"Eu disse: ei, você com o vestido vermelho
Eu tenho que encontrar uma maneira de tirá-lo
Eu tenho muito amor e está ficando mais forte
Quando eu te vejo com seu vestido vermelho"
- Red Dress, Magic!
✼ ✼ ✼
-Cora, deu! - Afastei sua mão do meu rosto, levantando minha cabeça antes pendida para trás.
Sentei de forma ereta na cadeira e tentei me olhar no espelho atrás de Cora que, convenientemente, me impedia de fazer tal coisa.
- Você vai ver mas não vai encostar um dedo no trabalho incrível que eu fiz, estamos entendidas? - Ela pausou, esperando minha confirmação.
Bufei, empurrando seu corpo para o lado e ignorando seus resmungos. Meus olhos encontraram o meu reflexo no espelho e parei por um minuto para admirar o, realmente, incrível trabalho de Cora. O esfumaçado escuro nas pálpebras superiores combinava com o esfumaçado avermelhado nas pálpebras inferiores que, por sua vez, combinava com o batom vermelho em meus lábios. O delineado estava, simplesmente, perfeito, porém, o que mais me maravilhou, de longe, fora o iluminador espalhado em regiões específicas do meu rosto.
- É - impulsionei meu corpo para frente, começando a me levantar da cadeira. - Vou tirar.
Cora empurrou meus ombros, desesperada.
- Não, não mesmo - me sentei novamente na cadeira. - Você é insegura, eu sei. Acha que certas coisas não combinam com você, mesmo achando essas tais coisas bonitas nos outros mas - ela deu a volta na cadeira, ficando atrás de mim e olhando para o nosso reflexo no espelho -, você está gata pra cacete. Você é gata pra cacete, e eu te daria um beijão de língua bem agora.
Ri. Me levantando da cadeira e, após dar a volta na mesma também, abraçando Cora.
- Obrigada - sussurrei contra seu pescoço, me afastando para olhá-la nos olhos. - Esse seria o momento perfeito para o nosso "beijão de língua".
Ela me empurrou e ambas caímos na gargalhada.
- Vá se vestir, e, por favor, coloque o vestido que eu deixei em cima da sua cama - concordei, saindo do seu quarto e andando em direção ao meu. - Gata pra cacete!
Gargalhei, entrando no quarto e me deparando com um vestido vermelho vivo estendido sobre a cama. Parei de sorrir na hora.
- Coraline Carter - berrei. - Eu não vou vestir essa coisa.
[...]
A movimentação já era grande quando chegamos, Cora com um vestido preto de alças finas e veludo, e, eu, com a droga do vestido vermelho.
Pois é. 1x0 para Cora.
Assim que entramos na casa, a mesma da primeira festa em que fomos, a música alta preencheu meus tímpanos e as luzes coloridas confundiram meus olhos por um instante.
- Vamos beber alguma coisa - Cora puxou minha mão, me guiando até a mesa onde as bebidas estavam dispostas.
Optei por uma garrafa de cerveja enquanto Cora encheu um copo com vodka.
- Vamos dançar - Cora agarrou minha mão novamente, dessa vez me guiando até o espaço onde as pessoas dançavam.
Fiquei parada, olhando em volta. Minha amiga segurou minha mão desocupada, me incentivando a seguir seus movimentos. Tomei um gole de cerveja, sorrindo e começando a movimentar os quadris.
Na segunda música, Cora sacudiu tanto o corpo que, ao jogar os braços para o alto, o líquido do copo que ela segurava em uma das mãos respingou por todo lado.
Continuamos dançando.
Na terceira música, Peter encontrou Cora e os dois sumiram.
Continuei dançando.
Na quarta música, minha cintura fora agarrada por trás e o rapaz atrás de mim, quem quer que fosse, grudou seu corpo no meu. Seus lábios roçando meu pescoço e ombro.
Continuei dançando.
- Você está muito gostosa nesse vestido - sua voz rouca reverberou por todo o meu corpo.
Sorri, me virando e enlaçando seu pescoço com os meus braços.
- Oi, Zach.
O loiro sorriu, descendo seus olhos até o meu decote.
- Muito gostosa - repetiu, passando a língua pelos lábios.
Por mais que a imagem do loiro, me olhando como quem está tendo pensamentos depravados estrelados por mim em sua cabeça, fosse algo um tanto atraente, meus olhos se desviaram dos seus para algo além dele.
Alguém além dele.
Hunter estava encostado em uma parede, perto da mesa de bebidas. Suas costas descansavam no material branco e uma de suas pernas dobradas fazia com que seu pé também repousasse na parede. Ele levou o copo que segurava até os lábios, dando um grande gole na sua bebida escura.
Intercalei meus olhos entre a mesa de bebidas e seu rosto, enfim avistando o que ele bebia.
Refri.
Sorri. O moreno, no entanto, não fez mais do que arquear as sobrancelhas.
- Alyssa? - A voz de Zach fez com que eu voltasse minha atenção para ele. - Você não ouviu uma palavra do que eu disse, não é?
- Desculpe - indiquei ao redor. - A música está muito alta.
O loiro concordou, segurando minha mão e me arrastando até outro cômodo.
- E agora? - Perguntei.
- Melhor - sorri, gentil.
Zach tirou uma garrafa pequena e achatada do bolso traseiro da calça jeans, desenroscando a tampinha e levando o objeto até a boca. Após dar um gole, ele estendeu a garrafa em minha direção.
- Vodka - falou, provavelmente notando minha confusão. - Quer?
Cocei a garganta, nervosa. Eu queria, sim, mas, se eu tomasse um gole, não conseguiria parar.
- E-eu... Eu não...
- Ela não quer - a voz grossa do moreno se fez presente.
Tanto eu quanto Zach procuramos o dono da voz com os olhos, ambos com a testa franzida com sua aparição repentina.
- E você é o que? - O loiro indagou, irônico. - O pai dela?
- Ela. Não. Quer - Hunter repetiu, palavra por palavra. Seu maxilar tencionado pelo nervosismo.
Zach soltou mais uma risada debochada.
- Qual é, Evans, vá bancar o papai pra cima da Sam.
Sam? Ah! Samantha.
De repente, me senti irritada com a sua presença e, mais ainda, com sua interrupção.
- Eu tenho boca, Hunter - minha voz soou mais rude do que o pretendido. - Não precisa falar por mim.
Hunter olhou para mim pela primeira vez desde que entrara no cômodo onde estávamos. Suas orbes azuladas pareciam pegar fogo e, por um momento, me perguntei se poderia ser a cor do meu vestido refletida em seus olhos, vestido o qual ele encarava agora. Seus lábios se contraíram em uma linha fina e quando, finalmente, suas íris encontram as minhas, ele concordou com a cabeça.
- Tem razão - ele disse por fim, nos dando às costas e, antes de sumir em meio a multidão, voltando a falar: - Erro meu querer ajudar.
Pisquei, soltando todo o ar que eu nem sequer sabia que estava prendendo.
Ele queria ajudar.
Voltei meus olhos para o loiro, que me encarava com curiosidade. Ele franziu as sobrancelhas claras para mim antes de compreender o que minha boca sequer havia falado.
E então, ele sorriu.
- Tudo bem, Alyssa - ele soprou, calmo. - Pode ir.
- Desculpe - murmurei, lhe dando às costas e, seguindo os passos de Hunter, sumindo na multidão.