Sombras do Desejo (Romance Lé...

By CarolRosa86

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Paola é uma mulher de 22 anos que, devido a uma gravidez aos 17 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52 - Final

Capítulo 5

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By CarolRosa86

 Depois de uma semana corrida, cheia de trabalho, diversão e a presença de Marcela me alegrando, finalmente chegamos ao domingo.

- Em pensar que amanhã tudo recomeça... aff... - Falo me jogando no sofá da minha sala e bufando cansada.

Marcela foi embora hoje para Londres, segundo ela, precisaria estar de volta para o trabalho, que não esperava. Fiquei feliz em revê-la, afinal, sempre fomos muito próximas. Crescemos juntas e sempre tivemos muita cumplicidade. Como disse, gostava de conversar com ela, pois conseguíamos falar de qualquer assunto sem muita enrolação e pessoas assim me agradam e muito.

Liguei a TV e coloquei em um canal de notícias, não que quisesse saber o que acontecia no mundo, mas precisava distrair minha cabeça com algo e nada melhor que tentar me atentar a alguma informação útil, não é mesmo.

Estava distraída vendo um "especialista" falando sobre o mercado financeiro norte americano, quando meu celular começou a tocar sobre a mesinha de centro. Peguei e me deparei com o nome de Priscila, o que me fez rodar os olhos. Desde o último final de semana que passamos em Búzios, que não falo com ela.

"Deve estar uma fera por ter deixado ela de lado." pensei, colocando o celular no silencioso e o retornando ao lugar onde estava.

Priscila é uma modelo fotográfica que conheci durante um trabalho de publicidade em que ela foi a estrela e minha empresa estava responsável. Ela é linda, uma mulher morena de olhos claros como duas belas pedras preciosas, além de uma presença que marca. Apenas com 17 anos já se sobressaía no mercado de modelos. Claro que quando a conheci ela já era maior de idade, tinha seus 19 anos, nunca me envolveria com uma menor de idade.

O problema de Priscila? Simples! Ela é pegajosa. Mesmo eu falando diversas vezes que não queria nada sério, ela sempre dava um jeito de grudar em mim, além de fazer caso com qualquer uma que se aproximasse. Quando ela foi para os EUA para fazer sua carreira internacional, dei graças a Deus, porém, como muitas, ela está de volta, mais velha – 21 anos – porém com a mesma beleza e a mesma mania grudenta. O fato é que acabo cedendo e fico com ela novamente.

- Tenho que tomar vergonha na cara e parar de dar trela para ela garota. - Falei para mim mesma, me estirando no sofá enquanto a tela do celular não parava de brilhar.

Cansada, fui tomar um banho relaxante e espairecer minha mente, precisava focar no meu trabalho. "Acho que vou dar um tempo de mulheres, estão me distraindo muito." pensei deixando a água quente e aconchegante correr por meu corpo nu.

Saí do banho depois de, quase, uma hora, me enrolei no roupão de banho e retornei para a sala, onde havia deixado a TV ligada e o celular sobre a mesinha de centro. Felizmente ele havia parado de tocar. Provavelmente terei um belo problema quando a encontrar novamente, mas que se dane, não estou com paciência.

Liguei para uma pizzaria e pedi uma quatro queijos, pois não estava a fim de cozinhar e muito menos sair. Fui até a cozinha pegar algo para beber e, quando voltei, visualizei meu celular voltando a tocar. Sabe quando sua paciência vai para o ralo? Quando você quer socar a pessoa que te incomoda e afogá-la até que ela pare de respirar? Então, estou me sentindo assim agora, Priscila está sendo chata e se tem algo que detesto essa coisa é gente sem noção.

Fui caminhando apressadamente e peguei o celular, sem nem mesmo olhar quem estava ligando. Atendi feito um cão raivoso saindo do canil.


- Olha aqui, dá para parar de me ligar?! Se não atendi antes é porque não quero conversar. Passou pela sua diminuta mente que estaria ocupada, ou dormindo, ou trabalhando, ou com outra pessoa... OU NO INFERNO?! - Gritei, perdendo toda minha compostura. Estava farta dela ocupando minha linha com uma chamada atrás da outra.

- Desculpe senhora Fernanda! Não sabia que estava te incomodando. - Ouvi essa voz através da linha e, imediatamente, senti meu rosto queimar. Era Paola e não Priscila. - Vou deixá-la descansar, mais uma vez, me desculpe.

- Paola?! - Chamei apressadamente, antes dela desligar.

- Sim?!

- Desculpe... não era para falar assim com você. - Respondi com a voz tomada por arrependimento. Mesmo não sabendo o que levou minha funcionária a me ligar num domingo a noite, não poderia tê-la tratado dessa maneira descortês. - O que deseja? - Perguntei tentando espantar o mal entendido.

- Só liguei para avisar sobre a reunião de amanhã, às 09:00... a senhora havia me pedido para programar o aviso em seu celular, mas fiquei com medo de, mesmo assim, a senhora não lembrar. - Respondeu com voz calma, mas apreensiva.

"É mesmo! A reunião com a empresa de cosméticos." pensei levando a mão a cabeça. Precisava preparar as coisas que necessitaria.

- Nossa Paola! Obrigada por me lembrar, já estava esquecendo. - Falei aliviada, pois, realmente estava esquecendo. Sou péssima com datas, horários e lembrar de compromissos. Nem sei como consigo ter uma empresa como a minha.

- Por nada... fico feliz em conseguir fazer meu trabalho. - Ela respondeu e pude notar que sorria. - Bem, agora vou desligar e deixá-la descansar. Até amanhã senhora Fernanda...

- Por favor Paola... só Fernanda. - Cortei-a, pois, realmente, não me apetecia ser chamada por senhora. Fazia-me crer ser bem mais velha do que realmente o sou. Mesmo gostando de manter a hierarquia bem projetada, não me sentia bem com toda essa cerimônia.

- Perdão senho... quer dizer, Fernanda. - Falou apressadamente, o que me fez rir. - Até amanhã e tenha uma boa noite.

- Tenha uma boa noite também Paola e até amanhã. - Despedi-me desligando logo em seguida.


Foi interessante a forma como ela achou para me lembrar de minha reunião, Amélia era uma pessoa prestativa, mas, raramente ligava para meu celular para falar coisas que não fossem realmente urgentes – não que uma reunião com um possível cliente não o seja, mas era algo que poderia ser deixada para o dia seguinte. - Realmente ela parecia ser uma pessoa imbuída de seu trabalho e muito responsável.

- Gostei! Gosto de pessoas pró-ativas. - Falei já me virando e indo correndo para meu pequeno escritório arrumar as coisas para a reunião do dia seguinte.

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Meu final de semana foi maravilhoso – em partes. Primeiro, consegui começar no meu trabalho e, por mais nervosa que estivesse, estou levando bem com minha chefe. Ela é uma mulher elegante e muito séria, porém, consegue ter seus momentos de docilidade, sendo bem natural.

Ninguém imagina o quanto torci por esse trabalho, o quão bem ele vai me fazer e tudo que ele representa para mim. Poderei dar uma vida melhor para meu filho. Sei que devem estar pensando que estou louca, afinal sou só a secretária, mas, para quem não tinha nada, nenhuma perspectiva, ter alguma segurança é fundamental para ter a tranquilidade de criar seu rebento.

O ponto negativo do meu final de semana está no meu marido. Descobri porque ele não estava saindo de casa para lugar nenhum durante esses dias. Simplesmente ele pegou dinheiro emprestado com um cara barra pesada e não conseguiu devolver. O infeliz nem se dignou a me contar a verdade, deixando eu e meu filho na penumbra do tema e correndo risco, afinal, somos sua família. "E se esse cara resolve descontar na gente para chegar nele?" foi o único que pensei. O pior é que descobri através da vizinha, que ouviu o assunto do marido dela, que é dono de um bar na região.

Sério! Às vezes eu tenho vontade de afogar o Anderson. Ele não pensa nas consequências de seus atos, nos perigos que ele traz para nossa família. Claro que, assim que fiquei sabendo, coloquei ele contra a parede, afinal, se ele pegou dinheiro emprestado, onde ele gastou? E por que não me contou? Porque, para casa é que ele não trouxe, afinal, há um bom tempo que ele não abastece nosso lar com um centavo. Caso eu não fosse uma pessoa financeiramente controlada e não tivéssemos a ajuda de Plínio e Isabel, nem imagino o que estaríamos passado.

Infelizmente ele não me contou onde enfiou o dinheiro e ainda acusou a vizinha de fofoqueira e mentirosa, mas eu sabia, só em olhar para ele, que era verdade. Meu sábado todo foi para o buraco com essa situação. Queria levar Gabriel para tomar um sorvete e passear e nem consegui.

Como sempre, tive que me intrometer e mentir para meu irmão, que me emprestou a quantia, com a desculpa de que eu precisaria para comprar algumas coisas e ele aceitando que pagasse aos poucos, para eu, me arriscando, ir até o tal e quitar a dívida.

Jorjão, como é conhecido o dito cujo, é um bicheiro da região. Acham que essa "classe" não existe? Estão enganados, eles estão mais vivos do que nunca. Fui até ele, sozinha, e lhe devolvi o dinheiro, ainda tendo que ouvir que "meu marido tinha sorte em ter uma mulher como eu, linda e com atitude", além de outras gracinhas.

"Mas o Anderson vai me pagar por isso!" foi o único que pensei ao sair daquele lugar. Obviamente que ele não ficou sem escutar mais. O homem – se é que posso chamá-lo assim – fez um teatro de tragédia, falando que eu não deveria ter ido até lá, o que falariam dele ao saberem sobre sua esposa ir ver esse tipo de gente, etc.

Mandei ele para o inferno e o expulsei de casa, pelo menos por alguns dias. Isso não era uma grande novidade entre nós, tanto que ele sempre tinha um espaço pronto para ficar na casa de um dos amigos dele. Sei que estou errada em aceitá-lo de volta depois de tudo que ele faz, mas não consigo ver Gabriel perguntando do pai e acabo cedendo.

Domingo já foi um dia mais tranquilo. Saí com Gabriel, meu irmão e sua noiva, Vanessa, para ir um pouco ao shopping. Gabriel não cabia em si e, tanto meu irmão quanto Vanessa, o mimavam demais. Os dois o adoravam e vê-los tão à vontade com meu pequeno me faz perceber o quanto eles serão bons pais quando os filhos deles vierem ao mundo.

Estávamos sentados na praça de alimentação, fazendo um lanche, quando o assunto meu novo emprego veio a tona.

- Então Paola, como está sendo o trabalho novo? - Vanessa perguntou sorridente, com meu pequeno em seu colo comendo batatas.

- Ainda não tenho como dizer, mas gostei muito do primeiro dia. - Respondi alegremente, afinal, tinha gostado de verdade do clima da empresa.

- É uma empresa nova, porém já está bem-conceituada no mercado. - Vanessa pontuou me fazendo olhá-la interessada no assunto. - Se você se dedicar, pode se dar muito bem lá.

- Pelo que diz, é uma empresa prometedora, então?! - Plínio, que nos observava enquanto devorava um hambúrguer enorme, pontuou.

- Sim, além de Fernanda ser muito respeitada, pois é filha de um empresário de sucesso. - Vanessa começou a rir, o que me fez olhá-la estranhada. - Mas, dizem as más-línguas, que ela é péssima com sua organização, por isso é tão dependente que alguém cuide de sua agenda. - Comentou me fazendo rir.

Realmente, no primeiro dia de trabalho ela fez questão de me mostrar toda sua agenda, além de me explicar o funcionamento de suas programações. Larissa também me alertou que eu teria que ficar bem de olho nos seus compromissos, pois ela, não conseguiria lembrar de maneira alguma.

Claro que não falei com Plínio e Vanessa sobre suas colocações serem verdadeiras, afinal, seria antiético de minha parte, mas é engraçado saber que essa fama dela já se estendia para fora da agência. "Ela tem um compromisso amanhã! Será que ela vai lembrar?" recordei e me coloquei em alerta, precisava avisá-la, pois, com essa fama toda, era bem capaz dela ter esquecido.

Ficamos mais um pouco no shopping, dando uma volta e olhando as vitrines, quando deu por volta das 19:00, voltei para casa com meu pequeno. Estava um pouco cansada, mas feliz por vê-lo tão alegre com o bonequinho que Plínio lhe deu de presente. Era do Hulk, pois o monstrão verde era o herói preferido de Gabriel.

Fiz o jantar, o qual comemos assistindo desenhos animados, e depois lhe dei banho. Por volta das 21:00, o levei para a cama. Gostava que ele dormisse esse horário, primeiro porque achava um horário ideal e segundo pelo fato de acordarmos muito cedo nos dias de semana. Não queria que ele se desgastasse.

- Acho que é um bom horário para avisar para ela. - Falei indo por meu celular corporativo, onde eu tinha o número da senhora Fernanda, para poder mandar uma mensagem sobre a reunião de amanhã. - Mas será bom mandar mensagem? Sou sua secretária... - Fiquei pensativa.

Tenho um pouco de medo de errar com a minha chefe, ela parece uma pessoa muito restrita e que gosta das coisas feitas corretamente. "O que eu faço?"

Fiquei um tempo me remoendo até que decidi ligar. Achei melhor, afinal não somos amigas para ficarmos trocando mensagens.

Busquei o número dela na agenda e coloquei para chamar. O som do toque constante me fez senti um enorme frio na barriga, até que ela atendeu e, digamos, a recepção no foi das melhores.


- Olha aqui, dá para parar de me ligar?! Se não atendi antes é porque não quero conversar. Passou pela sua diminuta mente que estaria ocupada, ou dormindo, ou trabalhando, ou com outra pessoa... OU NO INFERNO?! - A ouvi derramar suas palavras de descontentamento sobre mim sem parar. Sua voz era de total insatisfação e raiva. "Acho que deveria ter mandado mensagem." foi o único que consegui pensar.

- Desculpe senhora Fernanda! Não sabia que estava te incomodando. Vou deixá-la descansar, mais uma vez, me desculpe. - Falei apressadamente, tentando remediar meu deslize e não ser demitida antes de completar, no mínimo, um mês no trabalho.

- Paola?! - Ela me chamou, impedindo que eu desligasse..

- Sim?!

- Desculpe... não era para falar assim com você. O que deseja? - Perguntou e, era impressão minha ou ela estava um pouco atordoada?

- Só liguei para avisar sobre a reunião de amanhã, às 09:00... a senhora havia me pedido para programar o aviso em seu celular, mas fiquei com medo de, mesmo assim, a senhora não lembrar. - Falei tentando mostrar tranquilidade, mas tive até que me sentar, pois minhas pernas tremiam.

- Nossa Paola! Obrigada por me lembrar, já estava esquecendo. - Fernanda respondeu e pude ouvi-la suspirar. Que bom que me lembrei, pois, como imaginei, ela não havia visto o alerta na agenda.

- Por nada... fico feliz em conseguir fazer meu trabalho. - Respondi alegre. No final, dei bola dentro. - Bem, agora vou desligar e deixá-la descansar. Até amanhã senhora Fernanda...

- Por favor Paola... só Fernanda. - Ela me cortou, me fazendo ruborizar.

- Perdão senho... quer dizer, Fernanda. Até amanhã e tenha uma boa noite.

- Tenha uma boa noite também Paola e até amanhã. - Despediu-se desligando e me deixando com o celular em mãos.


- No final, eu fiz a coisa certa. - Falei orgulhosa de mim mesma.

Levantei-me do sofá, guardei o celular e fui tomar meu banho para poder dormir. Estava um pouco cansada e precisaria acordar cedo na segunda-feira.

Na segunda-feira, minha rotina retornou. Acordar, faz café da manhã, arrumar meu filho, tomarmos café e saírmos, ele para a creche e eu para meu trabalho. Já se passaram, praticamente, dois dias desde que coloquei Anderson para fora de casa, bem provável que hoje à noite ele apareça em casa pedindo perdão e querendo voltar. O pior de tudo é que ele é chantagista, pois, bem provável, irá usar Gabriel contra mim. Meu filho ama o pai, sendo unha e carne com ele.

Segui para o trabalho e, quando cheguei, meu crachá já estava na portaria, o que me fez admirar a rapidez e o trabalho do RH da agência. São muito eficientes.

Subi para meu andar já sabendo que não viria minha patroa durante a manhã, o que aproveitaria para me inteirar mais um pouco com Larissa sobre o trabalho. Nunca é demais aprender e me preparar para poder "melhor anteder".

A hora pela manhã passa muito rápido, quando dei por mim, já eram 11:00. - Pelo menos consegui organizar essa planilha. - Comentei comigo mesma, sentindo orgulho do meu trabalho.

Fernanda havia me deixado uma planilha com vários gráficos e informações sobre trabalhos que a agência estava fazendo e pediu para eu fazer um levantamento do tempo de cada um. Vocês deviam ter visto o emaranhado que aquilo estava. Datas desconexas, nomes errados, etc.

Trabalhei a manhã inteira tentado arrumar aquilo, mas, agora, consigo pelo menos me localizar e atender ao pedido que ela me fez.

- Até o final do dia consigo entregar os dados. - Falei me levantando para ir até a impressora pegar as folhas que havia impresso para ela verificar.

Voltei organizando as coisas quando uma mulher, alta, magra e elegantérima entrou sala a dentro, parando de frente para mim com cara de poucos amigos.

- Pois não? - Perguntei a olhando um pouco assustada.

- Fernanda está? - Ela perguntou de forma seca. "Deve ser alguma cliente." pensei.

- Ela não se encontra, foi a uma reunião bem cedo e ainda não retornou... - Falei indo para minha mesa, me sentando e pegando uma folha para anotar as informações dessa moça. - A senhora pode esperar ou, se preferir, deixar seus dados que... - Nem terminei de falar e ela já me cortou com toda a arrogância do mundo.

- Vou esperar na sala dela, não se preocupe. - Falou já enfiando a mão na maçaneta e entrando.

Lógico que fiquei apavorada, afinal dona Fernanda não estava e, por mais que essa moça seja sua cliente, ela não pode ir entrando assim. Levantei e corri atrás dela, desesperada.

- Senhora... desculpe, mas não pode entrar assim. - Falei indo atrás dela, que me ignorava lindamente.

- Hmmm... esse lugar não mudou muito. - Comentou olhando em volta. - Fernanda é bem tradicional mesmo.

- Senhora, por favor, se deseja esperar, poderia fazê-lo na sala de espera? Não pode ficar aqui dentro. - Voltei a falar e, agora sim, ela se virou para me olhar e, confesso, fiquei com medo, pois seu olhar não era bom.

- Vejo que é nova aqui, não é? - Perguntou me fazendo engolir em seco.

- Sim senhora. - Respondi me sentindo acoada.

- Pois bem... - Olhou-me com os olhos entrecerrados.

- Paola.

- Pois bem Paola, saiba que eu e Fernanda somos grandes amigas e temos negócios, então, não se preocupe, eu posso sim ficar aqui nessa sala. - Sorriu e se sentou no sofá, cruzando as pernas e me olhando com soberba.

Estava prestes a me render diante de sua colocação, afinal, se elas têm negócios e são amigas, essa moça deve ter mesmo essa liberdade, senão não entraria ali daquela forma, quando uma voz descontente me fez virar assustada.

- O que está acontecendo aqui? - Fernanda perguntou rispidamente. Se essa mulher me deixou com medo, o olhar de Fernanda agora me deixou com pavor. Ela estava vermelha e totalmente aborrecida com a situação. "Aí meu Deus!"

- Dona Fernanda... - Comecei a falar e ela me encarou com reprove. - Quer dizer, Fernanda... ela chegou agora e já foi entrando, me dizendo que são amigas e têm negócios... - Comecei a falar tentando resolver a situação que, acreditem, estava tensa demais.

- Tudo bem Paola, deixa que eu resolvo, volte ao trabalho e feche a porta quando sair, por favor. - Falou indo até sua mesa.

- Sim, com licença. - Falei saindo apressadamente e fechando a porta como ela mandou. Não sei porquê, mas essa situação estava cada vez mais estranha e me dando medo.

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Havia ido a uma reunião com um, agora, cliente da agência, onde passei minha manhã toda lhe apresentando informações sobre nossos trabalhos e tentando convencê-los de fechar um contrato de publicidade conosco. Tudo durante um café da manhã em um restaurante na Barra.

Cheguei em minha empresa me sentindo, admito, esgotada. Ainda era segunda-feira e eu já torcia pelo final de semana para voltar a descansar. Não queria ver, falar ou me estressar com ninguém mais, decidi que evitaria até mesmo o Cláudio, porém, qual não foi a minha surpresa quando chego na minha sala e dou de cara com Priscila, sentada cheia de pose no meu sofá enquanto Paola estava de pé a olhando sem saber o que fazer.

- Só pode ser brincadeira... ou melhor, carma! - Falei entre dentes e com muita raiva.

Paola ainda tentou se explicar, mas eu conheço Priscila, do jeito que ela é, não deve ter nem dado a oportunidade da minha secretária a barrar. Obviamente que teria que tomar frente da situação, então "dispensei" Paola e agora estou sozinha com o chiclete mais grudento do mundo. "Maldita hora que voltei a foder com ela." pensei suspirando.

- Meu amor! - Priscila falou se levantando e vindo em minha direção tentando me abraçar, mas eu me esquivei.

- Priscila, você tem algum problema? - Perguntei a encarando sem um pingo de paciência.

A garota me encarou com cara de poucos amigos e bufou irritadinha. - Não acredito nisso Fernanda! - Esbravejou. - Você passa um final de semana inteiro dormindo comigo e, no seguinte, finge que eu nem existo, nem atender minhas chamadas você atende! Qual seu problema?

- Do que você está falando? - Perguntei me sentando em minha cadeira. - Você sabe que o fato de transar com você não me transforma em sua namorada. - Falei sem paciência. - Desde o começo deixei claro minhas intenções e você as aceitou. Aliás, não é a primeira vez que falamos sobre isso e você sabe bem.

- Mas não é justo! - Priscila exclamou batendo suas mãos sobre minha mesa. - Pelo menos atender minhas chamadas, nem isso você pode?

Bufei cansada, me recostando na cadeira. - Olha Priscila, o problema não é atender as suas chamadas... o problema é que você acha que, pelo fato de nos divertirmos, temos algo, aí você começa a marcar território, fazer showzinho quando me vê com outras...

- VOCÊ NÃO PRECISA ESFREGÁ-LAS NA MINHA CARA! - Priscila gritou me fazendo olhá-la com raiva. Detesto escândalos.

- Fala baixo. - Falei com os dentes travados. Acho que ela até conseguiu ouvir os rangidos deles.

- Pra você é simples... fode comigo um final de semana inteiro e depois finge que eu não existo. - Ela fala com os olhos lacrimejando e me fazendo rodar os olhos de desgosto. - Por que faz isso? Quem te transformou nessa pedra de gelo ambulante?

Olhei para ela séria, aquele não era um assunto que eu gostaria de ter, principalmente com ela.

- Não tem nada disso garota. - Levantei indo até a janela. - Só não gosto de compromisso e você sabe bem disso, nunca menti e se você embarcou não foi sem conhecer o contrato de adesão

- Não se trata de um negócio Fernanda... sou uma mulher, tenho sentimentos. - Disse me fazendo virar para olhá-la.

- Sinto muito por eles, mas não serei eu a retribui-los. - Pontuei séria. - Por favor, aqui é meu local de trabalho, não venha aqui mais me incomodar sobre essas coisas, ou melhor, vamos dar um ponto final nisso de uma vez, não está dando certo.

- Está me dispensado? - Perguntou com os olhos arregalados.

- É o melhor...

- Você só pode estar brincando... - Vi-a me olhando de maneira indecifrável, como se tentando concatenar a informação que acabei de lançar para ela.

- Não Priscila, eu não estou brincando. - Voltei a sentar. - Aliás, acho que nunca falei tão sério em toda minha vida. - Falei a olhando e a vendo imóvel à minha frente. Como não acreditando nas coisas que eu dizia.

Ficamos alguns segundos em silêncio, ela tentando entender as coisas que havia dito e eu esperando alguma reação, porém, o que se seguiu foi algo inimaginável até para mim. Priscila começou a gargalhar sem parar. Seu riso alto se misturava com as lágrimas que escorriam de seus olhos, me deixando assustada.

- Sabe Fernanda... eu realmente sinto muito e desprezo essa pessoa que lhe causou essa dor tão grande a ponto de você ser assim. - Falou me fazendo cerrar os punhos com força. - Eu vou embora, pode deixar que não me verá novamente, pelo menos não sem ser profissionalmente. - Foi até sua bolsa, que ainda estava sobre o sofá, e a colocou no ombro, mas, antes de sair se virou em minha direção. - Mas saiba de uma coisa... - Apontou para mim. - Nenhum coração é 100% imune aos sentimentos e, por mais que você tente se fechar nessa casca, um dia você vai cair e sentirá o que eu estou sentindo hoje.

Após essas palavras, Priscila se virou e saiu porta afora, sem olhar para trás. Suspirei profundamente diante dessa situação e me deixei cair no encosto da minha cadeira. Ela realmente havia me rogado uma bela praga, mas, mal sabe ela que eu já sofri desse mal.

- Fernanda?! - Ouvi a voz baixa e receosa de Paola vinda da porta.

- Por favor Paola, poderia me deixar sozinha um pouco. - Falei sem me voltar para olhá-la. Não estava com disposição para falar com ninguém.

- Tudo bem... se precisar estarei lá fora. - Falou e de soslaio pude notar que ela trazia em sua mão um copo de água, mas nem teve tempo de me oferecer.

- Obrigada. - Foi o único que consegui dizer antes dela fechar a porta e eu ficar sozinha.

Fechei os olhos e comecei a pensar em toda a situação que havia acabado de acontecer. Precisaria, a partir daquele momento, pensar melhor nas pessoas com quem me envolveria.

- Mas que merda! - Sussurrei suspirando cansada. - Belo começo de semana. - Falei ironicamente.

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