Love Wings

By Primrosewords93

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"Diz-se que no amor, quando mais se dá, mais tem para se dar. Mas eu nunca tive nada para dar a ninguém. Às v... More

Capítulo 1.
Capítulo 2 .
Capítulo 3.
Capítulo 4.
Capítulo 5.
Capítulo 6.
Capítulo 7.
Capítulo 8.
Capítulo 9.
Capítulo 10
Capítulo 11.
Capítulo 12.
Capítulo 13.
capítulo 14.
Capítulo 15.
Capítulo 16.
Capítulo 17.
Capítulo 18.
Capítulo 19.
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24.
Capítulo 25.
Capítulo 26.
Capítulo 27
Capítulo 28.
Capítulo 29.
Capítulo 30
Capítulo 31.
Capítulo 32.
Capítulo 33
Capítulo 34.
capítulo 35.
capítulo 36.
capítulo 37.
capítulo 38
capítulo 39.
Capítulo 40.
Capítulo 41.
Capítulo 42.
Capítulo 43.
Capítulo 44. FIM!
PRODUTOS LOVE WINGS

Capítulo 23

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By Primrosewords93

[* Notas da autora: Olá :) Eu fiquei tão, mas tão contente com os comentários todos do capítulo anterior que até decidi postar mais cedo ^_^ Este capítulo é dos meus favoritos até agora, espero que gostem :') Beijinhos e obrigado* ]

POV Zayn

            Durante uns segundos hesitei entre a felicidade de ter Emma a chamar-me pai pela primeira vez, e o desespero de ver Rose à porta de minha casa. Ela ainda não me vira e eu estava à espera que desatasse a fugir, mas Emma claramente tinha outros planos para ela.

            - Tu és muito linda. És a miúda dos pássaros não és? Pareces a pequena-sereia, mas depois da transformação para as pernas. Não digas nada a ninguém, mas eu acho que é a ti que o Zazza vai oferecer os autocolantes… tu sabes…para fazer o amor.  

             Oh diabo.

            - Eu…eu… - A voz de Rose está a fraquejar e talvez esteja na altura de eu intervir.  

            - Emm, vai para a cozinha. – Afaguei-lhe a cabeça carinhosamente e apareci à frente de Rose, que estava mais pálida do que eu poderia imaginar. – Rose, entra, vamos falar.

            - Esqueceste a pasta no gabinete. – Disse ela, lançando-a para os meus braços sem me encarar, e voltando-me as costas em direção ao carro.

            - Rose, espera… - Agarrei-a pelo braço mas ela soltou-se violentamente, correndo até ao carro. – Borhan, segura aí as coisas, tenho de resolver isto.

            - Mas eu…

            - Até logo! – E entrei no carro para iniciar a perseguição à minha assistente.

*

POV Borhan

Ele não fez isto. Ele não me deixou com a pirralha e com a miúda a quem supostamente apontei uma arma e beijei de seguida há umas horas atrás. Bom…isto já é típico do Zayn que eu conhecia, enfiar-me em situações caricatas e constrangedoras.

Entrei na cozinha e as duas estavam sentadas à mesa a comer pizza daquelas rafeiras de ir ao micro-ondas.

- Boa noite. – Cumprimentei com solenidade, sentando-me numa ponta da mesa com o máximo de dignidade que consegui… perto de nenhuma.

Tris encolheu-se sobre si mesma e puxou a cadeira de Emma para junto de si, aumentando a nossa distância. Evitou olhar-me diretamente mas pela forma como as suas mãos seguravam os talheres percebi que estava nervosa. Isso agrada-me, estou a gostar de a provocar.

- Olá ladrão. – Respondeu Emma com naturalidade. – Da próxima vez que vieres assaltar a nossa casa podes trazer uma máscara…é assim que se faz, sabes?

Tris arregalou os olhos perante a ousadia da pequena e eu reprimi uma gargalhada nervosa.

- Vou tomar nota. – Respondi. – Talvez devesse esperar pelo teu pai para falar contigo, mas bom…eu sou meio que teu tio, estás a ver? E depois houve assim uns pequenos desentendimentos e agora pronto, eu não vou voltar a assaltar a tua casa, sou só teu tio, não ladrão… bom, pelo menos não aqui. E também não é aconselhável apresentares-me como “Borhan, o meu tio ladrão” porque isso não dá muito jeito … podes só dizer que tenho uma loja de artigos para animais. Como vestidos para cães, estás a ver?

Ok. Talvez eu fale um bocado rápido quando estou nervoso, e não por causa de Zayn ou de Tris, mas por causa de Emma: eu não ligo puto a crianças, elas assustam-me e eu não sei lidar com elas, ponto!

Emma levou alguns segundos a processar a informação e no fim falou:

- Tens coleiras para gatos com brilhantes?

- Hmm… posso arranjar.

- Ótimo. Eu quero um gato mas o Zazza não me dá. Eu vou conseguir convencê-lo e quando conseguir vou querer que o meu gato ande sempre bonito.

- Compreendo. – Respondi, olhando para Tris pelo canto do olho. Ela come silenciosamente sem levantar os olhos do prato. Trocou para uma t-shirt de Zayn que lhe fica extraordinariamente larga e extraordinariamente sensual, o que me leva de novo ao nosso beijo estranho. Não que eu já não tenha beijado miúdas sem as conhecer, mas esta situação do ladrão vs. dama-indefesa foi inédita, e não posso dizer que desgostei. Na verdade a moça beija bem para caraças e se não fosse a pirralha eu já tinha saltado sobre os pratos da pizza rafeira para comer Tris de todas formas possíveis e imagináveis.

- Bea.

Ela desviou o olhar e levantou-se, colocando o prato na máquina de lavar.

- Bea, como está o teu braço?

Voltou a ignorar-me enquanto secava alguma louça que estava na banca.

- Posso ir brincar? – Perguntou Emma, baloiçando-se na cadeira.

- Podes. – Respondi secamente, vendo-a saltitar até ao quarto.

Aproximei-me de Tris, que estava de costas para mim, e enfiei os braços em torno da sua cintura, aprisionando-a contra o balcão.

- Não me ouviste a falar contigo?

Um arrepio – de medo? – percorreu o seu corpo e ela tentou, em vão soltar-se dos meus braços.

- Larga-me, imbecil.

- Bea, eu não te vou fazer mal. - Sussurrei, encostando o rosto na curva do seu pescoço. - Não muito.

- Tens três segundos para me largar: eu tenho uma frigideira e não tenho medo de usá-la!

Ri-me da sua ameaça ridícula, e sorri triunfante quando ela se virou de frente para mim, com os nossos corpos de tal forma colados que não hesitei em subir um pouco mais a mão.

Depois não me lembro de mais nada porque subitamente ficou tudo preto.

*

POV Tris

Oh deus, oh deus, oh deus. Eu matei-o? Pode matar-se alguém com uma pancada de frigideira na cabeça? oh deus.

Inclinei-me sobre ele e senti a respiração irregular, o que me acalmou. No máximo dei-lhe um shake qualquer no cérebro que o vai fazer ficar daltónico, ou amnésico, ou com distúrbios perceptivos, mas não morto, o que é aceitável.

 Sentei-me junto ao seu corpo inanimado e enterrei o rosto nas mãos, deixando o pensamento vaguear. Eu estou tragicamente atraída por um delinquente e isso faz de mim uma pessoa horrível.

Quando era criança gostava de levar uma quantidade considerável de bonecos para o banho e ficar horas dentro de água a brincar. Eu construía verdadeiras tramas amorosas que geralmente implicavam uma barbie linda e bondosa, uma barbie não tão linda e maléfica, e um action man musculado, corajoso, e geralmente nu porque era o meu único boneco homem e assim que perdia a primeira roupa não havia mais para substituir. Quando a minha mãe entrava no quarto de banho para me escovar o cabelo, eu punha o action man a dançar no casamento com a barbie bondosa, enquanto faziam juras de amor inocentes, sinceras e púdicas.

Mas quando a minha mãe saía, eu juntava o action men à barbie maldosa e metia-os a namorar. Sentia-me um ser terrívelmente desprezível e dizia em voz de barbie boazinha: "mas action men, ela é má, eu sou a bondosa, deves casar comigo, comprar um castelo e viver feliz para sempre ao meu lado", mas o gajo lá decidia ficar com a má da fita, mesmo sabendo que ela deitava lixo para o chão, mentia aos pais e maltratava gatinhos. Quando a minha mãe voltava, sentia-me culpada e envergonhada, e voltava à encenação.

Agora, sentada ao lado de um assaltante desmaiado, sinto de novo a mesma sensação de horror que sentia quando sabia estar a seguir pelo caminho errado. Normalmente, essa sensação vem acompanhada de uma dose considerável de adrenalina e excitação, típica de quem se deixa aliciar pelo "dark side". Sinto-me de novo entre a vergonha e a curiosidade, como se desta vez eu fosse o action men despido a escolher a má da fita.

Goood, o Borhan é a minha potencial barbie maléfica, por muito estranho que isso possa soar.

 Ele é a minha potencial escolha errada.

*

 

 

POV Rose

Pouco depois de Zayn ter abandonado o escritório, percebi que ele deixara lá a pasta. Sei que ele tem aqui coisas que são importantíssimas para a reunião de amanhã e como tal decidi ligar-lhe para ele vir buscá-la. Depois de umas quantas chamadas a cair na caixa de correio, passou-me pela cabeça procurar a morada dele.  Foi uma tarefa que me levou algum tempo: por alguma razão, Zayn nunca mencionou onde mora, e eu não faço a menor ideia onde o encontrar numa cidade tão grande. Por sorte, ele deixara uma carta em cima da mesa com o endereço que eu supus ser da sua casa, e meti-me ao caminho.

Acabei por dar com uma vivenda gigantesca um pouco afastada da cidade, e estacionei o carro, dirigindo-me para a entrada. A casa dele faz lembrar a mansão dos Cullen do Twilight e começo a pensar que alguém tão bonito, inteligente, extraordinário e fabulásticamente rico tem de ter algum ponto fraco, quanto mais não sejam 300 e tal anos e um par de dentes afiados.

Pressiono a campainha e aguardo, torcendo para que Zayn apareça milagrosamente só de boxers – ok, Rose, menos.

Contra todas as expectativas, quem abre a porta é uma criança: é loira, de olhos claros, de uma beleza que só se vê nas crianças dos anúncios de brinquedos no Natal. Reparei que as suas mãos sofreram algum tipo de queimadura grave pois estão com cicatrizes profundas. Deu-me pena só de imaginar que alguém tão pequeno possa ter sofrido assim…

- Hmm, olá. O meu nome é Rose… acho que não me enganei na casa… é aqui que mora o Zayn Malik?

Ela olhou-me de forma inquisidora e por fim respondeu:

- Sim, é o meu pai.

*

A pior parte de não ter coração, figurativamente, é que sinto dor como se o tivesse.

E eu não sei lidar com essa dor porque ao mesmo tempo que magoa, é como uma espécie de bênção temporária, para me lembrar que ainda consigo sentir algo, ainda que esse algo não seja particularmente agradável, ou particularmente duradouro. As pessoas (e o John Green) dizem que dói porque é importante, mas eu sei que comigo não funciona dessa forma. Daqui a uns dias, o Zayn não vai passar de uma espécie de amigo por quem eu nutro uma ternura enorme mas não mais que isso, e eu quase vou desejar sentir esta dor de novo, porque no fundo eu dava tudo para me importar com alguém, e eu dava ainda mais para que esse alguém fosse Zayn.

Ele está a seguir o meu carro há meia hora e eu chego a uma altura em que simplesmente já não consigo conduzir mais, pelo que estaciono o carro junto ao Hyde Park e caminho por entre os trilhos, sentindo a sua presença silenciosa atrás de mim.

            - PORQUE NÃO ME CONTASTE QUE ÉS PAI?! – Quando dei por mim estava a gritar loucamente no meio do parque com as lágrimas de raiva a escorrer pelo rosto. Lancei-me contra ele e fechei os punhos atingindo-o uma e outra vez, sabendo que nunca na vida aquilo lhe provocaria qualquer dor. Ele deixou-me estar, envolvendo-me o corpo com os seus braços compridos, até que eu, frustrada, encostei o rosto ao seu peito e deixei-me chorar. – Zayn, porquê?!

            Não estava só a chorar pelo facto de ele me ter ocultado a verdade sobre Emma…era mais como se tivesse a chorar por tudo, como se todos os meus problemas pequenos começassem a formar uma bola gigante de problemas e agora fosse impossível de controlar as lágrimas.

            Ao fim de alguns minutos ele conduziu-me até a um dos coretos do parque e sentamo-nos no chão, de costas um para o outro. Encostei a minha cabeça nos seus ombros largos e fechei os olhos, deixando-me ficar em silêncio.

            - Eu tinha 22 anos quando os pais de Emma morreram. – Começou ele em voz baixa, contando a história de como chegou a tutor de Emma. Era uma história longa e trágica de como ele perdera os melhores amigos e ficara com a tarefa de criar uma criança, quando ele próprio era ainda uma quase-criança. Assim que terminou suspirou profundamente e só voltou a falar algum tempo depois. – Eu avisei-te que não era pessoa para ti.

            Eu rodei sobre mim mesma e encarei-o pela primeira vez desde que chegamos.

            - Não há a porra de uma pessoa para mim, Zayn.

- Eu gostava de poder ser a pessoa certa para ti. – Respondeu, fixando o olhar no meu com uma intensidade com a qual eu já devia estar habituada mas que ainda assim continua a surpreender-me.

            - Sim, eu gostava que fosses a minha pessoa certa.

            “Aparentemente, o mundo não é uma fábrica de realizar de desejos.”

            *

            Está a ficar escuro e o frio está insuportável mas nenhum de nós parece querer ir embora.

- A Emma é linda. E claramente doida por ti.

            - Eu sei. – Respondeu, sorrindo com uma quantidade de amor que nunca na vida conheci de perto.

            - Porque não me contaste? – Repeti, voltando-me de costas de novo.

            - Um rapaz com 25 anos que tem uma filha a seu cargo não me parece o ideal de qualquer miúda…

            Eu encolhi os ombros e pensei para mim mesma que se eu fosse uma miúda qualquer, daquelas que se apaixonam e mandam mensagens de boa noite com corações virtuais no fim, eu não me importaria de partilhar o objeto do meu amor com uma criança. Especialmente se essa criança fosse Emma. E especialmente se o objeto do meu amor fosse Zayn.

            - Percebo.

            - E eu tenho medo.

            Arregalei os olhos de espanto: custa imaginar o Zayn com medo de algo além de água.

            - Do quê? – Perguntei baixinho, como se a sua confissão fosse quase sagrada e falar em voz alta pudesse conspurcá-la.

            - De perder coisas… De perder Emma.

            Pensei para mim que se eu tivesse algo a perder, também teria esse medo, mas não consegui perceber o que eu teria a ver com isso.

            - Se eu tivesse uma Emma, eu também teria medo de a perder.

            Senti-o sorrir e sorri também, embora nenhum de nós conseguisse ver o rosto um do outro.

            - Mas não é só sobre a Emma, é essencialmente sobre ela, como sempre, mas é sobre tudo um pouco. Sobre perder coisas que estão na minha posse e depois deixam de estar: como a minha mãe, a Elaine e o Peter, o Borhan e…lembras-te da Jullie?

            Acenei e embora ele não me pudesse ver a fazê-lo, sei que percebera.

            - Ela foi o meu grande amor. Acho que quando perdemos o nosso grande amor há qualquer coisa de nós que se perde com ele.

            Gostava de concordar, mas eu nunca perdi um amor, por isso permaneci em silêncio.

            - Quando perdi a Jullie, por razões que não estou pronto a partilhar para já, eu acho que ela levou a minha capacidade de confiar nas pessoas, e é por isso que eu não te contei: eu não sei confiar.

            Se eu tivesse a certeza que tenho um coração, neste momento ele teria caído aos meus pés.

            - Eu perdi a fé nas pessoas e eu acho que esse é o pior ponto a alguém pode chegar. Por isso o meu contacto com os outros é extremamente limitado: além de Emma, Niall, Susan, Leila e agora tu, eu não me envolvo. Eu gosto do sossego, da previsibilidade, da rotina…de todas essas coisas que me garantem estabilidade e me afastam da possibilidade de ter de construir novas pontes confiança que podem desabar. É como um círculo vicioso: eu não confio para mais tarde não perder, e desejo não perder para não ter de confiar de novo, percebes? Assim que eu construo uma ponte de confiança com alguém, eu vivo num medo constante que ela possa destruir-se.

            Aceno silenciosamente, abismada pela sua confissão. Imagino o quão difícil esteja a ser para ele partilhar isto comigo, e percebo melhor a razão pela qual ele me ocultou a existência de Emma. Ao mesmo tempo, consigo perceber que sou o completo oposto dele: ele não constrói pontes com medo que elas caiam, eu não as construo com medo que elas continuem de pé.

            - Mas depois vieste tu e…bom, a minha teoria da rotina e da previsibilidade foi um bocado por água à baixo. – Ele sorriu e acariciou-me levemente a face. – Por alguma razão, tu viraste-me do avesso.

            Corei violentamente e foquei o olhar na ponta das sapatilhas.

            - Porquê?

            - Porquê o quê?

            - Porque é que confiaste em mim? – Perguntei. – Por que é que, de tanta gente, me escolheste a mim para construir uma ponte?

            O luar iluminava-lhe fracamente o rosto, acentuando o brilho intenso dos seus olhos. Nesse momento eu tive consciência que o Zayn que eu conhecia, o meu patrão imbecil-jeitoso, era só uma face dos milhares de Zayns que lutavam dentro dele para o manter de pé. Como eu, ele está partido por dentro e essa ideia, de uma forma um pouco egoísta, reconfortou-me: de uma maneira ou de outra sinto-me menos sozinha.

            - Foi o pássaro. – Respondeu, falando mais para si mesmo do que para mim. – Eu e a Emma, em parte devido a Elaine e Peter, temos uma relação muito próxima com os pássaros, e quando tu desenhaste na tela, sei lá, o teu gesto tão imprevisível, tão natural, tão…livre. Eu acho que pensei que fosses o tipo de pessoa que iria agradar a Elaine. E a mim. – Ele fez uma pausa e despiu o casaco, colocando-o sobre os meus ombros. – Agora eu não acho isso, eu tenho a certeza.

            Eu sorri, e encostei a cabeça no ombro dele. Lembrei-me da regra da não-partilha e ocorreu-me que talvez aquele cliché tenha toda a razão de ser: algumas regras são mesmo feitas para serem quebradas.

            - O Berny foi o teu grande amor? – Perguntou ao fim de algum tempo, fazendo-me sobressaltar. Eu pensava que ele já se tinha esquecido disto, mas eu devia saber que Zayn dificilmente se esquece de algo.

            - Não. Eu nunca tive um grande amor…nem um pequeno. Nem um amor de tamanho qualquer.

E assim, sem papas na língua, eu confidenciei ao meu patrão o meu maior segredo. Quase consegui ver a nossa ponte da confiança que ele falou à pouco erguer-se diante dos meus olhos, e senti-me estupidamente culpada por saber que vou ser eu a destruí-la.

Ele voltou-se rapidamente na minha direção, olhando-me com curiosidade.

- Como assim?

- Simples: eu nunca amei ninguém. Estive com muita gente, como o Berny, mas ao contrário de ti, nunca senti medo de perder, nunca senti vontade de ficar, nunca senti nada que me prendesse a ninguém… por isso quando falas do teu medo de perder, eu acho que gostava de saber o que isso é. Pelo menos é sinal que tens algo de importante em risco, eu não. - Ele olhou-me com um misto de curiosidade e confusão e eu sorri tristemente. - Por isso não te podes afeiçoar a mim, mais o teu medo das perdas e as tuas pontes de confiança, porque a qualquer momento eu vou pôr-te a andar. Pronto, já disse.          

O meu coração disparou nervosamente com o peso da minha sinceridade, e contra todas as expetativas, Zayn começou a rir.

- É esse o teu medo? Não seres capaz de corresponder a um sentimento?!

Fiquei um pouco ofendida com a forma leviana que ele se referiu à pedra filosofal das minhas preocupações, mas limitei-me a acenar afirmativamente.

- Para que conste, é um medo um bocado pretensioso. Quem te garante que eu me vou afeiçoar a ti?!

Eu ri, embaraçada, pois não tinha ponderado a coisa esse ponto de vista.

- Tens razão, foi um pouco mau da minha parte assumir que te podes afeiçoar a mim apenas pelo facto de tu me teres beijado mais do que uma vez. – Ironizei, fazendo propagar o som da sua gargalhada pelo parque deserto. - Estás expressamente proibido de te afeiçoares a mim.

- Ok, então vamos fazer um contrato. - Zayn tirou a carteira do bolso e nas costas de uma fatura velha escreveu:

"Eu, Zayn Malik, declaro formalmente que não me vou apaixonar por Rose Everdeen."

Depois dobrou a folha várias vezes até fazer um passarinho de papel, entregando-mo.

- Acho que não estás a dar à nossa ponte o crédito que ela merece: ela não é assim tão frágil. – Disse ele, sorrindo, enquanto se levantava para irmos embora.

- E eu acho que estás a subestimar o meu talento natural para destruir, inintencionalmente, todas as pontes. Sou como um gigante numa cidade de papel.

- Pára de fazer alusões metafóricas ao John Green, és terrível.

Uma gargalhada saiu dos meus lábios e eu soube que ele havia seguido a minha sugestão de leitura.

- Ele não é assim tão bom, sabes disso, não sabes? – Zayn abriu-me a porta do carro e eu entrei, sentando-me ao volante mas deixando a porta aberta para falar com ele.

- Sei, mas isso ainda me faz gostar mais dos livros dele. As pessoas continuam a pensar, ridiculamente, que ele escreve sobre o amor, quando o amor é a coisa mais estúpida para escrever. Eu acho que ele escreve sobre mim. E sobre ti, e sobre aquela senhora que vai ali a atravessar a rua…é como se em cada personagem dele coubesse um universo infinito de pessoas.

Ele acenou vigorosamente, e eu liguei o motor da minha pick up que logo quebrou, de forma pouco agradável, o silêncio da noite.

- Janta comigo amanhã.

- Então e o contrato?! – Protestei. – Não me parece que te estejas a esforçar! Eu posso parecer gostar muito de ti agora, mas amanhã já não, e depois lá se vai a ponte!

-Eu acho que tenho o direito de aproveitar cada minuto em que a ponte está de pé, ou não? Além disso, Eu não me vou apaixonar por ti diante de um prato de sushi.

O meu estômago deu uma cambalhota e o meu cérebro enviou-lhe uma mensagem rápida para que parasse com a brincadeira. A palavra apaixonar faz-me arrepiar os pêlos dos braços pelas piores razões, mas devo admitir que quando é pronunciada por Zayn, vem acompanhada de uma sensação estranhamente agradável.

- Sushi?

            - Sim, Sushi. Agora vai embora que ficas tão bonita à noite que eu tenho receio de quebrar com o contrato. Dorme bem, até amanhã.

            E dito isto deu-me um pequeno beijo na testa, batendo a porta do carro, e deixando-me a pensar em pontes, em pássaros e em gigantes em cidades de papel.

*

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