FELIPA
Abri os olhos com dificuldades tentando ver as horas em meu relógio de pulso, era cinco da manhã, o que só me fez bufar ainda mais quando senti o mesmo peso de antes sobre mim. Inferno!
-Saia!! Vamos! Saia! -Tentei de todas as formas o empurrar, o que só me irritou ainda aos tendo seu riso debochado.
-Me vira do avesso à noite e madrugada adentra e agora fica assim? Santinha? Você gostou loirinha, não minta pra mim.
-Saia de cima de mim Hércules, faça isso antes que eu acabe com você desgraçado. Eu não estava em mim quando vim nesse lugar. -Levantei juntando minhas peças pelo chão, eu só queria sair dali o quanto antes.
-Você veio duas vezes e acredite você não estava bêbada. Não consigo entender por que tenta se enganar, você gostou e sabe que o trabalho valeu a pena.
-Nossa que trabalho. Parabéns onde foi formado? -Rir em deboche o vendo me olhar diferente, o som da minha risada logo sumiu quando notei sua carranca me deixar e o próprio vestir suas roupas. Eu o ofendi?
-Para vai, ofendido agora? Eu por um acaso estou mentindo?
-Não você não está mais acredite, você não é melhor do que eu por está aqui senhora. Eu fui à escola sim caso não saiba, mais a vida por mais que eu tenha lutado não foi tão generosa pra mim. Isso que você esnoba mais paga pra ter, segura minhas contas há dois anos. Eu nunca vou esconder isso de ninguém, nem mesmo de alguém que se acha dona do mundo e melhor do que qualquer um aqui. Seu dinheiro. -Ele empurrou sem me machucar as notas em minhas mãos, suas palavras tinham me atingido em cheio e eu não conseguia entender.
-É sua paga deixe de ser ridículo. Esse dinheiro é seu!
-Não precisa, essa foi por conta da casa, aliás, a última, com licença eu tenho alguém me esperando em casa agora. -Engoli o nó em minha garganta me sentindo idiota, o que estava acontecendo comigo?
SAMUEL
Cheirei os cabelos de Ava que dormia tranquilamente em minha cama. Eu tinha encontrado todos os tipos de lençóis e mantas para deixá-la quente e tranquila, ela merecia depois de tantas decepções vindo da família que eu tinha arrumado e idolatrado para ela. Era minha culpa tudo isso, minha e de mais ninguém, minha tolice havia nos trazido até tudo isso, me afastado dos meus bebês e principalmente do amor de sua mãe. Minha fraqueza, meus erros. Segurando mais uma fez o telefone em minhas mãos eu vi Teresa confessar tudo. Felipa tinha sido podre assim como minha mãe, duas pilantras que mereciam um castigo de verdade, uma lição para nunca mais tentaram mexer com a vida de ninguém. Desliguei o telefone de Ava alcançando o meu e ligando pra Geórgia.
*Bom dia filho ingrato? Como vai você?
*Muito bem mãe.
*Deixou a comemoração cedo. Estranhei você me ligar só agora. Suas funções governamentais começam próxima semana, não vá esquecer, aliás, que golpe sujo, Felipa é sua prima! Não tinha o direito de demiti-la Samuel.
*Estou indo pro jantar hoje, capriche eu tenho uma ótima novidade pra te dar, muitas surpresas. -Falei seco, eu estava me controlando padaria não cair do meu lugar.
*Novidades... isso está soando bom.
*Tenha certeza de que Felipa estará presente, desrespeita a ela também.
*Estou ansiosa. -Ela sussurrou animada quando sem esperar eu desliguei. Estava na hora de fazer uma limpeza geral em minha vida, começando por quem pensei ser minha família.
-Querido? -Sai do meu transe quando vi Ava na porta da cozinha sonolenta, era cedo demais. Caminhei como um raio em sua direção.
-Volte pra cama. Está cedo ainda, vou preparar nosso café, eu dispensei minha funcionária achando que iríamos rolar a noite toda no chão da sala, não queria ela chegando e nos pegando nus entre as pétalas de rosa. -Ava riu batendo em meu ombro, eu sorri beijando sua grande barriga que batia junto a minha em uma sensação de paz.
-Acho que estraguei seus planos, trouxe muitas bombas desculpe. -Eu ri negando com minha cabeça, ela tinha trazido vida para mim novamente, não fazia ideia do quanto isso era melhor.
-Esqueçamos, nós temos muito pela frente agora, o mais importante nesse momento é a saúde da mãe e dos meus bebês. Infelizmente o tempo não volta Ava, eu queria ter estado desde o primeiro momento com você, descobrindo junto. -Eu tinha os braços a sua volta quando ela negou firmemente as palavras que eu disse.
-Eu cuidei muito bem deles querido, principalmente sabendo que você faria o mesmo.. Alimentei-me bem, comprei os remédios receitados pelo médico, fiz tudo exatamente como deveria ter sido feito. Estou bem e eles estão bem saudáveis, na próxima consulta você poderá ir comigo.
-Você tem alguma dúvida disso? Tudo vai mudar a partir de agora. E quanto às pessoas nas quais minha digníssima mãe te ameaçou não se preocupe. Ninguém vai tocar um dedo neles e em suas vidas, eu me certificarei pessoalmente disso. -Ava agarrou meu pescoço me beijando sem demoras, eu aproveitei nossos carinhos e amasso, estávamos indo para ter uma vida, sem injustiças, apenas com nosso amor.
-A gente vai jantar na casa de minha mãe, Miguel e Sam estarão lá também. Está na hora de minha mãe e Felipa arrumarem a lambança que fizeram, elas poderiam ter destruído nossa família, nos separado para sempre.
-Por mais que eu não suporte sua mãe, não quero sua desavença com ela! Ela é sua mãe apesar de tudo e eu jamais me sentiria bem vendo mãe e filho separados. Não tenho meu coração igual ao dela Samuel, muito menos quero meus filhos indignados pela falta de caráter da própria avó. Eu quero viver bem ao seu lado e não com medo do que poderá acontecer amanhã. Não a quero perto de mim, mais também não desejo mal algum a nenhuma das duas. -Acariciei o rosto de Ava, agradecendo a Deus por tê-la posta em meu caminho. A mulher diante de mim poderia ter perdido tudo por conta de mentiras e chantagens, mais diferente do que qualquer um pensaria, ela fez tudo contrário.
Ava tinha algo dentro de si muito maior que qualquer ódio, sua alma era pura e com toda certeza tinha sido o que me fez ama-la ainda mais.
-A partir de hoje você está em algemas junto comigo! Ok?! Primeiro porque de hoje em diante eu não desgrudo mais os olhos de você gravidinha. Sei que fez tudo por amor, mais se houver Deus nos livre, uma próxima vez, conte-me tudo bem? Eu destruirei todos os obstáculos que estiverem por nosso caminho. Segundo, eu serei preso caso não cuide dos meus bebês como um pai deve fazer. Eu estou indo a cada consulta com você agora, verificando cada remédio e comida que estiver ingerindo, eu serei o seu fiscal pessoal amor. - Ela riu cheirando meu pescoço e me enchendo de felicidade, essa era a vida que eu amava e absolutamente nada nem ninguém poderia competir com isso.
-Como queira papai.
-Eu amo vocês... "E amava de uma forma que nem mesmo Ava conseguia imaginar.
FELIPA
Fechei meu roupão a tempo de ver minha tia entrar no quarto. Uma angústia tomou meu peito diretamente quando seus olhos se fixaram junto aos seus e me fizeram sentir mal. Aquilo nunca havia acontecido antes, eu estava estranha.
-Arrume-se rápido, Samuel está vindo pro jantar Felipa. Não se esqueça de estar deslumbrante. -Ela se virou já saindo quando a parei com minhas palavras, eu não pensava daquela forma.
-Eu não sei se sabe tia mais Samuel me demitiu, aliás, eu tenho compromisso hoje.
-Eu preciso saber depois que tipo de compromisso é esse que te faz chegar todas as manhãs com o sol nascendo. E isso não é um pedido Felipa, é uma ordem. Vista algo atraente, Samuel vai gostar.
-Não tia! Não para Samuel, as roupas atraentes, não para tudo! Eu amava Samuel sim tia, pelo menos achei ser amor, mais eu parei para ver o que fui capaz de fazer e me senti uma verdadeira idiota. Eu tinha um primo e um amigo que conversava comigo, me fazia rir e me fazia sentir especial. Eu o perdi, e isso é culpa minha por querer alimentar uma fantasia sem sentido dentro de mim.
Parando agora pra ver, eu realmente não o merecia, fui capaz de fazer coisas horríveis, odiar sem controle as pessoas que achei estarem em um caminho que nunca tive! A verdade é que Samuel nunca foi meu e nunca seria eu sou podre tia, por dentro, fora. Oca de sentimentos e de qualquer centelha de algo que seja bom. -Sussurrei sentindo um calor quente escorrer de meus olhos era lágrimas se verdade aqueles, realmente investidas por algum sentimento.
-Você perdeu o juízo Felipa? Ou ficou maluca mesmo?
-Não importa, eu só sei que nunca mais irei me humilhar novamente por amor de ninguém. Muito menos por um que nunca me correspondeu. -A verdade estava dentro do meu peito, ouvir Hércules um-não mais- desconhecido tinha me dado um baque de alguma forma. Era como todos os meus erros estivessem me engolindo, me mostrando a crápula que sempre fui.
-Arrependimentos Felipa? Está me surpreendendo e de uma maneira não tão boa. Conversaremos depois, eu estarei esperando você na sala para o jantar. Não me decepcione. -Ela me olhou como um aviso antes de sair batendo a porta. Eu cai de joelhos próxima a cama, sentindo algo perfurar meu peito, é minha alma de uma vez. Eu não era e muito menos queria ser engolida pelo monstro no qual que estava a me transformar. Eu queria mudar, sair daquela escuridão que de uma maneira ou outra, eu tinha a trazido pra mim.
AVA
Olhar para aquela casa me trazia péssimas lembranças, eu não gostava de imaginar o que tinha passado ali, mais sabia que no fundo, tinha sido minha força para me reerguer. O medo não daria parte de mim, assim como eu não temeria nunca mais aqueles que um dia me fizeram mal. A melhor vinhaça, eram dar a mão a quem colocou os pés para que eu caísse, não era ódio que existia em meu coração e sim a certeza de que sempre fui a melhor.
-Posso tirar o casaco, xale e gorro? -Suspirei em meio ao amontoado de panos ao meu redor. Eu praticamente tinha apenas os olhos de fora. Samuel tinha comprado roupas que nem mesmo eu sabia, botas para que eu não derrapasse e o inesperado para um monte de neve, uma bengala. Eram sua forma de me proteger, fora as algemas que ele realmente comprou. Eu não sabia se achava aquilo fofo ou um absurdo total.
-Estaremos dentro de casa e eu já verifiquei com Miguel a temperatura. Não vamos demorar muito querida, eu não quero que você passe muito tempo neste lugar, não fará bem nem a você, nem aos nossos bebês. -Assenti, eu concordava completamente.
-Eu amo você querido, por cuidar de nós.
-É o mínimo e é algo que faço com imenso prazer meu bem. Aceite de uma vez que te amo demais, que minha vida não existe sem a sua. -Ele me cheirou me beijando com intensidade, nós precisamos de um momento só nosso quando enfim, chegássemos a casa.
-Tudo bem. Vamos logo, não quero ter que passar mais tempo aqui. -Eu não precisei dizer mais nada quando seus dedos apertaram os meus e de uma vez entramos em nosso martírio. Foram poucos passos quando sussurros vieram da sala de jantar e o sorriso de Geórgia caiu quando nos viu juntos e para sua surpresa de mãos dadas.
-Ava.. -Sorri para Miguel e Sam que estavam sorrindo tanto pra mim como para minha barriga. Felipa continuava sentada como se algo envergonhar-se a si própria, me pegando com total surpresa.
-Ela voltou? Que surpresa... -Geórgia gaguejou tentando disfarçar de uma forma ridícula. Ela iria quebrar a cara.
-Ficou feliz mãe?
-Claro... imensamente. -Seu rosto quebrou não conseguindo disfarçar o nojo ao olhar para mim. Eu queria rir, mais me controlei quando Samuel segurou minha barriga diante de todos.
-Que vergonha mãe, que nojo de olhar para você sabendo do que tramou com você não é Felipa? Ontem eu descobri que seria pai, perdi os melhores momentos da vida dos meus filhos por conta do seu egoísmo mãe, da sua neurose Felipa.
-Filho isso é mentira! Ava está tentando se safar por ter fugido! Meu filho, por favor. -Ela gritou tentou se aproximar de Samuel que a afastou sem me soltar. Ela tinha procurado por tudo aquilo.
-Para mãe, para que tá feio. Agradeça a mulher ao meu lado que não me permitiu mandá-las para a cadeia, você e Felipa.
-O que? Você ficou louco Samuel? Eu sou sua mãe! Essa mulher sempre mexeu com seu juízo contra sua família, contra mim! Acorda e perceba de uma vez que ela nos odeia. -Geórgia gritou em ódio enquanto todos a olhavam. Eu estava me sentindo mal, por está perto de alguém tão ruim. Felipa continuou calada sem nos olhar enquanto apenas Geórgia dava um show.
-Pagaram Teresa Blanc para acusarem Ava de roubo, eu tenho provas gravadas e poderia muito bem as entregar a polícia. Tanto Felipa por isso como você mãe, por chantagear minha esposa usando seu coração piedoso e aquelas pessoas inocentes! Será que nenhum momento passou por minha cabeça seu sofrimento? Minha dor por está longe da mulher da minha vida, a mulher na qual você nunca agradeceu por ter salvado a vida do seu filho. Você é uma ingrata, uma mãe e cruel que só se importa com as aparências. Eu amo Ava, amo seu coração e principalmente sua cor, algo que teve tanta relevância para a senhora quando tentou nos separar.
O sangue que tem dentro das veias dela, é igual aos seu, ela respira como você, anda como você e isso nunca te fez pensar no que a disse? Mãe somos iguais, de uma ponta a outra somos todos feitos do mesmo material! Eu tenho vergonha de dizer que é minha mãe.
-Filho.. -O rosto de Geórgia estava branco, trêmulo por lágrimas grossas em seus olhos. Limpei as minhas próprias abraçado Samuel, não valia mais a pena está ali.
-Tanto você, como Felipa na qual sempre cuidei com amor e respeitos me decepcionaram e eu não tenho certeza se um dia conseguirei as olhar com um olhar diferente. Vocês machucaram minha esposa e mãe dos meus filhos.
-Eu achei ser melhor pra você Samuel! Eu sou sua mãe! Queria o melhor.
-Eu não acredito no seu melhor mãe. Agradeçam a minha Ava por não irem para a cadeia, ela não me deixou fazer o que eu pretendia mais isso não significa que estarão ilesas do que fizeram. Amanhã, tanto você minha mãe, como Felipa. Estarão limpando todos as calçadas de nosso bairro, vão ajudar cada morador do outro lado do centro com colchões, alimentos e remédios, todos que estão no abrigo se protegendo do frio e dessa tempestade. Eu fui claro? -Ele gritou e foi à vez de Felipa levantar assentindo, ela parecia diferente, muito longe de si.
-Eu irei, eu estarei lá bem cedo. -Por incrível que pudesse parecer eu ouvi a sinceridade em Felipa, ela estava diferente.
-Cale a boca sua idiota! Não vamos a lugar nenhum!
-Ótimo, eu ligarei para o delegado informando o que as duas estavam fazendo. Imagine só os jornais amanhã mãe? Com seu rosto nas páginas policiais.
-Samuel por favor, sou sua mãe..
-E eu sou o filho qual a vida você tentou destruir. Meu segurança estará acompanhando as duas, junto à lista de tarefas que estarão desempenhando nós próximos seis meses.
-O que? -Geórgia gritou enquanto todos a olhavam paralisados, ela parecia não se achar merecedora daquilo.
-Fui claro Felipa?
-Foi..
-Você vai se arrepender por ter escolhido essa mulher! Eu estarei certa no final, eu! Desgraçada!. -Ela gritou seu ódio quando apertei seus braços com força.
-Vamos embora.. Vamos querido.
-Só se for agora meu amor, o recado está dado, bom jantar para quem fica, e bom começo para as duas amanhã. É bom mínimo comparado ao que nos fizeram.
-Vocês iram se arrepender! Arrepender! -Ela gritou quando saí daquele mausoléu, de dentro do peito eu sentia que mudanças iriam acontecer, não só para nós dois mais para quem menos esperávamos. Cada um recebia o que merecia...
Não Percam o Próximo! !!!