A Primeira de Seu Nome

By LeandroZapata

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Quatorze mil anos atrás, uma menininha nasceu. Seu pai, o primeiro homem. Sua mãe, a primeira mulher. O Pecad... More

Deixe sua opinião: sinopse e capa
Capítulo 01: Outro Homem
Capítulo 02: O Pecado de Eysh
Capítulo 03: Midrael, Nüwa e Nāga
Novidades 2019
Capítulo 05: Anjo do Senhor
Capítulo 06: Filhos de Adão
Capítulo 07: Filha de Querubim (Series Finale)

Capítulo 04: Asas Caídas

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By LeandroZapata

Terra, 21 anos após o Pecado Original

Quando o sol entrou pelas frestas da madeira que formava a casa que ela e Midrael haviam construído para viverem pelos últimos seis meses, Eysh acordou de um sonho no qual reencontrava sua família. Abel e Caim também estavam presentes. Além de sonhar essa mesma coisa nos últimos três dias, sabia que aquilo era o que mais desejava. Queria voltar para casa, para seu pai, sua mãe e seus irmãos, e não carregar a consequência do único erro que cometeu na vida.

Eysh abriu os olhos, apreciando o calor que sentia em seu rosto, principalmente por estarem no começo da primavera. Virou-se para o outro lado, onde encontrou Midrael deitado, fitando-a. Ela já havia se acostumado com a ideia de dormir ao lado de um anjo – mesmo ele não se considerando mais um – que não precisava descansar.

Os sentimentos foram descobertos duas semanas depois de estarem sob a proteção de Nüwa. Ela estava se banhando em uma lagoa que ficava dentro do círculo de Nāga; seu corpo não demonstrava qualquer mudança por causa da gravidez, exceto pela ocasional dor nos seios. Midrael, ela sabia muito bem, a observava todos os dias em que fazia aquele ritual de limpeza. Sempre escondido, e ela fingia não perceber. Gostava da sensação de ser observada nua, apenas não tinha certeza o porquê.

Todavia, naquele dia, foi diferente. Ele deixou seu costumeiro esconderijo e foi na direção dela. Ele não vestia roupa alguma, o que a pegou totalmente de surpresa.

– Não se preocupe, menina. Eu não tenho qualquer impulso sexual. – Ele disse da margem, levantando os braços que, até então ela não tinha notado, eram musculosos.

– Não? – Ela conseguiu forçar um tom zombeteiro enquanto apontava para o pênis ereto de Midrael. Eysh nunca imaginou que anjos, caídos ou não, pudessem ficar vermelhos de vergonha.

Ele também se escondeu na lagoa, sem conseguir olhar diretamente para a menina. Depois de alguns minutos no silêncio constrangedor, Eysh ordenou que ele se virasse, pois ela sairia da lagoa. Midrael obedeceu sem reclamar, fingindo desinteresse. Porém, quando estava do lado de fora, a menina pensou outra vez. Virou-se.

– Pensando bem, pode olhar se quiser.

Para sua surpresa, ele se virou. Encarou-a por alguns segundos, antes de ele mesmo sair da lagoa. Ela analisou seu corpo com desejo, e a sensação foi totalmente diferente de quando viu Hillel, com quem ela sentia algo incontrolável, quase animalesco, enquanto naquele momento ela sentia-se controlada e, de fato, queria admirar a forma de Midrael.

Sentiu suas duas mãos grandes e um tanto calejadas – como as de Caim – agarrarem-na pelos ombros. De repente, ele jogou-a de volta na lagoa. Irada, ela saiu da água bufando e lutando para conseguir respirar. Procurou por ele, mas não o encontrou. Deixou as águas e viu as tiras de sangue no chão. Ele havia fugido voando, como ela tinha visto apenas quando a levou até ali.

Vestiu-se em poucos segundos e praticamente correu para a cabana de Nüwa, onde ela estava dormindo, enquanto ele próprio montava guarda a noite. Encontrou-o conversando com a deusa, completamente vestido, como se nada tivesse acontecido.

– Que merda acabou de acontecer? – Vociferou, quando estava perto o bastante.

– Isso não é da minha conta, então – Nüwa disse, deixando-os sozinhos.

– Do que está falando? – Ela precisou apenas revirar os olhos para que ele não enrolasse mais. – Eu entrei em pânico.

– E desde quando anjos entram em pânico? – Sua raiva desapareceu, pois melhor do que ela, era a diversão que Eysh teria se continuasse pressionando-o.

– Primeiro, eu não sou mais anjo. Segundo, eu nunca beijei nenhuma mulher antes. Bem, não havia mulheres antes. – Explicou-se.

Eysh sentiu seu coração acelerar, mas era diferente de quando estava com Hillel. Não havia o calor da atração pura, era algo mais profundo. Por isso, ela pulou em seu pescoço e o beijou longamente. Desde que fugira com Caim, Eysh sentia a incerteza de seu futuro e o medo que vinha com isso, mas quando os braços de Midrael enlaçaram-na, todos esses sentimentos desapareceram.

Midrael levantou-a e abriu as pernas dela, de modo que ela abraçasse-o também com as penas. Levou para dentro da cabana, onde a deitou sobre os panos que ela costumava dormir. Eles arrancaram a roupa um do outro sem hesitar por um segundo, sem se importar com a deusa do lado de fora ouvindo o que acontecia dentro da própria cabana.

Quando ele estava dentro dela, Eysh passou as mãos pelas costas dele, sentindo as corcundas de suas costas; ele percebeu e soltou um pequeno gemido de dor, mas não parou de penetrá-la com força e prazer. Ela agarrou os quadris dele e acompanhou o movimento sexual que ele fazia o que trouxe ainda deleite para ela.

Eysh agarrou-o pelo pescoço e, usando toda sua força, jogou-o para o lado. Midrael foi pego de surpresa, mas apreciou quando ela sentou nele e deixou que seu pênis deslizasse sem atrito para dentro de sua vagina. Para frente e para trás, ela se movimentou. As mãos de Midrael foram para seus seios, apertando-os com firmeza. Sentiu dor, mas não se importou e deixou Midrael ter sua diversão.

O ápice do prazer chegou para ele, e ela pôde sentir. Ela mesma não havia chegado, mas como ele havia parado e ela estava suando, deixou terminar ali e deitou ao lado dele. Fitaram-se por longos minutos, durante os quais Eysh teve certeza que ela representava para ele algo muito maior do que os meios de ter um filho – um experimento – como era para Hillel.

Entretanto, o passar dos meses significou para Midrael uma piora em seus sintomas de mudanças. Mesmo ficando longe do Inferno tanto tempo, suas asas deterioraram-se gradualmente. E o diagnóstico de Nüwa simplesmente pegou-os de surpresa, afinal, Midrael era imortal: a podridão das asas estava começando a espalhar-se para o resto do corpo. Era uma questão de tempo até que ele deteriorasse e morresse.

Havia uma solução. Teriam que cortar as asas dele.

O único problema era que ele precisaria ir para Inferno para buscar uma lâmina especial, pois as que Nüwa tinha não serviriam. A deusa, porém, tinha algo que poderia ajudá-los: Wūshù. Apesar de ela não ser poderosa o bastante para atravessar os mundos, a Wūshù podia enviar mensagens. Midrael poderia pedir ajuda. Claramente, fez o pedido diretamente para Hillel, que assim que possível iria até eles.

Levou quase um mês, mas ele finalmente apareceu quando Eysh estava com cinco meses e uma semana de gravidez. Hillel não havia mudado nada, nem mesmo seu cabelo havia crescido. Ele parou à beira da floresta ao redor da cabana, paralisado pela visão de Eysh com o ventre grande e redondo. Veio na direção dela, as mãos estenderam quando estava próximo o bastante para tocar em sua barriga; ele parou quando a mão aberta e cheia atingiu-o no rosto.

Eysh não conseguia lembrar-se de ter visto alguém fazer aquilo antes, mas achou a agressão extremamente apropriada para a situação. Esperou represália, mas esta não veio.

– Pelo jeito, o bebê está crescendo saudável. – Ele disse, um tanto constrangido; ela notou que o mel de sua voz não existia mais. – Desculpe a demora, Midrael, mas não foi fácil encontrar uma Dusükel̆d. – Ele não parecia nem um pouco apologético.

– Uma o que? – Eysh disse, irritadiça.

Dusükel̆d, um tipo de lâmina especial que existe no Inferno. É uma das poucas coisas capazes de cortar as asas de um anjo. Ou melhor, um Anjirëzor.

– Um anjo que deixou de ser anjo. – Hillel explicou como se eles fossem as pessoas mais burras do mundo.

A Dusükel̆d em questão era uma lâmina menor do que as facas que Caim e seu pai costumavam usar para cortar os galhos quando andavam pela floresta. Quando tirou da bainha, porém, a lâmina era num tom escuro de cinza, quase preto. Eysh não conseguia desviar os olhos, algo a estava atraindo, como se sugasse sua vontade. Tudo o que ela queria era agarrar o punho e usá-la para cortar Hillel.

– Você gostou? – O querubim disse com um sorriso sarcástico no rosto; ela foi tirada de seu transe. – Pelo que fiquei sabendo, logo você terá a chance de usar. – Ele embainhou a Dusükel̆d e entregou para Midrael. – Devo partir. Cuide bem do meu bebê, hein? – Piscou para Eysh, que revirou os olhos, mas sentiu as bochechas esquentarem.

Até o fim daquela semana, Nüwa e Midrael havia coletado diversas ervas da região e de alguns lugares distantes. A deusa supôs que, por causa das mudanças que estavam acontecendo no corpo de Midrael, ele precisaria de auxilio para curar e manter os ferimentos que seriam deixados para trás limpos. As plantas serviriam para esse propósito.

Nüwa cortou uma clareira vários quilômetros distante do círculo de Nāga. Sabia que cortar as asas de Midrael chamaria uma atenção de quem eles não queriam, por isso, para manter o esconderijo deles secreto, fariam longe dali.

Eysh viu deusa e caído entrarem na floresta e desaparecerem. Midrael olhou para trás uma vez, com um sorriso; ela queria acreditar que tudo ficaria bem. Mas seu peito doía.

_____________________________

Nüwa e Midrael pararam na clareira preparada. No chão, o Anjirëzor guiou-a para desenhar diversos símbolos, mas os quais ela desconhecia o significado. Curiosa para saber onde ele havia descoberto aquelas escritas, perguntou; sua resposta não poderia ser mais misteriosa: em Haz'iet, onde ele estava antes de Hillel pedir para cuidar de Eysh. Ela não tinha ideia se ele se referia a um mundo ou país ou cidade ou continente.

Midrael ajoelhou-se no centro da clareira. Suas asas – que agora eram apenas músculos sem pele e podres, até verdes em alguns pontos – surgiram em demorados minutos e doloridos gestos. Ela não gostava nem de imaginar como ele poderia estar se sentindo. Um líquido esbranquiçado e gosmento escorreu do ponto em que as asas encontravam as costas; ela já vira algo semelhante em animais mortos.

A deusa acendeu uma tocha usando palavras na sua língua original. Com ela na mão esquerda e a Dusükel̆d na mão direita, ela posicionou-se entre as asas de Midrael.

– Sabe as palavras? – Ele perguntou; Nüwa não tinha certeza, mas seu tom parecia de medo.

– Em minha língua, sei. Sabe que não posso usar a Amsem, então tive que traduzir tudo para o Hànyǔ. Não foi fácil, mas consegui. Agora, vamos torcer para que a Wūshù seja o suficiente.

Nüwa não poderia dizer, é claro. Ela conhecia os limites da Wūshù apenas; a magia de Hillel era um total mistério para ela – não que ela não tivesse curiosidade de aprender mais sobre a Amsem.

As palavras foram entoadas como um canto que Ling Lun, um dos deuses do lugar de onde ela veio, criou usando bambus e os cantos de vários pássaros, incluindo um feito de fogo. Elas dignificavam: "Dos Nove Infernais uma nova força te tomara. Dos Nove Infernais, o poder ancestral do Universo, agora corre em suas veias. Dos Nove Infernais, a cura." Ela repetiu essas palavras cada vez que fazia um corte, não importava o quão profundo. Ao mesmo tempo, ela passava a Dusükel̆d no fogo, como que para purificá-la.

Depositou a lâmina na junta de costas com asas. Apenas de encostar, Midrael urrou de dor pelas queimaduras que se formavam. Nüwa forçou a faca para baixo e para frente, fazendo o primeiro e profundo corte. A deusa já havia visto sangue em sua vida, afinal, do mundo de onde vinha, era comum que os deuses combatessem uns aos outros. Entretanto, nunca vira um tão pastoso e escuro, cheirando tão mal quanto as partes internas dos animais que ela matava para alimentar Nāga. Cortou até sentir que a lâmina não estava mais quente, então recomeçava o processo de purificação; nesses momentos, Midrael de fato descansava, pois era quando sentia menos dor.

A primeira asa foi ao chão, deixando um ferimento largo nas costas parcialmente cauterizado. Ainda recitando as palavras, ela usou o fogo para parar o sangramento. Em seguida, pegou-a do chão e levou para um dos cantos da clareira, onde uma pilha de folhas secas foi preparada. Acendeu-a e jogou a asa ali; quase imediatamente o cheiro de carne podre queimada chegou ao seu nariz. Usou uma parte da sua túnica para cobrir o nariz. Voltou para o anjo a fim de continuar com sua missão.

A segunda asa pareceu lutar menos contra o inevitável. Nüwa precisou usar menos força, mas a quantidade de sangue que saiu foi à mesma; acostumada ao cheiro, a podridão era apenas uma coceira em seu nariz. Uma complicação durante o corte fez com que os últimos centímetros de pele e músculo rasgassem; Midrael urrou de dor tão alto, que a deusa não duvidou que tivessem sido ouvidos a vários quilômetros de distância. Se houvesse alguém morando na região, com certeza viria checar. Porém, ela sabia que estavam sozinhos. Repetiu o processo para queimar a outra asa, mas numa pilha de folhas do lado oposto à primeira.

Quando se voltou para Midrael, ele estava desmaiado, provavelmente de dor. Nüwa virou-o para que suas costas ficassem para cima. Amassou algumas ervas em uma vasilha de madeira. Palavras em Hànyǔ aumentaram a capacidade curativa das plantas. Ela espalhou a mistura nos ferimentos cauterizados e deixou descansar por várias horas, até o pôr-do-sol.

Midrael respirou fundo e abriu os olhos rapidamente, um pouco assustado. Levou alguns segundos para perceber onde estava e lembrar-se do que havia acontecido. Ele secou o suor do rosto com a manga da sua blusa; tentou levantar, mas não conseguiu. Nüwa ajudou-o. Não tinham como voltar, por isso passaram a noite ali.

_____________________________

Nas duas semanas que se passaram desde que perdeu as asas, Midrael se recuperou quase completamente, até mesmo chegando a experimentar com a Amsem de Hillel.

– Bom dia. – Ele disse, deitado ao lado dela. – Você dormiu bem?

– Melhor do que nunca. – Ela beijou-o. Algo a incomodou na barriga.

– Tudo bem? – Midrael sentou-se rapidamente, com a mão pronta para ampará-la se preciso.

– Eu não... – Tentou dizer, mas a dor aumentou ainda mais. Gritou.

Algo estava errado. Algo com seu bebê.

O Anjirëzor saiu correndo da casa, voltando com Nüwa poucos minutos depois. Deitaram Eysh e fizeram o possível para deixá-la o mais confortável possível. O bebê estava nascendo, três meses antes do previsto. A deusa passou a mão diversas vezes sobre a barriga da menina, recitando diversas palavras que ela não conhecia. Midrael, porém, reconheceu as que significavam "cura" e "força".

Nüwa parecia experiente com aquele tipo de situação, mesmo Eysh não imaginando como, já que não havia humanos em outros lugares. Talvez a experiência viesse de partos de animais. A menina percebeu que ficar pensando naquele tipo de situação ajudava a controlar a dor, mas não quando o bebê começou a sair.

Ela sentiu a queimação, sentia como se os ossos de seu quadril se quebrassem e expandissem para permitir o nascimento. Suor. Dor. Uma horrenda sensação de que sua alma estava se partindo ao meio. Mas tudo isso não importou mais quando ela ouviu o choro. Era apenas barulho, igual ao de seus irmãos quando nasceram, mas pra Eysh Ah-lef; para ela, era um canto como dos pássaros.

A deusa colocou o bebê enrolado em alguns panos nos braços dela. Era tão pequeno e frágil. Ou melhor, pequena, pois era uma menina. Ela não tinha qualquer pelo, nem em sua cabeça ou sobrancelhas. Mas era o bebê mais lindo do mundo. E graças a Wūshù de Nüwa, as duas ficariam bem. Midrael sentou ao seu lado e a abraçou.

– Qual o nome?

– Tiqvah Nephilim Ah-lef.

– Nephilim? Eu nunca ouvi essa palavra antes. – Ele afirmou, confuso.

– Eu criei. Não é só meu pai que sabe como fazer isso. – Eysh sorria. – Significa meio anjo e meio humano, o que ela é.

Ela fitou sua filha por longos minutos, que possivelmente se tornaram horas. Eysh podia sentir dentro de sua alma que aquela menina, sua pequena Tiqvah, teria um futuro espetacular.

***

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