Abre alas que eu quero passar

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Sinto como se o meu pobre coraçãozinho midgardiano fosse sair pela boca de tão descompassado que está. O sabor inconfundível de algodão doce ainda está presente em meus lábios e minhas pernas estão tão trêmulas que mal consigo me manter em pé.

Mesmo assim, me obrigo a me recompor minimamente, dou um passo a frente, abro os olhos e sibilo profundamente surpresa:

— Gafanhoto...

A felicidade que sinto neste momento — e que senti durante aquele que foi o nosso segundo beijo oficial —, se dissipa assim que eu percebo que estou completamente sozinha no beco e dá lugar a uma confusão crescente.

Sem entender nada, olho tudo em volta na esperança de encontrar aquele trapaceiro irresistível em algum cantinho escuro, mas como não vejo nem sombra do dito cujo, coloco as mãos na cintura e, lembrando-me de uma típica frase de minha saudosa avó, falo sozinha e indignada:

— Mas que marmota é essa?!

Querendo respostas e sabendo que preciso de Loki para obtê-las, caminho meio aos tropeços para fora do beco e dou uma boa olhada para os dois sentidos da calçada a sua procura.

No entanto e mais uma vez, não vejo nem sinal do gafanhoto beijoqueiro, e a confusão que sinto apenas se intensifica e se mistura com uma inevitável frustração dentro de mim.

Onde foi que esse danadinho se meteu, minha Nossa Senhora Protetora Das Midgardianas Que São Atacadas Em Becos Escuros Por Deuses Asgardianos?

Espera... Loki me atacou em um beco escuro. Ele voltou para Midgard e veio atrás de mim. Ele me beijou. Mas... Ele parecia o Steve quando fez isso. Por quê? Por que o gafanhoto fez isso? Que tipo de fetiche é esse que eu nunca ouvi falar?

Enquanto me faço essas perguntas, caminho ainda com as pernas trêmulas pela calçada e dou mais uma boa olhada a minha volta. Porém, tudo o que vejo são alguns carros e táxis cruzando a rua e poucas pessoas passando pela calçada.

De repente, detenho o passo e uma possibilidade surge em minha mente. E se o deus trapaceiro e dono do beijo mais gostoso dos Nove Reinos se arrependeu de ter me destratado em nossa despedida, deu-se conta de que não pode ficar longe de mim, decidiu fazer uma brincadeirinha para me atiçar e agora está indo diretamente para o meu cafofo, para me esperar e pedir perdão de joelhos?

Menos, Olivia. Bem menos. Aquele poço de orgulho jamais te pediria perdão, muito menos de joelhos, mas... Se Loki voltou para Midgard, veio a minha procura e me beijou daquele jeito que só ele sabe é porque não está mais com tanta raiva de mim.

Talvez o gafanhoto beijoqueiro esteja mesmo arrependido, com saudade e queira... Recomeçar de onde nós paramos. Talvez ele esteja mesmo a caminho do meu humilde cafofo. Talvez ele queira ao menos conversar sobre o que aconteceu.

Ao cogitar tudo isso, a felicidade volta a me inundar junto com uma onda de esperança, espantando a confusão e a frustração para Far Far Away.

Sorrio largamente e, sem pensar em mais nada e em mais ninguém a não ser em Loki, acelero o passo e quando dou por mim estou correndo.

Cruzo a rua, mas paro no meio do caminho quando um carro buzina e freia bruscamente a poucos centímetros do meu corpinho frágil e mortal, me causando um sobressalto.

Meu coração para por um instante, minha vida passa como um filme diante dos meus olhinhos de noite serena e levo a minha mão a boca para conter um grito de espanto, enquanto o motorista esbraveja:

— Maluca! Está tentando se matar?!

— Foi mal, moço! É que eu sempre esqueço de olhar para os dois lados! — explico, antes de me por em movimento de novo e alcançar o outro lado da via.

Trapaças do DestinoWhere stories live. Discover now