Força e Razão - Degustação (...

By TayDuque7

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Força e Razão é o segundo livro de Orgulho e Ambição ________________________________________ A prepotência... More

Prólogo - Parte 1
Prólogo - Parte 2
Prólogo - Parte 3
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Ebook Orgulho e Ambição Grátis
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Retirada do livro Força e Razão no dia 10 de Janeiro

1 - Parte 2

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By TayDuque7

O loft que Miguel conseguiu para mim, localiza-se praticamente ao lado da Mazza Undertaking. O espaço é amplo, mobilhado. As escadarias que levam ao segundo andar é centralizada no meio da sala, em um formato perfeito de caracol. Na sala, há uma cozinha conjugada, com um balcão para as refeições. Admirei muito o sofá de duas peças reclináveis em frente a estante com uma TV de plasma e uma bancada com alguns bibelôs como enfeite. Não ligo para a decoração, só preciso de um banho e me sentir, mesmo que por um instante, um pouco de paz. Embora saiba que momentos de paz agora, não combinam com a situação em que me encontro.

Preparo um banho na hidromassagem para que possa me sentir um pouco mais relaxado. "Afogo" o meu corpo até a metade do meu pescoço, e passo a flutuar sobre a água, deixando com que a paz me envolva de modo que jamais seria possível.

O silêncio me agrada melhor do que imaginei. Consigo ouvir as batidas do meu coração. Estão fortes. O som da água pingando dentro da banheira me remete a uma paz ilusória que acabo mascarando, me blindando de alguma forma. Já me senti assim uma vez. Quando, na infância, papai prometia que ficaria comigo por um tempo, mas a verdade é que só havia ficado em casa, porque a reunião com os clientes e gerentes da Bank Mazza, fora transferida para lá. Eu me trancava no quarto, me perguntando se um dia eu seria o filho que despertasse a ele a vontade de companhia. Cresci em um ambiente onde todos me deixaram de lado, onde precisei me adequar e sobreviver. Precisei ser homem cedo demais, ou seria atropelado por uma manada enfurecida. Apenas pratiquei o que fui ensinado. Observando meu pai, analisando Jenson. Eram os meus professores, a única referência do que queria ser, porém inescrupulosos demais ao ponto de eu odiá-los com a mesma força.

O meu celular começa a tocar, descansando nas bordas da banheira. Pego meu Xperia à prova de água, verificando em quem ouse a perturbar meu momento de inércia. Não me admira o nome que encontro no visor. Mamãe adora abalar os meus nervos sempre que quero desconectar.

"Fala." meu tom é neutro, por mais que eu queira soltar os cachorros.

"Não sei porque ainda espero que me trate como mãe, sempre que falo contigo. Mas tudo bem, não é sobre isso que estou ligando." Claro que não é sobre isso, apesar de Nicole sempre querer me "educar" quando a trato de uma forma que não lhe agrada. Parece conveniente agora que sou um homem autossuficiente. "O apartamento está fechado. Miguel disse que você saiu mais cedo da Mazza Undertaking. Isso não é normal, o que está acontecendo, Greg?"

Fico me perguntando quantas vezes vou ouvir a mesma pergunta, de diferentes pessoas, por dias incontáveis. Elas vão notar, vão saber o que houve entre minha mulher e eu. Saberão que meu casamento está com dias contados. Sou incapaz de contornar por muito tempo. Sou incapaz de aceitar o que está acontecendo. Mas se tem uma pessoa que eu não contaria para falar a respeito da minha briga com Tess, esse alguém é Nicole. Falar com ela a respeito disso, só servirá para que ela use tudo contra mim. Esfregaria na minha cara todas as suas razões, como se tivesse alguma. Usaria para me humilhar, como sempre fez.

"Você foi na minha casa? Depois do show que fez no seu último encontro com a Tess? Francamente, mamãe, você não desconfia."

"O show que eu fiz? A bofetada que sua mulherzinha me deu no meio da cara, Greg. Não sei onde eu errei com você, mas isso tem que acabar. Deixa aquela mulher fazer tudo com você. Parece que não aprende, Greg! Você já é um homem e não um menino chorão." Me remexo dentro da banheira, sentindo os meus nervos entrarem em ebulição. O vitimismo de Nicole é algo que não tolero ainda mais para me colocar na posição de vilão, ou mau filho. Sendo que ela não moveu nenhuma unha para ser uma boa mãe. Sempre me pôs como o culpado de tudo. O incapaz que não sabe dar um passo sem fazer algo errado.

"Pra que você ligou, hein Nicole? Pra encher a porra do meu saco, ou tem algum proposito pior que eu não saiba? Vindo de você, posso esperar qualquer coisa." O suspiro fatigado da minha mãe, mostra o seu cansaço infinito em lidar comigo. Fato que infelizmente não tenho controle, já que não consigo ser diferente com a minha própria mãe. Eu conheço o caráter dela. É justamente por conhecê-la que a repudio tanto.

"Eu já disse, estava preocupada. Quero saber onde está. Há um clima estranho por aqui, seu pai e seu irmão viajaram pra Nova York, já tem algumas semanas. Fiquei sabendo que Stephen também está lá. Eu posso ser tudo, Greg, mas não cega. Tá na cara que está acontecendo alguma coisa. Alguma coisa me diz que eu preciso lhe avisar. Você é sempre descuidado demais com as intensões dos outros a seu respeito, meu querido. Como sua mãe, preciso cuidar de você. Insisti que você se aproximasse do Crow quando ele voltou a Miami, justamente para você conhecer de perto as verdadeiras intensões dele com um retorno. E deixar claro para todos que vocês eram melhores amigos, para que não houvesse dúvidas do que poderia acontecer. Mas você não me ouve! Preferiu agir com um fraco desequilibrado, que parte para briga na primeira oportunidade." Fico enojado ao ver o quanto Nicole é dissimulada. Ela faz de tudo para me induzir a ser como ela. Falso, sem escrúpulos. Mas se tem uma coisa que posso dizer ao meu favor, é que não sou. Por anos me esforcei a não ser igual a ela.

"É incrível a facilidade com que você expõe suas maldades, Nicole. Faz isso sem remorso. Cuidado para não morder a língua, vai acabar se matando com o próprio veneno qualquer dia desses." Meu alerta debochado a faz silenciar. Os anos me tornaram frio com ela. Um mecanismo de defesa, que aprendi a impor para o meu próprio bem.

"Minha nossa, Gregory! Como você pode ser tão imbecil? Eu acabo de te dizer que seu pai, seu irmão e aquele miserável podem estar se reunindo contra você, e é assim que me agradece? Você vai perder tudo que conquistou, seu idiota, depois não diz que eu não avisei." Seu drama não me abala. Ainda sinto uma pontada de incomodo por tratar minha mãe assim, mas ela apenas colhe o que plantou a vida toda.

Ela nunca se importou com os meus sentimentos. Mesmo eu tendo o seu sangue, nunca hesitou em me usar para alcançar apenas seus interesses egoístas. Não ficou ao meu lado quando Jenson e meu pai se reuniram para me manter fora de seus planos, por acreditar que permanecer ao lado dos vencedores a beneficiaria. Sempre me culpou por tudo de errado que aconteceu na vida dela. Como se eu tivesse a forçado a se envolver e trepar com um homem casado. Tudo pela ganância de prender um homem mais rico. Mas não há muito que eu possa fazer! Sendo perversa ou não, Nicole continua sendo a minha mãe. É uma verdade que sou obrigado a aceitar, mesmo com repulsa. Se tem algo que posso dizer a favor de Nicole, é que ela sempre me alertou sobre os Crow. Mesmo com seu jeito asqueroso em me falar sobre quem eles realmente eram, nunca acreditou na possibilidade dos Crow estarem no mesmo nível elevado que o meu. O que me causa mal estar, pois a respeito deles, sou obrigado a concordar, apesar de eu não dá o braço a torcer. Realmente o meu mundo está virando de ponta cabeça e mal sei como reverter.

"Deve ser coincidência, mãe. Stephen tem uma empresa em Nova York, meu pai e Jenson sempre viajam juntos quando lhes convém. Se realmente estivesse acontecendo alguma coisa, você acha que precisariam viajar para tão longe? Em Miami há vários lugares onde possam se reunirem em seus ninhos de cobra para tramar algo contra mim." Não quero dizer nada para minha mãe do que está acontecendo. Eu também não sou cego e pelo andado da carruagem, sei que os três estão contra mim. Porém não confessaria nem sob tortura, até o último momento.

"Não gosto quando trata seu pai e seu irmão desta forma, Greg, mas posso compreender. Só quero que saiba que sou sua mãe e não sua inimiga. Quando todos virarem as costas pra você, eu vou estar ao seu lado no final das contas." Tento segurar o riso, mas não consigo. Nicole acaba de contar a piada da noite. Eu bem que estou merecendo rir mesmo.

"Conta outra, mamãe. Desde quando se importa comigo? Já disse que estou bem. Estou fora por alguns dias, Tess provavelmente está na casa do pai. Não precisa quebrar a cabeça para tentar desvendar um mistério onde não há. Poupe os seus esforços. Vá até uma boutique e faça algumas compras. Não é assim que ocupa os seus dias?" Nicole faz um som deprimente do outro lado da linha. Se sabe que certamente irá ouvir o que não quer, porque raios insiste em me ligar?

"Um dia, não sei quando, mas um dia, você vai perceber que tudo que fiz e faço é porque amo você, Greg. Você é o meu único filho e eu o amo. Sou cheia de defeitos, eu sei, mas isso não muda o fato de querer o melhor pra você." Palavras, dramas, sentimentos forçados. É o que compõe a personalidade controvérsia de Nicole Stanford Mazza, mas ela sabe muito bem que não me convence.

"Tudo bem, mãe. Vou esperar esse dia chegar sentado." Desligo o celular e volto a minha inércia.

Seja lá o que Stephen, meu pai e Jenson estejam tramando contra mim, acaba de ser perceptível até mesmo para a minha mãe. Eu tenho que dá um jeito nessa conta em Bahamas o mais rápido possível, antes que o circo pegue fogo e consuma toda a festa. Me sinto vulnerável e eu detesto me sentir assim. Gosto de manter controle na minha própria vida, embora saiba que esse desejo se tornou insignificante. Lutei muito para conseguir me estabilizar. Fazer com que todos parassem de me pisar e me usar para conquistar algo. Finalmente me tornei alguém. Maior do que todos aqueles que um dia me afligiram. Não irei suportar perder minha estabilidade e voltar a ser o merdinha ingênuo que era antes.

Meu estado deprimente acaba de acabar quando lembro que tenho mais uma carta na manga.

Visto somente uma bermuda de dormir, sem camisa, após sair do banho. Preciso fazer uma ligação urgente.

A lista da minha agenda sugere o número que preciso, com eficácia. Espero até o segundo toque para ser atendido.

"RoadCopper, Magda Moore, em que posso ajudar?" Me sirvo de um Smirnoff que encontro da geladeira enquanto falo com a secretária de Conrad Howell.

"Mazza, dono e presidente da Mazza Undertaking. O seu chefe está?"

"Irei transferir agora mesmo, Sr. Mazza, só um minutinho."

Enquanto a secretária simpática transfere a minha ligação, bebo um gole da minha bebida tranquilamente. Se há uma pessoa que pode me ajudar com o caso Crow, esse alguém é Conrad Howell. O cara pareceu bastante interessado nas minhas inúmeras propostas de parceria, recusadas pelo seu superior tantas vezes. Howell me parece ser bastante ambicioso, e nem um pouco contente com o cargo que Stephen possui, que segundo ele mesmo disse, o moleque é inteligente, mas não experiente o suficiente quanto eu. Não aceita até hoje que o falecido conhecido do meu pai, Benjamin Copperfield, colocou o corvo como presidente em seu lugar. Pois segundo ele mesmo, vivera anos ao seu lado, dedicando-se, provavelmente o bajulando para que pudesse enfim, tomar o seu posto de direito.

Conrad é o típico invejoso revoltado, que faria qualquer coisa para tirar Stephen finalmente do seu caminho. Definição que não se enquadra a mim, pois eu tive meus motivos. E me aproximar de pessoas assim é o que preciso. Nada tira da minha cabeça que Stephen quem foi o pivô... A intriga que impulsionou Tess a trilhar o caminho certo até o meu cofre. Tess nunca foi capaz de invadir a minha privacidade desta forma. Nunca se mostrou desconfiada com o que guardo no meu cofre. De uma hora para outra a minha mulher tem interesse em bisbilhotar? Aposto que não foi uma atitude vinda dela. Tess pode não ser boba, mas sabe ter respeito.

Se Conrad quer tanto o cargo de Stephen, como aposto que quer, ele deve estar de olho no infeliz, deve monitorar os seus passos, esperando uma única falha de sua parte para que pudesse tomar as rédeas da situação. Investigar cada movimento, afim de encontrar alguma coisa que o fizesse perder o seu posto. Conheço esses tipos. Igual Conrad, já conheci vários que costumavam rondar o meu pai com a esperança de se beneficiar, mas sempre terminavam sendo passados para trás pelo impiedoso Isaac Mazza. Ter poder, é como um leão usufruindo da caça conquistada. Há uma fera destemida que batalhou para ter aquela caça, mas abutres e hienas famintas sempre ficam à espreita, esperando a hora certa para saciar-se com alguma sobra. Conquistas e sucesso atraem invejosos. Não é difícil encontrá-los, nem saber como agem. Stephen já se atreveu a contar a Tess sobre Lino, não hesitaria em contar todo o resto, caso ele tenha descoberto. Preciso de uma única confirmação que ligue Stephen a minha esposa nesses últimos três meses. Período este que Tess praticamente virou outra pessoa.

"Mazza!" O tom animado da voz do coroa de cinquenta anos é favorável. Sinal que esteve esperando pela minha ligação. "Pensei que estivesse esquecido de mim! Fazia algum tempo que não ligava com interesse em negociar. " Dou uma risada astuta. Me escoro em um móvel, e com dois dedos seguros no gargalo da garrafa, entono mais um gole. Quem diria que importunar Stephen com propostas de aliar a RoadCopper a Mazza Undertaking, sabendo que ele não aceitaria, me renderia uma vantagem futura?

"Quando suas propostas são negadas várias vezes você acredita que os interessados não estão tão interessados assim. Isso faz você mudar suas prioridades." É vez de Conrad ri.

"Pensei que não desistisse tão fácil, Mazza. Um homem como você desistindo de um negócio? Confesso que esperava mais."

A decepção de Conrad só mostra o quanto está desesperado com o meu modelo de comércio. Ele bem que ficou animado sempre que um e-mail lhe era enviado. Quando fiz minha primeira ligação, eu tinha a intenção de perturbar Stephen o quanto podia. Esfregar na cara dele que tinha tomado posse do que queria. Como Nicole, Jenson e todos os outros que cruzaram meu caminho, Stephen desejou me usar para subir na vida. Sair daquela miséria como se eu fosse o seu suporte. Tomou de mim a vida que eu planejava, muito antes de achar que eu havia tomado a dele. Me fez ter que abrir mão de tudo que sempre sonhei. Então mostrei para ele que não é tão simples assim. No final das contas, Crow conseguiu o que tanto desejava, mas fiz questão de mostrar que não foi bem do jeito que planejou. Ter herdado a fortuna de um velho graças ao golpe do baú dado pela mãe. Não funcionou com meu pai, então Savannah não perdeu tempo para fisgar o primeiro velho idiota que apareceu. Hum! Minha vida toda fui cego e ingênuo para não notar as aves invejosas e agourentas que eram. Colher migalhas deixadas pelos outros é bem típico de corvos desgraçados mesmo.

Talvez Conrad enxergasse como todos em sã consciência enxerga. Que o projeto é um bom plano para consolidar de vez uma grande empresa. Exatamente por isso achei por bem chegar no vice-presidente primeiro, já que Stephen recusaria apenas por ouvir meu nome. E um homem como Conrad, que está de olho em seu cargo, é o modo mais fácil de derrubá-lo.

"Não desisti, apenas mudei as minhas prioridades. Sabe como é? Outros empresários bem mais decididos fizeram a minha proposta acontecer. Não pude perder tempo e muito menos grana." Ele estala a língua, entendendo a minha decisão.

"O Crow ainda tem muito o que aprender. Ele pode ter alavancado o capital da RoadCopper e tê-la expandido, mas precisa ser menos cauteloso. Precisa saber que arriscar algumas vezes vale a pena. Não é nem um pouco ambicioso, acha que os negócios são movidos apenas com o que temos nas mãos. Mas às vezes temos que pensar um pouquinho além."

Conrad fala como se expandir uma empresa do porte da RoadCopper fosse tarefa fácil. Mas entendi qual sua jogada. Ele gosta de desmerecer o Stephen. Bem, se seu hábito é este, não sou eu quem vou corrigi-lo.

"Dê um tempo a ele, Corand. Sr. Crow está começando sua vida empresarial, teme pelos riscos dos negócios. É bom ser cauteloso, isso só mostra o quanto o dono da RoadCopper tem cuidado onde pisa. Um pouquinho de precaução não faz mal a ninguém." Até porque, a recusa de Stephen é bem compreensiva, já que eu sou a razão a qual o faz temer se arriscar. Meu discurso de duplo sentido faz Conrad pensar.

"A precaução que demostra ter é além da conta. Stephen perde oportunidades porque as julga desnecessárias. Mas se tem uma coisa que aprendi em todos esses anos é que o risco que cometemos pode ser a chave que nos leva adiante. Ele é muito novo pra entender isso." Sua insatisfação só me prova o quanto cruzei a linha certa. Conrad é definitivamente a arma que preciso para reverter o meu jogo.

Por muitos anos entendi que os ricos é que nos leva a alcançar nossos objetivos. Meu pai foi meu mestre nisso. Mas atualmente, experimento da pior forma que tais riscos podem nos levar a ruína total sem dar o menor tempo de piscar.

"Posso concluir que está mesmo interessado no Roleta Russa? É uma pena que nem passe pela cabeça do Crow. Faríamos um ótimo acordo, pode ter certeza." O som que sai da garganta de Conrad me faz rir em deleite. É lamento, frustração.

"O Crow pode ser metido a sabichão, mas não é burro ao ponto de recusar a sua oferta. Estive conversando com ele quando voltou a Nova York. Está decidido, não quer se meter nos seus negócios. Chega a ser uma ofensa mencionar o seu nome. Então, pensei: 'O que leva um cara da índole de Stephen Crow recusar uma ofertar baseada no simples fato das nossas empresas já praticamente fazer a mesma coisa? Sabe qual é a conclusão que cheguei, Mazza?" Relaxo os meus ombros. Coloco a garrafa em cima do móvel, me preparando para o que fosse.

Stephen não contaria nada a ele sobre a nossa rixa. Ele não parece confiar no Conrad. O babaca do Ian pode estar a par, já que é o cachorrinho dele, mas não o Howell. Nem mesmo a nossa briga patética no evento beneficente virou manchete de jornal, já que foi ofuscado pelo o lamentável incidente. Se ele souber de algo foi por meio de tal investigação que torço que ele tenha feito. O que me deixa agora praticamente nas mãos de Conrad. Porém sei como me sair.

"Não, Conrad, não sei. Me diz você." A risada dele começa a me irritar. É incrível como algumas pessoas têm o poder de testar os meus nervos com um simples gesto involuntário.

"É aí que tá, Mazza, eu não sei. Não cheguei a nenhuma conclusão. O que torno o assunto muito mais intrigante." O velho quer o cargo de Stephen, mas não é inteligente o suficiente para conquistar o que deseja. Passei a perna em Stephen uma vez, é o meu trunfo quando percebo que um mero vice-presidente não é capaz de fazer durante tantos anos. "O Crow não me apresenta uma logística que me leva a crer que o seu modelo não seja útil, ele simplesmente nega o tempo todo, sem nenhuma base aparente, o que não é do feitio dele. Um capricho. É de se desconfiar, não é mesmo?"

O caminho que encontra para desvendar este mistério é de um amador evidente. Conrad é um amador e isso fica bem claro para mim. Vai ser bem fácil reverter esse jogo usando uma peça importante dentro da RoadCopper ao meu favor.

"É como você mesmo disse, Howell. Stephen se acha sabichão demais, e tem uma ideia formada de que pode manter sua empresa funcionando graças a sua genialidade. Mas você sabe, assim como eu sei que dinheiro nunca é demais. Continue pressionando o seu chefe, fale com os outros sócios, quem sabe ele acaba te escutando. As portas da Mazza Undertaking vão estar sempre abertas para vocês."

Conrad solta o ar pelos dentes como se estivesse se preparando para sentar em algum lugar. A risada esganiçada, faz com que eu deseje atirar o celular pela janela, mas preciso manter aquela conversa o máximo que eu puder até obter o meu objetivo.

"Stephen não para mais na empresa. É sempre correndo de um lado para o outro. Outro dia soube que ele esteve conversando com o seu irmão em um bar. Ouvi a ligação da secretária de Crow e Jenson Mazza – que pouco depois descobri ser seu irmão – marcou de encontrar com ele longe da RoadCopper, em um bar onde meu filho costuma jogar sinuca com os amigos. Sinto muito, mas preciso manter os olhos bem atentos em Crow, para me certificar que anda fazendo um bom trabalho." Sua justificativa patética é um tanto ridícula. Não é para obter benefícios à empresa que Conrad o espiona, é para obter benefícios próprios. Isso me leva a crer que eu tinha razão. E saber que Jenson esteve mesmo se encontrando com Stephen torna ainda mais as minhas suspeitas produtivas. "Meu filho viu o seu irmão entregar a ele uma pasta marrom. Uma pasta um tanto suspeita. Stephen se recusou a aceitar, mas acabou aceitando. Fiquei imaginando qual a diferença de você para seu irmão, se ele finalmente fez um homem como Stephen mudar de ideia, mas então – após uma rápida pesquisa – vi que Jenson Mazza não tem nenhuma ligação às suas empresas. Não era sobre o Roleta Russa, tampouco de interesse da Mazza Undertaking, ele estava lá por interesses pessoais. Não entendi o motivo do encontro, mas estou certo que algo muito estranho está acontecendo."

Caminho devagar até o sofá e me sento nele. Uma perna cruzada em cima da outra e o braço esquerdo tomando o encosto do sofá. Conrad pode estar completamente perdido nesta trama, mas é bem óbvio para mim. Na última vez que foi ao meu escritório, Jenson esclareceu algo que eu já desconfiava: ele estava me investigando. O jeito sorrateiro, irônico e cheio de metáforas do meu repugnante irmão, não poderiam significar outra coisa. Ter transformado o Roleta Russa em um esquema de pirâmide, nunca me impôs medo. Eu lucraria muito mais do que estava ganhando nos dois primeiros anos que pus as ideias do pen drive em prática. Tinha certeza que jamais alguém desconfiaria, pois maioria dos meus clientes, tinham contas no banco do meu pai. O esquema administrativo que remete ao início do século XX, usado no Bank Mazza me encobriria facilmente. Meu pai não utiliza meios eletrônicos e digitais nos registros de dados das contas de seus clientes, é tudo documentado em papéis, apenas o saldo final sendo debitado em caixas eletrônicos. A desculpa de Isaac, de que seu modelo antiquado é apenas para evitar a invasão de hackers, além de servir para enganar centenas de otários, ainda camufla os desvios de dinheiro que de vez em quando ele costumava fazer. Se esforçar para manter este sistema em seu banco, esconde o passado sórdido do poderoso Isaac Mazza. Passado que conheci, apenas quando perdi a presidência da Bank Mazza para o Jenson. Foi quando não quis mais fazer parte daquela família. Me causava asco apenas em lembrar que o sangue deles também corria em minhas veias. Mas não demorou para eu devolver tudo que me causaram. Eu sou um Mazza! Eles sempre me trataram como lixo, como a escória da família, mas me tornei maior que todos eles juntos. Foi fácil para mim esconder e camuflar todos os cálculos que adulterei, dos associados do Roleta Russa que tinham conta no Bank Mazza. Os golpes passados do meu pai, encobriram muito bem o meu golpe. Bastava adulterar algumas papeladas e tudo estava resolvido.

Porém, com Jenson me farejando e questionando alguns dos meus clientes a respeito dos lucros que estavam recebendo, fui obrigado a mudar de tática. Parei de desviar centavos e criei a conta sem nenhuma ligação com meu nome. Todos acreditam que meu sentimento por Tess é forte demais, a ponto de eu arriscar metê-la em meus negócios. Meus sentimentos por minha mulher são sinceros. Ela foi a única pessoa que conheci, que nunca tentou tirar benefícios de mim. Se entregou a mim em todos os sentidos sem pedir nada em troca, querendo apenas o meu amor e, de bom grado, foi algo que sempre lhe dei; Amo minha rainha mais do que amei qualquer outra pessoa na vida, mas tê-la como laranja do meu esquema seria o disfarce perfeito. O resort era apenas mais um, entre tantos mimos que sempre presenteei a minha esposa. Agora as provas, que Jenson só pode ter reunido investigando as transações das contas dos clientes do Bank Mazza, estão nas mãos do corvo filho da mãe. Meu irmão realmente teve coragem em quebrar um sigilo bancário só para poder me ferrar, tramando ao lado de Stephen, no intuito de fazer Tess confiar totalmente em sua palavra e descobrir o que ando armando. Não subestimo Jenson sobre até onde ele é capaz de ir para me ver destruído. Mas se ele fez algo ilegal no Bank Mazza, seria a carta que eu teria na manga para ser usada contra o meu 'querido' irmão.

"Não sabia que Jenson e Stephen tinham assuntos em comum. Me parece ser bem curioso, eu concordo. Conheço a pasta marrom em questão. São nelas que as contabilidades dos clientes da Bank Mazza são guardadas. Mas o que o seu chefe teria interesse em um assunto como esse é que não está claro. Stephen esteve em Miami nesses últimos meses. Acha que quer abrir uma conta no banco do meu pai? Porém creio que os procedimentos são outros. Revelar uma contabilidade para um desconhecido em um bar público me parece fora de ética."

Aguçar o interesse em Conrad em acabar com Stephen veio muito a calhar. Esta conversa cada vez fica melhor. Não pensei que seria tão fácil assim.

"Pasta da contabilidade da Bank Mazza? Por qual motivo Stephen queria algo como isso?" Há um breve silêncio até ele voltar a falar. "Nossa! Confesso que não esperava por isso." Abro um sorriso envaidecido.

"Não esquenta, Howell. Com certeza eu me enganei. Há várias pastas marrons por aí, por qual motivo tem que ser justo uma pasta importante como esta? Creio que não há nenhuma relação, fique tranquilo. Apenas pensei alto sem querer."

"Não, não, Gregory! Stephen anda muito estranho desde que voltou de Miami, é o tempo todo grudado no celular. O dia todo trancado em sua sala mexendo naquele notebook. Não tem participado das conferências e reuniões com a devida atenção, chega ser vergonhoso. Não é apenas eu que estou percebendo que ele está mudado, alguns acionistas têm comentado comigo a respeito. Bem que eu desconfiei que estava tramando alguma coisa. Acha que essa pasta do Bank Mazza pode ser uma prova contundente que Stephen Crow pode não ser tão bonzinho assim? Sempre soube que não se deve confiar em pessoas que se dizem bem intencionadas. Benjamin arriscou muito entregando de mãos beijadas o seu patrimônio." Por mais que se demostre apreensivo, a notícia veio como a solução dos problemas para Howell. Se eu pudesse vê-lo tenho certeza que veria seus olhos vibrarem de felicidade.

"Eu não acho nada, apenas deixei escapar o que conheço do banco do meu pai. Não afirmei coisa alguma, você é quem está tirando suas próprias conclusões. Já trabalhei algumas vezes com a pasta em questão. Meu pai não gosta muito de programas de computares, ele prefere tudo em mãos e guardados, porque assim tem o controle manual de todos os seus interesses. Um hábito que Jenson acabou adquirindo. Porém, como eu disse, pode ser apenas coincidência. Meu irmão jamais colocaria em risco a reputação do banco da família para se aliar a alguém. Não acredito que faria isso, por tanto esquece o que eu disse."

"Coincidência nenhuma! Stephen Crow nunca me enganou. Eu sempre soube que não fosse tão honrado assim. A mãe dele deu o golpe do baú no Benjamin, não é mesmo? Meu faro nunca falha. Você acaba de abrir os meus olhos em relação a índole de um homem que entrou de paraquedas nas empresas. Há pessoas antigas na Roadcopper que ainda suspeitam da forma que a mãe e ele herdaram toda a fortuna de um velho solitário, cheios de problemas de saúde. Stephen e a mãe já provaram uma vez que sabem ser oportunistas. E você precisa abrir os olhos em relação ao seu irmão, Mazza. O que ele está fazendo é ilegal. Não vou deixar que Stephen continue com isso, eu devo agir."

Bingo! Cheguei onde queria. Coloquei Conrad contra Stephen e ainda sai como o bom samaritano da história. Se acabar ferrando o Jenson no processo, me pouparia trabalho. Dois coelhos sendo mortos em uma única cajadada. Uma oportunidade perfeita.

"Pera aí, Corand, o que pretende fazer? Eu tenho uma reputação a zelar. Não afirmei nada, apenas supôs. Está se precipitando e ainda me colocando em uma posição ruim diante da minha família." Torço muito que o meu dramalhão não o faça mudar de ideia. Mas conheço gente como Howell, agarraria a chance sem olhar para trás. Pelo que percebo é a única viável que encontrou para fazer os seus interesses dar certo.

"Vou reunir o conselho, irei comunicar ao pessoal que ficaram do meu lado quando mencionei o Roleta Russa. Aqueles homens pensam como eu, acham que Stephen peca muito por pensar demais. Se eles souberem o que Stephen está tramando vão ficar do meu lado. Não se preocupe, não te envolverei nisso, e ainda vou dar um jeito de não envolver o seu irmão. Apenas quero levantar a dúvida, e deixar que os acionistas tirem suas próprias conclusões."

A determinação de Conrad é tão inspiradora que não ouso a interromper. Deve ser porque não quero mesmo interromper. O homem trilhou no caminho onde o coloquei. Fora manipulado por mim brilhantemente. A minha lábia para ludibriar as pessoas certas nunca falhou. Este gostinho de dever cumprido é bom demais.

Depois de desligar o telefone com o Howell, jogo-me satisfeito no sofá. Estava certo em pressentir que Stephen continua armando contra mim. Mas diferente de Conrad, eu sei contra quem estou jogando. O corvo não joga para perder. Nunca compra uma briga se não tiver a certeza que pode ganhar. Essa característica dele permaneceu intacta através dos anos. Entretanto, ele sabe que meu plano de jogo é analisar as armas do inimigo, para reunir munição para um ataque e defesa mais pesado. 

Procuro o Instagram do Crow. Faz um tempo que percebi que ele vem seguindo e curtindo as postagens de Tess. Entro em sua caixa de mensagem. Se é para provocar, faria em grande estilo.

Digito as palavras freneticamente, sem abandonar o sorriso no rosto. Sorriso de dever cumprido.

"Ei, corvo. Parece que as coisas vão ficar ruins pro teu lado."

Envio a mensagem.

_______________________________

Oiiiiii, que saudades de vocês!!!! Sentiram saudades dos nossos amores? Eu muito mais, não tenha a menor dúvida disso. 

Olha, as postagens vão continuar, mas em breve estará na Amazon. Então corram, que é por pouco tempo. <3 

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