- Você é louca?
- Se eu fosse, não estaria te contando.
Deitada na cama do quarto de Tracy, olhando para o teto, eu quase me arrependo de ter contado sobre a ligação de Harry ontem. Ele havia me mandado mais uma mensagem, perguntando se as duas da tarde estava bom. Afirmei.
- Ponto válido. - Tray dá de ombros. - Mas do mesmo jeito! Você esqueceu que vamos encontrar o pessoal hoje?
Fecho os olhos com força. Droga.
Todo ano, pelo menos uma vez, havia uma reunião do pessoal da faculdade que tínhamos mais afinidade. Era praticamente uma tradição, já que agora todos estavam crescidos e brincando de adultos e não tínhamos muito tempo para colocar o papo em dia.
- Eu esqueci! - choramingo. - Vai ser rápido, sei que sim. Vai dar tempo, Tracy.
- Madison! - repreende a quase morena. - Não é questão de dar certo, é questão de você ir! Achei que você já tivesse se conformado.
- E eu estou bem, caramba! - digo, ficando sentada. - Mas ele ainda é uma pessoa que me chamou para conversar, e não posso simplesmente ligar e dizer "Hey, eu sei que confirmei ontem, mas Tracy está me dizendo para não ir então... Tchau!" - ela revira os olhos.
- Eu avisei. Lembre disso. - Tracy calmamente responde. - Agora, vamos, eu tenho uma roupa para escolher para mais tarde...
Na faculdade, éramos em oito amigos mais próximos. Eu, Tracy, Ryan, Viviane, Lizzie, Will, Ethan e Ben. Nós sempre estávamos juntos e saíndo. Com o tempo, cada um fazendo um estágio e tudo mais, as saídas de tornaram mais difíceis, tanto que agora se nos vemos uma vez por ano é difícil, principalmente o grupo inteiro. Mas sempre conversamos por mensagens ou ligações em datas especiais. Por esse motivo, todo ano temos um dia que ninguém marca nada e nos encontramos na casa de alguém ou em algum outro lugar. Hoje, será no apartamento de Ryan.
E mesmo sendo quase de noite, Tracy já se prepara. Mas eu ainda tinha alguém para encontrar primeiro.
Por mais que negasse, eu até me sentia um pouco culpada de ir falar com o moreno. Por quê? Eu mesma não sei. Se um de nós fez algo errado, foi ele... Mas, pensando bem, eu sei a razão desse sentimento. Era algo escondido, assim como antigamente.
Sabendo estar calor – o calor de Londres, para ser exata, o que não é muita coisa – coloco um vestido esverdeado quase até o joelho, com uma jaqueta jeans por cima. Como sempre, atrasada. Mas não era algo que eu pudesse mudar, eu juro que me arrumei cedo e rápido. O universo é que conspira para minha demora.
Mesmo sabendo disso, não consigo hesitar quando chego ao local. Aquele parque... Era muito para se lembrar. Saio do carro, enfim, e não preciso perguntar por mensagens onde ele está. Eu sabia. Ou pelo menos minha versão de dezenove anos sabia.
E ela estava certa. Sentado no banco afastado do resto do parque, o moreno olhava para o celular. Quando me aproximo, Harry parece perceber e levanta a cabeça, fazendo com que eu veja mais uma vez seu sorriso; e sorria também.
- Desculpe o atraso.
- Tudo bem. - ele responde. - Problemas com o namorado?
Harry não falaria aquilo. Não. Esse era o nervosismo dele falando.
- Na verdade, não. - sorrio fraco, sentando ao seu lado. - Uh, ele está trabalhando.
- De domingo? - ele estranha.
- É, bem, - rio pelo nariz. - ele é um arquiteto. Provável que esteja desenhando. - dessa vez, sorrio comigo mesma, dizendo baixinho. - Finn odeia quando digo isso.
Harry parece ouvir, e sorri meio amarelo.
- Mas, de qualquer modo, como você está?
Seu sorriso volta a ficar normal quando me responde. - Bem, obrigado. E você?
- Também. - encaro-o. Harry usava uma camiseta branca com um jeans escuro. Parecia como antigamente. - Mas eu presumo que você tem algo para dizer.
Brinco, mas ele se envergonha. - É, certo. Quer tomar um café primeiro?
Assinto. Vamos até a lanchonete ali perto, mas acabamos por ficar numa das mesas externas. O assunto flui naturalmente, e só várias risadas depois Harry puxa o assunto.
- Então, eu... Eu estou indo para Los Angeles amanhã, para resolver algumas coisas da turnê...
- Você vai entrar em turnê? - digo, surpresa. - Que incrível!
- É, é sim. - Harry fica feliz. - Um pouco mais complicado quando se faz sozinho, mas ainda sim é bem legal. Enfim, eu queria conversar com você antes de ir.
Assinto. - Claro, uh... Sobre o quê?
Harry hesita. Bastante até. Ele encara a mesa, engole seco, estrala os dedos e finalmente olha em meus olhos. - Já faz tanto tempo e... - ele dá de ombros. - E eu só não sei como começar. Maddie, eu sinto tanto...
Corto-o. - Para.
Harry olha-me confuso. - Mas...
- Eu sei. Toda aquela besteira de 'você tem o direito de saber'. É, bem, eu não quero.
O silêncio que paira entre nós parece não acabar. Eu não olhava diretamente para Harry. Acho que ele não fazia o mesmo. Praticamente conseguia sentir seus olhos confusos em cima de mim.
- Eu... - sua voz parecia trêmula. - Eu posso perguntar o motivo?
Respiro fundo. - Por um bom tempo, e eu não nego isso para ninguém, eu vivia o dia pensando que no próximo eu ganharia uma explicação. E acredite ou não, essa foi a fase mais leve. - rio pelo nariz, sem humor. - Mas uma manhã, meu primeiro pensamento finalmente não era você. Era sobre como eu estava para bombar em uma de minhas matérias. Ironicamente a que eu quase perdi o trabalho estando aqui. E aquilo me fez acordar, perceber que eu precisava seguir com a minha vida. Eu cresci, Harry. Eu tive que crescer. Tenho feito isso desde então, e sem saber seus motivos. Agora... Eu não quero que tudo o que eu consegui acabe porque eu finalmente sei o que aconteceu, entende? - limpo rapidamente a lágrima que ameaçou cair, para então ver que seus olhos verdes não brilhavam como usualmente, mas sim por conta das lágrimas em seus olhos. Harry, porém, logo desvia, passando a mão no rosto.
Ele assente, voltando a olhar em meus olhos só depois que um garçom aproximou-se com o cupcake que eu havia pedido. Sorrio para ele, que logo se afasta, e volto meu olhar para Harry. Foi como olhar para o passado.
Lembro que alguns dias antes de tudo acontecer, Harry e eu conversamos sério. Estávamos na rua e algumas fãs o acharam, coisa que fez com que eu me assustasse – porque, até ali, e como todo o tempo que ficamos juntos, ninguém sabia de nós dois – e entrasse numa loja qualquer por algum tempo. Quando Styles foi atrás de mim, seguimos para a minha casa num completo silêncio. Eu sabia que se algo saísse de minha boca, seria acompanhado por lágrimas. Mas para elas descerem, só foi preciso uma exclamação do moreno para que eu desabasse. Comecei a me desculpar várias vezes, o que fez com que ele dissesse algo como: "Não. Eu que deveria pedir desculpas, ok? Você sabe, e eu sempre vou te lembrar que eu te amo, Maddie. Eu te amo muito. E tudo o que eu quero é gritar para o mundo que eu sou o sortudo que posso te chamar de namorada. Mas se eu fizer isso, nós podemos arranjar problemas, e eu não quero ficar sem você."
Acho que respondi exatamente a mesma coisa, acrescentando um 'também' no final. Harry então pediu para que eu sentasse, e disse que era sua culpa, que ele não queria fazer com que eu passasse por aquilo. Seu nariz ficou vermelho, os olhos inchados, e as primeiras lágrimas caíram. Não só as dele. Abracei o moreno com força, e ficamos assim por um tempo; chorando, fazendo juras de amor, tentando fingir que éramos namorados comuns.
Hoje, agora... Ele me olha do mesmo jeito. Mas não estamos no apartamento alugado que eu dividia com Tracy – que provavelmente já tem outro morador hoje –, não vai ter abraço, não irão acontecer beijos ou juras. Nós não fingimos mais, não há motivo. Só há Harry e seu nariz com a ponta avermelhada, olhos inchados que não queriam derrubar lágrimas de jeito nenhum, e palavras. Palavras, essas, que criam esperança. Mas não em mim.
- Então... - ele começa. Sei o que vai dizer, e também sei o que ele quer ouvir. Mas não sou capaz.
- Não. - sai como um sussurro. Eu não conseguia mais. - Eu tentei, tentei muito. Eu tentei te perdoar, Harry, mas eu não sei como.
Ele concorda com a cabeça. Já esperava aquilo.
- Isso não significa que eu vou te ignorar para sempre. - cutuco seu braço por cima da mesa com o cotovelo. Harry sorri, e eu também.
- Obrigado. - concordo, mantendo o sorriso.
Falamos mais um pouco, não de algum assunto relevante. Logo tive que ir, o pessoal da faculdade me aguardava. E vou mais leve, depois de dar um abraço em Harry e desejá-lo boa viagem, e principalmente depois de dizer o que passei.
*
{ TRACY }
Era o primeiro encontro do pessoal que eu iria não como aquela que tinha sentimentos escondidos por Ryan, o garoto de ouro, mas sim como sua namorada. Muita coisa pode acontecer em um ano...
Porém, mesmo feliz com isso – e claro, por encontrar com meus amigos –, eu ainda ficava preocupada com Maddie.
Eu a conheço desde sempre, praticamente. Nossa amizade passou do ponto em que ela me conhece mais do que eu mesma. Só que a loira parece esquecer de que o contrário também acontece. Madison acha que está bem falando com Harry. Que sua vida está resolvida e com Finn ao seu lado, nada de ruim acontecerá.
Dói saber que não é bem assim. Dói quase tanto quanto doeu enxugar as lágrimas dela durante semanas e mais semanas depois que o cantor entrou naquele avião e nunca mais voltou. Quer dizer, até agora...
Se tem uma pessoa que defenderia ele, seria eu em minha posição de admiradora. Mas não em relação à minha amiga-irmã. Porque em algum momento, tudo vai voltar, para ambos, e quando isso acontecer, alguém sairá machucado.
Ryan faz esse pensamento ir embora quando abre a porta para Viv, Will e Ben entrarem. Abraço meus amigos um a um, com saudades. Embarcamos numa conversa animada até os outros chegarem. Lizzie e Ehtan entram e nem tenho tempo de fechar a porta quando o elevador abre, relevando Madison.
Ela vem sorrindo, e falo com ela no corredor primeiro.
- Como foi?
- Bom. - ela assente, do jeito que diz "impactante". - Ele vai viajar. Coisas para...
- A turnê. - completo.
- Eu esqueço que você sabe. - ela sorri. Verdadeiramente, para minha surpresa. Acabo fazendo o mesmo. - Mas é.
- E tudo bem?
Maddie hesita, mas sei que não é por mal. Ela estava pensando. - Sim, sim. Tudo bem. Vamos entrar?
- Claro, Sertorie.
A conversa estava animada, e por mais de uma hora nós apenas contávamos como cada vida estava. Lizzie até aproveitou para entregar seu convite de casamento! E todas nós, garotas, estaríamos no altar com ela, com Viviane sendo a dama de honra, já que elas são muito próximas.
Maddie me olhou naquele momento. Sorrio de volta. Era uma mensagem sobre como um dia isso aconteceria conosco. A parte de ser dama de honra, digo. O casamento, para ser sincera, não era a parte principal da noite.
Pedimos algumas pizzas, e relembramos também algumas coisas da faculdade, mas o que eu mais esperava vinha normalmente depois disso. Toda vez, sempre fazíamos algum tipo de brincadeira quando todo mundo ia. A do ano passado foi beer-pong. Will foi quem ficou pior, sempre acertavam na vez dele e ele tinha que beber.
Esse ano, pelo que entendi, será uma variação de verdade ou desafio. Todos têm a escolha, mas quando alguém escolher verdade, a roda inteira bebe um shot de tequila. Os desafios também não poderiam comprometer os relacionamentos – uma vez, acabamos com o namoro de Ben quando, claramente bêbados, filmamos seu desafio de beijar a minha pessoa. Acho que aquela metida a ruiva ainda me odeia. – mas poderiam envolver pessoas de fora, como em ligações, por exemplo. Se o desafio fosse recusado, a pessoa beberia dois shots.
Começamos com a garrafa que Ethan girou parando em Ryan. Apenas por ser um babaca, ele escolhe verdade, fazendo todos nós começarmos a noite com a garganta queimando.
- Também amo vocês. - ele responde, ainda com cara feia do gole, mas rindo dos xingamentos que recebeu.
- Vamos lá, projeto de Gosling. - Ethan relembra o velho apelido, comparando meu namorado ao ator de mesmo nome. - E isso não é arruinar um relacionamento. - ele brinca, deixando claro. - Qual parte da viagem para Vegas você contou pra Tracy?
- Todas que eu me lembro. - os dois riem juntos, e Ethan bate palmas, impressionado. Beijo Ryan rapidamente.
Consigo dizer que algumas rodadas depois, todos estávamos alterados. Principalmente Ben e Maddie, que escolheram verdade na maioria que foram apontados pela garrafa e que agora que só eram permitidos escolher desafio – os quais sempre acabavam não cumpridos.
Will rodou a garrafa e apontou para Maddie. Ela riu.
- Como você só pode ser desafiada, e eu não tenho mais ideias com tanto álcool no corpo, desafio você a contar algo que ninguém sabe. - todos dão risada. - E não vale mentir!
Eu não estava sóbria, longe disso. Mas estava melhor que a loira, e me forço a ficar consciente quando ela começa a falar, a voz meio mole.
- Bom, eu... - ela ri. Como todos estavam super bem, acompanham. - Acreditem ou não... Eu já namorei com um famoso...
Madison ri como se não houvesse amanhã, e eles até duvidam.
- Maddie. - repreendo.
- É sério, Mads. - Lizzie comenta.
- Mas é sério! - ela exclama, fazendo bico.
- É mesmo. - Ethan, duro de queda, ainda prestava atenção nos detalhes. - Olhem para Tracy, ela está preocupada. É verdade.
- Claro que é... - a loira responde. - Vocês provavelmente o conhecem... O nome é H...
- Madison, já chega. - exclamo. - Você sabe muito bem que isso vai colocá-lo em problemas. - ela fecha o sorriso. - Chega, você vai para casa.
Minha amiga reclama, mas logo estava sorridente dando tchau para nossos amigos. Fiquei sabendo que logo depois todos acabaram indo embora também. Assim que entramos no táxi, ouço seu telefone tocar, mas antes que ela mesma descubra como se atende, tiro de suas mãos.
- Mads?
- Ah, oi, Finn! - respondo. - É a Tracy.
- Tracy, oi! Está tudo bem?
- Sim, sim. - Madison quase dormia agora, alheia a conversa. - A Maddie só... Só passou um pouco do ponto, mas tudo bem. Aliás, estou levando ela para minha casa, tudo bem? Vocês marcaram algo?
- Não, não marcamos nada. - ele diz, mas parecia estar sorrindo. - Ela me ligou, um pouco mais cedo, dizendo que estava chegando na casa de Ryan e logo desligou. - olho para minha amiga. - Mas tudo bem, amanhã conversamos.
- Claro, boa noite! - ele diz o mesmo, e logo chegamos a meu prédio. O motorista recebe meu pagamento e digo para que fique com o troco. Algumas moedinhas não ajudariam a tirar Madison do carro, de qualquer forma.
Logo – lê-se depois de uma montanha russa de emoções entre quase tombos de nós duas até o apartamento no quinto andar que eu chama de meu – que entramos, deito-a na cama e vou pegar um copo de água e uma aspirina que ela com certeza tomaria. Isto é, se não estivesse chorando absurdamente.
Maddie dizia que eu era o tipo de bêbada que fazia piadas sem sentido, mas que todos riam. Ela, bem... Fazia mais o tipo carente e chorona.
Deixo o copo e o comprimido em cima de minha cabeceira, e sento na cama, colocando sua cabeça em cima de minhas pernas.
- O que foi, Maddie? - sussurro, passando a mão em seus cabelos. Ela aperta um de meus braços contra si.
- P-por quê? - ouço ela fungar. - Por q-que, Tracy?
- Do que você está falando, querida?
- P-por que ele me deixou? - minha melhor amiga diz isso apenas para cair em mais lágrimas. Eu a abraço, passo a mão em seus cabelos sem parar, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer.
- Eu não sei, anjinho. - eu a chamava assim quando éramos crianças e Maddie ficava triste. Por ter olhos azulados e cabelo loiro, brincava com ela. - Eu infelizmente não sei.
Ela logo se acalma. Dorme pesado depois daquilo. Mas foi como imaginei, tudo o que Madison sente, a confusão dentro dela e que ela tanto tenta esconder foi liberada pela bebida.
Maddie provavelmente não vai se lembrar disso amanhã. Vai agir normalmente – tirando sua mais do que certa ressaca – e dizer para quem quiser ouvir o quanto está feliz com Finn. Porque ela está mesmo, e sua vida fora do quesito relacionamento também está boa. Mas vai continuar sentindo coisas confusas. E negando.
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Olá, tudo bem nenéns?
Como falei na semana passada, realmente, o capítulo de quinta é o último flashback... Admito que vou sentir saudades da versão mais jovem deles, mas pelo menos o mistério vai ser resolvido KKKK
Acho que a Maddie tá um pouco/muito contraditória nesse capítulo, mas o ponto é esse mesmo, viu? Ela está confusa, mas ao mesmo tempo tenta dizer pra todo mundo e pra si mesma que está bem. Nisso, o álcool trouxe à tona o que ela realmente pensa.
Mudando um pouco de assunto, viram o EP do liam? Vou dizer que me surpreendeu, mas acho que de um jeito bom. E vocês, o que acharam?
Hoje não estou com muito assunto, tenho alguns trabalhos pra fazer, mas por favor, não deixem de ler, votar e deixar aqui o que estão achando da história! Um beijo, até quinta ❤️