Crisântemo Kell (Livro 2 - Sa...

By Cla_Coral

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---LIVRO EM DEGUSTAÇÃO--- DISPONÍVEL NA AMAZON EM VERSÃO REVISADA 1° Lugar no Concurso Sakura 1° Lugar no Con... More

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PARTE I - O NADA
Prólogo
1 - Não para você
2 - 32 peças sobre o tabuleiro
4 - Um caminho desagradável
5 - Uma velha melodia (Parte I)
5 - Uma velha melodia (Parte II)
6 - Acerto de contas
Notas & Agradecimentos
LIVRO 3 - Informações, capa, sinopse e data de lançamento
-x- Algumas curiosidades -x-
LIVRO 3 ACABOU DE SER LANÇADO!!!
Capa completa + Novidades
ATENÇÃO! Retirada oficial será em 12/03
CRISÂNTEMO KELL NA AMAZON!!!

3 - Barcos navegantes

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By Cla_Coral

O ronco de sua Yamaha XJ6 N propagou-se pela Rodovia Luiz de Queiróz, e quando ele cruzou o monumento do peixe dourado, sentiu que verdadeiramente havia chegado a sua casa. O sol da manhã banhava o asfalto, cintilando no capô dos veículos e nas motocicletas que atravessavam a rodovia.

Embora houvesse nascido na capital do estado e vivido lá seu primeiro ano de vida, até seu pai ser transferido para Piracicaba, ele não se sentia um filho da grande cidade de São Paulo.

O município de Piracicaba contava com mais de quatrocentos mil habitantes, e se localizava a noroeste da capital, fundada em 1767 às margens do rio de mesmo nome. Era uma cidade em constante crescimento que ainda mantinha agradáveis traços de sua cultura do interior.

Levantando a viseira do capacete, Ramon Stein encheu os pulmões. Após anos residindo ali, Piracicaba se concretizara em seulegítimo lar.      

******************

— Um espaço sob jurisdição da polícia? — Daniel indagou quando ela desligou o carro. — A ASIP já está com muitos problemas com os distritos policiais por causa do Caçador. Não sei se nos ajudarão com isso.

— Não tem relação com os distritos. É um local para proteção, muito secreto e seleto. Meu irmão é ex-policial. Ele te explicará tudo.

— Mas parece ser um lugar tão comum e aberto. Como eu nunca ouvi falar daqui? — Daniel indagou enquanto observava a construção antiga, que parecia ter sido reformada.

— Ah, não. Aqui é a pensão que meu irmão, o ex-policial, mora e gerencia com a minha cunhada.

Ela desceu do carro e analisou a grande pensão que pertencia ao seu irmão Felipe e à sua cunhada Cíntia. Era um lugar espaçoso, com um jardim amplo cercado pelas grades do portão e pelos muros da casa.

Katerine se agachou, recolhendo do chão da frente do portão de entrada alguns folhetos e panfletos largados; havia um destaque no folheto de um supermercado indicando preços promocionais para todos os iogurtes desnatados. Bom saber. Um folder colorido anunciava todas as atrações da Virada Cultural que ocorreria no penúltimo final de semana de maio, e outro anunciava os preparativos da Festa das Nações, um dos eventos mais famosos e tradicionais da cidade.

— Cíntia decidiu abrir uma pensão quando descobriu que estava grávida, e largou o emprego de corretora imobiliária. O Fê largou a polícia um pouco depois também, e eles gerenciam aqui juntos. Deu muito certo no começo — explicou, omitindo o fato de que o irmão e a cunhada estavam passando por dificuldades financeiras agora. — E o Fê é cuidadoso, seletivo quando se diz respeito em quem confiar. Ele pode ter se desligado da polícia, mas ainda tem seus contatos e é muito respeitado dentro da hierarquia. Esse espaço, que eu comentei com você, é chamado por eles de Olho de Hórus. Usam para abrigar pessoas que precisam de um alto grau de proteção, e só um número pequeno de oficiais conhece esse lugar. São tipo agentes. Existem apenas três locais como esse no país: um aqui na região, em Campinas, e outros dois em Belo Horizonte e Juazeiro. Felipe pode conseguir uma autorização para nós.

— E você vai conversar com ele agora? — ele questionou enquanto a seguia, vendo Katerine abrir o portão de entrada.

— Bem... — As mãos dela seguravam as grades de ferro vermelho-queimado; quando Katerine olhou para trás em sua direção, Daniel pode ver como a luminosidade da manhã deixava seu cabelo mais claro, como se os fios brincassem com os mais variados tons de dourados. — Na verdade, vou falar primeiro com o Will, meu outro irmão.

— Não seria mais simples falar com o seu irmão ex-policial?

Katerine deu de ombros, e o encarou meio sem jeito.

— Minha relação com Felipe é... Estranha.

— Vocês não se dão bem?

— Sim, nos damos. Mas o Fê sempre foi muito quieto, distante, diferente de mim, do Will e do Ramon — ela explicou, terminando de abrir o portão e sinalizando para que ele a seguisse. Atravessaram o jardim na direção da porta de entrada. — Não sei, acho estranho pedir as coisas para ele. É difícil explicar. Por isso prefiro que o Will faça as mediações.

— Entendi... Eu acho. E você não tem problema algum em pedir nada para esse outro irmão.

Katerine apenas sorriu, quase um risinho confidente, como se ele houvesse desvendado um segredo muito secreto. William, pensou, sentindo o coração amornar. Ela não conseguia pensar em uma pessoa mais incrível e maravilhosa e especial do que ele.

— E você tem certeza de que ele está aí?

— Meus irmãos estão sempre por aqui. Acho que só o Ramon não está, por causa de um congresso em São Paulo que ele foi convidado para palestrar.

— Que legal.

— Não pense que você vai se deparar com alguém muito certinho que usa gel no cabelo e gravata combinando com a camisa. Ramon é bem terrível. Quando a gente era adolescente, ele subiu na carroceria de uma caminhonete e foi embora por vários meses para tentar promover sua banda de heavy metal. Não deu muito certo. Foi só depois de um tempo que ele decidiu fazer uma faculdade. O dito-cujo passou entre os dez primeiros em medicina! Está fazendo residência atualmente.

Daniel riu do comentário dela, e a seguiu até a porta de entrada. Sem se anunciar, Katerine entrou no casarão, com Daniel acompanhando seus passos. Estavam em uma sala dois ambientes. Não havia sinais de nenhum hóspede. A televisão estava sintonizada em um noticiário, e a repórter exibia dados sobre os desaparecimentos que cobriam o Estado de São Paulo e continuavam sem explicação.

Os olhos de Katerine encararam sombrios a notícia, e toda a atmosfera agradável pareceu subitamente ser engolida por alguma coisa velha e sorumbática, uma besta humana nefasta que nunca se mostrava abertamente. "Números de desaparecidos continua crescendo". A Rosa dos Ventos não existia mais, mas a Corporação ainda agia.

— Apenas desgraças. Já falei para o Fê não deixar a televisão ligada nesses canais. Crimes, corrupção, assassinatos. Só isso que mostram.

A voz feminina veio acompanhada de um cheiro doce, um misto de canela e baunilha. Katerine desviou o olhar do noticiário, fitando a cunhada, que entrou na sala carregando uma pequena tigela de cerâmica com alguma comida fumegante que exalava aquele aroma delicioso.

— Oi, Cíntia.

— Você anda bem sumida.

— Sinto muito. Estou trabalhando demais.

A luz natural do ambiente ressaltava a espontaneidade e alegria de Cíntia, pincelando seus cabelos castanhos com um risonho tom de mel.

— Este é o Daniel. Nós trabalhamos juntos. Daniel, esta é a minha cunhada, Cíntia. Ela é casada com meu irmão Felipe.

— Muito prazer! — Ela apoiou a tigela em uma mão para estender a outra para ele, que retribuiu o cumprimento. Cíntia voltou-se para Katerine. — O Fê e o Will estão lá nos fundos. Quer que eu os chame?

— Ah, não precisa! Garanto que eles já ouviram que eu cheguei!

Foi William que veio na frente com seu semblante enérgico, seguido pelo lago tranquilo que eram as águas dos olhos de Felipe.

— Ka! — William sorriu, indo ao encontro dela e a envolvendo em um abraço. Seus cabelos claros desgrenhados roçaram no rosto de Katerine, causando-lhe cócegas. — Hum... — Ele apalpou a cintura dela, fingindo analisá-la. — Tá gostosa, hein? Andou malhando direitinho.

— Menos, Will. Bem menos, quase nada.

— Só porque sou seu irmão favorito e... — Ele começou a fungar, como se estivesse farejando. Seus olhos caíram na tigela que Cíntia segurava. — Arroz doce! — Estendeu as mãos, afoito. — Quero!

— Amo os três do mesmo jeito, viu?!

Eles escutaram o ronco alto de uma moto do lado de fora da pensão, som que fez Cíntia entregar a tigela para William e correr até a janela para dar uma espiada.

Katerine observou o irmão abocanhar vorazmente uma colherada do arroz doce. Quem via seu jeito despojado e brincalhão não imaginava que ele era formado em biomedicina e especialista em genética, com um mestrado e um doutorado cintilando no currículo, junto de um cargo de professor no curso de Medicina e Biologia da UNICAMP.

— E não é que ele veio?! — a voz de Cíntia trepidou divertida pela sala enquanto fitava o lado de fora através da janela.

— E você é...? — Felipe indagou para Daniel, fazendo menção de cumprimentá-lo educadamente.

— Daniel — ele retribuiu o aperto de mão.

— Nós trabalhamos juntos.

Katerine analisou o irmão; diferente de Cíntia, Felipe demonstrava no corpo as preocupações que a crise financeira estava lhe causando.

— Ama nós três do mesmo jeito, ah?

— Sim. — Ela assentiu para William. — E que o Ramon sinta mentalmente esse amor.

— Estou sentindo quase que fisicamente — uma voz masculina adentrou no ambiente quando a porta da sala foi aberta abruptamente.

Ramon trazia nas mãos seu velho capacete, e trajava uma jaqueta de couro e calças jeans escuras. Seus grandes olhos eram claros como o da família, porém a pele era mais avermelhada e forte, e os cabelos eram escuros e cheios. Dos quatro filhos de Lisete e Frederico, fora o único que herdara quase todas as características da falecida avó paterna Jacinta, uma mulher de descendência e traços indígenas marcantes.

— E aí, como foi o congresso em São Paulo?

— Como todos os outros — ele declarou com um riso gostoso, depositando o capacete em cima da mesinha de canto do abajur, causando uma dobra na toalha de linho bordada. — Estava com saudades, Ka.

— Eu também.

— Não ponha o capacete sujo na minha linda toalhinha! — Cíntia ralhou, tomando o capacete em mãos e o levando para outro cômodo.

— Obrigada, Cíntia querida. — Ele deu uma piscadela para a cunhada, que revirou os olhos.

— Então, Ka, o que a traz até aqui? — William indagou.

— Preciso falar com você depois... A sós... — pediu num tom de voz que apenas Will pôde ouvir. — É importante.

William assentiu. Katerine se afastou dele e olhou para Daniel.

— Ramon, este é o meu parceiro de trabalho, Daniel.

— Prazer, cara.

— Prazer.

— É bom finalmente te conhecer — William disse, um raio travesso trepidando em sua voz. — A Ka fala sempre de você. Já estava ficando um pouco irritado com tanto suspense.

Filho da puta. Katerine lançou um olhar intenso e vulcânico para William, sem retirar o sorriso largo e forçado do rosto.

— Nossa, que arrepio — William tremeu, coçando a nuca.

— Tiaaaaaa! — Um menininho entrou aos pulos na sala, abraçando as pernas de Katerine e segurando desajeitadamente um copo plástico com tampa.

— Oi, meu amor. — ela perguntou ao se abaixar para ficar da altura dele. — Como você tá grande! Afinal, seu aniversário de quatro anos está chegando, não é mesmo? Você está ficando tão bonito.

— Espero que não fique parecido com o pai, coitado — Ramon assobiou.

Gustavo sorriu, e Katerine devolveu o sorriso terno para ele.

— E o que você está tomando, meu amor?

— Caldo de cana com bacaxi. Mamãe comprou mim.

— Que delícia. A tia gosta muito com limão.

— Nada supera caldo de cana com gengibre — William declarou, apoiando a mão no peito de forma teatral. — Nada.

Katerine riu, se levantando e fitando Daniel.

— E você, Daniel? Qual é o seu sabor preferido?

— Na verdade, não gosto muito de caldo de cana não.

Todos se silenciaram, um tanto perplexos. Katerine piscou três vezes, agitando a cabeça.

— Como assim?! Não, não, isto não está certo. Você bebeu errado, é a única explicação.

— Garanto que não. — Ele riu. — Só não gostei.

— Mas você já leu sobre os benefícios? — Cíntia indagou, apoiando as mãos na cintura. — O quanto de ferro que um copo possui?

Ixi, agora a Cíntia não vai parar mais. Entrou no assunto preferido dela. Nutrição — Ramon declarou, rindo.

Ao ver que Cíntia distrairia Daniel e seus outros irmãos, Katerine puxou William para um canto isolado da sala.

— É sério, Will — repetiu baixo. — Preciso conversar sobre algo importante com você. Sobre aquilo, lembra-se?

— Sim. Pode falar.

­— Não é uma boa ideia tocar no assunto aqui. Sabe aquele restaurante que nós dois costumávamos frequentar bastante quando eu vinha para cá de São Paulo, nos fins de semana? Quando eu ainda estava no Instituto Preparatório?

William assentiu e sorriu:

— Às oito e meia. Por minha conta.

— Às oito e meia. Certo.

Discretamente, os irmãos se juntaram aos outros.

— Podemos encerrar a aula de nutrição por hoje, Cíntia? Eu e o Daniel precisamos voltar.

— Tudo bem, mas apareça mais vezes — Cíntia pediu, os acompanhando para fora da pensão, seguida por William e Ramon.

— Estou atolada de trabalho. O Daniel pode confirmar. Além de algumas investigações que estamos fazendo por debaixo dos panos, hoje mesmo prendemos um cara que estuprou e matou a própria sobrinha.

Cíntia fez o sinal da cruz.

— Que a alma dela descanse em paz agora.

— Foi a Katerine quem encontrou a peça que faltava para fechar a investigação — Daniel acrescentou, e Katerine se viu sorrindo de canto discretamente.

— Quando se trata de mistérios, a Ka não descansa até solucioná-los. — William bateu palmas, rindo.

— Não é um mistério. — Ela meneou a cabeça, o corrigindo. — É um caso com provas e evidências. Basta apenas achar a peça-chave.

— Como o vovô definia os mistérios mesmo? — William a ignorou, olhando para Ramon. — Tinha alguma coisa a ver com barcos.

O vento soprava forte do lado de fora, e Katerine precisou segurar os cabelos para eles não voarem em seus olhos. O céu que brilhava em sua vista se metamorfoseou lentamente para um cinza pálido, e as vozes de todos ao seu entorno agora eram ecos que reverberavam um passado distante.

"As primeiras horas da manhã se desenhavam pálidas, quietas e frias. Uma neblina espessa cobria toda a extensão da propriedade dos Mallmann. Diferente de sua família paterna — os Stein, que se espalharam por todo o território brasileiro —, sua família materna se concentrara no sul do país, e ali viviam geração após geração.

O rangido do balanço rompia o silêncio do nevoeiro e do amanhecer. O inverno geava sobre as florestas e as formações campestres, e mesmo usando uma blusa de lã e um moletom pesado, Katerine ainda sentia o frio rasgando o seu corpo e queimando suas bochechas. Ela estava com doze anos, e morava ali com seus avós e com seus irmãos há três anos. Em silêncio, encarava a neblina, esperando algo acontecer.

— Por que você está sozinha aqui fora, nesse frio? — O grande balanço rangeu de novo quando seu avô se sentou ao seu lado. Vestindo um grosso agasalho e um gorro de lã, Vagner Mallmann mantinha o semblante tranquilo, acostumado às baixas temperaturas.

— Ramon disse que viu um homem-fantasma na neblina, e que ele só aparece essa hora. Eu falei para ele que fantasmas não existem, e que eu iria provar isso.

— Obteve algum sucesso?

— Até agora, nada apareceu. E não vai aparecer.

O olhar dela continuava fixo na névoa, espreitador e investigativo, atento ao mínimo sinal de movimento. O vento baixo assoviava por entre as araucárias, e a geada cobria o gramado da propriedade.

— Por que você bateu no seu primo? — seu avô subitamente perguntou.

— Porque ele disse que ia jogar uma pedra no cachorro da Mel.

— Mas ele não jogou a pedra.

— Eu matei a ideia antes que ela tivesse forma sólida — Katerine declarou, sem desviar os olhos da neblina.

Vagner suspirou, segurando o braço esquerdo dela. Katerine olhou para o avô quando ele puxou a manga comprida de seu moletom e de sua blusa de lã para cima, revelando hematomas arroxeados que se espalhavam por toda a pele.

— E esses hematomas?

— Ele revidou, mas eu não ligo. Prefiro que ele bata em mim do que em um ser indefeso.

— Mas não dói?

— Dói, mas... — Katerine hesitou, abaixando a manga do moletom. — Eu aguento. Depois de tudo o que eu já passei, vovô, eu aguento. Sou forte, e posso proteger quem não consegue se defender.

Uma sombra triste cruzou os olhos de Vagner. Ele retirou seu gorro de lã, colocando-o sobre a cabeça da neta.

— Você é só uma criança. Estas não deveriam ser as suas preocupações. Eu... Eu e sua avó sentimos muito por termos demorado tanto tempo para tirar você e seus irmãos daquele inferno. Não sabíamos, não sabíamos...

Katerine cruzou os braços, volvendo a mirar a neblina. Seu coração havia se acelerado e se apertado ligeiramente, causando nós em sua garganta.

— Eu já nem penso mais nisso, vovô. O importante agora é provarmos para o Ramon que não existe um homem-fantasma.

Vagner esboçou um sorriso, fitando a neblina junto dela.

— A beleza de alguns mistérios, Katerine, é permitir que eles continuem sendo um mistério.

— E se eu quiser desvendá-lo? E se eu não quiser que seja mais um mistério?

Meneando a cabeça, as feições de Vagner se desenharam distantes e reflexivas.

— Nós andamos sobre a terra firme, mas os mistérios são barcos navegantes. Olhos que carregam a concretude enxergam apenas as paredes do real, mas olhos esfumaçados vislumbram o templo oculto no vale de águas antigas. É preciso se tornar um navegante, e não um andarilho.

Katerine encarou o avô, não compreendendo suas palavras.

— Vamos entrar. Está muito frio e você vai adoecer.

Ela o obedeceu, e ambos se levantaram do balanço. Enquanto caminhavam de volta para a casa, Katerine aventurou-se a olhar para trás e encarar a neblina uma vez mais. Foi apenas um frêmito instante, mas ela podia jurar que havia visto algo se mover por entre a névoa e o silêncio."

— Katerine? Você ainda está aqui entre nós? — A voz risonha de William a puxou de volta para o jardim da pensão. O sol brilhava sobre seus olhos e cabelos, e ela precisou piscar com força para afastar a ardência da claridade.

Ela os olhou, enxergando através de todos eles, presente e distante no tempo que regia o templo de suas memórias.

Seus pés se apoiavam sobre a terra firme, onde o vendaval das marés a ricocheteava, como o chamado de um ciclo incolor que desbotava e escondia os ossos da humanidade.

Mistérios eram barcos navegantes, e ela era uma andarilha que mensurava cada passo, sem imaginar que a bússola que guiava a jornada um dia a faria se afogar nas águas mais sombrias de um antigo e vasto oceano.

************************************

E aqui estamos no terceiro capítulo, que nos apresentou personagens que vão ser mais recorrentes nesse livro. E também pincelei um pouco do passado da Katerine, que vai ser mais trabalhado nesse volume, pois é uma peça importante tanto para a história do livro 2 quanto dos próximos livros.

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