— Não era o que queriam ouvir, não é mesmo? — Limpo as lágrimas levantando a cabeça encarando seus rostos atordoados.
Este é o momento em que o ator principal abraça a protagonista e diz que vai ficar tudo bem, mas vocês não sabem disso.
— Eu avisei para não se envolver...
— Me castiga.
— O que? — Cole se pronuncia surpreso.
— Desobedeci às regras e bati no meu senhor. — Me ajoelho diante deles abaixando a cabeça.
Este não é o mundo que Cole e Daniel conheceram...
— No quarto em 5 minutos. — Assenti escutando a voz de Sharman me levantando do chão. A expressão surpresa e confusa não estava mais presente em suas faces, talvez houvesse até o alivio.
Porque este é o roteiro que vocês entendem...
Caminho até o corredor solitário entrando no quarto tirando as roupas ficando completamente nua. Trançando os cabelos me ajoelho de frente à parede abaixando a cabeça. Minutos depois ouço a porta sendo aberta e passos se aproximando parando atrás de mim.
— Porque está aqui Lyra?
— Desobedeci meu senhor.
— Levanta e vire de frente. — Levantando Vejo Cole e Daniel no cômodo. — As mãos. — Sem hesitar estendo as mãos em sua direção e Sharman as amarra juntas com habilidade. — Porque você disse aquilo?
— Porque é a verdade. — Seus olhos Azuis me encaram amargurado. Não era a resposta que ele esperava, não era a resposta que queria.
— Saia daqui. — Daniel diz para Cole. Se afastando, Daniel se senta na poltrona perto da cama. — Lyra é minha submissa, não tem o porquê de estar aqui. — Abrindo e fechando a boca em seguida Cole sai furioso do quarto fechando a porta. — De frente a mim. — Caminho em sua direção parando a um passo longe. Puxando meu braço caio em seu colo e Daniel me equilibra em suas coxas e fico de quatro, apoiada. Arrastando o pé se abaixando observo o chinelo em seu pé.
— Vai me bater?
— Será corrigida. — Daniel me repreende pela expressão usada.
— Então eu sou a errada?
— Lyra... — Me silencio com os olhos marejados e o primeiro estralo escuto com clareza.
As chineladas que batem contra minha pele diferente do que imaginara não doía o quanto pensei, na verdade não sentia dor nenhuma, como se o lugar estivesse anestesiado.
“— Acha que vai conseguir muda-los?!”
As palavras de Elena ecoa em minha cabeça a cada barulho, e seu pensamento de achar que eu queria isso fica ainda mais sem sentido. Nunca quis, nunca pensei, nem imaginei e nem pedi, só brinquei.
Talvez este tenha sido o meu erro? Porque me sinto tão incomodada com isso?
Largando o chinelo me levanto não conseguindo olhar em sua cara. Abrindo a porta sinto uma mão em meu ombro e me viro imediatamente me afastando de sua presença.
— Vermelho. — Digo a palavra de segurança e sua expressão se torna surpresa.
— Você... — Dando um passo me afasto novamente.
— Vermelho. — E como mandato a ação do dominador para no mesmo instante travando no lugar. — Vermelho, verde. — Pronuncio alto e claro para Sharman me virando caminhando em direção ao meu quarto desfazendo a trança. Chegando ao cômodo tranco a porta deitando na cama me encobrindo com a coberta e só então sinto a dor das batidas...
“— Acha que vai conseguir muda-los?!”
* * *
— Senhorita Blanche? — Ouço alguém me chamar e apenas me levanto indo até o banheiro. Não havia reparado quando o sono havia chegado, mas apenas duas horas havia se passado. — Lyra? — Após o banho me troco calçando o tênis amarrando o cabelo pegando a bolsa colocando mais um conjunto de roupa saindo do quarto. — Você não comeu nada... — Olho para Gail que segurava uma bandeja com alguns petiscos.
— Ouviu tudo, não ouviu? — Concordando ela se aproxima depositando um beijo em minha testa e a vontade de chorar tende a querer voltar.
— Pelo menos agora você percebeu como eles realmente são. — Sorrio brevemente assentindo pegando uma torrada de cima da bandeja continuando a caminhar.
— Onde está indo? — Paro de frente ao elevador me virando para Cole.
— Como eu não tenho nada haver com a vida de vocês, vou cuidar da minha. Ao contrário de vocês não sou rica ou um CEO.
— Ainda está chateada?
— Que pergunta idiota, Sprouse. — Ri e a porta do elevador se abre. — Tenho que trabalhar. — Entro e a porta se fecha.
Os dois são importantes pra mim, foram os únicos que disseram que estariam dispostos a estar do meu lado, mas dai eu reparo que ao contrário do que pensei vocês não precisam de mim por perto. Eu sou a única a estar se afundando e só consegui enxergar hoje...
As exatas palavras que queria dizer entalam em minha garganta, porém a razão não me permite. Talvez eu seja a única errada, desde o começo, já que fui à única que misturou sentimentos com submissão.
— AH! — Grito respirando fundo e a atenção de algumas pessoas na calçada se direciona a mim. — Porque aquela velha teve que aparecer?! — Sussurro frustrada e ao longe já vejo a placa do restaurante. Com o estabelecimento ainda fechado me sento no canteiro abraçando os joelhos.
Isto não está certo...
— Lyra! — Pegando pelos meus braços me sacudindo olho assustada para Derek o encarando com os olhos arregalados. — Você está bem?
— Estou. — Agachado em minha frente ele suspira em alivio se sentando no chão.
— Achei que estivesse passando mal. — Não aguento e começo a rir de sua euforia de segundos antes.
— Achei que iria me desmembrar. — Finalmente ele ri variando o olhar do relógio para minha direção.
— Está com tanta vontade de trabalhar assim?
— Talvez? — Seu olhar de dúvida me faz rir, se levantando ele me ajuda estendendo a mão tirando a chave abrindo o restaurante. Entrando ouço o ronco alto do meu estomago fazendo Derek rir alto numa gargalhada contagiante.
— Te darei 45 minutos de cliente em vez de funcionária, fique a vontade.
— Hã? — Passando para trás do balcão o vejo entrando na cozinha. Confusa, sento numa das cadeiras olhando para os lados. — Derek?
— Por sorte tinha uma pizza preparada, daqui 10 minutos deve estar pronta. — Saindo da cozinha com um pano, a bancada é limpada e me aproximo sentando no banco alto. — Enquanto isso, se quiser, pode me contar o motivo do choro.
— O que?
— Se não era pra ter reparado deveria ter passado um pouco de maquiagem. — Bufo revirando os olhos e seu sorriso aumenta. — Briga com namorado?
— Não mesmo.
— Entendo.
— Entende?
— Na verdade não. — Ele confessa. — Quero que saiba que mesmo eu sendo seu chefe em primeiro lugar sou seu amigo e pode contar comigo. Principalmente para as fofocas dos funcionários sobre sua cara hoje.
— E você quer ser o primeiro a passar as informações?
— Claro, o chefe sempre tem que ser o primeiro, a saber, das noticias.
— É só o que me faltava. — Rimos.
— Devia sorrir mais em momentos como este, geralmente colocar o porquê nos problemas só piora as coisas. Sei por experiência própria. — Piscando divertido ele volta pra dentro voltando minutos depois com a pizza em mãos. — Come um pouco, é por conta da casa. — Sorrio assentindo provando do primeiro pedaço.
Depois de comer, ajudo Derek a limpar as mesas organizando as cadeiras e aos poucos os funcionários chegam e o horário do atendimento com eles. Ocupando a cabeça com os afazeres o número de clientes se aumenta com as horas, e esvazia com passar dos minutos.
* * *
— Liberado? — Pela quarta vez na noite Chloe me liga confirmando nossa saída, suspirando termino de ajudar a lavar os pratos tirando o avental. — Lyra? Alô?
— Está, pode vir.
— Daqui 15 minutos eu chego. — Desligo o telefone pegando a bolsa saindo da cozinha e vejo um carro preto estacionado, pelo porte do automóvel não é difícil de imaginar o dono do veiculo.
Daniel...
Passando pelo hall observo seu corpo parado ao lado do carro, assim que me vê rodeando o carro ele abre a porta pra mim e não consigo evitar minha frustração com sua presença.
— O que está fazendo aqui?
— Vou te levar pra casa.
— E fingir que nada aconteceu? — Não controlo a língua e seu corpo se aproxima rapidamente do meu parando em minha frente a centímetros de distancia.
— E o que aconteceu, Lyra?
— Você me puniu por um erro seu!
— Você pediu!
— E você não hesitou! — Praticamente cuspo as palavras irada com seu querer de controlar a situação a sua maneira. — Você nem se quer pensou sobre o que realmente deveria ter feito.
— E o que quer de mim? Um romance? Aceitar você com meu sobrinho? Não posso ser o que deseja Lyra. — Seu peito sobe e desce com agressividade ele estava bravo e eu não estava diferente.
— Quer me punir de novo?
— Quero. — Ele confessa e eu me afasto rapidamente. — Em casa conversamos, agora você vem comigo. — Falando dessa vez mais baixo sua atenção por um instante vai para atrás de mim e pude perceber Derek na porta nos olhando.
— Não, não sou uma posse sua Daniel.
— Eu te falei desde o primeiro momento para não envolver sentimentos.
— Então eu sou a culpada?
— Ta pronta? — Estacionando próximo a nós viro a atenção para Chloe
— Claro, já estou indo.
— Não tem permissão pra sair. — Travo com suas palavras olhando para Sharman.
— Eu sei, por isso estou renunciando o contrato. Este é o meu limite Daniel.