🌜Only Told The Moon🌛
Capítulo 2
Ele acenou para mim enquanto eu ainda o encarava como se fosse um extraterrestre. Tive que esfregar os olhos e bater no rosto discretamente para ter certeza de que era mesmo Nam Joon ali.
- O que está fazendo aqui? - Perguntei, sussurrando alto.
Ele franziu a testa e apontou para o ouvido, indicando que não havia escutado.
- Perguntei o que está fazendo aqui. - Repeti.
Nam Joon fez outra careta de confusão, e eu contrai os lábios para reprimir uma risada. Depois, levantou o indicador como se tivesse tido uma ideia brilhante e pediu para eu esperar - tudo usando uma mimica muito malfeita e agoniada para me fazer entender.
Fiquei observando ele olhar ao redor como se fosse achar uma saída por ali, até que seus olhos se direcionaram a grande árvore que eu uso como apoio para chegar aqui em cima e começou a escalá-la.
- O quê? Ficou louco? Desça agora, eu vou ao seu encontro. - Gritei de forma inaudível e passei a mão na testa, com medo de vê-lo se machucar.
Pois, detalhe: ele estava com uma caixa de pizza em uma das mãos e usava apenas a mão livre para se equilibrar. Além disso, ele era muito desastrado - sempre foi - a ponto de mal conseguir andar no shopping sem tropeçar no piso de cerâmica sem nenhum obstáculo na frente.
Mas Nam Joon apenas me ignorou e continuou sua escalada até a pizza estar ao meu alcance. Eu a peguei primeiro, pois, caso ele morresse, pelo menos a comida estaria garantida. Depois, o ajudei a chegar onde estou segurando seu braço e o puxando enquanto ele pegava impulso num galho.
Enfim, Nam Joon caiu deitado ao meu lado, ofegando como se tivesse corrido uma maratona. Seu rosto coberto parcialmente por um cachecol vermelho - combinando com seu sobretudo por cima de uma camisa preta de gola alta - fez ele engasgar-se com o tecido e tossir e cuspir tudo para fora como se sua vida dependesse disso, tudo isso enquanto se debatia sobre as telhas como um peixe fora d'água.
Não contive uma gargalhada espontânea, que abafei com o pano do casaco sobre minhas mãos pois não podia acordar meus pais.
E mais uma vez, lá estava ele ao meu lado fazendo-me sorrir sem nenhum esforço, apenas com seu verdadeiro eu sendo demonstrado da maneira mais desastrada, espontânea e pura de todas. Não era à toa que Kim Nam Joon mexia completamente com meus sentimentos.
Ele também acabou rindo, divertidamente.
- O que veio fazer aqui? - Perguntei por fim, moldando meu maxilar com a mão e apoiando o cotovelo no joelho, direcionando um olhar questionador a ele.
- Você não foi para minha festa de despedida. Perdeu a graça depois dos dez primeiros minutos sem você lá - afirmou e se sentou com as longas pernas estiradas e os braços apoiando a coluna por trás. Um sorriso brotou nos meus lábios, pois, apesar de saber que ele se importava com minha presença, era sempre bom ouvi-lo dizer isso. - Eu pensei que ao menos ia deixar alguma mensagem bonitinha de despedida, mas não o fez. - Ele fez um bico.
Empurrei seu ombro com o meu, ato que sempre fazia quando queria tirar aquela cara de decepção do seu rosto.
- Então eu pensei em vir aqui - ele continuou, aparentemente não havia terminado -, trouxe sua pizza favorita e decidi não guardar rancor, mesmo ainda estando magoado por não ter ido.
- Desculpa, tá bom? - Falei e baguncei seus cabelos no rosto, rindo para descontrair. - Eu estava passando mal na hora combinada - menti, me justificando, pois não queria dizer o real motivo. - E ainda tive a consideração de deixar uma mensagem avisando.
Nam Joon me olhou de soslaio por alguns segundos, até acenar positivamente e voltar a sorrir.
- Tudo bem, mas só porque você é minha melhor amiga - ele empurrou meu ombro de volta, com um pouco mais de força, e assim eu soube que estava tudo bem entre nós.
É claro, a palavra "amiga" ainda pairava na minha mente, fazendo eco por todas as bifurcações de nervos e atingindo meu corpo todo em segundos. Eu já devia estar acostumada com isso, mas, quando se ama alguém com cada pontinha do seu ser, você não espera que ele te chame de amiga, companheira, bro...
Respirei fundo e bati nas pernas para tirar-me dos meus devaneios.
- Então vamos comer - declarei e peguei a caixa de pizza posta de lado até então.
Assim que a abri, o cheiro de massa assada, orégano, queijo e pepperoni desnortearam meu olfato e eu soltei um gemido involuntário de satisfação.
- Ah, essa é a melhor pizza de Seul.
Nam Joon riu e pegou a primeira fatia.
- Você quer dizer a mais barata, não é? – Ironizou, falando embolado por estar mastigando um pedaço.
Abri a boca em um pequeno 'o' e o olhei com indignação.
- Shh... Não a magoe. Ela também tem sentimentos. - Falei agarrada a caixa estampada de vermelho e preto no canto superior frontal, dizendo o nome do estabelecimento responsável por saciar minha fome por pizza desde que Nam Joon e eu acabamos, por acaso, "tropeçando" nele quando estávamos no segundo ano de amizade.
- Certo, certo - abanou o ar. - Apenas coma antes que eu devore tudo.
Sorri e aproveitei a minha primeira fatia sob a luz da Lua. Ambos ficamos em silêncio por vários minutos, mas, como se eu quisesse voltar a esse assunto, eu quebrei o silêncio:
- Já arrumou as malas? - Me amaldiçoei no momento que deixei tais palavras escaparem pela minha boca.
Era quase como e eu fosse uma sádica.
- Sim - Nam Joon respondeu, parecia ter sido puxado dos seus pensamentos mais profundos. - Precisava ver mamãe chorando cada vez que mais uma peça era posta na mala.
Sorri fechado.
- Eu a entendo um pouco. Afinal, você é filho único. - Observei. - Mas é o seu sonho, e eu tenho certeza de que, no fundo, ela está muito feliz.
- Tem razão - ele pausou para dar mais uma mordida e depois acrescentou: - Uau! Essa pizza está maravilhosa, especialmente hoje.
- Gostinho de despedida - apertei sua bochecha, tentada a fazer isso ao ver suas covinhas a mostra. - Você devia ter pedido para adicionarem mais queijo como bônus por ser sua última vez saboreando essa pizza. Apesar de ela estar perfeita, queijo a mais nunca é motivo de reclamação.
Àquele ponto da conversa, sentindo sua presença marcante ao meu lado e o cheiro único do seu perfume se misturar com o da pizza, eu já havia pedido ao meu cérebro para esquecer da saudade que ele ia fazer e ao meu coração para parar de bater mais forte contra minha caixa torácica toda vez que ele se movia, ou o vento fazia o favor de carregar seus cabelos sedosos e com cheiro de pêssego para trás a cada brisa fraca.
- Poxa, perdi minha chance. - Lamentou, forçando uma expressão de tristeza. - Mas pelo menos... eu estou tendo a chance de comer ao lado da garota mais legal da escola. - Ele aumentou o tom de voz conforme foi chegando ao final da frase, e eu, involuntariamente e de olhos arregalados, tapei sua boca num reflexo impressionante.
- Shh... Não pode gritar assim! - pedi num sussurro próximo ao seu ouvido, não contendo uma risada baixinha com a ideia de ser descoberta aqui em cima com ele a essa hora da noite. - Meus pais estão dormindo abaixo de nós.
Nam Joon encarou meus olhos pelos segundos seguintes até assentir lentamente. Sua pele reluzia sob a luz da Lua e meu corpo aqueceu quando meus dedos encostaram de leve nos seus lábios carnudos. Me peguei, no mesmo momento, pensando como seria beijá-lo pelo menos uma vez. Apostei sem pensar duas vezes que seria maravilhoso, mas irreal, pois isso nunca aconteceria.
Foi com esse pensamento que achei forças para afastar minha mão e voltar a comer, envergonhada por ter demorado tanto a retirar a mão.
- Mas obrigada por me achar a garota mais legal da escola - comentei, disposta a quebrar aquela tensão, e dei de ombros.
Nam Joon manteve-se em silêncio, também não fiz menção de puxar assunto, depois de tantos anos de amizade, às vezes, o silêncio era tudo o que precisávamos. E aqui, agora, tudo que eu queria era aproveitar minha última refeição ao lado do meu melhor amigo e... bem, primeiro amor.
Quando terminamos a pizza, ele bateu na barriga inúmeras vezes, demonstrando estar cheio.
- Ah, eu estava morrendo de fome - comentou e sorriu de satisfação.
Franzi a testa.
- Impossível. Você não estava numa festa de despedida super badalada com - fiz cálculos mentais rapidamente, olhando para cima como se isso estimulasse meu cérebro a trabalhar mais rápido - seus seis amigos e sua namorada?
Nam Joon riu, desconcertado, e coçou a nuca.
- Bom, eu não sou muito fã dos restaurantes chiques que a Ha Neul gosta. Foi um erro deixa-la marcar a despedida.
- Ah, também odeio - revirei os olhos e pus o indicador na boca, fingindo forçar o vômito. Esse devia ser o motivo de Ha Neul ter um corpo tão perfeito enquanto eu podia notar a cada dia o meu ficando mais flácido. Era terrível me comparar assim com ela, mas as vezes era inevitável, afinal, até hoje tentava entender como Nam Joon se apaixonou por essa garota. Ela era muito elegante para andar com alguém desleixado como o Nam Joon.
- Por isso preferimos as gorduras da rua.
- O que traz real felicidade - observei, erguendo as sobrancelhas.
Eu ri ao seu lado, com meu ombro encostado ao seu, ambos descontraídos, como se amanhã não fosse er o dia mais triste da minha vida.
- Vou sentir saudade das nossas conversas - confessei, mexendo no pano do casaco.
Nam Joon virou o rosto e me encarou.
- Também - torceu a ponta dos lábios para o lado e, enfim, me abraçou de lado.
Aconcheguei-me no seu corpo e respirei contra o tecido da camisa preta, sentindo o cheiro bom do perfume. Nam Joon fez círculos imaginários e tortos no meu braço, essa sua mania sempre aquecia meu coração. Permiti-me chorar um pouco e molhar a camisa por alguns minutos, até me afastar e me recompor.
Enxuguei as lagrimas e bati nas bochechas vermelhas de leve.
- Já está tarde - disse, desviando o olhar do seu, que me analisava. - Você precisa descansar.
Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo, pois estava inquieta, e acrescentei:
- Você entra na minha casa pelo quarto e eu abro a porta de entrada. Não precisa descer a árvore de novo - instrui.
Nam Joon suspirou, o que atraiu minha atenção rápido o suficiente para ainda vê-lo correr a mão pelos cabelos castanhos.
- Não quero ir para casa agora. Estou sem sono - falou com desgosto, quase um choramingo.
Dei-lhe como resposta o meu mais amplo sorriso.
- Seus pais devem estar preocupa...
- Quer fazer algo interessante comigo? - Ele me cortou. - Meus pais já devem estar dormindo de qualquer forma.
- Algo interessante...? - Cerrei os olhos e franzi a testa, podia sentir os vincos marcados ela.
- É, sabe - coçou a nuca mais uma vez e resmungou algo que não consegui entender. Sorri ainda mais ao vê-lo sem jeito, procurando as melhores palavras para explicar aquela sua pergunta, no mínimo, estranha. - Apesar do duplo sentido, não é isso que quis dizer. Quero dizer - limpou a garganta e tirou o cachecol do pescoço com um único puxão -, você quer sair comigo? Tipo, não em um encontro, mas só andar pela cidade e fazer algo mais legal do que dormir. - Ele arregalou os olhos ao finalizar a última frase. - Novamente, sem duplo sentido.
Abafei uma gargalhada e aproveitei também para esconder minhas bochechas agora rosadas de vergonha. Nam Joon, logo, suavizou suas feições de preocupação ao ver que eu sorria, ao invés de parecer constrangida ou irritada com a insinuação das suas palavras.
Eu pensei, pensei e pensei numa boa maneira de recusar sua proposta, mas, sua expressão de cachorrinho manhoso me fez responder de maneira impulsiva a sua proposta:
- Tudo bem - sacudi as mãos no ar, cedendo. - Também estou sem sono de qualquer forma. - Dei de ombros, como se não fosse grande coisa, e ganhei em resposta um abraço e um beijo no topo da cabeça.
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Mil desculpas pela demora anjos, mas eu não tive tempo para entrar no meu computador e editar o capítulo essa semana :/ Estou muito sobrecarregada com a faculdade.
De qualquer forma, espero que tenham gostado, não se esqueçam de votar e comentar por favor! 💙
Beijos amores e até o próximo capítulo 💙⛄