Only God can judge you

By rakeool

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Um romance de faculdade. Nenhuma novidade. Acontece toda hora. Mas não com Lorena, cristã fervorosa que nunca... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capitulo 3
Capítulo 4
Capitulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Especial: They call you monster
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 20

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By rakeool

Naquele dia, eu não falei com mais ninguém, não queria ter que explicar sobre aquilo. Normalmente, eu não gostaria de falar sobre alguma coisa tão recente, mas dessa vez era diferente. Não era como se eu não quisesse falar sobre agora, eu não queria explicar isso pra ninguém em nenhum momento. Sentia vergonha, repulsa, nojo de mim por aquilo, meu choro era constante, eu sentia como se não houvesse alívio pro meu sofrimento.

Tive que sair do quarto pra Diana e Zoey não me verem chorando, fui até a entrada da biblioteca, poucas pessoas passavam por lá aquele horário, de qualquer jeito. Sentei nos degraus, em uma parte afastada. A ficha finalmente havia caido: eu gostava da Jade. Uma mulher. Eu gostava de mulher. De todas as pessoas do mundo que poderiam ser lésbicas, isso tinha que acontecer junto comigo.

Eu sinto que nada nunca doeu tanto dentro de mim antes, eu sentia decepção, nojo, horror, tristeza, até um pouco de raiva. Eu vou pro inferno, pensava vou queimar no fogo do inferno, eu não sou merecedora dos reinos dos céus. E meu pranto me tomava, parecia que a qualquer momento minhas lagrimas inundariam tudo ao meu redor, e eu me afogaria como uma forma de auto-punimento.

Senti meu celular vibrar, olhei pra tela, era a Jade ligando, recusei na hora. Tudo que eu menos precisava era ouvir a voz dela pra reforçar tudo aquilo. Limpei as lágrimas do meu rosto com as duas mãos, olhei pra meu celular no meu colo, ela me mandava várias mensagens, ignorei também.

Joguei minha cabeça pra trás, num suspiro. Meu celular não parava de vibrar, ela insistia em tentar falar comigo. Aquilo não podia ficar daquele jeito.

[11:06 PM]: Ei, Jade.

[11:06 PM] Jade: OI

Vc ta bem?!

Vc saiu assim do nada

Fiquei preocupada

[11:06 PM]: Você poderia parar de me mandar mensagens, por favor?

Eu não quero falar sobre isso, preciso de um pouco de espaço.

[11:06 PM] Jade: Ctzz???

[11:07 PM]: Absoluta.

[11:07 PM] Jade: ok... :(

Pd flr cmg se precisar

Desliguei a tela do celular e guardei-o. Respirei fundo, sentia meu coração batendo rápido, flashes dela sorrindo vinham em minha cabeça. Coloquei os braços sobre os joelhos e tentei chorar baixo, ou pelo menos o mais baixo que eu conseguia, minha respiração ia ficando ofegante. E tudo isso por que eu simplesmente não conseguia ser a droga de uma pessoa normal e gostar de homem. Eu me odeio, eu me odeio muito. Pensava.

Não havia quase ninguém ali naquele horário, mas mesmo assim, passaram duas meninas me olhando e cochichando, levantei e andei em direção ao meu dormitório, eu não queria ter que alem de passar por isso, ter que lidar com o julgamento alheio. Fui andando pela grama do campus, a temperatura começava a baixar, uma rajada de vento frio passou pelos meus cabelos, me encolhi e andei mais rápido até chegar ao prédio dos dormitórios.

Subi as escadas, notei que alguém vinha descendo, limpei as lagrimas com o braço. Que não seja a Jade descendo pensei Pelo amor de Cristo, por tudo que é mais sagrado nesse mundo, que não seja ela. Pensei novamente. Eu definitivamente não queria que ela me visse assim.

Os passos se aproximaram, senti meu coração acelerar, nervosa, levantei o olhar para ver quem estava vindo. Dei de encontro com a Chloe. Bem... Poderia ser pior.

— Lorena!! — Chloe levantou a mão para um 'High Five.

Fiz um leve aceno com a mão e subi as escadas de rapidamente, de cabeça baixa.

— Lorena?! — ouvi sua voz vindo do andar de baixo.

Não era minha intenção deixa-la no vácuo... Mas eu não queria ter que explicar o porque dos meus olhos vermelhos e inchados, ou o porque de minha voz rouca. Provavelmente foi o melhor a se fazer.

Abri a porta do dormitório, Diana estava dormindo, mas Zoey não. A menina mexia no celular, e olhou pra mim quando entrei.

— Lore!!!

Oh meu Deus, agora não, Zoey.

— Loreeee — cantarolou, após não receber nenhuma resposta — Você podia fazer a troca dos dormitórios hoje e ir pro da Jade?! É que eu e a Chloe...

— NÃO — Interrompi, desespera. — Nem a pau! — Andei em direção ao banheiro.

— Mas Lore...

— Eu disse que não! — respondi, e bati a porta com força.

Apoiei-me de costas na porta, suspirei. Ok, eu sei que não foi muito legal de minha parte. Mas o que que eu podia fazer?

— Lore?! — ouvi batidas do outro lado da porta — 'Ta tudo bem?!

Tranquei a porta da maneira mais barulhenta possível, ela parou de insistir, acho que ela entendeu o recado.

Encarei-me no espelho, meus olhos estavam inchados, meu cabelo bagunçado, meu rosto todo meio vermelho, e minha feição meio morta. Eu estava simplesmente horrível, parecia que eu tinha acabado de sair da terceira guerra mundial.

Sentei no chão do banheiro, orei pedindo perdão a Deus, meu pranto recomeçou. Lesbica ecoava em minha cabeça, Pecadora, nojenta, podre, você vai queimar no inferno. Levantei-me e liguei o chuveiro para disfarçar o choro, as lagrimas quentes desciam pelo meu rosto descontroladamente, estava desesperada, o chuveiro não era o suficiente para disfarçar a altura do meu choro, tentei conter o choro o maximo possível, o que só piorava tudo.

Novamente, flashes da Jade comigo voltaram a minha cabeça, ela deitada no meu ombro, beijando meu pescoço... E a vontade de chorar intensificou-se, conti meu choro. Senti vontade de gritar até que meus pulmões parassem de funcionar, mas eu não podia chorar, não podia gritar, me senti desesperada.

Abracei meu joelhos e coloquei minha cabeça entre eles, sem saber o que fazer para melhorar essa angustia. Segurei meus braços, e senti minhas unhas encravando com força nos meus braços descobertos, a dor aguda que eu senti por isso quase que abafava aquele turbilhão de sentimentos que eu estava sentindo, meus dedos só cederam no momento que senti meu braço sangrando.

Suspirei, jogando a cabeça pra trás, eu simplesmente não sabia o que fazer para não me sentir assim, orar, que sempre foi minha válvula de escape, já não adiantava mais.

Eu me sentia completamente perdida.

• • •

Acordei no dia seguinte encostada na parede do banheiro, eu não sei em que momento eu acabei dormindo, eu só lembro de checar o horário entre uma e duas da manhã, e chorar até não aguentar mais. Notei que o chuveiro ainda estava ligado, me levantei rápido para fecha-lo, imagino quanta água foi desperdiçada nesse tempo.

"Pronto, agora além de ser um lixo de ser humano que vai pro inferno por gostar de mulher, eu também sou um lixo de ser humano contribuindo com acabar com o planeta terra" Pensei.

Olhei o horário, era onze e pouco. Também tinha algumas mensagens e ligações da Zoey e da Diana.

[08:35 PM] Diana: Lore?

Vc ta ai no banheiro?? É q eu a Zoey precisamos tomar banho.

[08:49 AM] Zoey: LORENAAAAAA

CE AINDA TA NO BANHEIRO

????

ESSE CHUVEIRO TA ABERTO DESDE Q VC SE TRANCOU AI DE NOITE!!!

SAI LOGO

A GENTE TAMBÉM PRECISA TOMAR BANHO >:(

[08:51 AM] Diana: ta td bem??

Cheguei a conclusão que eu realmente devia merecer tudo isso que ta acontecendo comigo, porque caramba, eu faço merda.

Notei que meus olhos coçavam, eu tava tão mal ontem, que eu acabei dormido de lente. Fui até o espelho e tirei-as, tudo ficou embaçado, mas via meus olhos meio vermelhos, fui até minha cabeceira contra a minha vontade, e peguei meus óculos guardados na minha caixinha. Coloquei meus óculos no rosto e chequei na câmera do meu celular, eu não os usava faz tempo, e eu tinha esquecido o quão ridícula eu ficava com aqueles óculos redondos. Mas feia ou não, eu precisava enxergar.

Eu já tinha perdido quase todas as minhas aulas da manhã, mas se eu corresse dava tempo de assistir mais algumas aulas. Suspirei, minha vontade era me jogar naquela cama e não sair de lá nunca mais, minha desmotivação era grande de mais. Era como se tivesse um vazio dentro de mim, um vazio que nem a Jade nem ninguém poderia preencher: minha relação com Deus. Eu não queria ter que ver a Jade e me sentir daquele jeito nunca mais na minha vida, era demais pra mim.

Mas também, isso não é desculpa pra ficar perdendo aula. Se todo dia que eu me sentisse mal por gostar de mulher eu não fosse pra aula, eu ia acabar repetindo por falta. E estudar é importante, eu tinha que ir.

Ajoelhei-me perto de minha cama, e orei uma ultima vez antes de sair, não adiantou de muita coisa, eu não estava me sentindo conectada com Deus. Suspirei, peguei meus livros, coloquei-os na mochila, e sai do quarto.

• • •

As aulas pareciam ter durado uma eternidade, eu não conseguia me concentrar, eu só pensava nisso o tempo todo, nem almoçar eu almocei pra evitar contato com as pessoas.

Mas eu sabia que não tinha como fugir de falar com a Diana e a Zoey quando eu chegasse ao dormitório. Andava pelos corredores, não sabia o que fazer, não queria falar sobre aquilo, então mandei uma mensagem pedindo desculpa pra Zoey e Diana por causa do negocio do chuveiro, falando que eu tava bem, e que eu só tinha meio que dormido no chuveiro porque tava muito cansada. Não sei se elas engoliram essa desculpa – eu mesma não engoliria – mas eu não tinha conseguido pensar em nada melhor.

Fui até a biblioteca e me escondi entre algumas prateleiras no canto, quase ninguém passava por lá. Li um pouco, não muito concentrada, mas um pouco menos triste. De repente, um pensamento passou pela minha cabeça: Eu nunca tinha que ter saído da Yale, minha vida com o André e a Debora podia até ser um inferno, mas pelo menos eu não ia queimar no inferno. Talvez eu devesse voltar pra lá...

Eu não queria dar esse gostinho pra meus pais de estarem certos em dizerem que eu nunca ia me adaptar aqui, mas minha relação com Deus era mais importante. Eu definitivamente não queria voltar, mas não sei se conseguiria ficar aqui com a Jade.

Peguei meu celular, abri o Skype. Tinha pensado em uma coisa que poderia me ajudar a me conectar com quem eu realmente sou, e talvez me ajudar a me decidir.

— Alô? — Ouvi a voz do André, a tela ainda não carregada.

— Oi docinho. — falei, não sei se feliz ou decepcionada por ele realmente ter atendido. Nossas telas finalmente carregaram.

— Docinho! — Ele falou animado, forcei um sorriso, ele retribuiu. — Como você está?

— Ah... 'to bem, e você?

— Otimo! — ele estava deitado numa cama, seu cabelo bagunçado. — 'Pera ai cê 'ta de óculos?!

"Não, coloquei um vidrinho no meu rosto pra meus olhos não caírem." Pensei. Que pergunta hein.

— Sim...

— Ah quanto tempo você não usa, hein?! Ficou linda!! — elogiou ele

— Muito obrigada. — Agradeci, as vezes eu meio que me sentia culpada por iludi-lo.

— Eu sinto muita falta de você aqui — falou, ressentido.

— Eu também. — Menti.

— Você não achou nenhum garoto bonito pra me substituir por ai não, né? — Brincou.

— Não. — Respondi. — Nenhum garoto. — Pelo menos em alguma coisa eu não estava mentindo.

— Eu nunca conseguiria te trocar por ninguém. — falou sorrindo. — E também, certamente você não tem nenhuma concorrência por aqui. — ele fez uma careta de desdém — As meninas aqui são todas umas vadias promiscuas, só pensam em festas. — Comentou

— Ahhh... — 'Tava demorando de mais pra ser chato. Pensei.

— Eu sinceramente, não conseguiria nem ao menos me envolver com uma mulher que não fosse cristã. — disse ele — O ateísmo tomou conta dessa geração.

— Uhum... — respondi, seca. — Eu tava pensando em como seria se eu estivesse ai.

— Seria maravilhoso! — arregalou os olhos. — Você 'ta pensando em voltar?!

— Não é bem isso, é que... — pensei em alguma coisa pra dizer — Eu 'tava sentindo sua falta, ai sei lá, só passou pela minha cabeça.

— Nos adoraríamos ter você de volta! — Assegurou André. — E a Debora também sente sua falta, ela só não admite. — Quase revirei os olhos, mas lembrei que ele podia me ver.

— Bem, tenho que ir, docinho. — falei, fugindo do assunto "Debora" —Eu preciso estudar.

— Ok. Te amo, docinho! — ele mandou um beijinho pra câmera.

Argh.

— Tchau. — Mandei outro beijinho. — Também te amo.

Desliguei a ligação, dei um longo suspiro. Bem... Ele é chato, mas não é tão ruim assim, não é? Pelo menos ele gosta de mim, se eu voltar não vai ser tão ruim assim. Apesar de que tem a Debora, e eu nunca mais queria ter que ver aquela cara dela, e ao mesmo tempo, eu não queria ter que conviver com a Jade depois daquilo. Senti um aperto no peito, ambas as opções eram ruins, estava tudo bem equilibrado, eu não tinha certeza de nada. Aparentemente meu destino era sofrer independente do lugar.

Mas... provavelmente era melhor não voltar.

• • •

No dia seguinte, estava andando pelos corredores meio cabisbaixa, minha tristeza não estava tão intensa quanto a que eu senti na noite passada, mas a sensação era de uma tristeza e desmotivação constante. Ainda não estava falando com ninguém, precisava de um pouco de espaço, e parecia que ia ser assim por um bom tempo, já que aparentemente não tinha previsão pra isso parar.

Peguei minha agenda na mochila e olhei qual era a próxima aula, senti um nó na garganta. Química. Com a Jade. Não, não, não, não, eu não podia ver ela. De jeito nenhum. Eu já 'tava assim sem ela por perto, imagina com ela a cadeiras de distancia. Não da, não mesmo.

Fui andando em direção a sala, hesitante, eu não queria ir, mas eu não mato aula. Mas e se eu surtar dentro da sala? O que que eu vou fazer? E se ela vier falar alguma coisa comigo e meus pensamentos impuros se repetirem de novo? Isso tinha grandes chances de dar errado.

Parei em frente à porta da sala, indecisa. Eu devia entrar? Eu não sei, talvez eu possa falar que eu tava passando mal, e conversar com a professora depois. Talvez ela...

— Senhorita Leslie, o que está fazendo parada aqui na porta?! Eu já estou entrando! — Anastácia acordou-me de meus devaneios. — Já pra sala! Agora! — ela me deu um empurrãozinho e entrou na sala, fiz uma careta irritada, mas ela não estava mais olhando pra mim.

Agora não tinha mais jeito, eu tinha que entrar. Segui-a, todas as cadeiras estavam ocupadas, menos uma das ultimas no canto, Jade estava sentada algumas cadeiras a frente. Engoli em seco e fui até a cadeira.

Anastácia já estava começando a sua aula, mas não conseguia me concentrar com a Jade ali na frente, aquilo tinha chances grandes demais de dar errado. Observava-a distancia, ela usava um cropped preto com uma calça cinza, me peguei observando suas costas, o olhar quase descendo para seu quadril, desviei o olhar rápido. Estava tudo começando de novo.

Meus pensamentos impuros já começavam a voltar à minha cabeça, eu não podia voltar a me sentir daquele jeito de novo, eu não posso me sentir daquele jeito por uma garota. E se ela viesse falar comigo depois?! Passei a mão para limpar o suor que escoria pela minha testa, minha respiração começou a ficar ofegante.

Ela se encostou na cadeira, olhando pra trás discretamente, nossos olhares se encontraram, desviei. Resisti à vontade de olhar de novo, coloquei a mão em meu pescoço, meu coração batia tão rápido que dava pra sentir no meu pescoço. Tentei não voltar a encara-la de novo, mas eu sentia seu olhar sobre mim, acabei dando uma espiadinha, ela ainda me olhava, dessa vez com uma feição preocupada.

Eu queria sair dali, sentia que quanto mais perto dela, mais as chances de eu me desviar do que eu realmente tinha que ser. Eu não posso manter ela próxima, se ela me faz ter todos esses sentimentos. Eu precisava sair dali. A cada segundo que se passava eu me sentia mais nervosa. Eu precisava sair dali.

A aula pareceu que durou séculos, mas acabou, graças a Deus. Ao ouvir o sinal, peguei minha mochila e fui andando o mais rápido possível sem parecer que estava correndo.

— Lobinha?! — Ouvi sua voz logo atrás de mim. Parei onde estava. Merda.

— Oi — ela colocou a mão no meu ombro, senti meus músculos ficarem tensos. — Eu sei que você pediu um tempo... Mas já deu dois dias e... — Ela continuava com a mão no meu ombro, meu coração batia ainda mais rápido, se é que isso era possível. — ...Você 'ta assim por causa daquilo?! — sem resposta ela moveu-se para minha frente, encarei-a por um segundo, mas desviei o olhar novamente. — Sabe? Do beijo no seu pescoço... Eu juro que eu não queria te fazer ficar assim, eu achei que tava rolando um clima, e...

Eu não conseguia prestar atenção no que ela falava. Não mantinha contato visual com ela, mas não foi suficiente, me peguei olhando para sua barriga exposta pelo cropped, desviei o olhar novamente. Você vai pro inferno uma voz ecoava na minha cabeça, Você a deseja, você sabe disso. E você vai direto pro inferno. Eu juro que meu coração batia tão forte que parecia que ela ia explodir, sentia minha garganta fechando, eu mal conseguia respirar.

— ...Lobinha?! — Ouvi-a me chamando. — Você 'ta bem?

Não me aguentei e sai andando rápido daquela sala, tive que sair de lá antes que as coisas tomassem proporções drásticas. Sai andando em direção a meu dormitório de cabeça baixa, atravessei-o corredor, e de repente ele parecia mais longo, chegar a meu destino parecia impossível. Sentia o suor frio na minha testa, me esforcei pra respirar, a sensação era de que meu coração batia tão intensamente, que meus pulmões tiveram que dar um tempo por uns minutinhos.

Minha respiração ofegante provavelmente era a única coisa que me lembrava que eu estava viva naquele momento, porque a sensação era de como se eu fosse morrer. Você não merece viver uma voz me lembrou em minha cabeça Aqueles que não vivem a vida devota a Cristo não merecem a salvação, não tem o direito à vida eterna. Você vai morrer. Ecoava na minha cabeça, e vai pro inferno.

Mais lagrimas desciam pelo meu rosto, as lagrimas embaçavam minha visão, tudo girava, eu mal conseguia ver o caminho que estava seguindo. Estava tão tonta que parecia que minha cabeça girava presa num ventilador, senti minha barriga embrulhar-se, o enjôo me deixava lenta, o que só fazia parecer que minha ida até meu quarto não acabava nunca.

Continuei seguindo mesmo assim, me esforcei para andar o mais rápido possível, mesmo tonta, mal enxergando o caminho na minha frente, eu precisava chegar lá. Consegui sair do prédio das aulas, andei pela grama até o prédio dos dormitórios. "Ta perto" eu pensava mais rápido.

Cheguei ao prédio dos dormitórios, finalmente, e subi as escadas até meu quarto. Peguei minha chave, mas não consegui enfia-la na fechadura, minha mão tremia de mais. Desesperada, tentei novamente, mas eu só errava o alvo, parecia que tudo colaborava para dar errado.

Depois de diversas tentativas, eu consegui abrir a porta, me joguei na cama e me encolhi, lagrimas quentes desciam pelo meu rosto gelado, respirei fundo, segurando minha barriga, meus ombros tensos indo pra cima e pra baixo, repeti o processo varias e varias vezes. Você vai pro inferno ecoou novamente na minha cabeça, Deus não te ama, sua sapatão maldita, você é uma vergonha. Essa voz continuava me falando.

Fechei os olhos, abracei meu travesseiro o mais forte que conseguia, continuei respirando fundo.

• • •

Depois daquela crise passar, tinha conseguido dormir um pouco, acordei, me levantei da cama e me sentei, atordoada. O que foi aquilo?! Aquilo foi definitivamente uma das piores sensações de minha vida, nunca tinha sentido nada como aquilo antes. Esfreguei os olhos, peguei meu celular pra conferir o horário, vi varias mensagens da Jade.

[16:01 PM] Jade: Sinceramente

Eu não consigo entender vc

msm

Eu tava tentando te ajudar, e vc me largou falando sozinha

Eu n sei pq eh tão difícil pra vc gostar de mim

Blz, vc eh cristã e tal

Mas porra

Vc n eh a única que sofre com sua falta de ctz

Sabia?

Eu to cansada disso

De vdd

Respirei fundo, me segurei pra não chorar, deitei de bruços na cama, respirei fundo novamente. Agora, além de tudo, ela me odeia. Comecei a chorar muito, abracei meu travesseiro forte, Eu me odeio, eu odeio me sentir assim, eu quero morrer. Pensava. O que eu fiz pra merecer isso?

Levantei-me, enxuguei os olhos, orei pedindo perdão por a Deus por chorar por gostar de uma menina. Dei uma fungada, me encostei na parede. "Isso deve ser algum tipo de castigo de Deus, não é possível." Olhei para cima "O que você quer que eu faça?! Eu juro que eu faço qualquer sacrifício que for preciso, eu só não posso ser lésbica!" Pensei. E por um momento, e algo daquele pensamento ficou preso na minha cabeça. Sacrifício.

Qual sacrifício eu poderia fazer para Deus?

E nesse momento uma idéia veio na minha cabeça, inclinei-me até minha cabeceira e peguei minha bíblia, procurei por "Joel", lembro que papai tinha me mostrado esse versículo uma vez. Achei o que eu queria, estava em Joel 2, versículo 11 e 12:

Joel 2:11:

O Senhor levanta a sua voz
à frente do seu exército.
Como é grande o seu exército!
Como são poderosos
os que obedecem à sua ordem!
Como é grande o dia do Senhor!
Como será terrível!
Quem poderá suportá-lo?

Joel 2:12:

"Agora, porém", declara o Senhor,
"voltem-se para mim
de todo o coração,
com jejum, lamento e pranto."

Ao ler aquilo, senti que tinha acabado de achar minha solução. Era isso! Eu precisava fazer um jejum, só assim Deus me ajudaria a lidar com meus desejos impuros! Mamãe costumava fazer jejum religioso de vez em quando (Sabe lá Deus se era por motivos religiosos como ela dizia, ou só pra emagrecer) então não deve ser nada de mais, não é?!

Ela não deixava eu fazer jejum quando era menor, de acordo com ela, eu já era fraca de mais, e magra de mais, poderia me prejudicar. Mas nada de mais acontecia com ela, e Deus ajuda aquele que nele crê, certo? Então não ia acontecer nada de mais, meu apetite nunca foi tão grande, de qualquer jeito.

Parei pra me lembrar qual tinha sido a ultima refeição que eu tinha comido, um sanduíche natural, um pouco depois da hora do almoço. Não podia ser tão ruim assim, não é?! Eu ia beber água normalmente, só não ia comer, e era para Deus perdoar os meus pecados de carne, para tirar esse desejo quase que insaciável do meu coração, então valia a pena.

Estava decidida, ia ficar uma semana em jejum, apenas tomando água, em busca de meu perdão e ao fim dos desejos homossexuais em meu coração, só assim Deus poderia me curar. Eu sei que uma semana sem comer podia ser muito tempo... Mas eu queria mais que tudo deixar de ser lésbica, eu não podia viver minha vida assim, então acho que valia o esforço. Olhei meu calendário no celular para ver o dia que ia voltar a comer, coloquei um alarme para exatamente uma semana, nesse mesmíssimo horário. Eu não podia tardar em começar o que seria a minha jornada para obter o meu perdão, então, comecei meu jejum naquele exato momento.

• • •

Em algumas horas de jejum

Nas primeiras oito horas tudo estava normal, eu até tinha pensando um pouco em comida, mas tudo ocorreu bem. Fiz minhas orações, novamente pedindo perdão e suplicando pela misericórdia de Deus para acabar com meus desejos homossexuais, até agora estava tudo sob controle. Eu tinha estudado sobre isso uma vez, meu corpo já devia estar começando a quebrar glicogênio, e distruibuindo uma parte da energia para abastecer meu cérebro, e a outra para meu tecido muscular e glóbulos vermelhos. Nada de mais até agora.

• • •

Um dia de Jejum

24 horas sem comer nada, ok, definitivamente já estava começando a sentir a diferença. Minha cabeça e minha barriga doíam, me sentia tonta, sentia desejo de comer, mas permanecia forte. Acabei por cometer o erro de passar pela porta do refeitório na hora do almoço, o cheiro da comida veio forte, tive que me segurar pra não entrar ali e comer alguma coisa, foi quase desesperador. Minha barriga roncava muito, minha boca salivava, mas respirei fundo, e lembrei porque tinha começado tudo aquilo: Deus iria me ajudar se eu desse a ele o que ele queria, então resisti a tentação da fome, e só segui direto.

Meu corpo já devia ter entrado em fase de Cetose, todo meu glicogênio de fácil acesso já devia ter se esgotado, e a essa altura meu corpo devia estar consumindo minhas gorduras e proteínas no meu corpo. Tinha lido em meu livro sobre isso, estava pelo menos bem informada do que estava acontecendo.

Orava toda vez que tinha fome, foi o que me ajudou a permanecer estável, também orava sempre que sentia falta da Jade, me manter distante dela era difícil, mas agora, depois dela falar aquilo comigo, aparentemente ela também não me queria mais perto. Sentia um aperto no peito toda vez que lembrava disso, permaneci forte durante o dia... Mas a noite desabei. Sinto que me apeguei de mais a ela, tudo isso seria mais fácil se eu nunca tivesse saído da Yale, pensava.

Estava difícil, muito difícil, mas eu estava motivada, e eu ia conseguir.

Eu precisava conseguir.

• • •

3 dias de jejum

A fome a essa altura era intensa, estava desesperada pra comer alguma coisa, só pensar em comida já era um sofrimento muito grande, então eu evitava ao maximo. Mas mesmo assim era muito difícil, minha barriga roncava, meu corpo literalmente me implorava por comida e eu negava, o desejo era muito grande, era necessária muito mais força de vontade do que eu imaginava. Aquele foi um dos piores dias.

Além de que, por algum motivo, meu hálito ficava HORRIVEL, eu devia estar escovando os dentes umas 10 vezes por dia.

Mas apesar de tudo, eu ainda estava sob controle, nada tinha dado errado ainda, e acho que dava pra continuar assim. Com dificuldade extrema, e muita (MUITA) fome, eu seguia minha vida. Só que tinha uma coisa que eu não tinha pensado: As pessoas iam notar que eu não estava comendo, e elas notaram, eu até recebi uma intervenção.

— Lore... a gente veio aqui pra falar uma coisa séria com você. — Zoey falou, séria. Provavelmente nunca tinha a visto tão séria.

— Ah... O que? — Perguntei, cínica.

— A gente notou que você 'ta meio mal esses dias... — Diana continuou, as duas sentavam logo ao meu lado na minha cama — Desde aquele dia com aquele incidente do chuveiro. — falou em um tom de ironia quase que imperceptível.

— Pois é. — Concordou Zoey, já com um tom de ironia bem perceptível.

— E do nada, você parou de almoçar com a gente...

Não respondi nada, eu não esperava ter que dar satisfação pra ninguém, nem achei que ninguém notaria. Eu lavava o rosto de manhã todo dia e passava um pouco de maquiagem pra não notarem que eu estava mal.

Minha falta de resposta gerou um silencio desconfortável, não fazia contato visual com elas, elas pareciam ansiosas por uma resposta.

— Você 'ta sem comer?! — Zoey cortou todas aquelas cerimônias e foi direto ao ponto

— ...Sim. — afirmei

Zoey olhou pra Diana, com um olhar expressivo, basicamente seu rosto dizia "Ta vendo?! Eu te falei". Diana suspirou.

— Você não pode ficar sem comer, sua maluca!! — exclamou Zoey, quase berrando.

— Posso sim — falei, em contrapartida. — A vida é minha, eu faço o que eu quiser.

— A gente sabe, Lore. — Diana comentou — Mas isso não é saudável!

— Na verdade, vários estudos provam que alguns tipos de jejum podem até fazer muito bem para o organismo. — rebati

— E você foi num medico antes de decidir isso?!

— Não.

— Então pode ser perigoso! — Concluiu Diana, preocupada.

— Por que você 'ta fazendo uma coisa dessas?! — indagou Zoey, inconformada. — Você 'ta toda estranha, 'cê nem 'ta falando com a gente!

— Pelo menos fala por que você 'ta fazendo isso! — Completou Diana.

Suspirei, não queria falar, mas não ia aguentar elas ali me enchendo o saco.

— Eu 'to fazendo jejum religioso. — respondi — Pronto, satisfeitas?

— Mas porque?!?! — questionou Zoey.

— Não interessa, caramba! — gritei, argh, que saco. — Isso é uma coisa pessoal pra mim, é comigo e minha crença. — expliquei, me virei pra Diana. — Vocês muçulmanos não fazem um tipo de jejum também?! Eu já li sobre isso uma vez, naquele mês... Como é o nome mesmo?!

— Ramadão. — respondeu ela. — Mas nos temos pausas pra comer em alguns horários durante o mês.

— Bem, o meu tipo de jejum é só a base de água. — enfatizei — E é pra uma coisa importante pra mim, é pessoal. — Contei. — Então vocês não podiam apenas respeitar?!

Elas se entreolharam, Zoey parecia não ter entendido ainda, Diana suspirou, paciente.

— Você prometeu jejum de quantos dias? — perguntou ela

— Uma semana.

— Você já 'ta em que dia?

— No terceiro.

Zoey ainda parecia inconformada, Diana parecia mais compreensiva, parou pra pensar por uns segundos, e falou:

— Promete que vai procurar um medico se a coisa ficar séria?!

— Promeeeto — falei, a fala arrastada — Prometo sim, satisfeitas?

— Mesmo?! — enfatizou Zoey

— Mesmo! — respondi — Prometo procurar ajuda se ficar serio. — Falei, dessa vez com mais intensidade. — Pronto?

Elas se entreolharam novamente, me olharam de novo.

— ...'Ta bom. — disse Diana.

— Ai de você se você não comer quando der 7 dias! — reclamou Zoey, ameaçadora.

— Não precisa se preocupar. — falei, abraçando meus dois joelhos — Eu vou ficar bem.

— Acho bom mesmo, hunpf! — Completou Zoey, ela se levantou e foi em direção a escadinha da beliche. — Sabe, a gente devia marcar algum tipo de jantar especial pra quando você poder voltar a comer.

— É, talvez. — Dei de ombros.

— Bora marcar!

— 'Ta... Depois. — respondi, desmotivada.

Suspirei, Diana que ainda estava sentada na minha cama, pegou minha mão por um segundo e acariciou-a, tentei dar um sorrisinho, ela retribuiu. Depois, se levantou e foi em direção a sua escrivaninha, me deixando sozinha novamente. Minha barriga roncava graças a menção da Zoey sobre esse jantar, me deitei de bruços com muita dor e orei pedindo forças para continuar.

Era melhor isso dar certo.

• • •

Sétimo dia, uma hora antes de completar uma semana de jejum.

O ultimo dia, wow, sinceramente, era impressionante o fato de eu estar prestes a conseguir, a sensação de passar fome é muito ruim, honestamente, não desejo a ninguém nesse mundo.

Mas em tudo daí graças, eu estava prestes a conseguir completar minha promessa. E sinceramente, nos últimos dias, parecia que meu apetite sumia completamente – Apesar de que, ficava definitivamente muito mais fraca do que antes. Eu nem ao menos consegui ir pras aulas, faltava força, então nesses últimos dias tive que dar um tempo das aulas, aproveitei-os para a leitura da bíblia e orações. De qualquer jeito, eu estava prestes a conseguir.

Aguardei essa uma hora ansiosamente, olhando o tempo todo o relógio, animada.

Quando, enfim, deu o horário e completou-se exatas uma semana de jejum, senti meu coração encher-se de alegria, orei e agradeci a Deus por ter conseguido, lagrimas desceram pelo meu rosto. Tudo posso naquilo que me fortalece pensei, alegre. Eu já me sentia conectada com Deus novamente, o que era maravilhoso.

Sai do dormitório em busca da Diana e Zoey para sairmos pra comer, minhas pernas doíam, mas eu andava o mais rápido possível, animada. Agora eu não sou lésbica! Pensei, entusiasmada. Bem, acho que agora eu não sou mais lésbica. Engoli em seco, confiava em Deus como todo poderoso, mas como humana, pecadora e sujeita a imperfeição, tinha uma pingada de ceticismo no meu coração, precisava ter certeza absoluta que eu estava curada.

Então, peguei meu celular enquanto andava e abri uma foto dela para ver como me sentia, esperançosa em a resposta ser absolutamente nada. Olhei sua foto de perfil, engoli em seco. Continuava linda. Mas tudo bem, certo? Acha-la bonita não me tornava lésbica. Certo? É não me tornava lésbica, eu sou hetero, eu já me sacrifiquei, agora eu não vou mais me sentir assim. Repeti em minha cabeça, respirei fundo e continuei andando.

De repente, aquela pitada de confiança que completar o exato horário do jejum me dera, sumira. Ainda incerta sobre os resultados de meu sacrifício, abri o chat dela e li a conversa onde ela basicamente falava que me odeia porque eu sou um lixo de pessoa indecisa que faz ela perder o tempo dela. Novamente, senti um aperto no peito, aparentemente eu ainda estava triste. Mas tudo bem, certo?! Ela era minha amiga, e agora ela me odeia, é normal eu me senti assim, eu não sou lésbica por isso.

— Ela era apenas minha amiga, e é por isso que eu 'to triste. — Repeti em voz alta, pausadamente — Não tem nada a ver com eu ser lésbica ou não, até por que eu não sou, claro que não. É... — dei uma risadinha nervosa — Eu já fiz meu sacrifício, então não tenho nada pra me preocupar. Ela é só uma amiga e é por isso que eu estou triste. — Continuei, minha respiração começou a ficar ofegante.

Mas... Não era como se eu estivesse falando com alguém, olhei em volta, não tinha ninguém sequer perto de mim, estava falando completamente sozinha. Acho que eu enlouqueci de vez, talvez a falta de comida tenha feito meu cérebro parar de funcionar direito.

— Deve 'ta faltando oxigênio no meu cérebro, ou coisa do tipo... — Falei, sem muitas forças. — Eu não sou lésbica, eu já fiz meu jejum, eu já me curei... — repeti

Mas, não tinha ninguém ali pra eu estar convencendo de que isso era verdade, sem ser eu mesma. Engoli em seco, será que eu era tão ruim assim que nem Deus dava jeito em mim? Será que não adiantava o que eu fizesse, não importava nenhum sacrifício, não importava quantas orações eu fizesse, eu era lésbica demais pra Deus me salvar?!

Comecei a me sentir ansiosa, e se na verdade meu destino for ir pro inferno, e nada que eu faça pode mudar isso?! Eu sou uma decepção, nada que eu fazia adiantava, o pecado já estava impregnado em mim, nada que eu faço resolve. Eu me abstenho de tudo que eu preciso, humilho meu corpo em busca da graça de Deus, e mesmo assim nada muda.

— ...Mas talvez melhore gradativamente, não é? Tipo um antibiótico, não sentir nada na hora, mas com o tempo faz seu organismo melhorar. — Falei, ofegante. Atravessava o corredor do prédio das salas de aula, não via ninguém no corredor. — Talvez realmente seja que nem um antibiótico, talvez eu tenha que fazer mais uma semana de jejum pra garantir que eu 'to totalmente curada... É. Acho que eu vou...

— Lorena?! — Ouvi a voz dela. Puta merda.

Parei de andar, me virei lentamente, já sabendo quem eu estava prestes a ver. Jade estava sentada num banco de madeira, junto com Tiffany e PJ, todos me encaravam confusos.

— 'Ce 'tava falando sozinha?! — questionou Jade, com suas sobrancelhas arqueadas. Seus olhos verdes e brilhantes pareciam assustados, parecia que havia passado uma completa lunática na frente deles.

Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Por que, de todos os corredores, de todos os prédios de sala de aula daquela universidade, ela tinha que estar justo nesse que eu estava passando?! Só estava piorando tudo.

— É... — fiquei sem reação, completamente envergonhada. As palavras pareciam presas em minha garganta, eu não conseguia falar nada.

— 'Pera ai, porque você ficou tão magra assim do nada?! — Jade me olhou, olhei para baixo. O uniforme que Diana fez pra mim, que sempre foi exatamente do meu tamanho, parecia meio folgado, meus braços estavam mais finos que o normal. Eu estava entrando num estado de desnutrição, e eu fiz tudo isso pra nada. — Você 'ta doente?!

— É que... — tentei explicar, mas as palavras novamente não saíram, senti lagrimas brotarem em meus olhos. — Eu...

— Calma, calma, calma! — Jade se levantou, segurou meus dois braços, senti meu corpo estremecer com seu toque. — O que foi?! — Ela me encarava preocupada, nossos corpos mais próximos do que deveriam, estava evitando contato visual, mas naquele momento eu o fiz. E foi ai que eu desabei.

— Não chora, 'pera ai! — ela passou a mão pelo meu rosto, limpando minhas lagrimas, levantei meu olhar novamente para olha-la. Caramba, PORQUE ela tinha que ser tão bonita?! Lagrimas quentes desciam de meu rosto — O que foi?! — Ela se aproximou um pouco mais, encarei seus lábios entreabertos, deve ser tão bom te beijar pensei.

"'Ta vendo?! Você é um caso sem jeito, Lorena." Meu subconsciente falava.

— Fique... longe... de mim! — Ordenei, tirando as mãos dela de mim em um gesto agressivo, ela continuava me encarando sem entender.

Sem hesitar, me virei e sai correndo – o que foi, por acaso uma péssima idéia, já que meu corpo estava fraco de mais pra isso – corri sem parar, corri até minhas pernas não aguentarem mais e eu cair no chão.

POV Jade.

Ela parecia muito mal, nem olhava pra mim direito, estava tão magra que parecia doente... Eu realmente não estava entendendo nada.

— Não chora, 'pera ai! — limpei suas lagrimas com minha mão, ela me encarou, mas desviou o olhar. — O que foi?!

— Fique... longe... de mim! — Ordenou, empurrando minhas mãos pra longe dela agressivamente, encarei-a, confusa.

E ela se virou e saiu correndo, de novo. Argh.

Me joguei no banco, frustrada, porque ela tinha que continuar fazendo isso toda vez que eu me aproximava pra conversar dela?! Ela deve achar que eu sou algum tipo de aberração, não é possivel.

— Meu deus... — Tiffany falou.

— Caralho, o que foi isso?! — questionou PJ, assustado.

— E eu sei lá. — suspirei. — Só sei que é a segunda vez que ela me deixa aqui com cara de otaria e sai correndo.

— Você não vai atrás dela não?! — PJ se virou pra mim.

— Que?! Não! — cruzei os braços. — Você não ouviu ela?! Ela me quer longe dela. — Apontei para a direção aonde ela tinha saído.

Ele riu.

— Claro, com certeza ela te quer longe, ela 'ta indo muito bem ai sozinha, como você pode ver. — debochou ele.

— Mas foi o que ela falou. — rebati

— Mas ela não deve realmente querer você longe. — respondeu, em contrapartida. — Nem todo mundo tem um processo de se assumir tão fácil quanto o seu foi, Jade. Falo por experiência própria.

— Mas ela não pensa em mim quando ela faz essas coisas, ela pensa que só ela sofre com isso!

— Bem, você também não 'ta pensando nela agora. — argumentou — Por mais que seja chato ficar esperando ela decidir se gosta de você ou não, ela parecia mal pra caralho, e você deveria ter ido falar com ela.

— Pois é. — Tiffany pronunciou-se.

— Até você, Tiffany?! — perguntei, ela deu de ombros.

Suspirei. Bem, talvez ele tivesse razão. Meu processo de aceitação não foi o pior de todos, meus pais não eram cristãos nem nada, eu não era cristã, talvez realmente seja mais difícil pra ela do que pra mim.

Não queria ir falar com ela, ainda estava com meu orgulho ferido, mas agora o PJ fez com que eu me sentisse mal, e ela realmente parecia péssima. Não sai correndo atrás dela nem nada, era demais pra mim... Mas fiquei com isso na cabeça.

POV Lorena.

Chorei mais ainda caída no chão, minha cabeça doía, tudo girava, senti vontade de vomitar, parecia que eu tinha chegado oficialmente ao fundo do poço. Não tinha dado certo, agora estava claro. Eu era um caso perdido, uma vergonha, nada que eu fizesse ia adiantar, nunca, eu ia...

— Lorena!? — fui interrompida por uma voz masculina, levantei meu olhar para ver quem era.

Arregalei os olhos, confusa.

— ...Tony?! — Tony estava parado logo ali na minha frente, me encarando. Por um segundo, me senti nervosa, minhas experiências com ele enquanto eu estava vulnerável não eram as melhores de todas.

— Que porra é essa?! — indagou ele — Porque você 'ta ai jogada no chão? — Não respondi nada, sinceramente, me faltava forças — Caralho 'ce 'ta muito magra! — exclamou ele, nada discreto — Que larica é essa, cara, meu deus?! 'Ce 'ta sem comer é?!

Assenti de leve com a cabeça, tão de leve que ele poderia nem ter visto, não sei por que eu estava dando satisfação pra ele.

Talvez realmente estivesse faltando oxigênio no meu cérebro.

— Por que 'ce 'ta sem comer, porra, você é imbecil?! 'Ce 'ta sem dinheiro ou o que?! — perguntou ele, continuei em silencio. — Ah, 'ce não vai responder, claro. — Ele se abaixou — Vem ca, eu vou comprar alguma coisa pra você comer.

— Eu... não quero nada de você... — Respondi, com toda a força que me restava. Eu não confiava nele, eu não queria que ele me pagasse nada.

Ele riu.

— Claro, como se fosse uma opção só passar e ignorar você jogada no chão chorando semi-desnutrida. — Ele pegou meu braço e começou a me carregar, me ajudando a me levantar — Bora logo.

— Me... solta... — tentei resistir, mas acho que minha parte consciente aceitou, por que eu só continuei andando apoiada a ele até chegarmos a uma lanchonete.

• • •

Sentei em frente a ele na lanchonete, ele observava o cardápio, ainda estava tonta. A lanchonete não era tão longe dali, mas mesmo assim a andada tinha me deixado cansada.

— 'Ce já escolheu ai?! — perguntou ele

Observei o cardápio, sabia que depois de ficar em jejum tinha que comer uma coisa leve. Tinha uma salada de frutas ali que parecia tranquila... Até que olhei o preço dela.

— Tony... Tudo aqui é muito caro! — sussurei, assustada.

— Pode escolher qualquer coisa, ignora o preço. — gesticulou. — Eu sou rico, isso não é problema.

Fiz uma careta.

— Que?!

— Pode escolher ai. — repetiu

— Não, não isso. — expliquei — Você é rico?!

— Ah, isso. — falou, fechou o cardápio e me encarou — Já ouviu falar de Gerald Cooper?

— Não lembro... — respondi, tentando me recordar, eu conhecia aquele nome de algum lugar. — Mas o nome é familiar.

— Bem, o nome é bem familiar pra mim. — Falou — É meu pai, um desses COO's bem sucedidos de Nova York. — contou — As vezes ele aparece no noticiário.

— ...Legal. — comentei

É — respondeu em um tom de quem não achava aquilo tão legal assim. — Escolhe logo alguma coisa ai, vai.

Assenti com a cabeça, pedi a salada de frutas e um suco para a garçonete, ele pediu um hambúrguer e um refrigerante, chequei o preço do que ele tinha pedido, engoli em seco. Aquela conta ia ficar bem cara.

— Mas 'ta. — Ele virou os olhos pra mim. — Agora você vai falar porque você tava jogada no chão sem comer?! — perguntou — O problema é dinheiro, é?!

— Não...

— O que é então?!

Suspirei, era o Tony, o que eu tinha a perder explicando pra ele?

— Basicamente... — comecei. Ai, porque eu tava fazendo isso?! — Eu descobri que talvez eu seja lésbica, e eu fiz um jejum religioso como um sacrifício para Deus me curar.

Ele me encarou, incrédulo.

— É serio isso?! — perguntou, assustado.

Assenti.

Ele começou a rir, muito.

— Do que você 'ta rindo?! — perguntei, irritada.

— Isso... — ele continuava rindo. — É a coisa mais ridícula que eu já ouvi na minha vida! — revirou os olhos, rindo. — Então, como seu doutor, Jesus, eu afirmo que o que você tem é viadagem. Muito comum nos jovens de hoje em dia. — continuou, em tom de imitação. — Então te passo essa receita de um jejum, e em uma semana você estará curada. — Ele voltou a rir. — Você se escuta falando essas coisas?!

Eu ia dar uma resposta bem desaforada nele, mas naquele momento a mulher chegou com os pratos, então eu não esperei nem um segundo para atacar a salada de frutas. E ca-ram-ba, a sensação de comer depois de passar tanto tempo sem comer... Eu não tenho nem palavras pra descrever, bom demais.

Ficamos em silencio por um minuto enquanto comiamos, mas ele voltou a falar.

— Você não pode tratar o fato de você ser sapatão igual a uma doença, cara. — Falou em quanto mastigava. — Ninguém escolhe se gosta de homem ou mulher, 'ce devia só se aceitar.

— É fácil dizer isso quando você não tem religião! — rebati, dei um gole no meu suco. — Você não acredita, mas eu sei que eu vou pro inferno por causa disso!

— Caramba... — ele falou — Seu Deus te faz lésbica, e depois fala que você vai pro inferno se você for lésbica. — comentou — E eu achei que eu que era o babaca.

— Cala a boca! — exclamei, irritada — Se você não acredita em Deus, pelo menos tenha a decência de respeita-lo!

Ele deu uma risadinha, balançando a cabeça em negação.

— Que seja. — Deu de ombros. — Eu só to te dizendo que você não devia se sentir mal por uma coisa que é natural. — declarou. — Que culpa você tem de gostar de mulher?! Nenhuma. Não foi você que escolheu isso.

Suspirei, dei a ultima colherada na salada de frutas, acho que nunca comi nada tão rápido na minha vida. Não estava cem porcento melhor ainda, mas a sensação era de melhoria, definitivamente. Eu realmente estava precisando disso.

— Eu sei que minha opinião e merda pra você deve ser a mesma coisa — falou, já que não tinha recebido uma resposta. — Só não se mate por isso, ok?

— ...'Ta.

Esperei ele terminar de comer seu hambúrguer em silencio, por algum motivo, ele parecia melhor fisicamente. Tipo... Ele ainda tinha cara de drogado, só que menos. E porque ele está me ajudando?! Pensei. Confuso, definitivamente confuso.

— Tony... Eu posso te perguntar uma coisa? — perguntei. — Duas na verdade. Não, três.

— Pode né.

— Você 'ta com uma cara melhor... Você parou de usar droga?!

— Não exatamente... — respondeu, se ajeitando na cadeira — Mas eu to querendo, eu fui num grupo de apoio para dependentes químicos, ai eu meio que 'to tentando parar um pouco. — explicou — Obvio que não é tão fácil assim né, mas eu 'to tentando... Depois eu ainda vou ter que passar por uma clinica de reabilitação, o que vai ser difícil pra caralho. — contou — Mas é só eu pensar que talvez a Tiffany me aceite de volta se eu parar, que já ajuda. — Durante toda a fala dele, ele parecia meio desmotivado, mas ao falar da Tiffany, parecia que uma faísca de esperança tinha se acendido. Ele parecia realmente gostar dela.

— Entendi. — respondi. — Outra pergunta, se você é rico, porque você trafica?!

— Eu não trafico. — respondeu, fazendo uma careta. — Quer dizer, trafico. Mas eu não sou tipo, O traficante. — esclareceu — Todo usuário tem que traficar, se não o cara não vende. Eu só passo a droga pra ca, pra pegar de lá.

— Ahh ta.

— E a outra pergunta?!

Parei em silencio por um segundo, encarando-o. Essa era a pergunta que eu mais precisava da resposta.

— ...Por que você 'ta fazendo isso?! — perguntei

— Isso o que?!

— Ah, você sabe... — falei, ele me encarou confuso. Bem, aparentemente ele não sabia. — Me ajudando.

— Bem, se eu quero que a Tiffany me aceite de volta, talvez eu devesse tentar ser uma pessoa melhor. — disse ele, em tom de brincadeira. — Alem de que... Teve aquele negocio da gente na festa quando eu tava doidão. — falou, sooando mais serio. — Eu sei que eu já te pedi desculpa, mas isso ficou na minha cabeça. Foi um dos principais motivos pra eu decidir parar. — explicou — Então... é, desculpa de novo por aquilo.

— 'Ta tudo bem. — respondi. Eu sei que ele podia ser um babaca às vezes, mas era bom ver que ele realmente tinha arrependimento. Eu realmente não estava mais com raiva. — Bem, eu vou indo então, eu 'to sem dinheiro na mão agora, mas depois eu te procuro e te pago. — falei, me levantando.

— Eu já falei que não precisa. — comentou — Eu sou rico, eu posso pagar o meu e o seu.

Fiz uma careta.

— Eu não vou deixar você pagar um jantar pra mim. — rebati — Você não é meu namorado.

— Não, não é isso! — balançou a cabeça em negação — Olha... só aceita. — pediu — É minha forma de me redimir com você depois daquilo. Você me desculpou e agora eu te ajudo pagando essa comida já que você literalmente 'tava passando fome. — Completou.

— Olha, não precisa, de verdade. — respondi.

— Deixa de ser teimosa, só aceita! — reclamou — Eu só quero ajudar, vai. — continuou — Eu insisto.

Suspirei, normalmente eu não aceitaria... Mas realmente a sensação era como se ela ainda me devesse alguma coisa depois de me assediar. Como se não tivesse um "pagamento" adequado que o fizesse o deixar de "ficar em divida" comigo.

— ...Ok. — respondi. — Obrigada pela comida, então. E pela conversa.

— Por nada. — Respondeu, limpando a boca com um guardanapo.

— Tchau. — despedi-me.

— Tchau.

• • •

Cheguei à faculdade, fui andando até meu dormitório, me sentindo bem de um jeito que não me sentia há dias, não que fosse muito... Mas um pouco melhor. E caramba, esses dias foram difíceis.

Andei até meu dormitório, já me sentindo melhor do que antes, minhas pernas doíam menos, minha cabeça também parecia pesar menos, o que já era um avanço incrível. Subi as escadas do prédio de meu dormitório, e ao chegar até o corredor me deparei com uma surpresa: Jade estava parada bem ali na minha porta.

Levei um susto, o que ela estava fazendo ali? Ela fez menção de bater na porta, mas não o fez. Andou de um lado pro outro, parecia hesitante. Será que ela tinha ido até lá falar comigo?! Não, ela me odeia agora. Provalmente não.

Mas... o que que ela estava fazendo ali?!

— Jade?! — falei, me aproximando.

Ela virou de supetão.

— Lorena?! — exclamou surpresa — Eu achei que... — ela apontava pro quarto. — Quer dizer, esquece. Eu... é... — ela parecia hesitante, não fazia contato visual. — ...vim ver como você tava. — completou, de braços cruzados.

— Ah... Eu to melhor, eu acho, eu acabei de comer aqui.

— Olha, eu ainda 'to irritada com você! — Esclareceu. — E eu nem ia vir aqui falar com você, só que ai eu te vi daquele jeito no corredor... — falou — O que foi que aconteceu?!

Encarei-a, pensei em explicar, mas não queria contar pra ela. Não queria que ela me achasse ridícula. E eu também não queria ter que mencionar o André, então resolvi apenas seguir o que meu coração mandava, e dei-lhe um abraço apertado.

— Me desculpa. — falei, apertando-a forte. — Desculpa por tudo, serio. — Senti lagrimas descendo pelo meu rosto.

— Calma, calma! o que foi?! — perguntou, assustada. Nos abaixamos e sentamos ali no chão, lado a lado, ela segurou minha mão.

— É que... tudo tem sido tão difícil. — Enxuguei as lagrimas com minha outra mão, minha voz saia chorosa. — Eu nunca quis desperdiçar seu tempo, me desculpa. — continuei. — É que não é tão fácil assim, minha igreja me rejeitaria, meus próprios pais me rejeitariam, isso sem contar comigo mesma. — expliquei, apoiando a cabeça na parede. — Eu queria que pudesse ser tão simples quanto é pra você.

— ...'Ta tudo bem. — ela acariciava minha mão — Eu acho que eu também te devo um pedido de desculpa, eu me irritei com você por sair correndo de mim daquelas vezes... E você não 'tava bem, você nem ao menos parecia bem! — enfatizou, parecia estar se culpando — Eu devia ter reparado, me desculpa. — ela falou — Caramba, eu sou tão idiota.

— 'Ta tudo bem, não é sua culpa. — falei.

— Serio, é que... — ela continuou.

— Não, 'ta tudo bem. — interrompi. — Eu sei que não foi fácil pra ninguém lidar comigo esses dias, eu não te culpo. 'Ta tudo bem, mesmo.

Ela deu um sorrisinho e segurou minha mão mais forte.

— Eu não vou te apressar a nada, eu te prometo. — Disse ela, séria. — Eu to disposta a te esperar, mesmo você sempre me deixando nessa duvida... Por você vale à pena.

Dei um sorrisinho, por que ela sempre tinha que ser assim tão... Incrível?! Apoiei minha cabeça em seu ombro.

— Você não me odeia, não é?! — perguntei.

Ela deu uma risadinha.

— Como eu poderia te odiar?! — respondeu sorrindo, sorri de volta. — Acredite, eu até tentei nesse meio tempo... Mas simplesmente não da.

— Nossa, ainda bem. — suspirei, aliviada.

— Ah, tem mais uma coisa que eu não te falei porque você 'tava estranha... — continuou

Engoli em seco.

— O que?! — perguntei, preocupada.

— Como assim você usava óculos e eu só descobri agora?! — questionou, indignada.

Ah — dei uma risadinha. — Eu uso tem um tempo, é que é só pra leitura... — expliquei, ajeitando meu óculos no meu rosto. — Eu 'to sempre de lente, só 'to usando por que eu fiquei com preguiça. E eu não gosto de usa-los, de qualquer jeito, me sinto feia.

— Mesmo?! — perguntou — Porque eu achei que você ficou uma gatinha. — flertou ela.

— Que?! — Dei uma risadinha abafada.

— Isso mesmo, uma gata! — ela deu um sorriso maroto. — Sinceramente, não sei por que você não usa mais.

— Ok, você é louca. — rebati, rindo. Como que alguém poderia me achar bonita com esses óculos horriveis?!

— Louca por você! — respondeu rápido.

Revirei os olhos.

— Puta merda, hein. — falei, indignada. Ela ria. — Você já foi melhor nisso.

— Desculpa, eu não resisti. — respondeu, rindo. Eu balançava a cabeça em negação.

Muito ruim. — enfatizei, rindo.

— Eu sei, eu sei! — respondeu. — Quando eu chegar ao meu quarto eu pesquiso umas cantadas novas na internet, pra dar uma inovada. — brincou — Quem sabe ai você gosta e eu ganho uma chance...

— Você é ridícula. — falei, nos duas ainda rindo. A gente era tão idiota. Quando paramos de rir, só ficamos nos encaramos por um segundo, ambas sorrindo, era tão bom ter ela ali do meu lado.

De repente, senti culpa de novo. "Ta vendo, você realmente é lésbica. Você é um caso sem jeito mesmo." Meu subconsciente me falava. Mas graças ao Tony, um pensamento tinha ficado preso em minha cabeça: Se Deus não me quer assim, por que ele me fez assim?!

Ok, homossexualidade é pecado, mas... Não é como se não fosse natural. Eu tentei mudar, e não deu certo. Deus não me amaria se eu fosse assim?! Afinal, eu devia me sentir culpada por uma coisa que além de natural, é inocente?!

Eu devia me sentir tão culpada assim por simplesmente... Amar?! 

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