23 horas. Eu tenho exatamente 23 horas para descobrir quem está traindo Lorenzo, o problema é que já se passou uma hora e eu ainda estou nas escuras.
Fui até o quarto da Jô, mas não vi nada. Nenhuma pista de quem pode ter implantado aquilo lá. Mas o bom também é que dei uma espiada nas coisas dela e também não encontrei nada para encriminá-la. Só que tem mais um problema: todos os empregados dessa casa acham que eu sou louca e se negam a me ajudar.
Natanael...
O Nate! Claro! Ele pode me ajudar.
Saio em disparada do meu quarto em direção ao quarto do meu amigo. Chego a sua porta quase sem fôlego e a esmurro como se não houvesse amanhã.
Bom, se eu não encontrar o delator, não haverá mesmo.
- Nate! É a Sofi! Por favor, abra a porta! - continuo a bater frenéticamente até quando a porta a minha frente se abre de uma vez, me fazendo cair para dentro do cômodo. A única coisa que me empede encontrar o chão é o peitoral forte da Natanael que me sustenta antes.
- O que tá fazendo, Sofia? - ele indaga com uma voz mais grave que de costume.
- Você tem acesso as câmeras de segurança da casa, certo? - ele assente positivamente - preciso que me ajude a acessar as filmagens de ontem e hoje.
- Não vai rolar - ele diz, arqueando uma das sobrancelhas.
- Até você, Nate? - comento, decepcionada - Podia jurar que podia contar com você.
- Não é isso, Sofi - ele olha para o chão e então mais uma vez para mim -. Eu soube do que aconteceu mais cedo. E já procurei nas câmeras na intenção de te ajudar. Mas eu não encontrei nada. Seja quem for, já apagou as provas.
Droga.
Espera!
Apagaram as provas, mas não as pistas.
- Quem mais tem acesso as câmeras de segurança? - pergunto esperançosa.
- Mike e outros seis homens que fazem a segurança da casa.
- Me dê o nome deles.
***
18 horas. Eu tenho exatamente 18 horas para descobrir quem está traindo Lorenzo. Nessas últimas 5 horas eu procurei pelos seguranças que Natanael me disse...
Mike Valentine
Giuseppe Rossi
Filippo Ricci
Paolo De Lucca
Salvatore Bianchi
Luigi Giordano
Nicolò Gallo
São todos italianos. E trabalham aqui por cerca de um ano, exceto Mike, ele trabalha à cinco. Já descartei Nicolò, Salvatore e Paolo, pois eles não trabalham essa semana. Todos os seguranças de sistema da casa trabalham por escala.
Interroguei o restante. Giuseppe não trabalhou na sala de câmeras ontem e nem hoje pois ficou responsável por receber uma encomenda de ópio para Lorenzo, e testemunhas oculares confirmaram.
Então me restam três: Mike, Filippo e Luigi. Só que, particularmente, não acredito que Luigi seja inteligente o suficiente para ser um agente duplo. Ele passa a maior parte do tempo dormindo na sala de câmeras.
Agora estou indo ao escritório de Lorenzo procurar uma ajuda específica, bato delicadamente na porta, abrindo-a após escutar um "tra" de Lorenzo, dizendo, em italiano, para que entre.
- 6 horas? Foi rápida - ele sorri sarcástico.
- Ainda não. Tendo três suspeitos e preciso das fixas deles para estudos. Mike, Filippo e Luigi - Lorenzo ergue a sobrancelha.
- Suspeitos?
- As gravações da câmera de segurança no corredor do quarto da Jô foram apagadas. Tô investigando quem tem acesso as gravações.
Lorenzo me encara incrédulo.
- Então tenho que checar também - seu olhar passa a ser pensativo em direção a mesa.
- Melhor não - aconselho -. As paredes aqui tem ouvidos. Se tiverem trabalhando em mais de um, podem dar um jeito de nós despistar. Ninguém aqui desconfia de mim.
- Não estão em grupos - Lorenzo garante. Seu olhar volta para mim - É arriscado demais.
Meu marido se levanta e vai até uma grande estante de inox. Abre uma enorme gaveta e procura por algo, tirando três pastas logo depois.
- Aqui - me entrega, olhando em meus olhos -. Bom trabalho, até agora.
Sorrio e me viro para sair da sala.
- E Sofia - ele chama assim que abro a porta para sair. Paro e me viro para olhá-lo -. Você tem 18 horas.
- Estou ciente.
Então saio, batendo a porta atrás de mim.
***
16 horas. Eu tenho exatamente 16 horas para descobrir quem está traindo Lorenzo.
Fiquei com medo de continuar minhas pesquisas em casa e acabar sofrendo algum atentado como fizeram com Jô. Então pedi ao motorista para me levar ao shopping.
Fui para uma livraria e procurei uma mesa mais reservada para continuar meus estudos.
Abro as pastas, um caderno para anotações e meu Notebook.
Pesquise sem pressa, Sofia, você tem tempo. Não dê espaço para erros.
Digo a mim mesma. Seja quem for, é inteligente o bastante para trabalhar sozinho e desviar o foco dele. E, provavelmente, tenta ser próximo de nós, para ficar por dentro de nossos passos e dar as informações a Anton.
Abro a primeira pasta.
E lá vamos nós...
***
5 horas. Tenho exatamente 5 horas para descobrir quem está traindo Lorenzo.
Fecho meu notebook. Minha cabeça parece que vai explodir. Mas tenho certeza de quem está por trás disso tudo.
Pego meu celular e ligo para Silvio, o motorista.
- Senhora Merluzzo? - atende.
- Oi, já pode vir me buscar.
- Estarei aí em 20 minutos.
- Te aguardo no estacionamento - desligo.
Pego as minhas coisas e saio da livraria, procurando não entrar em pânico. Eu poderia fazer umas comprinhas até o Silvio chegar, mas não tenho cabeça para isso.
Dez minutos se passam que estou esperando, mal vejo a hora de chegar em casa e salvar a Jô.
Mas o que acontece em seguida me faz sentir um gelo na espinha.
Noto o entrar de um carro bem suspeito no estacionamento. Tem o mesmo padrão dos carros de Lorenzo; vidros e coloração negra, motores silênciosos e janelas fechadas. Mas sei que não se trata dos carros do meu marido. Ele não tem nenhum sedã nesse modelo.
Assim que o carro vira para estacionar, aproveito o ponto cego deles e jogo os materiais de pesquisa usados na livraria, que estão na minha bolsa, dentro da lixeira mais próxima e corro para dentro do shopping para despistar.
E como o suspeitado, poucos metros antes de eu entrar no shopping, minha cabeça é coberta por um saco preto de pano e eu sou agarrada e arrastada para algum lugar. Mas não sem antes deixar minha bolsa cair, dando uma pista ao Silvio. Assim, quando ele chegar, saberá que eu fui levada.
❤️