O dia estava ensolarado, eu já podia sentir isso. O calor passando pela janela e o sol batendo na minha pele. Sentia meus dedos dos pés suados pela coberta em cima de mim. Sim, minha vontade era ficar deitada na cama até muito mais tarde. Eu sinto meus ossos pedindo para ficar nela, mas hoje o dia era importante em dose dupla.
Eu sabia que acordaria no momento em que o sol aparecesse, se deixasse essa janela aberta. Assim, eu não me acomodaria mais na cama, com o calor entranhado em mim. Ah, o calor do Rio de Janeiro... Em algumas vezes nos ajuda.
— Acorda! – Levei um susto com a porta sendo aberta repentinamente.
— Aí, meu ouvido Blanca... Que isso?
— Hoje é dia de ver sua filha e o dia de, finalmente, saber se você conseguiu o emprego na escola – Ela estava de mãos dadas com Noah, que apenas a seguia de um lado para o outro.
Ele estava arrumado e ela também.
— Vocês vão sair? – Sentei na cama e cocei os olhos.
— Vamos sim. Dia da família. Aproveitar que meu marido está com bom humor... – Ela virou para mim e, silenciosamente, soletrou "sexo". — Então vamos sair.
— Aí Jesus. – Balancei a cabeça.
Enquanto ela ficava andando pelo meu quarto, arrastei-me para fora da cama e fui ao banheiro que ficava no fim do corredor para tomar uma ducha bem gelada.
A água batendo na minha pele ainda doía – por causa das queimaduras – então a evito em alguns momentos, mas me lavo o máximo que posso e consigo ficar pelo menos dez minutos no banho. Depois que saio, seco meu cabelo e prendo num coque alto.
Peguei uma calça jeans preta e uma blusinha branca de alcinha, ela tinha um tecido leve, era como seda. Coloquei um sapato aberto de salto médio, preto. Eu estava básica e a blusa me ajuda a não sentir dor. Passei um pouco de maquiagem e saí do banheiro.
Quando desci, Alex estava tomando café com Noah, enquanto Blanca estava fazendo algo na cozinha.
— Dormiu bem? – Alex perguntou, direcionando seu olhar para mim.
— Ah... Sim. – Respondi. — Eu vou tomar meu remédio e sair. – Digo.
— Você não vai sair daqui sem tomar café. – Blanca me lançou um olhar mortal.
— Tia Lana, porquê você não come? – Noah perguntou.
— Eu como sim. – Respondo, sorrindo para ele.
— Então come com a gente. – Ele faz um bico enorme e Alex ri quando o filho bate a mão na cadeira ao lado dele.
— Claro. – Respondo entredentes, querendo enforcar Alex e Blanca que só riam de mim.
— Aqui, toma isso com seu remédio. É suco. – Ela dá o suco na minha mão.
Quando eu estava entre a ilha da cozinha e a mesa que ficava logo depois, tive que parar no caminho com a minha cabeça latejando sem parar. Eu olhei aquele copo de suco e parecia que meu irmão estava ali na minha frente.
— Tia Lana? – Parecia que ele estava me chamando de muito longe de mim.
Parecíamos estar num eco assombroso de um banheiro de festa. Eles estavam na festa e eu, no banheiro.
Mais dor na minha cabeça e então o copo de suco caiu no chão.
— Lana! – Senti a mão de Blanca em mim. — Alex, leva ele para o quarto...
Minha cabeça estava a ponto de explodir e sentia meus pés tremerem sem parar. Era como um vulcão em erupção dentro de mim, é como uma outra realidade. O passado estava me vindo a cabeça:
Flash back on
— O que você quer conversar, afinal? – Cruzei as pernas.
— Eu quero me dar bem com você, Alana. Cansei dessa rixa toda. – Ele diz bebericando seu suco.
Faço o mesmo.
— Tem um motivo para isso, não acha? Você tentou me matar. Esqueceu? Você me enforcou e me agrediu mais do que uma jovem de dezessete anos poderia aguentar.
— Foi um erro e eu peço desculpas por isso, de coração. Eu errei muito na minha vida e meu maior erro foi você – Olhei-o bem fundo nos olhos. — Eu queria ter a chance de voltar atrás e apagar o que eu fiz, mas não dá. Mas Alana, eu já paguei por isso. Eu sei que você acha que não é suficiente sete anos, mas eu aprendi muito lá dentro nesse tempo.
Peguei o copo de suco e dei uma boa bebida, até a metade do copo.
— Você acredita em mim? Não é? – Ele pegou na minha mão.
— Pablo, eu te dei muitas chances. Eu fiquei ao seu lado mais vezes do que eu posso contar. Você me trancafiou num quarto sem água e nem comida, como um animal e mesmo assim eu não te entreguei. Deixei você colocar em todos os jornais que eu era uma adolescente problemática que tentou suicídio. – Disse.
— Se você não quer continuar com a nossa briga, porque chegou aqui fazendo exatamente isso? – Questionei-o. Ele desviou seu olhar e respirou fundo.
— Eu estava inseguro. Eu só quero ficar perto de você, sem mais confusões. – Ele diz, mas eu retiro minhas mãos das suas.
— Eu não consigo acreditar em uma palavra do que você diz. Porque você é um mentiroso. Usa mascara quando lhe convém. – As lágrimas pesam em meus olhos, mas não as deixo cair. — Eu preciso pensar.
— Pensei que você praticava o setenta vezes sete. – Pablo murchou e pôs-se de pé. — Bem, com o tempo eu vou provar a você. Eu quero seu perdão. – Ele saiu da cozinha, deixando-me sozinha.
Flash back off.
Eu não queria acreditar. Porém, Liliane estava certa. Meu irmão bebeu aquele suco e, ele me deixou lá.
Ele me deixou mesmo lá.
Eu não sei nem o porquê estou surpresa. Ele já tentou me matar uma vez, mas mesmo assim... Depois de sete anos eu ainda sou a irmã dele.
Minha mente parou naquele momento. A dor passou, e mesmo arfando, eu consegui me equilibrar novamente. Não olhei para trás, apenas fui em frente e passei pela porta.
Peguei o primeiro táxi que passou e fui em direção a casa do meu irmão. Como era sábado, eu tinha permissão de chegar perto de Maressa. Pedi ao motorista para acelerar, não estava preocupada com sinal vermelho ou engarrafamento. Eu só tinha que chegar lá o mais rápido possível, e cheguei.
Assim que coloquei meus pés perto da porta, toquei a campainha diversas vezes e bati no portão milhares.
— PABLO! – Gritei-o.
— O que você está fazendo? – O portão se abriu revelando o rosto de Carlos, que suspirou ao me ver. — Bom dia senhorita...
— Me poupe disso! – Saí entrando na casa e fui direto para a sala de estar. — Oi irmãozinho. Vim buscar a minha filha. – Cruzei os braços e bati os pés.
— Claro que sim. – Ele sorriu de canto.
Não se assustou com o jeito que entrei. Parecia estar totalmente tranquilo consigo mesmo.
— Ela está tomando banho, com a empregada.
— Que empregada? – Arqueei a sobrancelha.
— Sabrina. – Soltou, sem dar muita importância.
— Você é patético mesmo. – Murmurei. Já me sentia enojada com sua presença.
— O que você disse? – Vi uma ponta de raiva em seus olhos.
— Que você é patético. E digo mais... – Dou uma pausa para me aproximar dele, que estava sentado lendo um documento. — Eu não tenho medo de você. Porque eu sei eu Quem está comigo é muito mais poderoso do que você. Pode tentar acabar com a minha vida quantas vezes você quiser que se Ele não achar que é a minha hora, eu não vou a lugar nenhum – Murmurei perto do seu ouvido.
Ele se levantou de imediato. Meu coração errou algumas batidas, mas não deixei transparecer.
— Eu sou seu irmão mais velho, quero respeito. – Rebateu.
— Respeito? Devia ter pensado nisso antes de tentar me enforcar e me deixar morrer queimada viva. – Rosnei. — Eu não sinto mais nada além de pena de você e peço a Deus que tenha misericórdia de você. – Olhei-o de cima a baixo.
— Você vai me pagar por isso – Resmungou.
— Eu já estou pagando. Você pode descontar seu ódio por Deus em mim o quanto quiser, eu só vivo para isso, para ser serva Dele, se eu preciso sofrer em prol do nome Dele, eu vou sofrer, ser torturada, humilhada e morta, mas se é para honrar a Ele, eu fico feliz. – Continuei.
Ele apenas bufava de raiva de mim, seus olhos estavam avermelhados.
— Posso tirar uma dúvida? – Perguntei.
— Mesmo se eu não quiser ouvir, sei que vai perguntar.
— Eu sou sua irmã, você... Em nenhum momento, pensou em passar por cima desse seu ódio todo e só... me amar? – Senti gotas de lágrimas sendo feitas em meus olhos, mas segurei-me.
— Que pergunta ridícula.
— Está bem. Não responda essa... O que eu te fiz? Eu sou tão má assim que você me odeia tanto?
— Você tirou tudo de mim e agora eu vou tirar tudo de você – Murmurou para mim.
— Mamãe! – Ouvi a voz de Maressa e virei-me para vê-la. Abaixei-me para receber seu abraço caloroso. — Vamos ao circo! – Continuou me abraçando e eu apenas deixei.
— Claro que sim. – Sorri para ela.
— O Tio Digo pode ir com a gente hoje?
— O que você quiser, meu bem. – Dou um beijo na sua bochecha e ela parece ficar eufórica de felicidade. — Obrigada Sabrina. – Digo a ela, que se retira em seguida. — Vamos? – Levanto e estendo a mão para ela que logo a pega.
— Tchau tio Pablo! – Ela acena para o meu irmão, animada.
Aquilo me deixou insegura, mas ao mesmo tempo, senti-me aliviada, pois, se ela estava contente significava que estava sendo bem tratada.
Quando caminhávamos para fora ouvi a porta se bater e parei para olhar.
— Senhorita Sanchez... – Sabrina me chamou baixinho. — Não se preocupe, ela está sendo bem tratada. – Ela diz, com um sorriso amistoso.
— Você pode me dizer se sabe sobre a Liliane, ela está aqui?
— Não. Ela se demitiu há alguns dias. – Respondeu e voltou para dentro.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Diego, que topou de imediato sair conosco. Ele demorou apenas alguns minutos, pois, segundo ele, já estava por perto.
Enquanto Maressa era coberta de beijos por Diego, em frente a seu carro, recebi uma mensagem de Lorena, que hoje estava com Shawn e Arthur ajudando sobre o casamento de Pablo.
Lorena: Acho que descobrimos alguma coisa.
Lorena: Shawn conseguiu com um amigo dele os registros antigos e achou o do casamento do seu irmão. Tivemos que pagar, mas tudo saiu bem.
Lorena: Você não vai acreditar!
— Amor? – Diego me tirou dos meus pensamentos.
— Han? Me desculpe. Lorena me mandou uma mensagem... – Meu celular continuou vibrando. — E continua mandando...
Lorena: ALANA!
Lorena: Você precisa vir aqui para eu te falar.
Lorena: A G O R A!
Lorena: Traga o Diego e os outros... Vamos logo... Eu estou no apartamento do Shawn.
Mostrei as mensagens para Diego que se mostrou tão interessado quanto eu, mas olhei para a minha filha bem feliz no banco de trás com sua boneca e suspirei. Aquilo ia ter que esperar.
Respondi a ela dizendo que só poderia a ver mais tarde por causa do passeio com Maressa e ela entendeu e disse que ia falar com os outros para se encontrar mais tarde.
Diego abriu a porta para mim, e antes de entrar no carro, colocou o sinto em Maressa e foi para seu lugar no banco do motorista.
— Prontas? – Perguntou e Maressa comemorou.
— Sim, sim, sim! – Ela cantarolou animada — Vamos papai!
Diego e eu engasgamos quando ouvimos o que ela disse. Ele mais do que eu.
— Ih, o que eu fiz? – Encolheu os ombros e olhou com um bico para nós.
— É melhor irmos logo... – Disse a ele.
— É... É... V-Vamos. – Gaguejou e aquilo me fez rir.
Ele deu partida e então fomos a um zoológico, antes de ir ao circo com Maressa. Ela ficou encantada com todos os animais, mas principalmente o leão chamou sua atenção. Ela queria chegar o mais perto possível, mesmo que, com o mínimo rugido dele, ela gritasse e pulasse para trás de Diego.
Andamos por toda a extensão do zoológico e ela, inteligente que era, registrou tudo com uma câmera do celular que ela tinha ganhado. Um celular que não tinha internet, claro. Tomamos sorvete em uma barraquinha em frente ao zoológico de um senhor que era muito simpático e adorou ouvir milhares de histórias que Maressa tinha para contar sobre seus amigos e Portugal.
— O senhor sabia que a girafa tem muitas pintas? – Continuou com a conversa e eu ri ouvindo-a, então meu celular vibrou.
Era uma chamada desconhecida.
— Vou atender. – Falo a Diego que acena com a cabeça, enquanto se recupera da risada. — Pois não? – Atendo o celular.
— Boa tarde senhorita Sanchez, aqui é do Recursos Humanos do colégio da senhorita Larissa, lembra? – Ela pergunta e meu coração dispara no mesmo momento.
— Claro que me lembro. Em que posso ajudar?
— Queríamos parabeniza-la por conseguir a vaga. – Meus olhos se encheram de lágrimas e alegria. — A senhorita pode comparecer a escola amanhã para resolver os papeis?
— Sim, posso. – Respondo, tentando não parecer tão emocionada quanto estava.
— Obrigada senhorita Sanchez. Parabéns mais uma vez. – Não consigo responder de imediato.
— Obrigada você. – A linha fica muda, e por alguns instantes, prendo minha respiração, antes de começar a comemorar no meio da entrada do zoológico.
— O que foi? – Diego se aproxima com Maressa para perguntar.
Respiro fundo e olho para ele sorrindo.
— Eu consegui o emprego. – Tentei conter minha alegria, mas ele pareceu tão orgulhoso de mim que pulei nele e lhe dei um abraço.
— Você vai trabalhar de quê, mamãe? – Ela olha para cima, ainda se lambuzando com o sorvete.
— Eu vou ser professora. – Me abaixo para olhá-la melhor.
— Vai ser que nem minhas tias da escola?
Afirmei com a cabeça e ela sorriu.
— Você merece. – Diego diz e eu me levanto para abraça-lo de novo. — Estou orgulhoso de você.
— Obrigada. – Dou um selinho nele.
— Eca mamãe! – Começamos a rir e nos separamos.
Depois que ela acaba seu sorvete, vamos ao banheiro e eu lavo seu rosto e então ela corre para dar a mão para Diego e depois me chama com a mão livre para que eu pegasse. E ficamos caminhando o dia todo assim, até chegarmos no circo e nos divertimos ainda mais.
Continua...
"Porque Ele vive, posso crer no amanhã"
🌻N/A🌻
O que acharam do capítulo de hoje? Maressa é a coisinha mais fofa do mundoooooo💓 Chamando ele de "papai" awnn. Sei que se derreteram.
Finalmente Alana se lembrou do que houve na cozinha e finalmente vamos saber quem é a esposa misteriosa de Pablo. Qual a sugestão de vocês? ❤
Não esqueçam de votar e comentar. Me ajuda muito 😘
Deus abençoe e... Até a próxima ❤
🌻🌻🌻🌻🌻