13 Contos de Medos e Arrepios

By lucozaynde

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Se você gosta de contos de terror, daqueles bem assustadores, vai amar este livro escrito por Almin Correia... More

1. A Bota de Cemitério
2. O Pescocinho

3. O Caixão Fantástico

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By lucozaynde


Célere ia o caixão, e nele, inclusas,

Cinzas, caixas cranianas, cartilagens

Oriundas, como os sonhos dos selvagens,

De aberratórias abstrações abstrusas!

Nesse caixão iam, talvez as Musas,

Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens

Enchiam meu encéfalo de imagens

As mais contraditórias e confusas!

A energia monística do Mundo,

À meia-noite, penetrava fundo

No meu fenomenal cérebro cheio...

Era tarde! Fazia muito frio.

Na rua apenas o caixão sombrio

Ia continuando o seu passeio!

Raul morava em frente ao cemitério.

Todos os dias entravam pelo menos cinco caixões pelo portão principal.

Sua filmadora já havia captado mais de 100.

Um curta com imagens rápidas de caixões talvez ficasse interessante.

E, afinal de contas, no Youtube tem cada coisa!...

Os amigos fizeram Raul desistir da ideia.

Mas Raul continuou filmando os caixões.

OBSESSÃO.

E obsessão não se explica, se vive.

Dia 15 de março, 10 horas da manhã, mais um caixão...

Este era diferente. Bem diferente dos outros.

A diferença começava no tamanho. Um caixão enorme.

Quem morreu lá devia ter mais de 300 quilos.

Obesidade mórbida???

MUITOS ALMOÇOS E MUITOS JANTARES PARA OS VERMES.

Almoços ou jantares de 24 horas por dia.

Até restarem apenas ossos, roupas, sapatos, cabelos...

Para onde vão os vermes depois de uma refeição tão longa???

O caixão tinha mais alças do que o normal.

Era levado por 12 homens truculentos.

Tudo possivelmente com mais de 130 quilos cada.

Vestindo ternos mafiosos.

Vocês entendem, né?

Ternos mafiosos sempre são escuros.

Quaisquer dúvidas assistam ao Poderoso Chefão partes 1, 2 e 3.

Ou Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese.

O caixão era todo de ouro. Pelo menos de longe assim parecia.

Raul deu um zoom in na filmadora para pegar melhor aquele brilho todo dourado.

Morar no segundo andar permitia tomadas melhor posicionadas.

Muito de perto a imagem tremia demais.

O ouro do caixão podia bem ser só pintura especial. Não parecia.

Raul conseguiu filmar em close boa parte daquele "traje elegante" de última morada.

E ficou intrigado, quando "passou com a lente" por uma plaqueta que dizia 18 quilates.

Até parecia piada. Ou mau gosto mesmo. Certamente significava algo mais.

O enorme mafioso queria que todos soubessem que ele estava sendo enterrado em um caixão de ouro. Ouro 18 quilates. Mas por quê?

Isso era um trabalho para detetive Raul que começava a surgir na mente daquele garoto de 15 anos.

Um canal de televisão chegou um pouco atrasado para as filmagens.

O caixão de ouro já havia passado pelo portão principal.

Mais tarde, Raul entrou na Internet para pesquisar.

Em vários sites de notícias lá estava o que ele procurava:

"Milionário é enterrado em caixão de ouro 18 quilates".

Milionário e mafioso...

Raul complementaria a manchete, se fosse jornalista.

Infelizmente jornalistas não têm muita coragem diante da verdade.

Muitos não sabem o que fazer com ela e, por isso, preferem mentir.

Raul gostaria de ser jornalista, advogado, músico, cineasta, engenheiro, escritor, arquiteto, dentista, funcionário da Petrobrás...

Com a calmaria das 17 horas, Raul entrou pelo portão principal do Cemitério Municipal...

Outros passos passaram a seguir seus passos. Passos pesados.

Raul parou diante de uma estátua de mármore. Parou só para despistar.

Os passos pesados passaram por ele.

E os passos pesados se transformaram em um homem de terno preto e chapéu preto também.

Com certeza estava indo visitar o amigo. Ou o inimigo mafioso.

Mafiosos sempre se visitam.

Raul o foi seguindo pelos corredores de túmulos.

O homem de preto virou à direita. Depois à esquerda. Mais uma direita.

Outra esquerda. Dito e feito.

O homem de preto parou em frente a um túmulo. Com certeza o túmulo do milionário mafioso.

O homem de preto fez o sinal da cruz.

O homem de preto tirou uma nota do bolso e a rasgou em pedacinhos.

O homem de preto cuspiu no chão.

O homem de preto abriu a braguilha e urinou ali no túmulo do milionário mafioso.

"Coisa de louco!" – pensou Raul.

Após fechar a braguilha, o homem de preto ficou parado mais alguns segundos.

Então acendeu um charuto... E retornou a passos largos.

Os mafiosos sempre fumam charutos.

Raul manteve-se mais escondido ainda.

Atrás do túmulo de Eurico Albuquerque de Lima.

Morto aos 13 anos, de tifo.

Isso lá no ano de 1954.

Mesmo ano do nascimento do pai de Raul.

No cemitério, a morte dos outros parece que nos deixa mais vivos.

Raul sentia-se assim. Mais vivo do que nunca.

Raul podia seguir o homem de preto.

Entretanto, não ia ser nada fácil.

Homens de preto têm seguranças de preto.

Homens de preto não se deixam pegar facilmente.

Homens de preto nunca revelam seus segredos.

Raul sabia disso.

E então desistiu, antes de começar e ter que desistir no meio...

Ou antes do meio.

Diante da desistência, melhor matar a curiosidade.

Raul ainda não tinha visto o túmulo do mafioso.

Diferente de todos os outros, era de metal escovado.

Parecia uma caixa forte.

Mais ou menos cinco metros de altura.

Por, digamos, quatro passos longos de Raul.

Nada de cruz.

Nada de anjo.

No meio do túmulo, apenas uma janela de vidro transparente.

Possivelmente à prova de balas e machadadas.

Assim era possível ver o caixão de ouro.

OURO INESQUECÍVEL.

Um desejo de cobiça brilhou nos olhos de Raul como brilhara nos olhos das outras pessoas.

Todos vulneráveis ao dourado da perdição.

Raul ficou admirando o caixão por mais de 5 minutos.

Nesse meio tempo, o homem de preto pegou a avenida principal, pilotando uma Harley-Davidson.

Um grasnar de aves trouxe Raul à realidade.

E a realidade era uma foto também a inscrição em dourado:

Frederico Scherdre

*13-02-1950

U 14-03-2008

Péssimo marido de uma esposa safada.

Péssimo pai de três criaturas abomináveis.

Amigo ordinário de alguns cretinos.

Inimigo mortal de mais de 1.000 canalhas.

Estou agora morto e no inferno.

Mas sairei daqui em breve.

Para atormentá-los todos.

Eternamente.

DECEPÇÃO DE RAUL:

Mafiosos são italianos.

E Scherdre não parecia nem um pouco sobrenome italiano.

Mafiosos são católicos.

Ou ao menos cristãos.

Frederico não queria saber de cruz alguma.

Às vezes as coisas não são tão simples quanto queremos imaginamos...

Às 20 horas, um homem de boné jogou um machado pelo mudo do lado e pulou para dentro do cemitério.

Às 20 horas e 4 minutos, um jovem de metralhadora pulou pelos muros detrás do cemitério.

Às 20 horas e 5 minutos, um velho de 80 anos abriu o portão do cemitério com uma chave falsa.

Às 20 horas e 6 minutos, uma retroescavadeira abriu um buraco no muro do cemitério.

Às 20 horas e 8 minutos, um helicóptero ficou pairando alguns metros acima do túmulo do milionário mafioso.

Todos queria roubar o caixão de ouro.

Mesmo sem nenhuma estratégia definida.

Havia apenas aquele desejo brilhante nos olhos e no coração.

Às 20 horas e 10 minutos, o homem de boné e machado começou a sentir o coração disparando, disparando, disparando...

Cada vez mais alto, mais alto, mais alto...

Até os outros candidatos a ladrão passaram a ouvir o TUC-TUC do coração do homem de boné e machado.

Ninguém questionou o que poderia ser...

Havia apenas o caixão de ouro 18 quilates no cérebro-pensamento de cada um.

O homem de boné e machado caiu no chão e morreu após cerca de 20 segundos.

O jovem-metralhadora tropeçou na escuridão e bateu a cabeça na quina de um túmulo.

Morte instantânea.

O homem-retroescavadeira ganhou um súbito medo trêmulo e desistiu da empreitada.

O homem-helicóptero perdeu o controle de sua aeronave e chocou-se contra um prédio.

Em outras noites, outros ladrões tentaram o que os anteriores não haviam conseguido.

E novamente falharam de mortal.

Com o tempo, as notícias e o boca a boca do caixão de ouro amaldiçoado, ninguém mais tentou roubá-lo.

Era mesmo impossível roubar o caixão fantástico.

Alguns dizem que já viram o imenso Frederico Scherdre andando pelo cemitério.

Histórias estranhas começaram a sair da boca de pessoas comuns e incomuns.

Raul nunca conseguiu pegar o fantasma com sua filmadora.

Mas registrou imagens interessantes...

E no momento está editando um vídeo-documentário chamado

O CAIXÃO FANTÁSTICO.

O Caixão Fantástico e Suas Fantásticas Histórias...

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