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Ficamos em silêncio por um bom tempo. Meus olhos corriam por todos os lados, cheios de repúdio. Entravam em cada fresta, em cada relevo, em cada expressão, no entanto, negavam-se a pousar no rosto de Eduardo. Tudo, menos Eduardo. Focaram até no beijo apaixonado que Lorena e ele trocavam, e decoraram, com maldade, a sincronia quase selvagem de suas bocas, para talvez me torturar em uma data futura.

Olhos curiosos, malditos sejam eles.

Eles pararam de engolir um ao outro por um momento, talvez por lembrarem-se de minha presença, mas naquele ponto nada mais importava. A impressão de ser uma otária completa tinha anestesiado minha sensação de vergonha alheia.

Para me salvar, uma garçonete aproximou-se com o cardápio. Vislumbrei a palavra Drinks e apontei para algo que mal li. Entre a música alta, ouvi Eduardo falar. Não o encarei.

— Desde quando você bebe?

— Desde agora.

Uma pena ele não ter ouvido meu mal humor.

— Ah! — Ele exclamou, acenando para alguém. — Chegou a outra surpresa!

É verdade, eram surpresas no plural. O que poderia ser melhor do que a primeira? Procurei por quem Eduardo acenara, já a imaginar um fotógrafo para eternizar aquele momento tão sublime.

No entanto, era algo pior. Era um homem alto, robusto, com as feições de quem sabe que é alto e robusto. Ele sorria para mim.

— Esse é Marcos, um amigo da faculdade.

— Prazer, linda.

Com seus braços torneados, envolveu minhas costas e beijou-me a face demoradamente.

Merda.

Isso não poderia estar acontecendo comigo.

E então, meu humor finalmente mudou para o lado soturno. Enquanto os outros dois trocavam beijos e carícias, Marcos fazia de tudo para chegarmos ao mesmo ponto, com conversas vazias e repletas de segundas intenções. No fundo de minha mente atordoada, cheguei a duas conclusões: a primeira com base em seus gestos cheios de malícia e em sua voz morna. Ele era um predador da pior espécie. E eu seria a presa da noite. Um desespero subiu pela minha espinha, me fazendo beber meu drinque gigante em rápidas goladas de ódio.

Minha segunda conclusão era pior: aquele incômodo anterior não era fruto de minha imaginação, afinal. Era o meu instinto de sobrevivência que gritava em minha mente pouco antes de eu entrar naquele maldito bar. Mas eu já estava lá, e não havia escapatória.

Pedi, então, um segundo drinque. Além de gigante e azedo, era uma droga, mas o bebi inteiro só para sentir o álcool a queimar toda minha garganta – sensação esta tão terrível quanto a bebida. Tossi convulsivamente por causa disso, e fiz o impossível para ignorar esse meu hábito idiota de ser sempre tão politicamente correta.

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