Love Wings

By Primrosewords93

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"Diz-se que no amor, quando mais se dá, mais tem para se dar. Mas eu nunca tive nada para dar a ninguém. Às v... More

Capítulo 1.
Capítulo 2 .
Capítulo 3.
Capítulo 4.
Capítulo 5.
Capítulo 6.
Capítulo 7.
Capítulo 8.
Capítulo 9.
Capítulo 10
Capítulo 11.
Capítulo 12.
Capítulo 13.
capítulo 14.
Capítulo 15.
Capítulo 16.
Capítulo 17.
Capítulo 18.
Capítulo 19.
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24.
Capítulo 25.
Capítulo 26.
Capítulo 27
Capítulo 28.
Capítulo 29.
Capítulo 30
Capítulo 31.
Capítulo 32.
Capítulo 33
Capítulo 34.
capítulo 35.
capítulo 36.
capítulo 37.
capítulo 38
capítulo 39.
Capítulo 40.
Capítulo 41.
Capítulo 42.
Capítulo 43.
Capítulo 44. FIM!
PRODUTOS LOVE WINGS

Capítulo 20

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By Primrosewords93

POV Zayn.

Estivemos à conversa durante imenso tempo, sempre com Rose deitada sobre os meus braços. O cheiro dela estava por todo o lado. Quando lhe perguntei por que razão cheirava a guloseimas ela respondeu que usa uma loção de brilhantes com cheiro a bolos.

Escusado será dizer que isso teve um efeito catastrófico na minha imaginação, e tive de me controlar para não lhe arrancar a roupa só para comprovar a eficácia do tónico dos brilhantes.

- Está a ficar tarde. - Se eu fosse um jovem como os outros, eu não diria isto. Ou se dissesse, era somente para a arrastar da casa abandonada até ao meu loft desorganizado e pouco familiar para fazer coisas igualmente desorganizadas e pouco familiares. Mas eu vivo numa casa com triângulos de silicone nas esquinas dos armários, com proteções nas tomadas e com estrelas que dão luz no escuro coladas por todo o lado.

Eu sou o tipo de rapaz de 25 anos que não pode convidar uma rapariga para dormir em sua casa.

- Oh, ok. - Ela levantou-se com demasiada rapidez o que me deixou a pensar que talvez seja só eu a querer prolongar este momento, mas assim que vi a sua expressão desiludida senti-me mais tranquilo.

- Eu não posso ficar porque eu...

- Porque tu vives com a tua irmã e ela precisa de ti.

A minha irmã...Pois, eu não devia mentir-lhe mas eu não quero que ela descubra sobre a Emma, não para já.

- Sim, é isso. - Sorri-lhe e envolvi o seu corpo magrinho com os braços, enterrando o rosto na curva do seu pescoço. Bolos e brilhante, que combinação explosiva. - Eu prometo que vamos ter mais oportunidades.

Assim que proferi essa frase senti-a estremecer, desembaraçando-se rapidamente dos meus braços. Foi a mesma reacção de afastamento que tivera no carro quando lhe dissera aquilo que me fazia sentir. É quase como se ela tivesse medo de cada vez que me tento aproximar...emocionalmente.

- Vamos? - Perguntou ela um pouco nervosa.

- Sim.

*

Parei junto à entrada do seu prédio, e desliguei o carro.

- O Louis e a Tris devem estar loucos para saber como correu o teu dia. - Falei sugestivamente, esperando que ela me dissesse o que achou da nossa tarde.

- Vão ficar desiludidos quando lhes disser que não foi nada de especial. - Respondeu ela com um sorriso divertido.

- Oh. Lamento não te ter levado a passear numa limo e a jantar num restaurante chique.

- Não sei se o consigo perdoar por isso, M.Malik. - Ela aproximou-se e beijou-me carinhosamente a bochecha.- Obrigado, foi perfeito. E para que conste, eu não gosto de restaurantes chiques.

Eu ri e acariciei levemente o seu rosto, sem desviar o olhar do dela.

- Porra, Rose. És terrivelmente linda.

Ela corou de imediato, embaraçada, fazendo-me rir.

- Vai lá, amanhã à hora do costume.

- Dorme bem, Zayn.

Ficou subitamente nervosa e eu percebi que ela estava à espera que a beijasse, mas decidi divertir-me um pouco.

- Até amanhã, dorme bem. - Rodei a chave na ignição, fazendo o motor arrancar ruidosamente.

Ela abriu a porta, preparando-se para sair e eu puxei-a de volta, beijando-a com alguma violência. Senti uma das suas mãos agarrar-me o cabelo e sorri contra os seus lábios. Assim que nos separamos, de respiração ofegante, ela saiu do carro, corada e sorridente, preparando-se para se afastar quando eu baixei o vidro, fazendo um gesto para que se aproximasse. Ela baixou-se, confusa, e eu sussurrei ao seu ouvido.

 - Eu acho que o mel resultou na perfeição.

*

(Dias mais tarde)

POV Zayn

- Então, Zayn, como estás?

Fixei o olhar na psicóloga pois já ando aqui há tempo demais para perceber os supostos “sinais subtis” que nos dizem quando estamos a mentir. Esta é mais uma das consultas rotineiras que tenho de fazer de vez em quando pois Niall e Susan, após a morte de Jullie, acharam que eu “não estava bem” e que deveria falar com alguém. É claro que não lhe contei que matei alguém, apenas lhe dei uma visão romantizada dos acontecimentos: eu apaixonei-me por uma pessoa que traiu a minha confiança.

Depois da morte de Jullie, quando todos pensaram que ela partira subitamente para uma viagem pela Europa, deixando-me perdido (e partido) de amores por ela, toda a gente dizia a mesma coisa: é uma questão de tempo até tudo ficar bem. Pressupunham apenas que era a dor já costumeira de um amor não correspondido, talvez, quem sabe, fruto de uma traição qualquer, diziam eles, ignorando o facto de ela estar três palmos abaixo da terra por ter raptado a minha pequena Emma, o que só fazia com que essa dor fosse infinitamente maior, e esse tempo infinitamente mais longo. “É uma questão de tempo” é a pior expressão inventada até hoje, e todas as suas tristes variantes que fazem com que o tempo pareça uma espécie de medicamento milagroso capaz de curar o mal em toda a sua extensão. Sem querer descredibilizar o poder curativo do tempo…eu quase perdi a minha filha, fui enganado pela mulher que amava e levei um tiro, tudo no mesmo dia. Não é uma questão de tempo até tudo ficar bem porque nunca, nem com todo o tempo do mundo, eu vou voltar a ficar bem.

O tempo não apaga a dor, apenas a torna menos prioritária, por isso talvez eu venha algum dia a ficar menos-mal, ou um-pouco-mais-perto-de-bem.

 É por isso que eu espero.

Clareio a voz e respondo com firmeza:

-Estou bem, obrigado.

*

- Flash back on -

            - Mr. Malik, é quase cruel trabalhar para si.

            Ergui os olhos do computador e olhei de forma interrogativa para Jullie que me sorri provocadoramente. Ela está sentada mesmo à minha frente, deslizando os dedos cheios de anéis pelo tablet. É realmente deslumbrante. Trabalha aqui há algumas semanas e eu sei que estou profundamente vidrado nela, o que não pode ser bom. 

            - Porquê? – Perguntei, sorrindo de volta.

            - É desconcertante trabalhar com alguém tão bonito.

            O meu sorriso alargou e arregalei os olhos perante a sua ousadia:

            - Miss Candess, costuma dizer isso a todos os seus patrões? – Perguntei, divertido.

            - Não, só aos que conduzem o meu carro de sonho. – Respondeu, fazendo uma careta.

            - E aos que a convidam para jantar?

            Esse foi o primeiro de muitos.

            *

            (meses mais tarde)

            Jullie está sentada num banco do jardim com uma revista sobre as pernas: vai levando o dedo à boca para virar a folha mais facilmente, e apesar do meu plano original passar por observá-la mais um pouco, acabei por não resistir, caminhando na sua direção e surpreendendo-a com um beijo.

            - Olá. – Cumprimentou ela, sorrindo.

            - Olá. – Respondi, estendendo-lhe um ramo de flores.

            Ela levantou-se num ápice e lançou os braços em torno do meu pescoço.

            - Oh! Obrigado por esta surpresa maravilhosa! São lindas!

            Eu sorri e dei-lhe a mão conduzindo-a pelo parque. Falamos um pouco de tudo, como sempre…Jullie é uma pessoa com é fácil de falar: é tão compreensiva, tão paciente, tão dedicada… como se tivesse todo o tempo do mundo para prestar atenção a cada pessoa. Contei-lhe sobre Elaine e Peter e ela tem-me ajudado a lidar com tudo de uma forma que eu nunca julguei ser capaz.

            - Julles?

            - Sim, Zayn.

            - Namora comigo.

            Ela estacou no centro do parque, junto a uma fonte, e olhou-me de forma expressiva.

            - O que disseste?!

            - O que tu ouviste: namora comigo.

            Ela deu uma gargalhada:

            - Porquê?

            Ok. Essa não era a resposta que eu estava à espera, mas eu já sei que não posso esperar nada de Jullie, ela é a pessoa mais imprevisível que conheço.

            - Porque eu quero que sejas minha namorada. – Respondi, aproximando-me e tentando envolve-la com os braços. Ela afasta-se, rindo, enquanto segura o ramo de flores contra o peito.

            - Quero uma razão válida e um pedido decente.

            É fim de tarde de uma sexta-feira e por isso o parque está repleto de pessoas que, como nós, decidiram fazer uma pausa depois do trabalho.

            - Segura. – Passei-lhe o telemóvel para a mão, afastando-me.

            - Zayn?! Zayn, o que vais fazer?!

            Aproximei-me da fonte e sentei-me na borda, passando as pernas para o seu interior. Sinto a água inundar-me o fato, começando a pesar, e as pessoas em volta a olhar-me fixamente.

            - Zayn?! - A voz de Jullie sai entrecortada com as gargalhadas e eu rio também. Apoio-me na estátua de uma sereia e dou impulso para subir para o segundo patamar da fonte, deixando a água cair livremente sobre mim.

            - Zayn, tu és tolo!

            Assim que chego ao topo, ergo-me sobre mim mesmo, completamente encharcado, e grito cá para baixo:

            - Julles, eu quero que sejas minha namorada porque sim.

            Ela ri e grita de volta:

            - “Porque sim” não é resposta! 

            - Julles, eu quero que sejas minha namorada porque és o tipo de pessoa por quem eu entro em fontes com o meu fato preferido.

            As pessoas em volta sorriem perante a minha demonstração apaixonada e eu sinto-me feliz. Sinto-me capaz de fazer coisas estúpidas por amor.

            - Estragar o teu fato preferido é uma prova, não uma razão. – Explica ela, fazendo-me rir.

            - Julles, eu amo-te, isso é uma razão?

            Ela fica subitamente apreensiva, como se uma espécie de dúvida atravessasse a sua mente, mas é rapidamente substituída por um sorriso alargado.

            - Parece-me o suficiente.

            Então ela entrou para a fonte, trepou até junto de mim, e beijou-me apaixonadamente até à polícia nos alertar que há sítios mais propícios a espalhar o amor. Como um quarto... e eu segui a dica.

*

(meses depois)

- Dona Leila? O que se passa? – Saí discretamente da reunião e vim para a entrada falar. Era a 7ª chamada de Leila e tinha de ser algo urgente.

- A Jullie…

Suspirei de alívio, reduzindo o tom de voz.

- Sim, sim, eu sei, a Julles foi buscar a Emma ao infantário, deve-se ter esquecido de avisar e…

Julles está a viver em minha casa: ela e Emma são muito próximas e eu finalmente penso que posso endireitar a minha vida e formar uma família. Não podia estar mais feliz.

- Menino Zayn! – Só nesse momento percebi que a velha senhora estava a chorar compulsivamente. – Não está a perceber… a Jullie…ela fugiu.

O meu coração acelerou descompassadamente e senti-me perder as forças.

- Isso não faz sentido…

- As coisas dela…desapareceram. E a menina Emma… ela fugiu com a Emma, menino Zayn! Ela raptou a Emma e está a pedir um resgate.

Nesse momento senti que o meu coração parou e só voltou a bater horas mais tarde, quando recuperei a minha filha, e quando o coração da mulher que amava já não batia mais.

- Flash back off. -

*

Nessa manhã fumei dois maços de cigarros. Fazia algum tempo que não ia à psicóloga e sempre que por lá passo acabo por sair pior do que entrei, recordando toda a história que passei com Jullie e a forma trágica como ela terminou.

            - Não o vejo a cumprir a sua parte do acordo, Mr. Malik. – Rose apareceu pelas minhas costas, roubando-me o cigarro da boca e dando uma longa passa para logo de seguida expirar uma nuvem de fumo na minha direção.

            - Miss Everdeen, provocar o patrão dessa forma não é aconselhável. – Olhei em volta para ver se havia alguém por perto, e uma vez que não vi ninguém, enrolei os meus braços em torno da sua cintura, puxando-a para junto de mim. Deixei-me ficar junto dela uns momentos, envolvendo-a num abraço gigante. Ela acalma-me de uma forma estranha, ao mesmo tempo que me faz sentir em permanente alerta com medo de me aproximar demais como o que aconteceu com Jullie. Ela encostou a cabeça no meu peito, fechando os olhos.

            - Não estás muito bem hoje. – Disse ao fim de uns segundos.

            - Não. – Confirmei, beijando o todo da sua cabeça onde um elástico com uma flor prendia os longos cabelos cor-de-rosa.

            - O que posso fazer por ti? – Sussurrou ela contra a minha camisa.

            - Aceito um Kebab. – Respondi, fazendo-a rir.

            - Podemos ir comer quando sairmos.

            - Não posso, Rose, tenho a minha irmã e… Amanhã. Amanhã vamos sair. Quero que me leves ao teu lugar.

            - Ao meu lugar? – Perguntou, confusa.

            - Sim, todas as pessoas têm um lugar… assim um sítio que lhes seja muito especial. Eu mostrei-te os meus, agora quero ver os teus. – Expliquei, ainda com os braços em torno do seu corpo magrinho. Está imenso frio cá fora e eu sinto-a tremer levemente mas não posso correr o risco de que alguém lá dentro nos veja e ao mesmo tempo não faço intenções de a largar nos próximos minutos.

            - Hmm, percebo. Então fazemos assim, saímos do trabalho, eu levo-te ao meu sítio e depois faço o jantar para nós.

            - Oh meu deus, Rose, sou tão novo para morrer! – Exclamei dramaticamente, fazendo-a rir.

            - Está a duvidar das minhas capacidades para a cozinha, Mr. Malik? Em último caso, estou certa que o Gato não se importará de dividir o jantar consigo…espero que goste de cereais com sabor a salmão. – Respondeu, exibindo um sorriso divertido. Num gesto impulsivo deposito um pequeno beijo na ponta do seu nariz rosado, devido ao frio, fazendo-a corar.

            - Adoro ver-te corada. – Sussurro, acentuando a cor das suas bochechas. 

            - Vamos trabalhar! – Protestou, embaraçada, libertando-se dos meus braços. – Se o meu patrão nos apanha…

            Eu ri e segui-a até ao gabinete, onde terminamos as tarefas desse dia.

*

POV Rose

            - Anda, vamos sair mais cedo hoje! – A versão entusiasmada de Zayn agrada-me mais do que deveria. Desde o início do dia que tem andado eufórico a perguntar onde vamos, embora sem sucesso, já que nem eu faço ideia de onde o irei levar.

            Toda a gente tem um lugar, certo, menos eu. É claro que adoro a minha cidade, e é claro que há sítios que me marcam, mas é como se não me sentisse inteiramente ligada a nenhum deles. Sempre a mesma história: sempre asas, nunca raízes. Eu queria ser uma pessoa com um lugar para mostrar a Zayn, mas eu não sou.

            - Podemos ir só dar uma volta a algum lado que tu queiras? – Perguntei tristemente. Rapidamente ele se recompôs e sentou-se ao meu lado, levantando-me o rosto na sua direção.

            - Ei, que se passa? – Perguntou, preocupado.

            - Zayn, eu não tenho um lugar. – Eu sei que pareço ridícula, eu sei. Mas talvez quanto mais cedo ele descobrir o quão ridícula eu sou, talvez menos se apegue, e será mais fácil quando eu me fartar dele. É uma coisa horrível de se dizer, mas é a verdade.

            Ele arregalou os olhos e depois riu, fazendo-me sentir estúpida. Cruzei os braços sobre o peito, numa atitude infantil, e ele pegou-me na mão, puxando-a para si, e beijando-a carinhosamente.

            Oh caramba, isto é sexy. Ele é sexy. Respira, Rose.

            - Muito bem…não tens um lugar, então vamos arranjar-te um.

            Eu arqueei a sobrancelha, numa expressão confusa e ele sentou-se no sofá, puxando-me para o seu colo, o que me fez corar violentamente.

            - Muito bem, então, tu gostas de desenhar, e gostas de ler, gostas de gatos e …

            - Gosto de chá.

            Ele riu e entrelaçou a mão na minha, fazendo pequenos círculos com o polegar.

            - E gostas de neve.

            - Como sabes!? – Perguntei, abismada.

            - Eu vi os teus desenhos, tonta. E o facto de passares a vida a olhar pela janela nestes últimos dias?!

            Eu anui, confirmando. Eu realmente adoro neve e espero que não demore muito até começar a nevar este ano…deve estar para breve!

            - E gostas de ananases.

            - E gosto de ananases. – Repeti, lembrando o nosso primeiro beijo.

            - Eu confesso que agora gosto um pouco mais de ananases. – Disse ele com um sorriso maroto. – E de mel.

            Eu voltei a corar e Zayn continuou a lista das coisas que eu gosto:

            - Gostas de pássaros. – Ele fez uma paragem solene e depois continuou. – Correção: gostas da representação metafórica dos pássaros.

            - Certo. – Um sorriso desenhou-se no meu rosto ao perceber que ele não esquecera estes pequenos pormenores das nossas conversas anteriores.

            - Bom, estes elementos devem chegar para definirmos um sítio para ti. – Rematou ele, convicto da sua decisão em arranjar-me um “lugar”.

            Pensou durante uns segundos e de repente levantou-se, deixando-me cair sobre o sofá.

            - Zayn! – Protestei, às gargalhas, perante o seu entusiasmo.

            - Rose Everdeen, eu encontrei o teu lugar.

            Apeteceu-me dizer-lhe que não, que não é possível ele ter-me encontrado um lugar porque eu não sei pertencer a lugar algum, porque mesmo estando em algum sítio eu estarei sempre a pensar no próximo ou no anterior, e isso faz com que eu seja sempre uma espécie de nenúfar com raízes cortadas. Mas acenei como incentivo e deixei que ele me conduzisse até ao lugar que ele acha ser o meu.

*

            - Voilá. – Zayn tirou as mãos dos meus olhos e aos poucos habituei-me à claridade. Olhei em volta e reparei que estamos no terraço de um edifício do qual se vê a cidade toda. Zayn explicou que é um dos terraços da empresa mas que a este ninguém mais tem acesso, a não ser eu.

            - Hmm… este é o meu sítio?

            Confesso que esperava algo mais grandioso…

            Ele riu da minha incredulidade e abanou a cabeça.

            - Espera um pouco. – Ele consultou o relógio e para meu espanto ordenou que me deitasse no chão.

            - O quê?!

            - Deita-te no chão! – Ele fê-lo e eu, apesar de confusa, imitei o gesto, ficando deitada ao seu lado.

            - E agora? – Perguntei, encostando-me mais ao seu corpo por causa do frio. E não só.

            - Agora, esperamos.

            Senti-me um pouco ridícula a olhar as nuvens cada vez mais densas, mas não o suficiente para chover, o que promete a queda de neve em breve.

            - E agora? – Repeti, num sussurro, temendo estragar a solenidade do momento, qualquer que ele seja. Ele voltou-se de lado, fixando os olhos nos meus e começou a fazer contagem decrescente:

             - Dez…nove…oito…sete…

            - Zayn, eu não acho que este seja o meu lugar. – Sussurrei, sem desviar o olhar dele. – Eu não acho que pertença a algum lado, como tu pertences e…

            - cinco…quatro…três…

            - Eu não me identifico com as coisas….

            - Dois…um…

            Um sorriso rasgado abriu-se nos seus lábios e voltou-se de novo de barriga para cima, fechando os olhos. Nesse momento um avião passou por cima das nossas cabeças, tão baixo que fez com que uma onda de ar atravessasse o terraço, atingindo-nos com uma violência espetacular. Gritei ao sentir a adrenalina percorrer o meu corpo e comecei a rir juntamente com Zayn, que entretanto entrelaçara a sua mão na minha. 

            Assim que o avião se afastou, alcançando uma maior altitude, ergui-me até estar sentada, com o cabelo completamente despenteado e com as maçãs do rosto afogueadas. Zayn fez o mesmo, e ao vê-lo tão despenteado e corado apeteceu-me beijá-lo logo ali, mas contive-me. Afinal estamos no meu lugar, e é preciso respeito.

            - Oh. Meu. Deus.

            - É… eu sei…O avião é uma metáfora.

            Eu ergui a sobrancelha e esperei que ele continuasse.

            - É como se fosse sempre uma nova partida…sem lugar onde aterrar de forma definitiva. Quando falam em coisas abstratas, como a alegria e a liberdade, dizem que não podemos senti-las…mas eu acho que aqui se sente a liberdade, vês? – Ele tocou-me no rosto com a mão gélida e trémula, e eu percebi o que ele queria dizer. Aquela sensação…sim, aquilo é liberdade, e é concreta. – Eu não acho que não-pertencer seja mau, ou não ter um lugar… é só algo muito teu. E assim este passa a ser o teu não-lugar.

            Senti-me comovida com as suas palavras e encostei a cabeça no seu ombro, fechando os olhos.

            - Eu gosto de não-lugares. – Respondi, consciente que nunca ninguém chegara tão longe na tarefa de me conhecer como ele. Isso é perigoso, mas eu estou a gostar. Nesse momento começou a nevar a eu estiquei a mão para o primeiro floco, que nada tem a ver com aquelas coisinhas que aparecem nos filmes que parece açúcar esculpido pelos Deuses… é mais como uma ponta de um cotonete.

            - Rose, eu quero ser um dos teus não-lugares.

            Nesse momento Zayn beijou-me apaixonadamente e por um momento eu pensei que talvez eu possa vir a pertencer a algo, e talvez esse algo seja ele. 

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