O Amor Tudo Espera [DEGUSTAÇÃ...

By CrysCarvalho

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Álvaro aprendeu desde a infância que Deus tem sempre o melhor para quem honra e segue os seus mandamentos. Ao... More

Sinopse
Prólogo

1. Álvaro

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By CrysCarvalho

— Filho, tive outro sonho essa noite. — Minha mãe diz enquanto tomamos o café da manhã juntos — Era Natal, estávamos todos na sala, você chegava com a moça e aquela menininha amável de cabelos castanhos, nos braços, a mesma que sonhei semana passada. A felicidade transbordava no seu rosto e, ao me abraçar, você me dizia: "Mamãe, Deus me deu uma família exatamente como pedi!"

Desde que me formei e voltei para casa, minha mãe tem sonhos com uma mulher e uma garotinha de cabelos castanhos. No início, pensei que era apenas pela sua vontade de me ver casado e com uma família como minha irmã Luciana, que se casou muito cedo, mas como voltou a se repetir, acreditamos que possa ser um prenuncio de algo que irá acontecer comigo.

A família toda está em oração por essa mulher. Mamãe diz que a criança não é minha filha biológica, porém, em seus sonhos, a amo como se fosse meu sangue. Tenho vinte e oito anos e escolhi esperar em Deus, aprendi desde cedo que ele faz sempre as melhores escolhas para nós.

— Quem sabe, hoje não é o dia em que ela chegará em minha vida?! — Brinco e depois me despeço dela com um beijo e sigo para o trabalho.

Tenho o sonho de formar uma família há muito tempo, mas optei por estruturar a minha vida antes de construí-la. Acredito que já estou preparado para esse acontecimento. Sou pediatra, amo minha profissão e tudo que me proporciona. Levo uma vida confortável ao lado dos meus pais. Só que chega uma hora na vida que sentimos a necessidade de ter o próprio lar, engana-se quem pensa que só as mulheres sonham com isso. Provavelmente, sou um cara à moda antiga.

Hoje é dia de plantão na emergência da pediatria e as coisas estão bem tensas, muitas crianças afetadas por essa virose causada pela mudança brusca de temperatura. Meu plantão está quase no fim ao cair da noite e sinto o cansaço me dominar no momento que vou verificar se realmente não tenho mais pacientes, quando escuto uma pequena discussão na recepção.

"Esse é um hospital particular, senhora! Já expliquei, não fazemos caridade, procure um hospital público."

Noto que a atendente está exaltada e não gosto da maneira como fala.

"Minha filha está passando mal, esse é o hospital mais próximo, não tenho dinheiro para pagar o ônibus até lá... Por favor, eu não sei mais o que fazer, moça! Vai me negar ajuda porque sou pobre, é isso?"

A voz chorosa mexe comigo e não consigo ficar indiferente a situação, até porque vai contra os meus princípios e o meu juramento. Vou até a recepção e me deparo com uma cena que corta meu coração. A mulher, que está de costas para mim com uma criança no colo, chora em desespero e sinto sua impotência.

"Se você é pobre, nem devia ter vindo até aqui!"

Essas malditas palavras são o estopim para me meter na conversa.

— O que está acontecendo aqui? — Pergunto encarando a atendente que se retrai ao notar meu olhar duro.

— Apenas estou explicando a essa senhora que não podemos atendê-la, doutor Álvaro. —  O tom de sua voz agora é diferente, quase submisso.

— Como? Negando ajuda e fazendo com que ela se sinta inferior?

A mulher e a criança se viram para mim e sinto meu coração falhar no peito, algo nelas me faz lembrar imediatamente da conversa que tive pela manhã com minha mãe. Porém, não quero alimentar falsas esperanças.

— Sou o doutor Álvaro, pediatra de plantão. — Estendo a mão para a mulher — Posso te ajudar?

— Prazer doutor, sou Taís e essa aqui é minha filha, Mia. Ela está com uma febre muito alta há três dias e acabou de ter uma convulsão, não sei mais o que fazer. — A jovem mãe fala, entre lágrimas.

Viro-me para a atendente, ainda incomodado com sua atitude e digo, tentando conter a vontade de mandá-la sumir da minha frente:

— Registre a consulta, vou pagar.

Quando chegamos ao consultório, seguro a garotinha no colo. Ela está ardendo em febre, a coloco sentada sobre a maca. Observo que está tão molinha e magra. Tento afastar as emoções e ser profissional, e apesar de estar debilitada, os olhinhos curiosos percorrem a parede decorada da sala.

— Sente-se, Taís. Aceita um copo de água? — Ela afirma limpando as lágrimas. Vou até o frigobar, pego a jarra de vidro e despejo o líquido no copo, depois o entrego em suas mãos e volto para perto da garotinha. — Pode me contar o que está acontecendo com essa princesa?

— Olha doutor, preciso pedir desculpas pelo escândalo lá fora. Sou mãe solteira e o pai da Mia nunca se importou em me ajudar de nenhum modo quando estava vivo. Minha filha está muito doente...

Taís me conta o que passou no último mês com a filha que foi diagnosticada com pneumonia, suas mãos tremem enquanto fala e ela tenta disfarçar.

— Fui demitida do trabalho há duas semanas, porque, as faltas se tornaram frequentes. — A cada palavra dita, sinto uma enorme vontade de abraçá-la e tirar toda a angustia que sente.

Viro para a garotinha sentada sobre a maca e sou surpreendido com um abraço apertado. Sinto o coraçãozinho bater descompassado e a respiração pesada. Involuntariamente, retribuo o gesto e beijo seus cabelos castanhos. Então, nesse momento algo acontece e sei que estou diante da garotinha que minha mãe vê em seus sonhos, porque, sou invadido por um amor incapaz de explicar.

— Posso te examinar? — Pergunto e os olhos de Mia se enchem de lágrimas. — Não vou te machucar... O tio Álvaro está aqui para te ajudar a ficar boa.  Mostra para mim onde dói?

Ela aponta o peito respirando com dificuldade enquanto a examino. A possibilidade de que a garota não possa resistir a doença me apavora e um frio percorre o meu corpo. Uma pneumonia mal curada pode ser fatal!

— Sua filha vai precisar ficar em observação, Taís. Vou solicitar alguns exames para confirmar as suspeitas, enquanto isso, a Mia precisa ser medicada.

— Vai doer, tio? — A vozinha temerosa me pergunta, agarrando-se ao meu jaleco.

— Olha para mim, Mia. — Sinto seus olhinhos sobre mim e é incrível o reboliço que esse gesto causa em meu coração. — Prometo que ninguém vai machucar você. Tudo bem?

Ela balança a cabecinha afirmando e, mais uma vez, se agarra a mim como se sua vida dependesse disso. "Quantos anjinhos como ela podem estar sofrendo por aí?"

Envolvido com a garotinha, nem percebi que a mãe recomeçou a chorar.

— Não tenho condições de arcar com uma despesa dessas, doutor! Mal tenho dinheiro para comer. — Diz em meio as lágrimas.

Me aproximo dela, sento-me a sua frente com Mia em meus braços e seguro as mãos de Taís entre as minhas.

— Quanto a isso não se preocupe, vou me responsabilizar por todas as despesas da sua filha.

Ao ouvir minhas palavras, num impulso, Taís me abraça apertado. Fico sem reação a princípio, mas, neste momento, sinto dentro do meu coração algo que não sou capaz de controlar, e sei que são elas. Estou diante da minha família, foi Deus que as mandou de presente para mim. Correspondo ao gesto, apertando ambas em meus braços, com a certeza de que nunca mais as soltarei.

***

— Mamãe vou chegar um pouco tarde, surgiu uma emergência e preciso acompanhar. — Explico ao telefone, meus pais são protetores e não gosto de deixá-los preocupados.

— Tudo bem filho? Alguma coisa na sua voz está diferente. — Dona Ângela é o tipo de pessoa que ninguém consegue esconder nada.

— Sim, mamãe! Apenas ore pela vida da minha pequena paciente, ela está em um estágio avançado de pneumonia e temo que o pior aconteça.

Realmente estou preocupado com Mia, os resultados dos exames me deixaram assustado; o quadro dela está crítico e será preciso que fique internada para garantir que o tratamento seja feito de maneira adequada.

— Tenha fé, meu querido! Deus é maior do que qualquer problema. — Sinto uma enorme paz ao ouvir essas palavras.

Desligo o telefone e fico pensando no que posso fazer para ajudá-las. Sei que Tais aceitou minha ajuda porque estava desesperada, ela não parece uma pessoa que gosta de se aproveitar dos outros.

Vou para casa depois de confirmar que a garotinha e sua mãe estão bem. Trocamos os números dos telefones para que me contate se acontecer qualquer coisa e também, para que eu fique mais tranquilo em deixá-las ali.

"Obrigada, doutor Álvaro! Você foi um anjo na vida da minha filha. Só Deus para te pagar por isso." — Deitado em minha cama, lembro das palavras de Taís ao nos despedirmos no hospital. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e apesar do alívio neles, ainda consegui sentir todo o seu sofrimento como se fosse o meu.

Oro por elas. Quase não consigo dormir, pensando se elas estão bem e em tudo o que poderia ter acontecido a Mia se eu não estivesse de plantão naquele momento. Sei que tudo faz parte do plano de Deus, e estar lá quando elas chegaram, foi exatamente isso. É incontestável que há um propósito em nosso encontro.

Levanto cedo, ligo para o hospital e minha paciente ainda dorme, sua mãe me conta que a febre passou e que a noite foi tranquila.

Tomo um banho, sinto meu coração pesado e uma extrema necessidade de ir de encontro a elas, mesmo que já tenha um outro colega especialista cuidando do caso e hoje seja a minha folga.

— Tudo bem, filho? — Meu pai pergunta assim que me sento a mesa para o café da manhã. — Temos esse habito desde que eu era uma criança e sempre tomamos café da manhã juntos.

— Sim papai, está... tudo bem! — A verdade é que eu minto muito mal e meus pais me conhecem bem demais.

— Você não sabe mentir, Álvaro. — Mamãe afirma, me olhando por cima dos óculos. — O que aconteceu ontem que te deixou assim tão inquieto?

Suspiro derrotado, mas ainda assim, feliz por poder compartilhar tudo com eles.

— Sabe a garotinha dos seus sonhos, mamãe? — Ela para o que está fazendo e acaba derrubando um talher no chão. — Acho que a conheci.

Meus pais me encaram com os olhares esperançosos, meu coração bate descompassado.

— Qual o problema com isso, meu filho? — Papai me pergunta sem entender.

— Ela está muito doente e eu estou com medo... — Mamãe toca meu braço carinhosamente enquanto conto a eles as circunstâncias nas quais encontrei Taís e Mia. — Quando elas entraram no meu consultório eu senti algo diferente, meu coração pulsou forte e fui tomado por uma enorme vontade de cuidar delas. A garotinha está desnutrida, mas é tão linda, mamãe. Seus olhinhos carentes me fizeram querer protegê-la.

— Mas você sente isso com todos os seus pacientes, meu filho. Seu coração é nobre. É uma das suas qualidades que mais admiro. — As palavras do meu pai soam como se quisessem confirmar as emoções que senti ao vê-las.

— Não, papai. Com Mia foi algo diferente, quando a peguei em meus braços, senti meu coração transbordar de amor e um sentimento de proteção que nunca experimentei. É como se ela realmente fosse parte de mim.

Minha mãe me encara sem dizer nada, mas sei que ela está formulando muitas perguntas em sua mente. É uma mulher sábia e acredita veemente no que Deus a mostrou em sonhos, só que não é do tipo que acredita em tudo que vê pela frente.

— E a mãe da garota, como ela é? — Pergunta finalmente.

— A única palavra que posso usar para definir a Taís nesse momento é: sofrimento. — Respondo pensativo. — Ela traz um peso enorme na alma, como se sentisse culpada por tudo que a filha está passando. Conversamos muito pouco, mas é uma pessoa transparente.

Lembro-me do seu rosto delicado, marcado por olheiras profundas, a magreza, o olhar abatido. Preciso voltar ao hospital, meu coração está inquieto.

— Preciso ir, não vou conseguir ficar em casa sabendo que elas estão lá sozinhas. Eu não sei explicar o que sinto, mas preciso estar perto delas. Vocês me entendem?

Meus pais trocam um olhar cumplice e cheio de significados.

— Vá, meu filho. Tenho certeza de que está diante da família que tem pedido a Deus por todos esses anos. Não se preocupe, logo, tudo se encaixa. O nosso criador tem seus meios de fazer com que tudo se ajeite da melhor forma.

Despeço-me com um beijo em cada um deles e sigo para o hospital.

Converso com o colega responsável pela pequena e ele me tranquiliza. Chego ao quarto e antes de entrar, observo as duas por um momento através do vidro e sinto meu coração galopar no peito. — "Parece impossível, as conheci ontem, só que em meu coração é como se sempre estivessem por perto."

— Bom dia! Como está a minha paciente favorita? — Dou meu melhor sorriso a pequena que se recusa a comer o mingau pálido que a mãe lhe serve.

— Oi tio Álvaro, diz para a mamãe que eu não preciso dessa gosma... Eca! — Ela me olha suplicante.

Beijo seus cabelos e afago seu rostinho ainda abatido.

— Precisa comer, querida! — A mãe insiste sem muita convicção.

— Ouça sua mãe, princesinha. Elas sempre sabem de tudo... — Olho para Taís e dou um sorriso quando Mia começa a comer, mesmo a contragosto. — Tudo bem com você?

— Sim, obrigada! — Diz timidamente.

Ela ainda está com a mesma roupa de ontem e tenho certeza de que não saiu de perto da filha nem por um momento. Decido que vou fazê-la se alimentar um pouco.

— Mia, posso roubar sua mãe só por um tempinho? Vou chamar uma das tias enfermeiras para acharem um bom desenho na tv para a paciente mais linda desse hospital.

— Ah, tudo bem, tio Álvaro! Acho que a mamãe também precisa de cuidados. Acha um médico bom que nem você para cuidar dos dodóis dela!

Taís tenta esconder o constrangimento, mas suas bochechas ficam rosadas. Chamo uma enfermeira e saímos do quarto — apesar da relutância da mãe em se afastar da filha.

— Você precisa se cuidar! Se adoecer, como a Mia fica? — Inquiro assim que começamos a caminhar até a cantina do hospital.

— Não precisa se preocupar, doutor, eu estou bem. — Não sinto convicção em sua voz.

Seguro seus ombros assim que chegamos a lanchonete e a encaro.

— Por favor, coma um pouco e depois descanse. Prometo que cuido da sua filha como se ela fosse parte de mim. — Ela me encara confusa e com os olhos marejados. — Sou um homem que preza por cumprir o que diz.

— Ela precisa de mim, doutor Álvaro. Desde que nasceu somos apenas nós duas, nem sei como é viver sem minha filha. — Sei que é sincera, mas preciso convencê-la a descansar pelo menos um pouco.

  — Entendo sua preocupação, Taís. Mas vamos fazer o seguinte: primeiro, você vai deixar de me chamar de doutor. Para você, apenas Álvaro. Segundo, vai ter meia hora de descanso e eu vou me responsabilizar pela sua filha. Tudo bem?

A encaro deixando que veja que não há espaços para recusa, e por fim, ela concorda. Peço um lanche e vou ao encontro da pequena; ao chegar novamente no quarto, Mia me recebe com um sorriso que aquece todo o meu ser.

— Onde está a mamãe? Cuidou dela, tio Álvaro? — Pergunta preocupada, ainda com a respiração pesada.

— Ela está comendo, vou ficar um pouco com você, tudo bem?

Noto a desconfiança em seu olhar e por fim, ela me sorri novamente.

— A mamãe disse que você é bonito e eu acho que ela está certa, você é que nem um anjo! Eles existem, agora tenho certeza. Ah! Isso também foi a mamãe que falou.

Sento na beirada da cama e a pequena se encosta a mim como se fossemos velhos conhecidos.

— Você acredita em anjos? — Ela me pergunta se aninhando em meu peito e beijo seus cabelos.

Por alguma razão que desconheço, sei que essa garotinha já conseguiu seu próprio espaço no meu coração.

— Claro que acredito, estou abraçando um agora mesmo. — Seu sorriso é uma das melhores expressões de felicidade que presenciei em toda a minha vida. — Se sente melhor?

— Não tenho mais dores, acho que seus beijinhos me curaram, tio. Obrigada! —  Ela me abraça forte e me dá um beijo estalado na bochecha. — Mamãe disse que temos sempre que agradecer. Não conta, mas ela chorou a noite toda e ouvi quando conversava com alguém que é invisível, bem baixinho. Sabe o que é ser indig...na?

— É uma coisa de adulto, você é pequenininha ainda. Onde ouviu isso?

— Mamãe falou isso enquanto chorava, que era essa palavra difícil. Acha que seus beijinhos também podem curar a dor dela? —  Me espanto com a rapidez com que ela processa as informações. Nem parece ser uma criança de três anos.

Seguro seu rostinho entre as mãos e o olhar suplicante da garotinha me atinge em cheio.

— Ah, princesinha, não é assim que as coisas funcionam, os adultos são complicados. Um dia você vai entender!

Ela me abraça e ficamos um longo momento ouvindo apenas sua respiração pesada, até penso que a pequena está dormindo, quando sua voz doce me faz uma pergunta capaz de mudar toda a minha vida.                   

— Você quer ser meu papai para cuidar de mim e da mamãe? Tadinha, ela não dá conta sozinha.

Sou pego de surpresa, pondero por um momento pensando no que dizer a garotinha e decido falar a verdade.

— Você consegue guardar segredo? — Ela balança a cabecinha afirmativamente. — Se a sua mãe me permitir, eu quero ser o seu pai e cuidar de vocês, mas não pode contar até eu dizer a ela.

Selamos nossa promessa com um aperto de mão esei que estou cada vez mais perto de conquistar aquilo que sonhei.

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