Acordei atrasada como sempre, tomei um banho rápido e desci. Hoje era a folga do Will, ele estava tomando café com minha mãe e Megan.
― Bom dia! ― ele disse alegremente.
― Bom dia ― respondo. Me sentei e comecei a tomar suco com bolacha, enquanto me concentrava na cor da parede, é uma bela cor, mas preto com certeza ficaria bem melhor.
― Já vou indo. Tchau, pai ― Megan disse e se levantou enquanto pegava sua mochila que estava no balcão da cozinha.
― Não vai esperar a Mand? ― pergunta seu pai enquanto olhava para mim e para ela.
― Não, eu preciso ir.
― Espere a Mand ― disse e voltou a tomar seu café, era sua última palavra.
― Ninguém merece ― resmungou a garota e seu pai fingiu nem escutar.
Terminei de comer, peguei minha mochila e fomos para fora. O ar gelado me torturava um pouco, apesar de eu estar com uma de minhas blusas de frio mais grossas. Hoje a rua estava totalmente movimentada, talvez seja por conta do horário.
― Vamos chegar atrasada por sua culpa ― disse revoltada, me fazendo parar de olhar o movimento da rua e olha-la.
― Não pedi para me esperar.
― Mas meu pai sim.
― Estou nem ai ― digo e coloco as mãos sobre os bolsos da blusa. Parecia que nem isso estava adiantando, meus dedos estavam para congelar.
― Idiota. ― Ela revira os olhos.
― Para com isso ― digo. ― Vai ficar assim comigo até quando? Eu já pedi desculpas.
― Tem coisas que não se resolvem com desculpas.
― O que quer que eu faça? Eu já não sei mais o que fazer.
― Não quero que você faça nada.
― Você é muito chata ― digo com a voz um pouco mais alterada.
― Essa fala é minha. ― Megan riu-se com o que disse, ou talvez com o fato de eu estar brava já.
― Ah, cala a boca.
― Desculpe pela Liv ― disse abaixando o olhar. Diferente de mim ela não estava nem um pouco se importando com o frio.
― Ela é uma chata, como era amiga dela?
― Comigo ela era legal.
Não posso acreditar que a Liviane é legal com alguém, não que eu a conheça, mas o pouco que vi dela, mostra o quanto ela só se importa com ela mesmo. Não dá para acreditar nisso.
― Serio? ― perguntei quase rindo do que Megan acabara de dizer.
― Sim. Ela me ajudou a me reerguer quando ninguém gostava de mim. ― Megan sorriu. ― Eu não tinha ninguém, tive que deixar as pessoas que eu gostava no antigo colégio. E quando cheguei, Liviane me fez ser alguém. Ela e... não importa.
― Ela sabe tudo?
― Tudo.
― E o que deu nela então? ― questionei.
― Ciúmes.
― De você? ― perguntei.
― Talvez. Mas é mais do Luke. Ela não admite perder.
― Você e o Luke...? Eu achei que você gostasse do Marcus...
― Não, não ― disse abanando as mãos, como se ela e o Luke fosse algo totalmente estranho de se pensar. ― Você e o Luke.
― O que tem eu e o Luke?
― Nunca reparou? ― Ela olhou pra mim e riu como se não acreditasse que eu estivesse tão perdida assim.
― Reparar o que?
― O jeito como ele te olha ― disse. ― Ah e você também olha pra ele. Não venha me dizer que os olhos de Amanda Swain não brilham por ele.
― Ele é um idiota. E não, meus olhos não brilham por ele. Para com isso, e não me chame de Amanda ― digo alterada novamente por ter essas calunias sobre mim.
― Ele não é um idiota, na verdade Luke é um dos melhores garotos que já conheci.
― Liviane é legal, Luke não é idiota. Você bebe? ― perguntei rindo e ela me deu um empurrão de leve e começou rir também. Percebemos que estávamos na frente do colégio, entramos e fomos para a sala, a professora de Matemática não nos deixou entrar, ficamos no pátio conversando. Logo o Marcus se aproximou de nós.
― Já voltou a falar com ela? ― Marcus pergunta.
― Já sim ― responde e ele senta perto dela colocando seus braços por trás de sua cabeça.
― Oi, sou o Marcus ― disse e sorri. Ele era encantador olhando assim, mas ele parece aqueles BadBoys idiotas, como o Luke. Talvez um pouco menos idiota.
― Prazer, Mand.
― O prazer vem depois ― disse e eu começo a rir tentando não parecer estar envergonhada.
― O que é isso? ― Megan pergunta.
― Só estou brincando amor ― disse e dá um beijo leve nos lábios dela.
― Vocês...? ― pergunto.
― Sim. Ela realmente descobriu que me ama.
Um sorriso um tanto débil surgiu nos lábios dele, e ali percebi que ele realmente gostava dela.
― Nunca disse que te amo ― ela disse e começou a rir. ― Brincadeira. Eu te amo ― murmurou e deu um selinho nele.
― Vai a festa amor? ― ele pergunta.
― Não ― disse.
― Por que não?
― Eu não posso, Marcus. Eu já te disse umas quinhentas vezes. ― Pelo tom de sua voz percebi que ela estava irritada, talvez por estar cansada de dizer isso a ele.
― Sempre assim, você nunca pode nada.
― Você sabe como é meu pai, ele não me deixa ir nem na esquina direito, imagine em uma festa.
― Tenta pelo menos.
― Eu vou tentar. Mas não prometo nada.
― Claro. ― Ele a beijou e ela retribuiu e eu segurando vela... obvio.
― Então né... ― disse Luke se aproximando.
― Sempre chega na hora errada ― disse Marcus dando um soco de leve nele.
― Oi Megan. ― Ele deu um beijo na bochecha dela e sorriu com isso. Virei o rosto e abaixei um pouco para ele não me ver, o que foi totalmente em vão.
― Ah, a dramática está aqui ― disse e eu reviro os olhos.
― Para de implicar com a garota ― disse Marcus dando um tapa na cabeça de Luke.
― Não estou implicando com ela. ― Ele mordeu seu lábio. ― Vocês vão a festa?
― Megan vai tentar ir, mas irei sim ― Marcus disse. O olhar penetrante no rosto de Megan fez ele se assustar um pouco e depois rir desconcertado.
― E a.... Mand, certo? ― O garoto de olhos verdes me fitou. Arquei minha sobrancelha um pouco me questionando o que isso importa ou deixa de importar para ele. Mesmo sabendo que nada, respondi:
― Não, não vou.
― Devia ir ― disse. ― É a melhor festa de todas, pelo menos é o que todos esperam desse ano.
― Não, eu não devia. E não me importo com o que ela deixa ou não de ser.
Luke sorriu e se aproximou de mim, seu cheiro era tão bom, e o fato dele estar assim tão perto de mim me deixava nervosa. Coloquei a mão em seu peitoral o afastando de mim, mas não consegui nada com isso, ele é mais forte que eu, isso é obvio.
― Vou estar te esperando ― sussurrou bem próximo de meu ouvindo, pude sentir meu coração acelerando e por um momento perdi a fala.
― Espera deitado ― murmurei após me recompor. O empurrei mais forte e bateu o sinal, e fomos para a sala. Não estávamos a fim de passar mais uma aula no pátio.
Me sentei ao lado da Anne.
― Se resolveu com ela? ― perguntou.
― Sim ― murmuro.
― Hum ― disse e percebo seu tom distante. Ela estava com ciúmes?
― O que foi?
― Agora não precisa mais de mim. ― Do jeito como ela disse, parecia que eu não iria mais falar com ela ou algo do tipo, o que me fez rir.
― Não precisa ter ciúmes, sua ciumenta.
― Eu não estou com ciúmes.
― Você é importante para mim ― digo.
― Não parece ― resmunga.
― Quer que eu prove? ― Sorri e virei um pouco a cabeça a encarando, para deixar bem claro que eu realmente provaria.
― Não ― respondeu rudemente. ― Melhor prestar atenção na aula.
Olhei para a frente e não falamos nada uma pra outra. Era aula de Geografia, tinha um trabalho em trio. Megan sentou-se com nós e os olhares delas se cruzaram, e nenhum "oi" saiu de suas bocas.
― Essa é a Megan ― digo tentando quebrar o clima estranho que havia surgido.
― Conheço ela ― disse Anne se concentrando no quadro enquanto relia pela quinta vez o que é para fazer. Estava obvio que ela estava fazendo aquilo para não olhar para Megan, só não sei o porquê. Desisto de tentar fazer elas ter um diálogo e volto a escrever o texto para o trabalho junto com Anne, enquanto Megan ficava desenhando o mapa. Terminamos o trabalho um pouco antes de bater o sinal, o que nos deu tempo de garantir pelo menos algo da nota. Fomos indo para o refeitório, mas Megan se vira ficando de frente para mim.
― Não vai dar certo ― disse.
― O que não vai dar certo? ― pergunto.
― Nós duas juntas ― Apontou para si mesmo e depois para Anne. ― Não confio mais nela.
― E eu não ligo mais para você ― Anne disse. E ignorou qualquer ação minha e foi se sentar para comer.
― Não sei o que vocês tiveram, Megan ― digo. ― Mas por mim, pode se sentar com nós?
Assentiu com a cabeça e se sentou na mesma mesa, de frente com a Anne. Fui comprar nossos lanches, a fila estava incrivelmente enorme, espero que elas não se matem até eu chegar.
― Deviam ter mais pessoas trabalhando para não ficar essa demora ― disse alguém atrás de mim, me virei e olhei para o idiota.
Luke.
― Devia não ter pessoas como você ― respondi. Nós dois se encarávamos, meu coração voltou a bater aceleradamente. Fechei os olhos e me virei novamente para ficar de costas pra ele.
― O que eu seria? ― perguntou.
Ignorei ele e comprei os lanches, apertei fortemente a bandeja na mão, e fui andando em direção as garotas. Liviane estava lá perto delas, balançava a cabeça em negatividade e soltava sua risada de víbora.
― Vocês duas juntas? ― disse Liviane.
― Não, Liviane ― respondeu Anne. ― É que você é tão psicótica que está vendo alucinações.
Coloquei a bandeja sobre a mesa e me sentei ao lado de Megan.
― Como foi esses três anos sendo culpada por algo que você não fez? ― questionou Liviane e percebo que Megan olhou para Anne e depois para Liviane, um pouco confusa com aquilo. Se ela estava, imagine eu.
― Como assim? ― Megan pergunta.
― Não interessa mais ― disse Anne. ― Não é mesmo, Liviane Madson?
― Não foi a Marianne que pegou o seu colar ― disse. ― Mas não foi tão difícil fazer parecer que tivesse sido.
― Não acredito, Liv ― gritou Megan e seus olhos se encheram de lágrimas.
― O que aconteceu? ― pergunto confusa.
― Eu peguei o colar que a Megan ganhou de seu avô, antes de morrer e botei nas coisas da Anne e a culpa foi toda para ela ― disse Liviane. Ela parecia satisfeita com o que fez, olhou para Megan e depois para Anne e começou andar para seu lugar de costume.
― Me desculpe ― implorou Megan. As lágrimas caiam de seus olhos, e ver ela chorar estava me machucando por dentro.
Elas eram amigas? Ou eu estou entendo isso tudo errado?
― Tem coisas que não se resolvem com desculpas ― disse Anne e lembro da Megan dizendo para mim hoje cedo.
― Mari... ― Megan disse limpando as lágrimas de seu rosto.
― Três anos Meg ― gritou. ― Sabe o que é três anos?
― Você me chamou de Meg. ― Um sorriso em meio ao choro surgiu nos lábios de Megan.
― Megan... ― Se corrigiu Anne.
― Por favor ― Megan implora novamente.
― Não importa mais ― disse Anne se rendendo as lágrimas enquanto começa a sair pequenas gotas de seus olhos.
― Claro que importa... e a nossa amizade?
― Qual? Aquela que você destruiu? ― gritou. ― Eu te disse várias vezes que não foi eu, Megan, mas você não confiou em mim.
― Eu errei... todos erram.
― Mas não dá de esquecer tudo... você não sabe o que passei. Não foi você que ouviu tudo aquilo que você me disse.
― Eu fui uma idiota, admito. Mas eu, eu não sabia que não havia sido você.
― Não precisava você saber ― gritou Anne. ― Era só você ter confiado em mim. É assim que é a amizade, um confiando no outro de olhos vendados.
― Me desculpe. ― O rosto de Megan já estava vermelho e inundado de lágrimas. Por cima de seu ombro vi Marcus se aproximando.
― Sabe o que você faz com essas suas desculpas? ― gritou Anne novamente. ― Guarda pra você, não preciso delas. ― Limpou com o dorso da mão as lágrimas que caiam de seus olhos. ― Não mais ― murmurou.
Os braços do Marcus circularam o corpo de Megan enquanto ela chorava desesperadamente. Vi Anne saindo correndo e fui atrás dela, quando a vi estava sentada no chão do corredor do colégio com a cabeça baixa. Me aproximei dela e sentei a seu lado, coloquei o meu braço por trás dela e a deixei deitar em meu colo.
― Eu não entendo, Mand ― disse Anne. ― Por que depois de três anos isso veio à tona de novo?
― Eu não sei ― respondi. ― Talvez seja para aliviar seu coração.
― Eu não gosto disso ― sussurrou.
― Mostrar seus sentimentos? ― perguntei e ela ficou um pouco em silêncio, podia ouvir a respiração dela de tão ofegante que estava.
― Não gosto de parecer fraca ― respondeu.
Passei a mão sobre seus cabelos. E suspirei depois da palavra fraca me torturar, depois de meu consciente me torturar.
― Você não gosta mais dela? ― perguntei.
― Não é essa a questão.
― Mas podia ser ― digo com a voz baixa, talvez um pouco mais baixa do que eu quisesse.
― Três anos se passaram, e mesmo assim ainda dói ― disse, por uns instantes ela ficou em silêncio, deitada sobre meu colo, mas logo tirou a cabeça do meu colo se sentando. ― Já passou. Não sou assim. ― Limpou as lágrimas do seu rosto e sorriu de uma forma um tanto desconcertada.
Encarei-a sem falar nada e sorri também.
Ela é tão diferente de mim.
O sinal bateu, nos levantamos e voltamos pra sala, Megan já estava lá. Eu e a Anne se sentamos e ficamos as duas aulas conversando sobre o nosso texto de Literatura. Bate o sinal novamente e a professora de ética vem até a sala mostrando sua maior simpatia.
― Bom, alunos, cadê os textos? ― perguntou e passou por carteira em carteira pegando as folhas e depois saiu. Eu estava ansiosa, espero que eu passe.
― Vamos, Mand ― disse Megan se aproximando de mim e de Anne, os olhos delas não se cruzaram nenhum pouco, talvez assim seja melhor, por uns tempos.
― Vamos. ― Me despedi de Anne e fomos indo para a casa. Estávamos quietas... resolvi puxar assunto.
― Por que não disse que conhecia a Anne? ― pergunto.
― Você não perguntou ― respondeu. ― Eu sou uma péssima amiga ― disse logo em seguida, deixando transparecer sua tristeza.
― Não, você não é. Não fale isso.
― Mand... ela era minha melhor amiga e não confiei nela.
― Isso acontece.
― O que faço? ― pergunta e eu fico sem saber o que responder. ― Mand... o que faço? ― insiste.
― Você já fez tudo que podia para fazer ― respondo. ― Agora tem que esperar.
― Mas...
― Mas nada ― digo a interrompendo enquanto vejo o quanto ela ficou surpresa com meu ato. ― É mais difícil para ela Megan. Não foi você que ficou como a errada, a ladrona da história. Dê um tempo a ela.
― Eu sei. Tudo bem. ― Continuamos indo para a casa até que chegamos e ela foi fazer almoço enquanto eu arrumava a casa. Terminamos e fomos almoçar.
― Você cozinha bem ― digo após terminar de mastigar um pouco de comida na minha boca.
― Fui obrigada a aprender cozinhar.
Me concentrei nela e me lembrei sobre o que aconteceu, só sobrou ela e o pai em uma casa sozinha, alguém que não trabalha-se deveria cozinhar, ou seja, Megan.
― Já tentou ir atrás deles? ― perguntei me referindo a sua mãe e seu irmão mais novo.
― De quem? ― perguntou um pouco perdida.
― De sua mãe, do Niall. ― respondi e levei outra garfada com comida na boca.
― Aquela mulher, não é minha mãe ― disse um pouco ignorante. ― E ela não nos deixa se aproximar dele.
― Devia tentar ― digo. ― Já passou tanto tempo.
― Para que? Sofrer mais? ― Soltou o garfo sobre o prato apoiando as mãos na mesa.
― Se libertar ― respondi.
― Não é tão fácil. Quer que eu chegue lá na porta de sua casa e diga: Oi, sou a Megan. Sabe, aquela filha que você preferiria que tivesse morrido. Será que posso ver o meu irmão que eu quase matei?
Ela abaixou os olhos para a comida e pegou o prato, se levantando da mesa e indo para a pia.
Não sabia exatamente o que dizer, ela estava brava e estava sendo injusta com ela mesma.
Peguei meu prato e levei para a pia também e coloquei dentro enquanto ela lavava o seu.
― Não custa tentar ― digo, pego o pano e começo a secar a louça.
― Você está certa... Mas eu não vou conseguir ― disse.
― Eu vou contigo.
― Você faria isso? ― perguntou sorrindo e terminando de enxaguar o prato.
― Claro que sim.
Terminamos de arrumar as coisas na cozinha e nos sentamos no sofá para assistir um filme qualquer que passava. Uma propaganda do novo perfume do One Direction passou na televisão e eu soltei um suspiro imaginando como seria o cheiro, e como seria ele no corpo do Harry.
― Directioner? ― perguntou olhando pra mim que estava com um largo sorriso nos lábios.
― Sim e você?
― Sim ― respondeu. ― Isso tudo é incrível. Eles, as músicas. ― Dessa vez quem suspirou foi ela, e depois soltou um sorriso.
― Qual o seu preferido?
― Niall e o seu?
― Harry. Por isso o nome do seu irmão é Niall, certo? ― questionei.
― Sim... ― Começamos a rir. ― Minha mãe ficou louca comigo quando eu optei esse nome. ― Riu-se. ― Mas por fim acabou aceitando.
― Sua mãe? ― perguntei encarando ela. ― Megan...
― Esquece a parte da mãe ― disse. ― Podemos assistir?
Concordei com a cabeça e me concentrei na televisão, estava com muita dor de cabeça, depois de Malhação... subi para o quarto para dormir.