que eu precisava neste momento... Não estou com a menor paciência para isso agora.

Então, espero o caquético Rei de Asgard se acomodar no trono que deveria ser meu, rio sem humor e articulo com escárnio:

— Eu pensei que nós já tivéssemos feito isso, quando eu voltei, lembra? Não foi bem uma conversa, apenas mais um dos seus sermões insuportáveis, mas... Por favor, não me submeta à tortura de te ouvir de novo ou eu terei mais um motivo para querer matá-lo.

— Chega, Loki — Odin resmunga, demonstrando que também não está com paciência para mais um embate entre nós. — Você não me matou quando teve oportunidade, então não tente me convencer que realmente deseja isso — argumenta com uma segurança que me irrita profundamente, embora eu saiba que ele está certo, afinal eu realmente pude me livrar dele e, no entanto, decidi poupá-lo.

Seja como for, não posso demonstrar que fui um fraco e então resolvo me defender. Para isso, dou alguns passos à frente, paro diante do trono com as mãos para trás e o ameaço veladamente:

— O senhor acha mesmo que eu não desejo isso? Sua morte? Então o que eu desejo? — Estreito meu olhar em sua direção e intimo entredentes: — Me diga.

— Na verdade, é o que eu quero entender também. — Franzo o cenho diante da resposta confusa de Odin e o infeliz resolve explicar melhor: — Você cometeu um erro, Loki. Muitos, na verdade. Então você foi exilado em Midgard, apenas porque Frigga morreu acreditando que havia algo de bom em você. E agora você voltou, o que mostra que talvez ela estivesse certa, afinal. Mas, a questão é que eu não sei quem é este Loki que voltou de Midgard. Muito menos o que ele quer.

Não sei o que o Pai de Todos pretende com esta conversa, então tudo o que eu consigo fazer é ameaçá-lo de novo:

— O Loki que voltou de Midgard ainda quer o lugar que lhe é de direito.

Depois de abrir os braços, indicando onde está sentado, Odin desafia:

— O trono de Asgard? É isso o que você quer, meu filho? Então por que você não tramou nada até o momento? Por que ainda não tentou ocupar o lugar que lhe é de direito?

Entendo menos ainda o que este miserável pretende com esta conversa e tudo o que consigo fazer é agredi-lo com palavras:

— Em primeiro lugar, eu não sou seu filho. É deprimente que depois de tudo o que eu fiz, você ainda banque o tolo sentimentalista comigo. E em segundo lugar, quem disse que eu não estou tramando algo?

Sua voz grave e firme ecoa pela sala:

— Loki, se você estivesse tramando algo, certamente não insinuaria isso. Você guardaria para si mesmo. Ou melhor, você já teria feito. O que, claramente, não é o caso. — E depois de um breve momento em silêncio, ele muda o foco da conversa: — Agora, apesar de tudo o que você fez, em memória de sua mãe e também por Thor, eu estou disposto a deixar o passado no passado.

É inevitável. Rio de suas palavras. E ainda rindo, retruco:

— E então nós seremos uma família unida e feliz? Que lindo! Está um pouco tarde para isso, você não acha?

Prontamente e como se quisesse me obrigar a refletir sobre o assunto, o Pai de Todos não se abala e replica pausadamente:

— Nunca é tarde para uma segunda chance. Frigga quis lhe mostrar isso quando criou aquele bracelete. E se você se libertou dele é porque, no fundo, sabe disso. É porque você merece esta segunda chance, Loki. — E então, para meu desespero, o miserável insinua: — Talvez você se recuse a enxergar isso agora porque deixou uma situação mal resolvida para trás e isso está... Tirando o seu foco.

Lhe lanço um sorriso displicente, embora a minha vontade seja de voar em seu pescoço, e rebato do jeito mais indiferente que consigo:

— Se você está falando daquela midgardiana insolente, não seja tolo. Não há nada mal resolvido entre nós. Ela cumpriu o papel para o qual foi designada por Thor e agora...

Para minha surpresa, uma risada rouca escapa da garganta de Odin, me fazendo engolir as próximas palavras e fitá-lo confuso, nem um pouco satisfeito com a interrupção e com a incredulidade em seu semblante.

— Eu disse algo engraçado, grande Rei? — cuspo as palavras com uma raiva contida.

Ele demora alguns instantes para responder, mas finalmente o faz:

— Você é um mentiroso que não sabe mais mentir, Loki. Se eu tinha alguma dúvida de que algo mudou dentro de você, agora eu não tenho mais. — E após uma breve pausa, ele encerra: —Dispensado.

Penso em retrucar, mas não sei se tenho argumentos suficientes para isso neste momento. Então lhe dou as costas e me afasto.

No fundo, ainda não entendi qual o propósito desta conversa. Claro, Odin quis dizer que, de alguma forma, aquele tormento me mudou, mas o que exatamente ele pretende me afrontando com isso? O que Sif pretendia quando me afrontou há pouco também? E por que Thor insiste em dizer que Olivia foi honesta comigo?

De repente, Odin volta a se manifestar, me fazendo deter o passo quase no limite da enorme sala:

— Se eu pudesse escolher, Thor nunca teria se envolvido com a midgardiana Jane Foster. Mas, eu estaria sendo hipócrita se dissesse que ele não amadureceu depois dela. Com o tempo, eu acabei me acostumando com a relação dos dois. Não é o ideal, é claro, mas Thor está feliz e eu aprendi que isso basta para mim.

Embora uma parte de mim tenha matado a charada, preciso de uma confirmação. Então, olho em sua direção e questiono:

— Por que você está me dizendo essas coisas?

Enquanto me encara de um jeito firme, Odin insinua:

— Você sabe por que, Loki. — Mas, diante da minha provável expressão confusa, ele completa: — O que vale para ele, vale para você também.

Acho que é a primeira vez que Odin me iguala ao seu queridinho primogênito. E não posso negar que uma parte de mim fica satisfeita ao ouvir isso.

No entanto, claro que não dou esse gostinho a ele, pois ainda o odeio profundamente. Por ter mentido sobre minhas origens e por preferido Thor inúmeras vezes, me deixando viver à sua sombra, completamente esquecido, em segundo plano.

Talvez um dia, eu e este velho pedante até possamos recomeçar. Mas, certamente, este dia não é hoje. As coisas não são tão simples quanto Odin quer me fazer acreditar que são. E sendo assim, lhe lanço um olhar gélido e deixo o recinto sem dizer mais nada.

XXX

Caminho sem rumo certo e quando dou por mim, estou seguindo em direção à Bifröst.

Vejo Thor durante o percurso, mas ele não me vê. Ou melhor, não me reconhece. Criei uma ilusão e assumi a aparência de um dos guardas do palácio antes que ele erguesse o olhar em minha direção. Fiz uma breve reverência, quando o imbecil passou por mim e sorriu discretamente.

O que menos preciso agora é de mais alguém me afrontando com qualquer coisa referente à Olivia. E tenho certeza que Thor voltaria a falar sobre ela, caso tivesse me visto caminhando a esmo por aqui.

Aliás, desde que retornei para Asgard, o idiota não para de falar sobre Olivia e sobre a missão em si. Thor já me explicou, em detalhes e inúmeras vezes, como tudo aconteceu, como ela foi envolvida e como realmente tentou me ajudar. A princípio, apenas para agradar os Vingadores, mas depois... Segundo Thor, Olivia se empenhou devido aos seus sentimentos por mim. Ele assegura que ela foi honesta quanto a isso.

Mesmo assim, uma parte de mim se recusa a acreditar, pois isso significaria que eu não tenho um pretexto para odiar Olivia Mills. E eu preciso odiá-la de alguma forma. Preciso.

Enquanto isso, a outra parte de mim, a parte que, infelizmente, sente falta daquele tormento, sabe que Thor está dizendo a verdade. E sabe que, mais cedo ou mais tarde, eu terei que lidar com isso. Com a verdade. E com Olivia, já que esta parte de mim não quer deixá-la para trás.

Me sinto tão ridículo pensando naquela insolente. Tão ridículo por, no fundo, querer acreditar nela. Tão ridículo por querer dar ouvidos ao imbecil do Thor. Tudo seria tão mais simples se Olivia não tivesse despertado... Coisas ridículas em mim. A essa altura, ela seria apenas uma lembrança sem importância de Midgard. Mas, para meu azar... Ou sorte, não sei ao certo, Olivia é bem mais do que isso.

Quando chego ao final da Bifröst e vejo Heimdall em seu posto, já assumi minha real aparência e tudo o que quero é um pouco de paz. E a princípio, acho que terei isso, já que o sentinela está em silêncio e com o olhar fixo em algum ponto do universo, ignorando a minha presença e me dando o espaço que vim a procura.

No entanto, logo o seu silêncio absoluto começa a me incomodar profundamente. E quando dou por mim, estou olhando na mesma direção que ele e me perguntando o que exatamente Heimdall está olhando tanto.

É inevitável. Por mais que eu odeie, a curiosidade toma conta de mim e me pergunto se o sentinela, por acaso, está olhando para Midgard. E se sim, o que exatamente ele está vendo? Ou... Quem está observando?

De repente, a voz grave e quase mecânica de Heimdall me desperta de tais questionamentos:

— Por acaso você quer me perguntar alguma coisa... Gafanhoto?

Sinto o meu sangue ferver ao ouvir este maldito apelido de novo, mas decido não demonstrar minha insatisfação, pois sei que isso só incentivaria ainda mais o seu uso. O melhor é não demonstrar o meu incômodo e esperar que a piadinha de Olivia perca a graça algum dia.

Olivia... Sempre Olivia.

Heimdall questionou se eu quero lhe perguntar algo e a verdade é que não posso negar que a midgardiana surge em meu pensamento imediatamente. Não posso negar que, contrariando todas as probabilidades do universo, eu... Gostaria de saber o que ela está fazendo neste exato momento.

Claro que o meu orgulho fala mais alto e, sendo assim, eu coloco as mãos para trás, olho para os lados por um instante e me faço de desentendido:

— Não. Por quê? Por acaso você quer me dizer alguma coisa?

Espero que isso seja o suficiente para Heimdall dizer logo o que eu quero ouvir.

— Não. A menos que você queira saber, é claro — o infeliz retruca, se fazendo de desentendido também.

Engulo a raiva e replico, fingindo indiferença:

— Não, eu não quero. — E quando vejo uma discreta oscilação no rosto de Heimdall, como se ele quisesse rir, reforço entredentes e do jeito mais convincente que consigo: — Eu não quero saber de nada.

O maldito fica em silêncio por algum tempo, até que se manifesta de um jeito sonso e mecânico:

— Certo. Se você não quer saber... Tudo bem.

Cansado deste jogo, sabendo que isso não vai me levar a lugar algum e incapaz de engolir o meu orgulho e perguntar por Olivia com todas as letras, fuzilo Heimdall com o olhar, lhe dou as costas e me afasto a passos largos.

— Ela está bem — ouço-o dizer e me detenho no mesmo instante. — A midgardiana Olivia está bem.

Não sei o que sinto neste momento. É uma espécie de alívio por saber que aquela insolente está bem e uma frustração egoísta, afinal como assim ela está bem? Olivia não está sofrendo nem um pouco? Então tudo foi mesmo fingimento e eu estava certo? Ela realmente me manipulou e agora sua vida simplesmente voltou ao normal? Aos eixos?

Tentando me convencer de que não me importo nem um pouco com isso e que já era de se esperar que eu estava certo sobre aquela midgardiana desprezível, retruco friamente ainda de costas para Heimdall:

— Eu não perguntei nada.

— Não significa que você não queira saber — o sentinela inconveniente rebate sem pestanejar, fazendo a raiva dentro de mim se alastrar. Principalmente porque sei que, infelizmente, ele está certo. E como se soubesse mesmo disso, Heimdall acrescenta pausadamente: — Como os midgardianos costumam dizer, ela está tentando dar a volta por cima. E tentando te esquecer. Não significa que esteja conseguindo.

Confuso e sem saber o que pensar direito, finalmente volto a olhar para ele e decido encerrar o assunto, dizendo com uma falsa indiferença e certa agressividade:

— Obrigado pelas informações tão pertinentes, Heimdall, mas eu realmente não tenho o menor interesse em saber como aquela midgardiana está.

Então, sem pensar duas vezes, dou alguns passos à frente, decidido a retomar o caminho de volta ao palácio, mas detenho o passo mais uma vez, quando o sentinela diz em alto e bom tom:

— Você não está proibido de ir a Midgard.

Um tanto surpreso e me perguntando o que Heimdall quer dizer com essa frase solta — embora, no fundo, eu tenha um forte palpite —, espero ele prosseguir.

E é o que o sentinela faz após alguns instantes pensativo:

— Eu posso mandá-lo para lá. E quando você quiser voltar, eu estarei aqui, a postos como sempre, para abrir a Bifröst.

Ir para Midgard? E por que eu iria querer uma coisa dessas, se tudo o que realmente quero é esquecer aquele maldito lugar e aquela... Insolente?

— Por que você acha que eu quero voltar lá? — tal pergunta simplesmente sai de minha garganta.

Após um longo momento de silêncio, Heimdall insinua:

— Pelo mesmo motivo que fez o bracelete se abrir.

Era só o que me faltava. Até este infeliz pensa que me livrei do bracelete por causa de Olivia? Por causa do que, teoricamente, sinto por aquela criatura completamente insignificante?

Com certeza, Heimdall está errado. Todos estão. Eu não sinto absolutamente nada por ela e apenas me libertei do bracelete porque fiz a caridade de beijá-la. Fiz uma boa ação. Um sacrifício. O maior de todos os sacrifícios. É isso.

Tentando me convencer disso e de que não quero ir para Midgard e ver, com os meus próprios olhos, como Olivia está, volto a caminhar pela Bifröst, seguindo em direção ao palácio.

No entanto, por algum motivo, diminuo o ritmo dos passos aos poucos, alguns metros adiante, até me deter por completo no meio da ponte e cerrar os punhos ao lado do corpo, com uma raiva ainda maior dentro de mim.

Odeio o que sinto por Olivia. Odeio não conseguir deixar de sentir. Odeio a vontade irresistível que surge dentro de mim. A vontade de vê-la. É mais forte do que eu, afinal.

Olho para o palácio e repito para mim mesmo que devo continuar andando, mas, tudo o que faço é me virar na direção de Heimdall e hesitar por algum tempo. Não por muito tempo.

XXX

Fui bem claro com Heimdall. Exigi que ele me mandasse para um local bem longe de Olivia, já que não quero, de forma alguma, que ela me veja chegando.

Então, o sentinela me enviou para o topo de um edifício da cidade que quase dominei um dia e para onde fui exilado recentemente. Parece ficar a uma boa distância do cubículo onde Olivia reside.

O lugar está meio abandonado, parece uma construção inacabada ou em processo de finalização, eu não sei. Tudo o que sei é que não vejo nenhum midgardiano até deixar o prédio e alcançar um beco fétido. Nele vejo um andarilho sentado no chão, há poucos metros de mim.

Ao me ver, ele fica visivelmente surpreso e assustado. Talvez impressionado com os meus trajes. Ou talvez tenha me reconhecido devido a minha tentativa de dominar este Reino atrasado, há algum tempo.

Seja como for, me convenço de que é melhor ocultar meus trajes asgardianos com magia e, em questão de segundos, eles se transformam em legítimas roupas midgardianas.

Arqueio as sobrancelhas e sorrio displicentemente enquanto encaro o mero mortal, ainda mais assustado, diante de mim.

Instantes depois, ele olha de mim para uma garrafa em suas mãos algumas vezes, se levanta rapidamente e se afasta correndo e aos tropeços, enquanto diz:

— Eu tenho que parar de beber!

Assim que fico sozinho, endireito a postura e caminho na direção oposta ao do mortal, deixando o beco em seguida e alcançando a calçada de uma rua pouco movimentada.

Dou mais um passo à frente e tenho um sobressalto quando vejo Olivia, de costas, a uma distância considerável de mim, mas ainda assim, perto demais.

Ela está diante de um veículo rudimentar e amarelo, se despedindo dos seus amigos desprezíveis que, por sorte, estão distraídos, conversando com ela, e não notam a minha presença.

Imediatamente, volto para o beco e amaldiçoo Heimdall, lançando um olhar feroz em direção ao céu e jurando que isso vai ter volta. Qual parte de longe de Olivia, ele não entendeu?

Avalio assumir a aparência de algum ser deste Reino e sair do beco novamente, mas descarto a ideia por ora, já que me atento a ouvir a conversa que ocorre na calçada.

Logo, reconheço a voz do amigo de Olivia, Josh:

— Desculpe, Liv. Quando disseram que tocava música ao vivo naquele bar, eu não imaginei que só iam tocar as mais românticas de todos os tempos.

— Tudo bem, foi divertido mesmo assim — Olivia diz e noto certa tristeza em sua voz.

— Divertido? — Agora é a tal Amy quem diz. — Você não comeu nada, nem bebeu e ainda ficou deprimida por causa da música.

Prontamente, Olivia argumenta com uma voz doce e carinhosa:

— Valeu a pena pelas companhias.

Na sequência, seus amigos fazem um tipo de som gutural constrangedor, indicando que gostaram muito do que ouviram e, embora eu não possa ver nada de onde estou, acredito que estão abraçando o tormento.

Um longo momento de silêncio se passa até que Josh volta a se pronunciar:

— Eu ainda não acredito que você trancou a faculdade. Aquele lugar não será o mesmo sem você.

Olivia não diz nada, mas consigo imaginá-la respirando fundo neste momento, sem saber o que dizer. E eu só consigo me perguntar por que ela tomou tal decisão. Não que eu me importe com qualquer coisa que esta insolente faça com sua existência, mas até onde eu sei, Olivia gostava da tal faculdade.

— Mas eu estou muito orgulhoso por você ter retomado a terapia — Josh prossegue na sequência, me deixando, inevitavelmente, pensativo.

— Obrigada — Olivia agradece simplesmente. — Por tudo.

Mais um momento de silêncio se passa, até que a midgardiana Amy pergunta:

— Você vai ficar bem?

Olivia não responde, mas imagino que ela balança a cabeça afirmativamente, já que ninguém se manifesta nos próximos segundos.

Algum tempo depois, ouço a porta do veículo rudimentar sendo aberta e Josh dizer:

— A gente se fala, gata. Se cuida e qualquer coisa, é só gritar.

Em seguida, é a vez de Amy se despedir:

— Pensa no que nós falamos, okay? São 25 anos, Liv. Um quarto de século. Merece uma festa sim.

— Tudo bem eu vou pensar. — Ouço Olivia se comprometer, mas tenho a impressão de que ela não está sendo sincera. A tristeza implícita em sua voz deixa claro, ao menos para mim, que ela não está no clima para comemorações.

Será que estou imaginando coisas? Será que sua aparente tristeza tem algo a ver comigo?

De repente, os três dizem mais algumas coisas que não consigo distinguir, acho que se abraçam novamente e, por fim, as portas do veículo são batidas e ele parte.

Hesito por algum tempo, enquanto me pergunto por que decidi vir até Midgard, até que me convenço de que só vim para provar para mim mesmo que Olivia me manipulou. É isso. Não foi porque eu... Senti a sua falta. Mesmo porque, eu não senti. E não foi para ver como ela está, já que não me importo nem um pouco com o seu bem estar. Só preciso provar que eu estava certo a seu respeito. Só preciso de um pretexto para odiá-la.

Ao pensar nisso, acabo me lembrando do pedante soldadinho da América e da intimidade que ele demonstrou ter com Olivia, naquele dia na estrada midgardiana, quando ainda teve a audácia de tocar em seu braço.

Sendo assim, e sentindo algo arder dentro de mim ao relembrar aquele dia, assumo a aparência do grande herói, com direito ao uniforme ridículo e patriota, mas deixando o rosto dele à mostra, e saio do beco, chamando calmamente:

— Olivia.

Ela que, aparentemente, se preparava para atravessar a rua, olha imediatamente para trás e me fita de um jeito surpreso.

Maldição... Eu não devia sentir o que estou sentindo. Eu não deveria sequer sentir.

Isso não vai dar certo. Esta insolente está muito... Muito apresentável esta noite. Apresentável demais, aliás, com um vestido num tom amarelo que... Realça demais o seu corpo curvilíneo e mostra boa parte de suas pernas.

Tenho que fazer um esforço para voltar a encará-la e conter um calor libertino dentro de mim. E me odeio por admitir isso, mas sei que se estivéssemos em outro lugar, eu não hesitaria em arrancar as roupas de Olivia imediatamente.

— Steve! — ela exclama espantada, olhando tudo em volta com certa preocupação, enquanto caminha apressada até mim. — Pelas barbas do profeta! O que você está fazendo aqui? — pergunta de um jeito nervoso demais para o meu gosto, antes de segurar em meu braço e praticamente me arrastar de volta ao beco.

Então é isso. Eu estava certo, afinal. Olivia e o soldadinho idiota tem mesmo algo um com o outro. O que mais explicaria tal grau de intimidade? Por que mais Olivia estaria o levando para um beco escuro?

De repente, a midgardiana solta o meu braço, respira fundo e diz com certa indignação e de um jeito apressado:

— Você enlouqueceu?! Aparecer assim de uniforme e tudo no meio de Nova York, a cidade que nunca dorme? Só faltou pendurar uma melancia no pescoço! Por sorte esta rua é menos movimentada, mas alguém poderia ter te visto, Capitão. A HYDRA ainda está por aí, lembra?

Abro a boca para inventar uma desculpa qualquer, mas me detenho ao constatar que Olivia está preocupada com aquele verme patriota e sinto algo, que com certeza não é ciúme, se agitar dentro de mim.

Então, disposto a esclarecer as coisas de uma vez por todas e ter o pretexto que preciso para odiar Olivia Mills e esquecê-la, tomo uma decisão. Farei o sacrifício de beijá-la de novo. Apenas para provar que estou certo sobre sua ligação com aquele maldito Vingador, e não porque eu... Esteja com vontade de beijá-la. Mesmo porque, eu não estou. Que fique bem claro.

— Espera... — ela sibila com um olhar distraído, enquanto dou um passo em sua direção. — O Bruce disse que você estava em uma mi... — Dou mais um passo e Olivia recua, indagando: — Steve, o que você está fazendo?

Não respondo. Simplesmente dou mais passos em sua direção, me aproximando mais e mais, enquanto a encaro de um jeito firme, sem lhe dar escapatória a não ser manter seu olhar no meu.

Dou mais um passo e assim Olivia não tem mais para onde ir, já que seu corpo encontra uma parede atrás de si. Então, ergo minha mão e toco o seu rosto. Envolvo sua nuca. Sinto Olivia estremecer com o meu toque — com o toque dele.

Procuro não pensar no que sinto neste momento e no real motivo para eu estar fazendo isso.

É apenas para comprovar minha suspeita. Repito para mim mesmo, enquanto aproximo meu rosto do dela e me lembro daquele beijo na estrada. E de tudo que... De tudo que... De tudo que, talvez, eu tenha sentido naquele momento. Nada muito importante, é claro.

— Steve Rogers da Silva Sauro, que brincadeira é essa?! — Olivia indaga, parecendo confusa e com raiva, mas claro que é apenas um joguinho de sedução entre ela e o ilustríssimo Capitão América.

O ciúme se mistura ao desejo e eu não consigo esperar mais nem um segundo. Fecho os olhos e pressiono meus lábios em sua boca com ímpeto, raiva e... Rendição. Sim, me odeio por isso, mas simplesmente me entrego e me deixo levar novamente. Como naquele dia, na estrada. E odeio admitir, mas sinto tudo aquilo de novo.

A princípio, Olivia resiste, parecendo realmente surpresa com a atitude do soldadinho da América, mas logo sinto-a estremecer e corresponder timidamente ao beijo.

Não sou bom em descrever emoções — há pouco tempo, eu mal as sentia —, mas sei que o que sinto neste momento é algo forte e que me tira completamente o controle. É algo que tem vontade própria. Algo que me faz envolver os lábios desta midgardiana desprezível e traidora com mais avidez.

E Olivia corresponde. Passando de tímida para algo bem diferente em poucos segundos. Ela corresponde ao beijo à altura do meu desejo. Ela gosta do meu beijo. E isso apenas faz o ciúme e a decepção se alastrarem dentro de mim, afinal, não é o meu beijo, não sou eu que ela está beijando. É ele.

De repente, suas mãos trêmulas alcançam os meus cabelos e seus braços envolvem o meu pescoço, me trazendo para mais perto do seu corpo, me envolvendo, me seduzindo, me incitando.

Eu odeio Olivia. Profundamente. E me odeio por não conseguir afastá-la. Mesmo sabendo que ela está beijando aquele verme, eu não a afasto. Apenas a beijo com mais impetuosidade, lutando para retomar o controle sobre mim mesmo, mas não consigo.

Então começo a repetir mentalmente que eu estava certo sobre ela e aquele Vingador. Eu estava certo sobre tudo não ter passado de uma missão para ela. Olivia mentiu em prol da missão. Ela nunca sentiu nada por mim, apenas quis que eu acreditasse. Ela e o Capitão América são realmente íntimos. Ou se ainda não eram, acabaram de ficar. Porque ela correspondeu. Olivia correspondeu.

Ao me dar conta de tudo isso, finalmente rompo o nosso contato e me afasto abruptamente. Com raiva e sentindo uma decepção profunda, a observo por um instante. Olivia parece atordoada, sem fôlego e seus olhos permanecem fechados, como se ela estivesse em um estado de torpor.

Sem pensar duas vezes, saio do beco midgardiano, caminho a passos largos e deixo Olivia Mills para trás. Para sempre. Como tem que ser.

Continue Reading

You'll Also Like

407K 37.6K 28
Ellie acorda em outra realidade e aos poucos vai percebendo que está em Crepúsculo. Presa dentro do livro que sua prima tanto lhe falava, ela luta co...
1.1K 74 9
Lizzie , a herege que encantou um Malfoy e um Riddle. Metade vampira, metade bruxa. Metade de Tom , metade de Draco.
829K 49.3K 144
Julia, uma menina que mora na barra acostumada a sempre ter as coisas do bom e do melhor se apaixonada por Ret, dono do morro da rocinha que sempre...
168K 11K 23
Alexie é uma garota de 17 anos que morava em Nova York até que seus pais foram assassinados. Seu tio Charlie ficou com sua guarda mais o trabalho de...