Castro e Souza

Av julianamchd

49.6K 6.6K 4.2K

VENCEDOR #Wattys2018 Em 1925, dois membros da alta burguesia carioca - os belos herdeiros Vitória de Castro e... Mer

Capítulo I - Lady V
Capítulo II - 11
Capítulo III - Minha Caríssima Vitto
Capítulo IV - Uma moça que pilota aviões
Capítulo V - Casa de campo
Capítulo VI - Doutora
Capítulo VII - Eva
Capítulo VIII - Um sopro de ar fresco
Capítulo IX - Trampolim do Diabo
Capítulo X - Exoneração de pudores
Capítulo XI - Acidente
Capítulo XII - As leis e o caos dos homens
Capítulo XIII - Víbora sem veneno
Capítulo XIV - Embolia gasosa
Capítulo XV - Exéquias
Capítulo XVI - Pão de queijo com goiabada
Capítulo XVII - Recortes de jornal
Capítulo XVIII - Anéis de noivado
Capítulo XIX - Uma boa mãe
Capítulo XX - Maldição de nossa classe
Capítulo XXI - Senhora
Capítulo XXII - Francês
Capítulo XXIII - A meia amaldiçoada
Capítulo XXIV - Sentimentos turvos
Capítulo XXV - Cinta-liga cor-de-rosa
Capítulo XXVI - Cientista holística
Capítulo XXVII - Mimosas
Capítulo XXVIII - Beijos
Capítulo XXIX - Café
Capítulo XXX - Carta de amor ao Rio
Capítulo XXXI - Segredinho sujo
Capítulo XXXII - Vista grossa
Capítulo XXXIII - Mulheres eternamente insatisfeitas
Capítulo XXXIV - Tiraram-me tu
Capítulo XXXVI - Safira
Capítulo XXXVII - Inocência perigosa
Capítulo XXXVIII - Duas crianças fazendo birra
Capítulo XXXIX - Enxoval
Capítulo XL - Macumba feminista
Capítulo XLI - Sobriedade sentimental
Capítulo XLII - O Inglês
Capítulo XLIII - Funeral em um bordel
Capítulo XLIV - A Uruguaia
Capítulo XLV - Cerimônia
Capítulo XLVI - Impiedosamente
Capítulo XLVII - Tempos de amores ilícitos
Capítulo XLVIII - A forma mais antiga de comunicação
Capítulo XLIX - Sonhos
Capítulo L - À cinq
Capítulo LI - Tetuão
Interlúdio
Capítulo LII - Madame Souza
Capítulo LIII - Armário
Capítulo LIV - Tentações da carne
Capítulo LV - Um brinde a Helena de Castro González
Capítulo LVI - Estrondos
Capítulo LVII - Saudades
Capítulo LVIII - Presentes
Capítulo LIX - Deixe-me em paz
Capítulo LX - Brisa
Capítulo LXI - Sua vadia arrogante
Capítulo LXII - Primum non nocere
Capítulo LXIII - Segundo andar
Capítulo LXIV - Onze mil anos atrás
Capítulo LXV - Rute
Capítulo LXVI - Enfermeira
Capítulo LXVII - Fale-me sobre culpa
Capítulo LXVIII - Uma mulher de princípios
Capítulo LXIX - Garrafas e morte
Capítulo LXX - Nem um único corte
Capítulo LXXI - Modos vitorianos
Capítulo LXXII - Relações de causa e efeito
Capítulo LXXIII - Tens planos para novembro?
Capítulo LXXIV - Contos de fadas
Capítulo LXXV - Choro
Capítulo LXXVI - Continue
Capítulo LXXVII - Um poço e um altar
Capítulo LXXVIII - Chá
Capítulo LXXIX - Uma fotógrafa e um químico
Capítulo LXXX - Desde aquele pôr-do-sol
Epílogo
Nota da autora
Os Selvagens Anos 20

Capítulo XXXV - Imoralidade

450 76 42
Av julianamchd

Mal se falava em Vitória de Castro e Benício de Souza após três semanas que um mero rendez-vous dos dois culminara em agressão física, tentativa de assassinato e morte em legítima defesa. A verdade é que a curiosidade girava em torno de uma dúvida que ninguém sanava: estava a Doutora Vitória presente quando tudo aconteceu? Se estivesse, o verdadeiro escândalo seria a possível imoralidade praticada pelos dois naquela fatídica noite de sexta. Mas, como os jornais estranhamente mantiveram o nome da socialite fora de todas as notas comunicando o acontecimento, havia pouco mais do que especulações e boatos. Como os dois envolvidos desapareceram durante um tempo, logo outras fofocas se tornaram mais interessantes e, enquanto não houvesse um segundo escândalo, de qualquer um dos dois, para somar com aquele que estava há pouco adormecido, poucas pessoas ainda se davam o trabalho de perpetuar o burburinho em torno do ocorrido.

Vitória mergulhou em seu trabalho desde que retornara de seu breve exílio na serra petropolitana. Há três semanas, decidiu que voltaria para o Rio sob a condição de manter a cabeça baixa e evitar qualquer tipo de controvérsia. Sem mais saídas, boates, bares e festas durante a noite. Trabalhava metade do dia em casa e metade do dia na Importadora, metodicamente, sem nem parar para tomar café na Colombo como gostava de fazer. Contratou de volta seu motorista permanentemente para não chamar atenção dirigindo. A vida estava chata. Pegava-se deprimida diversas vezes, mas tentava colocar na cabeça de que era temporário – em alguns meses, se chamasse o mínimo de atenção para si, poderia voltar a viver sua vida normalmente e a chocar a sociedade com seus pequenos escândalos inofensivos. Com o passar dos dias, pensava cada vez menos em Benício, obrigando-se a deleitar das memórias ao invés de sofrer pelas circunstâncias. A saudade batia com força, principalmente durante a inércia da madrugada, porém não há coração mais complacente do que aquele que compreende perfeitamente que quase tudo na vida possui começo, meio e fim.

– Então, Doutor, o que achou do lugar? – Perguntou Vitória, enquanto caminhava pelos jardins da mansão da Boa Vista, acompanhada do Doutor Alberto.

– Fascinante. – Respondeu ele, sorrindo. – Não temos muitos museus privados na cidade, estou realmente impressionado com o que fizeste.

– Obrigada. – sorriu – Não irei cobrar a entrada. Compartilho do pensamento do Dr. Edgar, precisamos democratizar a ciência no Brasil.

– Não só a ciência, mas como o ensino. Teus pais também partilhavam dessa ideia.

– Mamãe era uma das poucas mulheres de sua época a possuir educação acadêmica superior e, mesmo assim, dedicou a vida a ensinar garotas na periferia do Rio. Confesso que custei a entender o que a levou a fazer isso. Agora, compreendo cada vez mais.

– Tua mãe era, de fato, uma grande mulher. – sorriu.

– É. Lamento muito não ter tido a presença dela em minha vida por mais tempo. Mas sou grata por poder fazer algo que honre a memória de meus pais.

– É muito tocante de tua parte querer fazer algo assim, Doutora.

– Obrigada. Estou contando com a tua presença e a de tua família na festa semana que vem.

– É claro, estaremos aqui.

– Espero poder comemorar mais do que a abertura da casa...

– Como?

– Minha aceitação na Academia. – riu – Quero dizer, estão fazendo-me esperar há semanas. A tradução de meus trabalhos já está no Real Gabinete. Já tenho resultados quanto às pesquisas nos Sambaquis. Acho que já é hora de me concederem um assento na mesa.

– Doutora Vitória – suspirou –, em relação à isso, eu... Bem, é complicado.

– O quê?

– Até hoje, apenas uma mulher foi admitida na ABC. É uma questão delicada, os membros precisam votar a favor e... Lamento dizer, mas estão muito inclinados a votar contra.

– O quê!? Como? Por quê?

– Os escân... Os eventos recentes que possam ter lhe envolvido. Existem ainda muitos boatos circulando que comprometem tua reputação.

– Pelo amor De Deus, são cientistas! O que boatos e reputação têm a ver com meu trabalho?

– Olhe, Doutora, preciso admitir que também não me importa o que fazes ou deixas de fazer que não envolva teu trabalho. Mas não é assim que pensam os outros...

– Inacreditável.

– Eu entendo que...

– Fui aceita na Sorbonne. Obtive Doutorado em Biologia pela Universidade de Viena. Minha tese em paleoantropologia foi traduzida para seis idiomas e minha pesquisa atualmente é uma das bases para o estudo dos habitantes de Pompéia. E, ainda assim, o que meia dúzia de donas de casa desocupadas falam sobre mim no chá da tarde parece simplesmente invalidar todo meu trabalho como cientista. Incrível.

– Eu sinto muito, Doutora. Compreendo tua raiva. Marie Curie também não pôde se tornar sócia da Academia de Ciências de Paris. E ela possui dois Prêmios Nobel.

– Bem, os franceses que se lasquem. Por um momento pensei que estávamos progredindo no caminho certo neste país.

– Engano comum que cometem desde mil e quinhentos. – murmurou.

– Não é como se lhes sobrassem cientistas e pesquisadores com meu nível de instrução.

– Olhe, Doutora, farei meu melhor para interceder em teu favor, mas... Não é como se minha posição me permitisse fazer muito. Gostaria de mantê-la otimista, porém não seria justo de minha parte.

– Tudo bem, Doutor Alberto. – suspirou – Eu compreendo. Ou quase.

Vitória despediu-se de Alberto e voltou para dentro da mansão, onde interceptou uma garrafa de cachaça e serviu-se de alguns goles para superar o que havia acabado de ouvir. Estava irritada, frustrada e com um sentimento de quase infantil de pura raiva. Sentou-se em uma poltrona na sala de leitura que antes era de sua mãe e ficou encarando o jardim dos fundos através das portas francesas do local. Sentia saudades absurdas dos pais e de sua irmãzinha, com quem tão pouco convivera. Pensou em como as coisas poderiam estar melhores caso eles apenas estivessem ali, presentes em sua vida, sendo tão criticados quanto ela por seus pensamentos progressistas demais. Sentiu-se triste ao perceber que seus pais, duas mentes avançadas e ávidas de mudança, se foram tão cedo, deixando o mundo mais anacrônico do que antes.

– Com licença, Doutora Vitória? – Disse um dos funcionários da casa ao posicionar-se no portal que separava o salão principal da sala de leitura.

– Pois não? - Respondeu Vitória, ausentando-se de seus pensamentos.

– Há um cavalheiro procurando por ti.

Vitória saiu da sala e atravessou o salão, em direção à entrada da casa, quando se deparou com Benício parado em frente ao seu Ford T, fumando um cigarro já pequeno.

– Boa tarde, doutora.

– Benício!? O que fazes aqui?

– Precisamos conversar.

Vitória levou-o até a sala de leitura e encostou a porta. Benício olhava em volta enquanto observava a agitação de floristas, decoradores e empregados circulando de um lado para o outro, cuidando dos preparativos da festa que seria realizada ali no final da semana seguinte.

– Está ficando bonito o lugar.

– Benício, não deveríamos ser vistos juntos depois de tudo o que aconteceu.

– Não me diga... – revirou os olhou.

– E eu estou tendo um dia péssimo, então...

– Estás tendo um dia péssimo!? Então, deixe-me falar do meu.

Benício meteu a mão no paletó e retirou de lá duas folhas brancas dobradas e entregou para Vitória.

– O que é isso? – Perguntou ela, antes mesmo de olhar.

– Leia.

Vitória procedeu a ler o papel e, ao ponto que seus olhos percorriam as palavras ali contidas, uma expressão de choque, confusão e incredulidade se formava em sua face.

– Má conduta, imoralidade... Um processo!? – Exclamou ela, escandalizada.

– Fica pior. – Avisou ele, fazendo um gesto para que virasse a segunda página.

– Meu tio!? Querem convencer meu tio a lhe processar?

– Exatamente.

– Isso é absurdo! Não podem lhe acusar de estupro só por estar comigo em uma noite qualquer!

– Não estão dizendo que lhe estuprei, estão dizendo que lhe desonrei. O que, aparentemente, para eles, é pior ainda.

– Isso é loucura!

– Minha secretária interceptou estes documentos na correspondência essa semana. Juntamente com isso.

Benício retirou uma outra folha de dentro do terno e entregou para Vitória.

– Uma relação de pagamentos? – Disse Vitória ao por os olhos na folha datilografada.

– Sim, aos principais jornais da cidade e alguns menores. Todos foram pagos para manter teu nome fora das notícias.

– Mas que merda está acontecendo!?

– Bem – suspirou –, Cadinho Sormani está acontecendo.

– Quem?

– Eu possuo dois sócios em São Paulo que comandam uma filial da siderúrgica. Sormani há muito tempo quer pôr as mãos em minha parte das ações. Ele possuia bons acordos com Lourenço e vem puxando meu saco desde que o mesmo falecera, mas sabe que não lhe dou confiança. Ele quer levar a matriz para Campinas. É uma cidade industrial, os custos seriam reduzidos e o lucro, consequentemente, aumentaria.

– Sim, faz sentido. Por que não fizeste isso, por sinal?

– Três motivos. Eu. Não. Quero. Não possuo a mínima vontade de ir para aquele fim de mundo. Fora que não é algo simples, eu emprego muitas pessoas aqui. Mudar a matriz de lugar exige muito mais do que estou disposto a pagar.

– Eu entendo. Mas agora este tal de Sormani quer se vingar de ti ou algo do tipo?

– Antes fosse. Acredito que ele planeja usar todas essas informações para me convencer a vender boa parte de minhas parcelas para ele. Primeira página de todos os jornais com um processo por imoralidade de brinde.

– Meu tio não corroboraria com esta ideia absurda.

– Ah, não, é?

– Tio Afonso é um homem velho, chato e conservador, mas tem os neurônios no lugar. Ele te odeia no momento, mas não faria isso.

– Nem para me obrigar a colocar um anel em seu dedo?

– Ele sabe que não poderia me obrigar a casar nem se quisesse muito. Sou sócia majoritária da empresa dele. Sabe perfeitamente que sou completamente louca e muito bem capaz de liquidar minhas ações e jogar as notas na Baía de Guanabara antes de me resignar. Ele não compraria uma briga dessas comigo.

– Digamos que teu tio decida não me processar. Tudo bem, ele não precisa. Nossa história irá para os jornais de qualquer jeito. Se ele não o fizer, é muito fácil mexer alguns pauzinhos para que o Estado o faça ou, pelo menos, coloque uma queixa por má conduta sexual em minha ficha. E não irão poupar palavras e fontes duvidosas para decorar a descoberta chocante de que, na noite em que matei Laurentino Cavalcante, minha amante, uma moça de família, estava presente e quase foi morta por ele.

– Nós realmente arruinamos a vida um do outro, não é?

– Vitória...

– A Academia Brasileira de Ciências pretende recusar minha candidatura por conta dos boatos. – Disse Vitória, quase devaneando.

– Imagine o que um escândalo desta magnitude não faria.

– Não tens ideia da vontade que sinto de mandar todos à merda!

– Compartilho do sentimento.

– E agora...

– E agora...?

– O que iremos fazer?

– Vitória... – suspirou – Creio que sabes o que devemos fazer.

Vitória encarou o jardim dos fundos em silêncio por um tempo. Sua irritação e indignação eram quase palpáveis. Coçou os olhos, respirou fundo e virou-se novamente para Benício:

– Tudo bem, vamos marcar a merda da data de uma vez.

▪ ▪ ▪ ◇ ▪ ◇ ▪ ◇ ▪ ▪ ▪

Fortsätt läs

Du kommer också att gilla

1.5K 100 16
A vida é um mar instável, uma ressaca de janeiro, para Anahí, a vida se transformou em um campo de grãos queimados, devorados pelas chamas do mais ar...
44.4K 1.9K 69
Dois jovens, sonhadores e apaixonados pela vida,e tímidos. . Ela de família rica e ele de família pobre, mas não era só isto por trás da família dele...
1.5K 176 19
O amor e ódio consegue andar lado a lado?.. 🐧🌼🐇 •Soobin o garoto de 22 anos nunca conseguiu namorar pelo simples fato de não...
1.6K 150 10
Hashirama estava sendo constantemente atacado por renegados, alguns hokages se preocupavam com a saúde do moreno, principalmente seu irmão, Tobirama...