Only God can judge you

By rakeool

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Um romance de faculdade. Nenhuma novidade. Acontece toda hora. Mas não com Lorena, cristã fervorosa que nunca... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capitulo 3
Capítulo 4
Capitulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Especial: They call you monster
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 17

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By rakeool

Aquilo não saia de minha cabeça, eu, Lorena Leslie, queria beijar a Jade, uma garota. Me senti mal o dia inteiro, não consegui fazer mais nada direito, nada, eu só conseguia pensar naquilo. À noite, Diana e Zoey chegaram a me perguntar o que havia acontecido, mas eu não queria falar sobre aquilo, não mesmo.

Já era tarde, estava deitada em minha cama sem conseguir dormir. "Eu quis beijar a Jade" pensei, e sua imagem sorrindo próxima a mim veio a minha memória, senti meu estomago embrulhar-se. "Eu ainda quero beijar a Jade" percebi. Não, não quero, e não posso. Minha religião não permite, meus pais nunca aceitariam, e ainda tem o André. Aquilo estava completamente desconsiderado.

Mas nada mudava o fato de que eu quis beija-a naquele momento. Alguma coisa nela era tão... diferente, ela sempre me fazia me sentir desse jeito que ninguém jamais tinha feito eu me sentir antes, ela era especial, sobre isso não havia duvida. Eu nunca tinha me sentido tão... atraída por alguém em toda minha vida. Era difícil até não querer beija-la. E o pior de tudo, é que eu sabia que não era só atração. Eu sentia que tinha um algo a mais nisso.

Virei na cama sem conseguir dormir, senti um aperto no peito, junto com uma vontade de chorar, não resisti. As lagrimas quentes desciam no meu rosto, por que isso tinha que acontecer justo comigo? Eu não posso ficar com ela, nem se eu quiser, e... eu realmente gostava dela? Mais lagrimas desceram, enxuguei-as, eu precisava orar.

Ajoelhei-me na cama, e orei pedindo perdão, tentando tirar aquele peso de mim. Deitei-me novamente na cama, sem conseguir dormir, virei na cama diversas vezes, tentando adormecer, sem sucesso. Levantei e fui beber uma água, aproveitei para lavar meu rosto, voltei para cama. Demorou muito, mas muito mesmo, mas entre minhas lagrimas silenciosas, eu peguei no sono.

• • •

Acordei meio cedo de mais, considerando o horário que fui dormir, continuei deitada na cama por uns minutos, observando o dormitório. Zoey ainda estava dormindo, Diana já estava de pé, e murmurava alguns dizeres em uma língua estranha enquanto fazia um processo de levantar, curvar-se, ajoelhar-se, agachar-se e finalmente, sentar novamente. Acho que ela estava rezando, ou algo do tipo. Estranho, enfim.

Ver Diana rezando me fez parar pra pensar, tinha muito tempo que eu não ia a igreja. Minha relação com Deus estava muito distante, talvez seja por isso que eu estava num estado espiritual tão ruim. Ponderei por um segundo, levantei-me, peguei uma roupa em meu guarda roupa. Eu já havia me decidido, eu iria pra igreja.

Fui até o banheiro e tomei uma ducha fria, sai do chuveiro. Sequei-me e coloquei meu vestido amarelo que eu havia separado. Penteei meu cabelo enquanto olhava meu reflexo no espelho. Eu estava feliz, ir a igreja poderia ser a solução para acabar com essa sensação ruim dentro de mim. Parti meu cabelo de lado e dei uma ajeitadinha, mas mesmo assim, estava achando meu visual muito simples. Olhei na bancada da pia, havia alguns batons ali, talvez eu pudesse pegar um emprestado.

Desisti da idéia no segundo que a tive, "muito anti-higiênico" pensei. Sai do banheiro e olhei em uma de minhas gavetas, a procura de um batom para passar. Com muito esforço, achei um rosinha, e um par de brincos que tinha ganhado no meu aniversario de 16 anos. Abri a câmera frontal do celular, e passei o batom cuidadosamente.

— Bom dia, Lore. — Ouvi a voz de Diana. Notei que não havia cumprimentado-a, é que ela estava rezando, eu não quis interrompe-la.

— Ah, bom dia. — Respondi, colocando um dos brincos.

— 'Cê 'ta toda arrumadinha — comentou ela, com um sorriso — Adorei o vestido.

— Obrigada — agradeci, sem conter um sorrisinho.

— Você vai sair?

— Vou sim. — Falei, ajeitando um dos feixes do brinco — Pra igreja.

— Ah, que bom! — Ela disse, surpresa. — Eu nunca tinha visto você ir pra igreja antes.

— É a primeira vez desde que eu vim pra cá — olhei o dormitório, a procura de minha sapatilha — E eu 'to precisando, viu.

Olhei para ela, ela parecia preocupada.

— O que foi? — perguntei, confusa

— Tem alguma coisa a ver sobre ontem? — Ela Indagou — Ontem você chegou parecendo péssima, sei lá — cruzou os braços — e nem quis falar nada com a gente.

— Falando bem da verdade, tem sim. — admiti, e dei de ombros — Eu 'to indo pra igreja principalmente pra isso. Talvez se eu me conectar espiritualmente com Deus novamente, eu consiga me resolver melhor comigo mesma.

— Ah, que bom! — sorriu — tudo bem então.

— Mas obrigada — Disse, calçando uma sapatilha.

— De nada — respondeu.

— É — Dei uma ultima checada na câmera frontal, eu estava bonitinha. — Eu vou indo agora então — Peguei minha bíblia e comecei a atravessar a porta — até mais tarde!

— Até!

• • •

Ir pra igreja pode parecer meio chato pra maioria, mas aquele era meu jeito de me conectar com Deus e sentir sua presença. E aquilo me revigorava espiritualmente, de verdade.

Tinha achado aquela igreja pelo Google e pedido um uber, ela ficava pertinho da Brown. Quando cheguei, o culto ainda não havia começado, passei um pouco de aperto pra achar um lugar na frente, mas consegui. Lá em Londres isso nunca seria um problema, mas também, papai era o pastor da igreja, era como se os lugares da frente fossem reservados pra gente.

Sentei do lado de uma senhora de cabelos bem branquinhos, toda vestida de azul, ela me deu um sorriso, retribui o gesto. Fiquei esperando o culto começar, até que senti meu celular vibrar.

[8:03 AM] Chermont: Cara

Ok

Eu tava evitando perguntar, mas...

Pq vc fugiu ontem???

[8:03 AM]: Não posso falar agora, estou na igreja

Ela me respondeu logo depois, pra minha sorte, mudando de assunto.

[8:04 AM] Chermont: hehehe

Qq vc tem a confessar, lobinha?

Revirei os olhos, notei que eu estava sorrindo, parei no mesmo segundo.

— Conversando com o namorado? — a senhora de azul se inclinou pra mim e perguntou, se intrometendo. Deu uma risadinha.

Merda, será que era tão aparente?

Não, não era. Afinal, não dava pra algo que nem ao menos existia ser aparente, certo?

Engoli em seco. Espero que sim.

— É... Não moça! — respondi, envergonhada — não é não.

Ela me encarou por um instante.

— Vocês jovens não sabem mais esconder mesmo. — ela riu novamente, senti meu rosto ficar todo vermelho.

Ai, droga.

Peguei meu celular novamente.

[8:05 AM]: Nada que te interesse.

[8:05 AM] Chermont: :v

Eu n vou numa igreja tem tipo, anos

Eu meio q sou o tipo de lesbica que tem medo de queimar quando pisar na igreja

Dei uma risadinha, também não era bem assim.

[8:06 AM] Chermont: Melhor tomar cuidado ai, lobinha

Ei

ce não ta sentindo um cheiro de queimado ai?

Demorei um segundo pra entender, fiquei boquiaberta.

[8:06 AM] : IDIOTA

[8:07 AM] Chermont: KKKKKKK

— Bom dia! — ouvi uma voz, o pastor já estava em cima do palco, guardei meu celular.

— Tudo bem com vocês? — ele perguntou, abrindo a bíblia — todo mundo bonito aqui hoje, todo mundo aqui nesse domingo abençoado, graças a deus.

Abri a bíblia, esperando que o culto começasse.

— E que tal se começarmos com uma oração, irmãos? — murmurinhos concordaram, ele chamou um homem a frente para orar.

Eu nunca realmente escuto a oração de outra pessoa assim, eu acho que isso é algo muito pessoal. Então enquanto ele orava ali no palco, para que todos ouvissem, orei em silencio.

— Muito bem. — o Padre falou, quando todos abriram os olhos — Muito obrigada, irmão. — O rapaz desceu do palco — Então irmãos, hoje é com muita alegria que eu trago pra vocês aquele livro que eu falei semana passada: saindo do armário.

...

QUE

— Esse livro é sobre historias de jovens, de mulheres, adolescentes que a gente tem ajudado — ele fez uma pausa — de alguma maneira Cristo fez uma obra na vida deles, muito linda, doze testemunhos de pessoas que viveram o homossexualismo, em graus diferentes, mas que foram libertas.

Ouvi alguns "Amém", inclusive da velhinha do meu lado.

Ah, é brincadeira isso, não é possível.

Tinha que ser comigo.

E pêra ai, "grau de homossexualismo?"

"Homossexualismo???"

— E eu parei pra pensar outro dia, e se eu fosse um homossexual, o quê que eu gostaria de saber? — ele continuou — Eu iria querer saber o que causou isso! — disse ele — e um dos jovens que relatou sua experiência nesse livro, criou uma tese interessantíssima sobre!

Por algum motivo, eu me senti quase que pessoalmente atacada com o jeito que ele falava. Parecia que ele falava sobre algum tipo de doença.

— E irmãos, vocês vão ficar de queixo caído quando descobrirem como o homossexualismo chegou na vida dessas pessoas — ele deu uma pausa — por que a maioria deles foi nascido e criado em igrejas evangélicas!

Ouvi algumas interjeições de espanto. Engoli em seco. Comecei a me sentir ansiosa, muito ansiosa. Minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam, meu coração começou a bater mais rápido. Desejei estar em qualquer lugar, menos ali.

— Isso mesmo! — ele respondeu — debaixo do nariz do pastor! Debaixo do nariz dos pais e das mães! — explicou — o jovem que criou a tese, citou as seguintes causas para o homossexualismo! — ele falava gritando — O estupro, quando a criança é molestada, e não desenvolve atração pelo sexo oposto. — complementou — a falta de um pai! Que leva os filhos a se tornarem afeminados, ou as meninas ficarem soltas, sem rumo! — dava pra ver a veia do pescoço dele saltando — E a criação em ambientes que só tem mulheres!

Eu me perguntava qual era o sentido disso. A falta de um pai, crescer em ambientes só com mulheres. E por que sempre que tinha que ter a ver com um homem?!

— Esse jovem cita diversas outras, caso vocês tenham interesse, comprem o livro ao final do culto — afirmou, "merchan" no culto, que coisa mais linda. — E eu gostaria, por favor, que vocês abrissem na primeira coríntios capitulo seis.

Abri a bíblia, assim como foi indicado.

— Versiculo 9 e 10. — ele recitou — "Vocês sabem que os maus não terão parte no Reino de Deus. Não se enganem, pois os imorais, os que adoram ídolos, os adúlteros, os homossexuais, — ele deu uma ênfase nessa ultima palavra — os ladrões, os avarentos, os bêbados, os caluniadores e os assaltantes não terão parte no Reino de Deus!"

Ele observou todo mundo ali. Senti vontade de vomitar, eu não 'tava bem.

— A bíblia deixa claro, os homossexuais NÃO herdarão os reinos dos céus! — ele gritou — Isso não é natural! Não podemos aceitar isso!

Levantei-me, e andei pelo corredor, meu corpo todo tremia, sentia meu estomago embrulhar-se. Eu não podia ficar mais ali.

— NÃO HERDARÃO OS REINOS DOS CÉUS! — Ouvi o pastor gritar pela ultima vez, antes de sair. Aquilo ecoou pela minha cabeça por muito mais tempo que deveria.

• • •

Andei até os prédios do dormitório, eu queria chorar. Eu não gostei daquela igreja, a abordagem daquele pastor era muito agressiva. Estava mal, muito mal mesmo, me sentia um lixo. Eu só queria que tudo melhorasse, e parecia que tudo piorava.

Destranquei a porta do quarto.

— Lore! — Ouvi Zoey falar, ela estava sentada no chão, Diana fazia as unhas dela. — a Jade passou aqui, e perguntou se você já havia chegado da igreja.

Suspirei.

— Bem, agora eu cheguei né. — me joguei em minha cama.

— Ai, serio. — Zoey emocionou-se — A Jade gosta tanto de você! Eu nunca vi ela assim com ninguém antes. — Parecia que tudo tava conspirando pra piorar como eu estava me sentindo — Eu shippo muito!

Virei de lado na cama.

— Você deveria parar — respodi, seca — A gente nunca daria certo, de qualquer jeito.

Notei o que eu havia acabado de falar. Eu não falei que eu não gostava dela, ou que eu não era lesbica. A única coisa que havia saído na minha cabeça era "Nos nunca daríamos certo".

— Ah, é mesmo?! — ela debochou — É isso que nos vamos ver agora! Que horas você nasceu?!

— Que?!

— Seu horário de nascimento, ué — ela falou, como se fosse obvio — eu vou fazer o seu mapa astral, depois comparar com o dela pra Sinastria!

— 'Pera ai, Zoey — Ouvi a voz de Diana — Você vai borrar sua unha.

— Signo não existe. — declarei, revirando os olhos — E eu não sei meu horário de nascimento.

— Certeza que não sabe?! — ela insistiu

— Sim, Zoey! — Cortei-a.

— 'Ta bom! 'Ta bom! — ela respondeu na defensiva — Quando é seu aniversario então?

Relutante, respondi.

— Seis de abril.

— Aries! — ela disse animada — Isso explica muita coisa...

Revirei os olhos novamente.

— Não explica não.

— Que seja — Ela deu de ombros, e pegou o celular com cuidado pra não borrar as unhas — Vamos ver a sinastria de Aries e Sagitario!

Depois de alguns segundos em silencio, ouvi sua voz estridente de novo:

— Vocês tem grandes chances de dar certo! — ela leu no celular — "Melhor camaradagem não há. O otimismo e jovialidade do sagitariano neutralizam num minuto a rabugice ariana — continuou — e os dois se entendem rapidamente para planejar uma viagem à Mongólia, um passeio mountain bike ou a fundação de um novo partido ecológico (que abandonarão logo em seguida)."

Isso meio que me lembrava um pouco a Jade, mas só um pouquinho.

— "...Quando Áries e sagitário se encontram, o universo faz sentido. Aries assume sua faceta mais divertida e despojada que ele só usa nos dias de festa, mas estar com um sagitariano é uma eterna festa, não é mesmo? — Bem... ok, nisso eu concordo. — ...Sagitário pode vir a abordar um ariano ela sua confiança exagerada. Vai brincar chamando-o de mimado e birrento, mas só pra provocar.

Observava-a, ela segurava o celular com uma mão, enquanto Diana fazia a outra mão. Minha cabeça doía, aquilo da igreja ainda não saia de minha cabeça. Zoey tinha escolhido literalmente o pior momento do mundo pra me encher o saco.

— "Depois de quinze minutos, o que era pra ser uma briga, acaba se tornando numa amizade e numa ligação surreal" — Concluiu — Achei a cara de vocês.

Dei de ombros.

— Isso não prova absolutamente nada.

— Prova sim! — Insistiu

— Pronto! Terminei aqui — Diana declarou com um sorriso, as unhas de Zoey uma coloração de azul escuro. Ela se virou pra mim — 'Ce quer que faça sua?

— Não precisa não, não gosto de incomodar — falei.

— Você não incomoda — disse ela — e eu gosto de ajudar.

Olhei pra ela.

"Bem... Zoey é chata, mas pelo menos a Diana é legal" pensei.

— 'Ta bom — me levantei e sentei em frente a ela

— Qual você quer? — ela apontou pros esmaltes.

Apontei pra um rosa clarinho, ela assentiu e começou a lixar minhas unhas.

Zoey me cutucou.

— O que é?!

— 'Ce tem sua certidão de nascimento? — questionou

— Uma copia — respondi — por que?

— Tem seu horário de nascimento lá! — explicou, animada — Deixa eu ver pra fazer seu mapa.

Dei um estalinho com a boca em negação.

— Pelo amor de Deus, pra que isso?! — indaguei

— Ah, vai! — clamou ela — por favor!

Fiz que não com a cabeça.

— Ahhhh por favor Lore!! — insistiu — Por favorzinho, por favor, por favor!!!

— 'Ta bom! — gritei, articulando. Diana me encarou, deixei minhas mãos quietas — Nossa, você é um saco.

Zoey sorriu.

— Eu sei! Onde que 'ta? — perguntou

— ...No armário — hesitei — É... terceira gaveta, eu acho.

Ouvi seus passos apressados até o armário atrás de mim, ela voltou logo depois com o papel na mão.

— Beleza, deixa eu fazer... — Ela teclava no celular rápido, ficou quieta por uns segundos, enquanto fazia a porcaria do mapa. Os olhos arregalados olhando pro celular. — Nossa senhora...

— O que foi?

— Você tem ascendente em capricórnio e lua em virgem! — ela olhava pro celular com certo desprezo

— E isso significa...? — questionei, "nada, não significa absolutamente nada" pensei, mas vamos ver o que ela tem a dizer.

— Você é tipo, a pessoa mais metódica e certinha do mundo! — respondeu

Diana assentiu.

— Isso é verdade. — disse ela

Olhei pra ela com desdém.

— Até você, Diana?

Ela riu.

— E sua Venus ainda é touro, meu inferno astral! — reclamou — Jesus...

Sinceramente, pouco me importava aquilo.

— Mas ok, deixa eu comparar com o da Jade.

Ficamos em silencio por um segundo, enquanto ela mexia no celular.

— Espera ai, e você tem o mapa astral dela? — indaguei

— Obvio! — ela disse — Desde tipo, muito tempo atrás.

— ...Você é estranha — declarei, Diana passou o esmalte na primeira unha.

— Que seja — Deu de ombros — Vamos ver... A gente já sabe que os signos solares combinam, só falta o resto do mapa — ela mexeu no celular novamente — A Jade tem ascendente em libra, lua em touro, e Venus em escorpião, então... — parou por um segundo, comparando — Combinam!

— E qual o sentido disso?! — perguntei.

— Deixa eu explicar — Zoey começou — a Lua representa seu emocional. E a de vocês é touro e virgem! que são paraíso astral um do outro!

Paraiso astral, inferno astral, era cada uma que me aparecia.

— E a Venus de vocês é touro e escorpião, opostos complementares! — animou-se — Vocês são tipo, PERFEITAS! — gesticulou — Quer dizer, quase. A única coisa que não bate em vocês duas sãos os ascendentes, libra e capricórnio não combinam.

Pelo menos alguma coisa, pensei. Não que fizesse diferença.

— É que o ascendente em libra dela deixa ela mais tipo, solta, sabe? — explicou — Libra é um signo bem popular e sociável e tal, e capricórnio é todo tipo, introvertido e certinho.

— Isso não faz a mínima diferença — dei de ombros — eu não acredito nisso, é pecado acreditar em ocultismo. Olhar essas coisas de horóscopo, signo e tal. — expliquei — Só Deus sabe das coisas.

Zoey franziu o cenho. E revirou os olhos.

— Se você visse o quanto o mapa da Jade, por exemplo — disse ela — faz sentido, você acreditaria!

Com certeza — debochei.

— Serio! — ela exaltou-se — Vou te mostrar, por exemplo... — Começou, pensei. — o ascendente dela eu já expliquei, mas por exemplo, a lua! — explicou — touro é um signo bem comprometido, apegado a amigos, família e coisas do tipo. E ela é assim! Também mostra ciúmes e tal.

— Não acho a Jade ciumenta. — falei.

— Sei lá, você só nunca viu ela sendo — deu de ombros — eu nunca vi, também.

— Ai, esse é o problema de signo! — Falei — quando as coisas combinam, é tudo incrível. Mas quando não combinam, as pessoas só ignoram por que o resto "faz sentido" — fiz aspas com os dedos com uma das mãos secando.

— Nada a ver, a gente só nunca a viu demonstrando isso! — respondeu — alem de que... — ela se distraiu

— O que foi? — perguntei

— Seu cabelo 'ta bonito, o que você fez?

— Ah... — ok, eu não esperava por aquilo — ...lavei?

— Deixa eu fazer uma trancinha! — pediu

Encarei-a, ela me olhava sorrindo.

— 'Tá bom...

— Valeu! — Ela se ajoelhou, e começou a mexer em meu cabelo — onde que eu 'tava?

— Sei lá.

— Eu já falei sobre a lua e ascendente? — perguntou

— Sim

— Então tem a Venus ainda! — animou-se — a Venus dela é em escorpião, tipo. Ela gosta desses joguinhos de sedução que vocês duas tem, que você fala que não quer mas quer.

— Mas eu não quero! — menti, quer dizer, não sei. Nem eu sabia dizer o que eu queria.

— Esse é o espírito! — respondeu, engoli em seco. — Venus em escorpião é super intensa nas relações amorosas, e super protetores. — falou — Além de que escorpião é O signo da safadeza! Então já é melhor você ir preparando psicologicamente.

Revirei os olhos.

— Que nojo, Zoey! — reclamei.

Ela deu uma risadinha, Diana também.

— 'To quase terminando aqui... — Diana murmurou baixinho, concentrada.

— Basicamente é isso — falou — então, vocês super dariam certo!

"É, talvez." Pensei. A idéia de poder dar certo com ela me dava um aperto no peito. Eu sabia que não podia escolhê-la, eu também sabia que me culparia por isso pelo resto de minha vida. "Poderia ter dado certo" ecoaria pela minha cabeça, "Mas você não quis."

— Ai, é serio — falei, me sentindo mal novamente — não fala isso não.

— Porque?! — ela perguntou

— Tipo.... eu não gosto dela. Claro que não — notei que quase pegava em minhas unhas não secas — E mesmo se eu gostasse, eu nunca poderia ficar com ela. Isso nunca daria certo. Meus pais nunca me apoiariam nisso, eu ia estar completamente... — parei, notei que lagrimas começavam a surgir em meus olhos — ...sozinha.

Fez-se silencio por um instante, elas me encaravam.

— Você não 'ta sozinha, você tem a gente — Zoey respondeu

— Pois é — Diana completou

— Eu sei, eu sei. Mas... — falei, naquele momento Diana acabou de pintar minhas unhas. — É diferente.

Elas me olhavam, pareciam preocupadas.

— Olha... — Zoey ponderou — Eu sei que a gente não é sua família, mas não deixa de significar que a gente se importa com você — explicou — Você não 'ta sozinha, nem nunca vai estar enquanto a gente tiver aqui.

— É — dei de ombros.

— É serio!!!! — Zoey insistiu — você não pode pensar que 'ta sozinha, quando a gente 'ta aqui!!

— Verdade — Diana concordou

— A gente 'ta aqui, e sempre vai estar! — Zoey animou-se — Por que os amigos que você faz na faculdade, são pra sempre!

Sorri, Diana colocou a mão sobre meu braço acariciando-o.

— Obrigada — respondi, não tinha resolvido nada, mas mesmo assim. — serio mesmo.

— Por nada! — falou, entusiasmada — Agora um abraço!!! — Ela me deu um abraço por trás.

— 'Pera ai, não Zoey, não!! — tarde de mais, ela já me apertava. — Argh!

— Uhul! — ela me apertou mais forte.

— Sabe, Zoey. — falei, em uma tentativa falha de me desvencilhar dela — Você é minha relação mais estranha, as vezes eu te acho muito chata, e as vezes eu realmente gosto muito de você.

— Inferno astral, não falei? — Sussurou ela perto de meu ouvido.

Dei uma risadinha.

— Aham, 'ta bom viu. — debochei rindo.

Bem, ela tinha razão. Eu não estava sozinha. Meus amigos estavam ali comigo.

Mas meus pais não. Então não era suficiente.

Eu teria que contar a eles, e esperar o melhor. Sabendo que o melhor estava longe de ser bom. Eu nunca mais poderia ir nas festas de família, ou a igreja. Imagine que vergonha pro papai, o pastor da igreja, tendo uma filha lesbica. Nunca o deixaria em paz, sua vida seria um inferno, e a minha também.

"E que porcaria é essa?" Pensei "Eu só precisaria falar se eu realmente fosse lesbica, e eu não sou, claro que não." Pensei novamente.

Eu não sou lesbica. Repeti em minha cabeça. Não mesmo, nem um um pouco.

Certo? pensei.

Suspirei

Eu espero que sim.

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