(Música, escutem)
Liam desligou o telefone e levantou da mesa, em tempo de ver Cecília ficar com raiva.
— Não acredito que vai me deixar falando sozinha.
— Tem coisas mais importantes em jogo — Ele deixou alguns trocados na mesa — Prometo que pensarei na sua proposta.
— Promete?
— Prometo — E Liam saiu correndo.
Quando ele conseguiu entrar em casa, viu Zayn desacordado. Ele segurava a barriga, como se pudesse contê-lo.
Liam tentou se lembrar de todas as instruções que ele já havia escutado: Os documentos eram importantes. Depois, a bolsa maternidade. Carro e hospital.
Ele primeiro, foi ao quarto de Zayn e revirou as gavetas. Encontrou uma pasta de documentos, e depois, correu para o quarto do bebê. Encontrou a bolsa maternidade de Zayn e do bebê, uma do lado da outra.
Ele abriu o carro, e jogou as bolsas lá dentro, depois veio com Zayn. No meio do caminho, Zayn abriu os olhos.
— Liam...
— Shh — Ele pediu — Estou aqui. Eu vim salvar você.
— Liam... — Ele abraçou o pescoço dele, e apertou.
Liam colocou Zayn no banco de trás, voltou, trancou a porta e saiu correndo. No meio do caminho para o Madison, ligou para Niall.
— Niall.
— Eu não vou te buscar bêbado e nem quero escutar suas lamentações por Cecília.
— Zayn entrou em trabalho de parto — Liam furou um sinal vermelho — Estamos indo ao hospital.
—... Porra — Niall xingou — Estou indo. Ligarei para os outros.
Liam jogou o telefone no banco e acelerou.
No hospital, apesar do desespero, Zayn foi mandado para o quarto. Agora, ele estava acordado. Usava as roupas do hospital, tomava soro e estava com um aparelho na barriga, onde mediria a dilatação do seu útero, até chegar o momento certo do parto.
Liam preenchia o último formulário, quando a enfermeira entrou.
— Sr. Malik, como se sente? — Ela deixou toalhas e regulou o soro.
— Como se fosse morrer.
— Normal — Ela sorriu — Sua dilatação está cinco centímetros. Vamos esperar chegar a dez para lhe encaminhar para o parto.
Ela parou na frente de Liam.
— Qual seu grau de parentesco com o paciente?
Liam entrou em pânico.
— Eu só moro junto com ele.
— É pai da criança? — Ela pegou a prancheta com o formulário.
— Não, sou só um amigo.
Ela leu as informações que Liam havia fornecido.
— Acompanhante regular. Você foi um dos listados para casos de emergência pelo Sr. Malik... Liam Payne. Certo, pode ficar fazendo acompanhamento. E claro, na hora do parto, vai ser o senhor que poderá entrar na sala. Qualquer coisa, pode chamar Sr. Malik.
Ela saiu do quarto, e Liam sentou perto de Zayn.
— Não esperava que me escolheu para ser seu acompanhante.
— Eu listei todos, não se sinta especial — Zayn se afofou — Obrigado por salvar minha vida.
— Eu deveria ter feito mais do que isso — Liam segurou sua mão — Deveria ter ficado com você, nessa noite.
— Você tem Cecília, Liam.
— Podemos não mencionar ela por ora? É a sua noite, seu momento. Ela não faz parte disso.
— Mas você faz — Zayn respondeu — E você e ela...
— Zayn, sem mencioná-la.
O silêncio abrangeu o espaço, até que Liam tirou o celular do bolso e tirou algumas fotos de Zayn bebendo água e olhando para a barriga.
Ás 23:00, enquanto a dilatação chegava á seis, Liam e Zayn escutaram o grito.
— A senhora combinando camurça com pele? Que horror! Olha que crime contra a moda! Meu Deus, não tinha roupa melhor para vir á uma emergência?
— Harry, pelo amor de Deus — Esse era Niall — Agora não!
— Pegue meu telefone, me ligue! Já leu a minha coluna no London Time? Leia, porque você está precisando!
Na porta, Louis chegava.
— Eu não te conheço — Ele dizia para Harry — Só porque você saiu de um desfile de moda, você não virou o Marc Jacobs.
— Ela estava terrível — Harry usava Armani. Jaqueta, camisa, calças, e sapatos Prada. Louis usava alguma coisa da Calvin Klein, e estava natural.
Já Niall estava com as roupas do trabalho, o que consistia em um suspensório branco, camisas sociais vermelhas e calças pretas.
— Meu menino — Niall abraçou Zayn — Olhe para você, chegou o grande dia! Como se sente?
— Com dor — Zayn fez careta — Liam me salvou.
Todos olharam para Liam, com um ar de sem importância.
— É, parabéns — Louis deu de ombros — Desculpa, a gente tinha que ter chegado mais cedo, mas o Harry achou legal ir criticar as roupas da Gigi Haddid.
— Ela estava usando jeans. Em um evento que tinha Donatella Versace.
— Ela trabalha para a Versace, coisa chata — Louis implicou — Você realmente está ficando insuportável com essa coisa de moda.
Eles riram.
Zayn olhou para os amigos.
— Fico feliz que estamos todos aqui. Eu não esperava menos dos meus amigos.
— A gente também te ama — Louis deu um beijo na testa de Zayn — E aí, como se sente?
— Vamos esperar chegar a dez para fazer a incisão. Estou em seis ainda.
— Bem, a gente espera — Niall se jogou no sofá — Alguém aí tá com fome?
— Eu tô —Liam ergueu a mão — Vamos pedir um McLanche.
— Esqueceu que eu não posso comer? — Zayn fez careta — Se forem comer, comem lá fora.
— Você pode comer, Zayn — Liam sorriu — A enfermeira disse que só comidas leves.
— Então prestou atenção no que ela disse?
— Precisava. Você estava completamente disperso.
A noite foi um misto: Niall e Harry devoravam uma pizza, Louis e Liam com sanduíches e Zayn ficou na salada de frutas com mel. Eles ficaram todos sentados no chão, enquanto a enfermeira batia na porta a cada meia hora, medindo a dilatação de Zayn e ficava rindo do quinteto, que acampava só para ver o melhor amigo.
Duas e meia da manhã veio e com ele, sono. Harry abrigou Louis entre seus braços, jogando sua jaqueta sob o corpo do pequeno, Niall roncava espalhado no sofá e Liam ainda sussurrava alguma coisa para Zayn que o olhava.
— Precisa dormir, Liam. Eu vou ficar bem.
— Pode chegar a dez a qualquer momento — Ele folheou o livro de romance — Posso ficar acordado.
— Liam, porque me beijou naquela noite?
Aí estava a pergunta que ele evitava.
— Eu não sei — Liam foi sincero — Porque eu te beijei? Talvez, eu me senti um tanto atraído por você.
— E porque não me disse? Porque foi embora?
— Zayn — Liam fechou o livro e tirou os óculos — Eu só me envolvi com mulheres, a vida toda. Casei com uma mulher, vivi e quase morri por ela. Um homem é diferente, eu não sei o que eu quero.
Zayn mexeu os dedinhos, suspirando.
— Tudo bem.
Liam se inclinou e deu um beijo na ponta do nariz de Zayn.
— Não quero que ficamos estranhos novamente. Por favor, me dê tempo.
— Não me importo se você quiser ficar com a Cecília, desde que ela te faça feliz.
Isso foi o motivo para que Zayn abrisse um sorriso para Liam. Mesmo que fundo, Zayn estivesse um tanto chateado.
Gostar de Liam era um caminho sem volta.
Liam assentiu, mas olhou para os garotos, apagados em um sono cansado. Liam levou as mãos para o rosto de Zayn e as moldou entre elas, sentindo a barba dele, a curiosidade dos olhos fechados.
— Não posso repetir isso — Liam murmurou, os lábios quase colando nos de Zayn.
— Não pode mesmo — Zayn gemeu — Porque eu acabei de chegar á dez.
E Liam olhou para o aparelho anexado na barriga de Zayn e viu que ele tremia. Ele olhou para Zayn, que começava a chorar de dor.
— Chame a enfermeira, por favor!
Os meninos foram empurrados para a sala de espera, mesmo com cara de mortos.
— A gente avisa quando tiver acabado — A enfermeira disse.
No quarto, Zayn foi levado para o centro cirúrgico e Liam era arrastado para se preparar para o parto, sendo esterilizado, colocando as roupas. As enfermeiras murmuravam algo como ele era bonito e muito cavalheiro.
Alguns pais odiavam ver seus parceiros terem filhos, alguns até desmaiavam ou eram extremamente machistas.
Mas Liam estava ali, por Zayn. Daria conforto á ele, esperança e quem sabe, amor.
Liam estava um misto de confusões reais.
As três e dez da manhã, Zayn foi medicado. E agora, Liam estava ao seu lado, sussurrando-lhe palavras de conforto.
— Liam? — Zayn o chamou, ainda fraco — Poderia recitar uma poesia para mim?
— Agora? — Liam levantou a sobrancelha — Porque?
— Porque você estava lendo no quarto para mim — Ele ainda olhava para frente — Você havia parado em uma, do Fernando Pessoa.
— Ah claro — Liam limpou a garganta — Então...
Os médicos trabalhavam com as enfermeiras. A primeira pele foi cortada, mas Zayn de nada sentia. O sangue espalhou nas luvas brancas e nas roupas dos médicos.
Liam encarou Zayn e seus olhos castanhos claros, feito mel.
Imaginou que Zayn queria que fosse Boyce segurando sua mão. Que fosse Boyce a estar recitando poesias ou falando besteiras.
Mas Liam poderia ser Boyce por uma só noite para Zayn.
Ele começou a recitar:
...Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
É que eu te conheci...
A segunda camada de pele foi alcançada, e Zayn fechou os olhos, agraciando a voz rouca de Liam, mesmo com máscara escondendo sua boca. Lembrou-se dela movimentando sob a sua, lembrou-se do toque das mãos dele em seu quadril e na barriga...
...Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via...
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu...
Zayn sentiu as mãos de Liam apoiarem perto de teu rosto, a brisa suave e morna do calor de tua boca, passando pelo tecido da máscara. Um flashback rodeava sua cabeça. O exame de gravidez caído na pia, enquanto era erguido por Boyce, rodopiando pela sala, onde eles fizeram amor. Boyce sentado na cama, riscando o livro de nomes e sorrindo com a perspectiva de ter uma menina.
Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar...
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora...
Era naquele momento que Zayn sentiu saudades das mãos de Boyce na sua barriga, mesmo que pequena. Do sussurro da voz dele, imaginando como seria a vida de casal com uma criança. As roupas de criança, mesmo rosa e vermelho, sendo preenchidas na gaveta de camisas. De como Boyce se despediu dele naquela tarde de chuva...
Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar...
Nem foste um sonho meu...
Porque te choro eu?
Zayn se lembrou de como a polícia bateu-lhe em porta, perguntando se ele poderia ir com eles. Zayn se lembrou de como viu o carro destroçado e como ele caiu de joelhos, gritando o nome de Boyce, enquanto o marido era levado para o hospital. Zayn se lembrou do carro destruído, e no chão, naquela chuva maldita, a foto de ambos os dois, que ficava presa no painel, sendo levada pela correnteza forte.
Não sei... Perdi-te, e és hoje
Real no real...
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.
Os aparelhos bipavam, buscando deixá-lo acordado. As orações de Zayn, o choro de Harry, o desespero de Niall. Louis ainda na Espanha, mandando mensagens. Boyce viveu apenas mais dois minutos, antes de seu coração parar de bater completamente...
Em que és fictício,
Em que tempo parado
Foste o cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto...
E quando Zayn chorou, Liam suspirou e os meninos rezavam na sala, um choro se escutou.
— É um menino! — A médica gritou — Parabéns, Zayn, nasceu um menino.
E Liam ergueu a cabeça, ao ver um serzinho ensebado ser levado para tirar a sujeira do ventre, e depois, ser entregue em seus braços. Liam abaixou-se perto do rosto de Zayn.
— Ele nasceu, Zayn.
E o rapaz encheu-se de lágrimas de felicidade.
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