Diego narrando.
Que destino trágico.
Quando a médica detalhou o que havia acontecido com Pablo não consegui pensar em coisa diferente. Uma pessoa que fez tão mal aos outros, matou várias pessoas e deixou milhões de famílias sem seus filhos, agora está preso numa cama, para sempre.
Ele morreu. Mesmo merecendo viver e pagar por tudo, ele se foi.
Acho que para muitos se torna um alivio não ter ele por perto e para outros a justiça divina foi feita e claro que, para uma minoria, a pena envolve quando se olha para o estado dele.
Eu, sinceramente, não sinto mais pena dele. Acho que Deus sabe o que faz e se Ele o levou é porque sabe que era chegado o tempo dele nessa terra. Já acabou o momento dele, acho que o Pablo teve mais chance do que merecia.
Agora, depois de pular de um carro em movimento e bater sua cabeça em um poste na calçada depois de ter sido jogado por um carro até lá. Ele está respirando pelas maquinas, mas nunca mais poderá acordar. As maquinas o mantem e assim que elas forem desligas, ele também será.
- Vocês que são avós dele são os responsáveis legais agora. O que querem fazer? - A médica perguntou a dona Ivy.
- E-Eu... Eu não sei. Me dê um tempo. Preciso orar... Colocar meus pensamentos em ordem.
- Entendo, senhora. Fique à vontade para pensar. - A médica concluiu e saiu em seguida do quarto no qual conversávamos.
Os médicos nos pediram para ficar nesse quarto por enquanto, pois, os pais lá fora já sabiam que eramos próximos de Pablo e não seria bom sairmos agora.
Fui até o corredor para pegar um pouco de água para os avós de Alana, que choravam no quarto pelo que estava acontecendo. Arthur e Lorena tentavam acalmá-los.
De longe percebi o tumulto e desespero do lado de fora.
- Meu filho... - A mãe de um abraçou quem estava ao seu lado.
- EU QUERO QUE AQUELE ASSASSINO ESTEJA VIVO! - Alguém gritou, em desespero.
- Que tragédia, meu Deus. - Alguém que passava por mim falou.
Voltei ao quarto e olhei para a televisão, que agora estava ligada.
- Temos notícias sobre o massacre que ocorreu na escola da cidade local. Até agora são mais de cinquenta mortos confirmados, eles foram vitimas de um gás toxico no qual dois homens, que são ligados a uma causa nazista jogou lá para matar toda e qualquer criança por serem negras, de origem nordestina e cristãs.
- Você está dizendo que eles praticamente decidiram matar todos lá dentro. O nosso país é resumido por exatamente isso que você acabou de dizer. Cristãos, negros e nordestinos.
- Sim, infelizmente esse acontecido fez várias famílias perderem seus filhos e parentes, pois, até os funcionários foram mortos, apenas por estarem no caminho desses homens. Recebi notícias de que os dois foram levados a prisão de segurança máxima...
- E o terceiro homem que estava com eles? Pablo Sanchez?
- Não temos informações sobre ele depois do acidente na avenida.
- Diego? - Lorena me despertou.
- Ah... Aqui a água. - Dei os dois copos para cada um dos avós de Alana.
- Podemos conversar com o Diego a sós? - O avô de Alana pediu, então Lorena e Arthur saíram depois de abraça-los.
- Tem algo em que posso ajudar? Se tiver, me digam. - Falei.
- Estamos pensando... - A dona Ivy começou. - Acho que você sabe o que fazer com o Pablo.
- Eu? Como assim?
- Meu neto fez muito mal a irmã, a pessoa que você ama. O que você acha que ele merece? Que nós demos uma chance de um milagre fazê-lo acordar ou... desligar as maquinas.
Parei para pensar. Era uma responsabilidade enorme. Como decidir sobre a vida de alguém que só foi ruim para as pessoas que você ama?
É quase impossível pensar em algo bom para essa pessoa.
Flash back on.
- O que você quer fazer quando isso tudo acabar? - Perguntei a Alana, enquanto estávamos assistindo a um filme na casa dela, Maressa dormia apoiada em mim.
- Hum? - Ela me olhou, confusa. - Hum... Eu não sei. - Parou para pensar. - Acho que minha vida é tão cheia de tragédias que eu não consigo me ver sem elas. Entende?
- Acho que sim - Senti-me triste.
- Mas tem sempre algo que não vemos. As coisas que estão sendo oferecidas a uma pessoa não significam que são a única saída.
- Não entendi - Sorri de leve.
- Se alguém perguntasse para mim: Quem você salvaria em um incêndio, Maressa ou Diego? Eu responderia... - Ela olhou para mim e deu uma pausa para sorrir. - Eu iria puxar os dois pelo braço e correr pelas chamas para salvá-los. Por que eu preciso ter somente duas opções quando eu sei que tem mais por trás?
Flash back off.
- Eu já sei. - Meu coração acelerou.
- O que?
- Eu já sei o que vocês podem fazer. Ah, Deus... - Baguncei meu cabelo e abri a porta. - Arthur, chama o médico aqui.
- Está... Bem. - Ele apenas foi a meu pedido.
- Parece que Deus te iluminou, não é? - Falou ela com um sorriso.
- Dona Ivy... O que você sobre... - Ela me olhava atenta, esperando que eu terminasse. - Sobre doação de órgãos.
- Eu nunca parei para pensar sobre isso. - Falou.
- O que... Você quer que o Pablo, quer dizer... O rim dele... - O avô dela parecia começar a entender.
- Com certeza é compatível. Vai salvá-la. - Minhas lágrimas voltaram.
- Querido. - Ela segura minhas mãos. - Deus me mandou lhe dar a chance de pensar em algo, então eu não vou contestar. Essa é a chance do Pablo se redimir, afinal.
- Me chamaram? - O médico entrou.
- Senhor, o que acha? Concorda conosco? - Virei-me para o avô de Alana.
- Eu aprendi com a minha esposa que, Deus sempre sabe o que faz, por mais que seja doloroso. Acho que é o mínimo que o Pablo faz pela irmã agora.
- Doação de órgãos. - Virei-me para o médico. - O rim do Pablo, é compatível com o dela, não é? Me diz que é...
- Bom, eu estava esperando vocês perguntarem sobre isso. Eu ia sugerir isso quando me chamassem. Eu já verifiquei. Parece que o irmão dela tem tudo para dar uma vida longa a ela. - O médico sorriu. - Eu vou pedir que venham com os papeis para vocês assinarem
- Espera Diego. - Lorena interferiu. - E a Karen, como esposa dele, acho que ela que é legalmente responsável por ele.
- Lore, quando o Pablo foi declarado morto pela lei, eles se separaram, ela já não é esposa dele desde que ele "morreu" - Respondi. - Shawn me explicou toda a burocracia disso, mas em resumo, ela não tem mais nenhuma ligação com ele legalmente.
- Vamos correr! - O médico correu para fora.
- Arthur... - Chamei-o. - Chame os outros para mim. Todo mundo. Eu vou a igreja. - Digo a ele, que concorda.
Depois de conseguir sair do hospital, por mais que meu corpo pedisse para ficar o mais perto da Lana, possível, eu tinha que ir e cumprir o que meu coração estava pedindo agora. Os avôs de Alana tiveram que ficar lá e chamei Shawn para ajuda-los sobre qualquer coisa sobre isso. Ele estava acompanhando as noticias pelo jornal, juntamente com Karen, que ainda estava em terapia pelo trauma que sofreu.
Quando cheguei a igreja, Haina me recebeu com um abraço, juntamente com Helena.
- Só você para me fazer vir a uma igreja. - Helena disse ainda me abraçando. - Como ela está? - Perguntou.
- Em cirurgia. Eu estou à espera da um milagre.
- Diego? - Blanca chegou junto com Bela.
- Bela? Eu pensei que estava viajando para uma competição.
- Um amigo vale mais que uma medalha. - Ela me abraçou.
- Concordo. - Sebastian chegou em seguida. - Eu amo minha guitarra, mas acho que uma oração a um amigo que precisa é muito bom também.
O cumprimentei também.
- Obrigado irmão - Disse a ele.
- Estamos unidos aqui novamente. - Lorena me deu a mão e segurou a de Blanca também.
Foi então que todos uniram as mãos em um círculo.
- A Alana merece nossas orações. - Helena disse.
Olhei para ela, perguntando internamente sobre Rebecca, que havia voltado para a clínica de reabilitação, mas tinha fugido de lá há algum tempo e não tinha mais dado noticiais.
- Eu mandei mensagem, mas... - Disse, como se lesse minha mente. - Desculpa.
- Eu estou aqui. - Olhei para trás, com a voz que vinha da porta.
Rebecca apareceu com a sua habitual calça de couro preto e óculos escuros.
- Você acha que eu não ia rezar pela menina que meu amigo ama? - Andou até nós e entrou no círculo.
Foi então que fechei meus olhos e senti a mão de Lorena apertar a minha.
- Senhor Deus, poderoso és no céu e na terra. Obrigada pelo privilegio da vida, que o Senhor nos deu. Obrigada. Estamos aqui para clamar pela vida da nossa amiga, Alana. Ela tem lutado muito para estar ao seu lado, têm sido exemplo de muitos e o amor da vida de um de nós. Tem sido amiga e conselheira e dói vê-la partir sem ter visto o melhor dessa terra. - Haina orava. - Toque-a nesse momento, Pai. Eu sei que a muito tempo ela tem desejado estar Contigo, eu sinto o mesmo, mas... Há muito o que ser feito ainda, o Seu plano, acredito eu, não acabou para ela. - A voz dela estava embargada e ela apenas se deixou chorar.
- Jesus... - Uma voz diferente continuou. - Nos dê o privilegio de ter ela por perto novamente. É o que eu peço. Salve ela, faça Seu milagre assim como... Hum... Assim como o cego de Jericó ou... Os dez homens que Você curou. Por favor. - Reconheci a voz de Blanca.
Eu não aguentei as lágrimas e apenas comecei a chorar.
Parecia que algo esmagava meu peito e eu comecei a deixar a água cair misturada com aquela imensa dor que eu estava guardando.
- Seguro estou nos braços, Daquele que nunca me deixou.... Seu amor perfeito sempre esteve repousado em mim... - Lorena começou a cantar a capela.
- E se eu passar pelo vale... Acharei conforto em Teu amor... Pois eu sei que és Aquele que me guarda, me guarda... - Haina continuou.
Enquanto eu ouvia o som do violão começar a ser tocado, senti o abraço dos outros em volta de mim. E eu só chorava, sem parar.
- Em Teus braços é o meu descanso... Em Teus braços é o meu descanso. - Todos cantavam unidos.
Continuaram cantando Aquela canção que me aliviava a dor de não estar com ela e o medo de perde-la e ao mesmo tempo me deixava temeroso de que, nem na morte o irmão dela pudesse salvá-la.
Esse é o meu pedido Senhor e eu serei Teu servo para sempre. E mesmo que Alana não fique conosco, eu vou te servir com a gratidão da Sua morte por mim, mesmo que eu não suporte muito ficar sem ela e me vá desse mundo também. Eu peço a você que a proteja da morte.
- O toque mais puro, o amor mais seguro do mundo, é o Teu, Aba.
Continua...
"A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E, se houver cometido pecados, ele será perdoado. Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz. "
Tiago 5:15-16
🌼Nota da autora🌼
Meus anjos, mais um capítulo para vocês. Eu estou apenas em prantos depois de escrever esse. Me digam suas teorias para o final do livro, quero ler todas e vou tentar responder aos seus lindos comentários 🌷
Não esqueçam daquele voto que me ajuda além dos comentários que eu amo ler 💖
Deus abençoe e...Até a próxima 💖
#OPDACRetaFinal
🌼🌼🌼🌼🌼