So It Goes... | Projeto Reput...

By CeciAmaral

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Graziele nunca teve muito na vida. Desde os onze anos - quando foi expulsa de casa pelos irmãos adotivos - el... More

Projeto Reputation
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By CeciAmaral


Quando o ensaio acabou Graziele estava suada e ofegante.

Não que seus números com Victor fossem cansativos ou algo assim, na verdade sua euforia tinha outro motivo, um motivo que ela não queria admitir para si mesma.

Sentir Victor tão perto, conduzindo-a para lá e para cá e explicando tudo o que teria que fazer no dia do espetáculo em parceria com ele, a deixou completamente fora de si. Grazi mal conseguia respirar quando ele olhava para ela, e sua pele era tão quente que o mais simples toque fazia com que seu corpo parecesse se incendiar.

Mas ela sabia que aquilo não passava de atração física.

Tudo bem, Grazi até podia admitir para si mesma que Victor era maravilhoso e provocava sensações indistintas nela. Só isso. Além do mais, ela não tinha culpa, afinal, era uma reação involuntária de seu corpo, que parecia sempre em sintonia com o dele. Mas, tirando esse simples fato superficial, não havia mais nada.

"Entendeu tudo?", a voz de Victor disse ao ouvido dela, enquanto os dois ainda estavam parados em cima do palco.

"Claro", Graziele respondeu, tentando soltar os ombros e parecer relaxada. "Mais alguns ensaios e estarei pronta."

"Você aprende rápido", ele falou, tirando o casaco que vestia e conduzindo-a para fora do palco. "Está indo muito bem."

Grazi torceu para que ele não percebesse o rubor em suas bochechas. Como um simples e fugaz elogio podia fazer com que ela se sentisse daquele jeito? Que grande bobagem!

Naquele momento, Grazi viu Emilia e outras pessoas passarem por ela, tomando seu lugar no palco para o ensaio da tarde.

"Trapézio agora?", perguntou ela a Victor.

"Sim."

Graziele se empolgou, dirigindo-se para as arquibancadas para assistir ao ensaio.

Lancel atuava como aparador, enquanto Sophia, Emilia e Clyde voavam, fazendo acrobacias no ar. Parecia incrível a destreza com que saltavam e davam as mãos a Lancel, realizando piruetas de olhos vendados e tudo mais. Grazi estava tão encantada que mal piscava. Aquela com certeza era sua parte favorita dos ensaios.

"Gosta do trapézio?", a voz grave de Victor perguntou ao seu lado quando ele se sentou perto dela. Grazi assentiu.

"Não é lindo? Vê-los saltar e voar?"

"Para mim não é a melhor parte do espetáculo", ele respondeu com um sorriso arrogante.

"Ah, é?" Grazi ergueu uma sobrancelha para ele. "Então qual é a sua parte preferida?"

"Ora", começou ele presunçoso, "quando o mágico bonitão aparece e realiza um verdadeiro show."

"Convencido", Grazi murmurou, dando-lhe um empurrão de brincadeira.

Sem querer os pensamentos dela voaram para duas noites atrás, quando tivera aquele pesadelo terrível com o fogo e acabara encontrando Victor no picadeiro no meio da madrugada.

Victor Boucher não tinha sido sincero com ela quando falou das consequências de um incêndio que acontecera no circo anos antes. Ela não sabia nada sobre aquilo, mas sabia que havia muito mais por trás do que Victor deu a entender.

Não que aquilo fosse importante para ela, mas sentia que era importante para a maioria das pessoas do circo, e realmente queria se encaixar e saber mais do que lhe era revelado.

Mas, pelos menos por ora, não se preocuparia com aquilo. Seu primeiro espetáculo estava marcado para dali a alguns dias e ela de jeito nenhum queria correr o risco de fazer algo errado na frente de centenas de pessoas.

Sua prioridade era fazer parte do show e, nesse meio tempo, tentar tirar de sua mente quaisquer pensamentos que envolvessem Victor e seu jeito naturalmente sedutor e maravilhoso.

Então, quando Graziele pegou Victor olhando de esguelha para ela naquele momento, soube que talvez a segunda parte de seu plano não fosse realizada assim com tanto sucesso.

As luzes das arquibancadas estavam acesas, e espiando por detrás da cortina do palco Grazi sentiu seu corpo estremecer. Eram mais pessoas do que ela havia imaginado...

"Nervosa?", uma voz grave disse de repente.

"Victor!", ela exclamou dando um pulo, o coração aos saltos. "Você quer parar de aparecer assim? Vai acabar me matando do coração..."

O mágico gargalhou, obviamente não dando a mínima para o seu comentário.

Graziele, ainda um pouco nervosa e receosa, não pôde deixar de reparar em como Victor estava bonito naquela noite. Lindo como Grazi nunca o tinha visto. Seu costumeiro casaco longo era de um vinho escuro estonteante, a calça preta que ele vestia estava justa em suas pernas musculosas e a grande cartola icônica o fazia ficar ainda mais charmoso. Ele era uma mistura de mágico com antigo aristocrata inglês.

Uma combinação, aos olhos de Grazi, mais que perfeita.

Concentre-se, ela ordenou a si mesma em pensamento. Isso é ridículo.

"E então?", Victor chamou, despertando-a do devaneio. "Não está nervosa? Está?"

Grazi deu as costas para ele, voltando a espiar as pessoas nas arquibancadas.

"Só estou começando a desejar ter ficado no carrinho de pipocas...", ela sussurrou. Novamente Victor riu.

"Vai dar tudo certo. O primeiro espetáculo é sempre o mais difícil. Depois de um tempo você se acostuma." Graziele se agarrou àquelas palavras, desejando que fossem verdadeiras. Se todas as noites de espetáculo ela sentisse como se um bando de cavalos selvagens galopassem por sua barriga tentando subir por sua garganta, ela duvidava que conseguisse continuar com aquilo. "Além disso", continuou Victor, agora sua voz parecia mais próxima dela, "devo dizer que você está linda. Sasha fez um belo trabalho no figurino. Não que precisasse de muito esforço com você, é claro."

O coração de Graziele bateu tão rapidamente naquele momento que ela pensou estar tendo um ataque e fosse cair dura no chão.

Claro, olhando para si mesma podia ver que nunca estivera tão linda. As roupas justas e brilhantes pareciam se adequar perfeitamente ao seu corpo, assim como as sapatilhas pretas e delicadas. Seu cabelo estava armado em um grande rabo de cavalo e nunca tinha estado com os cachos tão definidos. Grazi realmente se sentia linda e confiante. Bom, talvez não tão confiante, mas estar segura de si mesma em todos os aspectos de sua vida era um processo gradual pelo qual ela teria que passar.

Mas ouvir aquele elogio de Victor? Ora, ela não devia ficar tão nervosa afinal. Talvez ele só estivesse brincando com ela. Flertando. O motivo pelo qual ele faria aquilo Grazi não tinha nem ideia, mas a sedução e o flerte pareciam estar tão entranhados na personalidade de Victor que talvez ele nem se desse conta de que suas palavras poderiam fazer uma garota derreter.

Não que Grazi estivesse derretendo. Ela estava ótima. Gelada, até. Definitivamente não estava amolecida por causa daquele elogio bobo.

"Obrigada", ela respondeu, o mais segura de si que conseguiu.

Victor continuou fitando-a com seus indecifráveis olhos acinzentados, fazendo com que Grazi se sentisse transparente. O mágico tinha um sorriso no rosto, como se se divertisse às suas custas, gostando de vê-la tão desconfortável com o elogio.

Ele a deixaria louca qualquer hora. Deixaria mesmo.

Então Grazi foi despertada, irritantemente, pelo som de uma buzina diante de seus olhos. Ela piscou, tentando enxergar quem segurava o brinquedo.

"Boa noite, senhorita. Pretendo tornar sua noite um pouco mais feliz", disse uma voz fininha e engraçada. Grazi finalmente conseguiu enxergar Chad, que saiu de trás dela.

"Claro que o palhaço tinha que chegar em um momento inoportuno", Victor sussurrou, mas tinha um sorrisinho no rosto. Graziele se perguntou o que ele quis dizer com aquilo.

Voltando sua atenção para Chad, Grazi percebeu que com sua peruca verde, sapatos enormes, roupas coloridas e rosto coberto de maquiagem, ele estava praticamente irreconhecível. Ela não pôde deixar de rir quando ele tirou de dentro do bolso um buquê de flores plásticas, que espicharam magicamente em suas mãos.

"Você está incrível", Grazi falou, inspecionando-o um pouco mais. "Espero que ninguém na plateia tenha coulrofobia", disse, referindo-se às pessoas que tinham pavor de palhaços.

"Nunca passei por isso", Chad contou, tirando do bolso um icônico nariz vermelho e colocando-o no rosto. "Além do mais, como alguém poderia ter medo de um palhaço como eu? As crianças me adoram!"

"Claro que adoram", Victor interferiu. "Convivem com você uma única noite."

"Eu poderia ficar aqui discutindo com você, falando o quanto meu número é melhor que o seu, mas está na hora do espetáculo." Chad se afastou, voltando logo em seguida com um microfone. "Galera! Vamos começar aqui, venham." E as pessoas que estavam espalhadas pelo grande camarim terminaram de acertar os últimos detalhes do figurino e maquiagem.

Àquela altura Grazi estava praticamente sofrendo um colapso. Por mais que tentasse se acalmar, pensando que o seu número com Victor era o quarto e não o primeiro, ainda assim permanecia nervosa.

Victor, então, lançou um rápido sorriso para ela e pegou o microfone das mãos de Chad, em seguida abrindo um espaço nas cortinas e saindo para o palco, que instantaneamente mergulhou em uma semi escuridão encantadora.

Está aí outra coisa que eu poderia ter feito ao contrário de aparecer nas apresentações, pensou Grazi nervosa, cuidar da iluminação.

"Boa noite senhoras e senhores..." Graziele ouviu a voz de Victor dizer de repente, retumbando por todo o circo. "Sejam muito bem-vindos ao Magic Express! Esperamos tornar sua noite um pouco mais mágica e feliz." Mesmo sem poder vê-lo, Grazi soube que ele estava sorrindo.

Porém, por mais que a voz de Victor estivesse encantadora e deliciosa de ser ouvida, Graziele estava tão agitada que não conseguiu se concentrar em mais nenhuma outra palavra que foi dita.

"Ei, acalme-se", Chad disse de repente, aproximando-se dela ao reparar seu nervosismo. Grazi olhou para ele. "Victor vai estar com você, certo? Sei que isso não é um grande consolo, mas..." Ela soltou um risinho, sem conseguir conter. Chad pareceu ficar bastante satisfeito consigo mesmo por aquilo. "Além disso, há outras garotas com você. Sasha e Kitty vão estar lá, lembra? Se algo der errado elas conseguem consertar."

"Mas não vai dar nada errado, não é?", ela perguntou receosa, contendo-se para não levar a mão a boca e roer todas aquelas unhas recém-pintadas por Sasha.

"Claro que não", Chad disse, colocando uma mão enluvada em seu ombro. "São menos de vinte minutos no palco, Grazi. Tudo vai dar certo. Depois que se acostumar fará todos os espetáculos no automático, sem nem ao menos lembrar que há centenas de pessoas olhando para você."

Graziele assentiu, repetindo mentalmente as palavras de Chad.

Era irônico, ela imaginava, que aquela apresentação estivesse causando um frio na barriga maior do que aquele que ela sentia quando roubava algumas carteiras em sua antiga vida.

Porém, Grazi percebeu naquele instante, por mais que estivesse nervosa e apavorada, aquele sentimento não era de todo ruim. Era bom. Era excitante.

E ela arrasaria.

Quando adentrou ao palco Grazi se sentiu tonta. Se não fosse Victor a segurar uma de suas mãos e Sasha a outra ­– enquanto eles se apresentavam para o público com uma reverência – ela provavelmente teria desmaiado ali mesmo.

Os truques de mágica que envolviam Grazi na verdade eram bem simples. Coisas que ela pensava serem impossíveis de decifrar não passavam de passagens secretas em aberturas no palco, caixas com mais compartimentos e outras coisas. Tudo que ela precisava fazer era sorrir e deixar Victor fazer sua apresentação. A parte de desaparecer e reaparecer era seu serviço, assim como outras coisinhas, mas ela tentava simplesmente desligar a mente e fazer o que tinha ensaiado no tempo certo.

Na verdade, era difícil se concentrar enquanto Victor trabalhava tão perfeitamente naquele palco, parecendo ter nascido exatamente para aquilo: a ilusão, o encantamento e a apresentação.

A todo momento Graziele tentava não focar os olhos diretamente na plateia, pois sabia que isso a apavoraria. Eram pessoas demais e as arquibancadas não pareciam ter fim. Por isso, se concentrou no palco, realizando tudo que havia treinado no ensaio.

O último número era um em que Grazi era depositada dentro de uma grande caixa vermelha, que Kitty trancava a chave e Victor e Sasha giravam, colocando-a no chão logo depois em um ponto específico. Mas havia uma passagem no fundo da caixa, que por sua vez se abria a outra, no interior oco do palco. Lá dentro havia um grande X no teto, que marcava onde Grazi deveria reaparecer. Ela contou até cinco, esperando o momento certo em que Sasha e Kitty, lá em cima, colocariam uma grande cortina brilhante e circular sobre o chão. Em seguida Grazi abriu a outra passagem, impulsionando o corpo para cima e ficando de pé, tomando o cuidado de fechar a portinha pela qual havia passado logo depois. As cortinas azuis a envolviam, tremulando. Grazi contou até cinco novamente e então a cortina caiu.

O público delirou e bateu palmas. Kitty, Sasha e Grazi deram as mãos e curvavam-se diante da plateia. Em seguida elas voltaram novamente para a parte de trás do palco, deixando Victor seguir com seu número, agora sozinho.

Quando Graziele viu-se longe do olhar de todas aquelas pessoas novamente, respirou fundo e sorriu.

Tudo havia dado certo no final.

"E então?", Chad perguntou se aproximando dela com sua roupa de palhaço. "Foi assim tão terrível?"

"Foi incrível!", Grazi admitiu, sentindo toda a energia do público em suas veias. A verdade é que, lá pelo fim, ela se sentiu um pouco mais à vontade, como se realmente fizesse parte de tudo aquilo e fosse necessária para o show prosseguir. Era uma sensação... maravilhosa!

"Eu sabia que iria gostar", Sasha comentou sorrindo, lhe dando um abraço apertado. "É viciante. Depois de um espetáculo bem apresentado a sensação que fica e de realização. Você vai ver só."

"Ela está certa", Chad disse, puxando a namorada para junto de si e olhando para ela. "Aliás, acho que está na hora de você vestir a roupa do seu próximo número, não é?"

Sasha fez uma careta ao ouvir aquilo.

"Não vejo a hora do bebê de Backy nascer", Sasha comentou, dirigindo-se a sua parte do camarim. "Você sabe como odeio as alturas..."

"Por favor, Sasha. Você nem está no trapézio de verdade. Seu número é no tecido acrobático, com a ajuda de Clyde ainda por cima!", Chad disse fazendo cócegas nela.

"Eu acho que você tem sorte", Grazi comentou, olhando para Sasha e atirando-se em uma cadeira próxima. Suas pernas ainda estavam um pouco bambas por conta de todo o nervosismo acumulado. "Deve ser incrível ver tudo lá de cima e enxergar as pessoas te olhando de boca aberta."

"É incrível quando você não morre de medo de cair", ela disse, dirigindo-se para as araras e procurando sua outra roupa.

"Se gosta tanto do trapézio pode pedir para alguém te ensinar a usá-lo um dia", Chad disse a Grazi. "É um processo demorado até onde sei, mas para quem realmente gosta vale a pena."

"Sério?", Grazi perguntou empolgada. Só de pensar naquilo todo o seu corpo se arrepiou de expectativa.

"Claro", respondeu ele com um enorme sorriso vermelho devido a maquiagem de palhaço. "Acredito que Sasha ficaria bem agradecida se você pegasse o lugar dela no tecido, e depois que ficar boa nele pode evoluir e ir para o trapézio de verdade."

Grazi pensou sobre aquilo. Se já havia amado atuar como assistente de palco de Victor e participar de seus truques ilusionistas, imagine só ficar no trapézio? Seria incrível!

Naquele momento Victor entrou no camarim, dando sinal para Chad.

"Minha vez!", ele anunciou empolgado. Jessie – também vestida de palhaça com um espalhafatoso vestido florido – se juntou a Chad e juntos entraram no palco.

"Como está se sentindo?", Victor perguntou se aproximando de Grazi naquele instante, enquanto explosões de risos já pareciam tomar conta do Magic Express do outro lado da cortina.

Ele tirou o casaco e a cartola e os jogou em uma penteadeira próxima, puxando uma cadeira e se sentando perto de Grazi.

"Bem", ela respondeu, desviando o olhar ligeiramente. "Foi muito melhor do que eu pensei, na verdade."

"Você tem o dom para se dar bem em um palco", ele disse com um leve sorriso. "Percebi isso hoje, na sua primeira apresentação."

Grazi tomou coragem e olhou diretamente para ele, verdadeiramente agradecida por suas palavras.

"Olha só quem fala", disse ela com um sorriso menos tímido. "Todos ficam paralisados quando você está naquele palco. Ninguém tirava os olhos de você."

E, rendida, completou mentalmente: inclusive eu...

Uma hora e meia depois e todos estavam juntos no palco.

Um show de luzes coloridas dançava sobre suas cabeças, iluminando todo o palco, e pedaços de papel prateado caiam por toda parte em uma chuva de brilho.

Todas as pessoas que tinham participado do espetáculo naquela noite estavam de mãos dadas, sorrindo e acenando para o público. Victor se encontrava no meio delas, agradecendo a presença de todos no microfone e convidando a voltarem para um próximo espetáculo.

Aos poucos a plateia foi se dissipando, mas Chad e Jessie ainda estavam lá em baixo tirando fotos com as crianças quando o movimento diminuiu e já era possível transitar com mais facilidade.

Olhando ao redor, para o picadeiro, Grazi sentiu seu coração bater forte. Sem conseguir conter, uma lágrima rolou pelo seu rosto.

Aquilo tudo era maravilhoso demais. E a sensação que aquele espetáculo causou nela parecia agora percorrer cada centímetro de seu corpo.

"Você não está chorando, está?", Victor perguntou de repente, aproximando-se dela. Instantaneamente Grazi tentou virar o rosto, enxugando as lágrimas.

"É claro que não", ela disse, rumando para a saída do palco.

"Sabe de uma coisa?", falou Victor, indo atrás dela. "Você não mente muito bem."

Graziele se virou para ele, desejando que os olhos não estivessem vermelhos por causa das lágrimas.

"Tudo bem, você venceu. Estou um pouco emocionada", disse ela, dando de ombros em seguida. "Mas isso é maravilhoso. Tudo isso." E com os braços abertos ela indicou o picadeiro.

"Claro que é", ele respondeu com seu meio-sorriso. "E sinto que vai ficar ainda melhor quando se acostumar por completo."

Naquele momento – como que surgida do nada – uma loura alta apareceu por trás de Victor, usando um mini vestido vermelho e pedindo uma foto, que ele não pareceu hesitar em conceder.

Grazi, sentindo-se subitamente desconfortável, observou o quanto Victor parecia à vontade com a desconhecida. Por sorte Sophia apareceu naquele momento, arrastando Grazi para a área dos trailers e dizendo que Wallace tinha pedido uma grande rodada de pizzas para aquela noite.

"Vamos lá, temos doze pizzas de diferentes sabores para provar", ela falou empolgada, e Grazi percebeu que as pessoas que não tinham participado do espetáculo haviam preparado uma verdadeira festa ali, juntando diversas mesas plásticas e depositando pizzas quentes e deliciosas em cada uma.

"Isso é o que eu chamo de jantar", Chad disse atrás de Grazi, tirando a peruca e passando as mãos pelo cabelo castanho.

"Papai devia ter pedido uma pizza só para Chad", Sasha comentou, reservando uma das mesas para os quatro. "Esse garoto come mais do que todos aqui."

"Preciso me manter forte", ele justificou, tirando o nariz vermelho e inspirando o doce aroma de calabresa que emanava da pizza deles. "Como vou te defender do perigo se for um cara franzino e desnutrido?"

Sasha riu.

"Como se eu precisasse de alguém para me defender. Sou uma ótima lutadora de judô, ou você se esqueceu?"

Eles gargalharam, cada um pegando um pedaço da pizza fumegante.

"Ei, Zeus!", Chad chamou, virando-se para onde um grande cachorro amarelo estava. Ele instantaneamente aproximou-se saltitando. "Toma, isso é por você ter aguentado ficar todo aquele tempo no veterinário." E jogou um pedaço de sua pizza para ele, que a pegou no ar com prontidão.

"Ele é lindo", Grazi disse, acariciando a cabeça do cão. Zeus abanou o rabo, satisfeito com o carinho.

"Parece que ele já gostou de você", Sasha disse com um sorriso, também acariciando o cão.

Por um tempo tudo pareceu certo para Grazi, o recente espetáculo, a pizza, a interação maravilhosa com todas aquelas pessoas – que ela já adorava – e a nova vida que se abria diante dela.

Tudo perfeito. Tudo pela primeira vez no lugar certo.

Então ela ergueu os olhos, sentindo algo estranho se instalar em seu peito.

Do outro lado das mesas, em um canto escuro, viu duas figuras saindo silenciosamente por uma das saídas do picadeiro.

Estreitando os olhos Grazi enxergou Victor e a Loura do Mini Vestido Vermelho, se esgueirar para dentro do trailer dele, sem que ninguém percebesse.

Grazi estupidamente sentiu-se mal.

Claro, o que ela esperava? Que Victor fosse um eremita comportado? Alguém que desperdiçaria a chance de passar a noite com uma linda mulher?

Claro que não.

Provavelmente era sempre assim. Primeiro um lindo e emocionante espetáculo, depois uma das mulheres que se atiravam para cima dele.

E, de verdade, por qual motivo ela se importava com aquilo?

O fato de Victor Boucher tê-la resgatado de sua vida na rua e oferecido uma nova casa, com um emprego e pessoas maravilhosas, significava muito para ela, mas não passava disso. Ele tinha a própria vida e Grazi não tinha que se importar nem um pouco com quem o mágico desejava passar a noite ou não, ou qualquer outra coisa relacionada a sua vida pessoal.

Pelo menos era disso que ela queria se convencer.

Afastando aqueles pensamentos ridículos para o fundo da mente, Grazi se concentrou no presente e no que ele significava. Ela estava se divertindo com os novos amigos depois de uma noite maravilhosa. Era só isso que importava.

Mas ela logo descobriu que, por mais que tentasse não pensar em Victor e em nada que a ligasse a ele, os pensamentos dificilmente a abandonariam.

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