SCRIPTA

By GabGarrido_

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Cristina, uma jovem imaginativa e introspectiva, está acostumada com sua rotina pacata, dividida entre a flor... More

s c r i p t a
I N T R O
01.
02.
03.
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Agradecimentos
Scripta disponível na AMAZON!

05.

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By GabGarrido_


Ficamos em silêncio por um bom tempo. Meus olhos corriam por todos os lados, cheios de repúdio. Entravam em cada fresta, em cada relevo, em cada expressão, no entanto, negavam-se a pousar no rosto de Eduardo. Tudo, menos Eduardo. Focaram até no beijo apaixonado que Lorena e ele trocavam, e decoraram, com maldade, a sincronia quase selvagem de suas bocas, para talvez me torturar em uma data futura.

Olhos curiosos, malditos sejam eles.

Eles pararam de engolir um ao outro por um momento, talvez por lembrarem-se de minha presença, mas naquele ponto nada mais importava. A impressão de ser uma otária completa tinha anestesiado minha sensação de vergonha alheia.

Para me salvar, uma garçonete aproximou-se com o cardápio. Vislumbrei a palavra Drinks e apontei para algo que mal li. Entre a música alta, ouvi Eduardo falar. Não o encarei.

— Desde quando você bebe?

— Desde agora.

Uma pena ele não ter ouvido meu mal humor.

— Ah! — Ele exclamou, acenando para alguém. — Chegou a outra surpresa!

É verdade, eram surpresas no plural. O que poderia ser melhor do que a primeira? Procurei por quem Eduardo acenara, já a imaginar um fotógrafo para eternizar aquele momento tão sublime.

No entanto, era algo pior. Era um homem alto, robusto, com as feições de quem sabe que é alto e robusto. Ele sorria para mim.

— Esse é Marcos, um amigo da faculdade.

— Prazer, linda.

Com seus braços torneados, envolveu minhas costas e beijou-me a face demoradamente.

Merda.

Isso não poderia estar acontecendo comigo.

E então, meu humor finalmente mudou para o lado soturno. Enquanto os outros dois trocavam beijos e carícias, Marcos fazia de tudo para chegarmos ao mesmo ponto, com conversas vazias e repletas de segundas intenções. No fundo de minha mente atordoada, cheguei a duas conclusões: a primeira com base em seus gestos cheios de malícia e em sua voz morna. Ele era um predador da pior espécie. E eu seria a presa da noite. Um desespero subiu pela minha espinha, me fazendo beber meu drinque gigante em rápidas goladas de ódio.

Minha segunda conclusão era pior: aquele incômodo anterior não era fruto de minha imaginação, afinal. Era o meu instinto de sobrevivência que gritava em minha mente pouco antes de eu entrar naquele maldito bar. Mas eu já estava lá, e não havia escapatória.

Pedi, então, um segundo drinque. Além de gigante e azedo, era uma droga, mas o bebi inteiro só para sentir o álcool a queimar toda minha garganta – sensação esta tão terrível quanto a bebida. Tossi convulsivamente por causa disso, e fiz o impossível para ignorar esse meu hábito idiota de ser sempre tão politicamente correta.

Um tanto zonza, pedi o terceiro drinque para dar gás à minha imaginação, a maquinar loucamente uma desculpa para fugir daquilo tudo. E o sabor daquele álcool barato não era pior do que o boçal ao meu lado, a proferir as sandices mais absurdas existentes ao pé do meu ouvido. Meus olhos procuravam uma escapatória, mas encontraram mais motivos para deixar-me aflita. Metralhei Eduardo com toda a raiva e a frustração geradas naquela noite, e não reconheci os sentimentos que borbulhavam, afoitos, dentro de mim.

Uma mistura de raiva e melancolia me dividiam, desiguais. Minha mente sã, ou o restante dela, implorava-me para fugirmos daquele lugar o mais rápido possível, e num misto de desespero e ódio, desvencilhei-me dos braços de Marcos e andei rapidamente em direção à saída, sem esperar pela desculpa que me cérebro aflito ficara de produzir.

E por entre os corpos suados e anestesiados dos jovens na pista de dança, senti uma mão segurar-me firmemente pelo braço. Marcos puxou-me para bem perto de seu tronco, e meus lábios puderam sentir, com repúdio, o roçar de seu hálito quente e com cheiro de álcool. Todavia, ele não esperava pelo tapa que, mais tarde, deixaria sua face em chamas. Com a cabeça fervendo por causa dos drinques, eu corri mais rápido por entre a multidão; contudo, meu braço fora puxado novamente.

Era Eduardo.

— Ei, espere! — Seu grito saiu abafado pela música ensurdecedora. Com bolhas explosivas na cabeça, voltei-me para frente e caminhei mais rápido para a saída. — Cristina, espere! — Sua voz tornava-se impaciente, mas não dei importância.

Eu já estava perto de meu carro quando ele finalmente me alcançou. A respiração irregular dava-lhe um ar preocupado. E ignorando-o, destranquei meu carro, decidida a fugir. Suas mãos, porém, me impediram de entrar no veículo e me forçaram levemente a encará-lo.

— O que aconteceu? — Perguntou-me, os olhos fixos nos meus. Voltei meu olhar para o lado e não o respondi. Com delicadeza, ele virou meu rosto novamente em direção ao seu, prendendo-me em seus olhos de avelã.

— O que aconteceu, Tina? — Repetiu.

Eu me sentia uma daquelas crianças chatas que insistem em não falar quando um adulto pede explicações. E eu deveria mesmo ser essa criança chata, afinal. Quase me convenci disso, quando finalmente lembrei-me de quem era o verdadeiro idiota da história. E sentindo a raiva vir novamente à tona, disse-lhe:

— É você quem deveria me dizer o que aconteceu, não acha?

— Como? — Disse-me, desentendido.

— Depois de toda aquela cena esquisita, na lanchonete, você me traz aqui sem me dizer que tem namorada, me apresenta a um idiota de dar ânsia de vômito e ainda quer que eu lhe diga o que aconteceu?! — As palavras jorraram de minha boca e me soaram desconexas e infantis um segundo mais tarde. O álcool efervesceu em meu estômago e me arrependi de ter sido tão sincera.

Ele parecia não compreender.

— Não pensei que fosse ficar assim...

— Você não me conhece mais, Eduardo.

— Ah, pare com isso — ele me puxou pelos braços para mais perto de si, os olhos avelã a penetrar-me com uma doçura imensurável. Arrepiei-me por completo e me estranhei por isso. Bolhas. — Eu conheço você muito bem.

Soltei-me dele, áspera, e minha fala saiu quase num sussurro:

— Me deixa em paz.

Para uma garota especial, que ainda desconheço.

Para Cristina Gonzales Baroni.

As frases no envelope do livro saltaram em minha memória embriagada e me deixaram furiosa. Não era hora para minhas loucuras particulares.

— Du, o que houve? — Uma voz atrás de nós se destacou. Era Lorena.

Num impulso, Eduardo se virou para ela – talvez atordoado, talvez tão irado quanto eu. Contudo, ele olhou para ela. Não para mim.

Droga.

As esquisitas expectativas frustradas vieram à tona, deixando-me furiosa também comigo mesma. Joguei-me dentro do carro e dei uma partida rápida, sem olhar para trás.


Finalmente, fuga.



🔸🔸🔸

Por hoje é só, pessoal!

E aí, o que estão achando? Quero saber tudo.

Não esqueçam de deixar estrelas de gratidão (⭐️), pois é disso que me alimento hahaha.

Sexta-feira tem mais! 

bjs,

Gabriela Garrido (insta/@livr osdagabi_)

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