POV Rose
- Então, não me apresentas as tuas amigas? - Perguntou o aranhiço loiro, com uma voz doce.
Zayn arregalou os olhos, nervoso, e balbuciou rapidamente:
- A Rose é a minha assistente, e a Tris é a prima dela. - Informou sucintamente, visivelmente atrapalhado com a presença dela. - Esta é a Susan.
Não me passou despercebido o facto de ele não explicar quem ela é.
Neste momento sinto-me minúscula, comparada com a Miss-Pernilonga, e só me apetece voltar para trás da pilha dos Spongebobs. Caramba, ela é deslumbrante. Ainda por cima não tem aquele ar imbecil da Tinna, pelo contrário, transmite aquela doçura e brilho que só as boas pessoas com corações gigantescos conseguem transmitir. Eu já tinha eliminado da cabeça a ideia de ele ter uma namorada por causa da situação com a Emma, a irmã, e agora aparece esta criatura linda e com aspeto bondoso…aposto que toma conta de gatos, que adora crianças, que faz voluntariado e reciclagem. Raios a partam, é perfeita.
- Oh, Rose! - Exclamou, entusiasmada, olhando-me com atenção. - Então tu é que és a famosa assistente!
Zayn lançou-lhe um olhar ameaçador mas ela ignorou-o propositadamente.
- Sou eu mesma, mas não creio ser famosa. - Eu queria ter dito alguma coisa inteligente, mas só consigo ver o braço dela pendurado no braço do Zayn e isso está a baralhar-me as ideias, vá-se lá saber porquê.
- Eu ouvi falar muito de ti. - Disse ela, sorrindo simpaticamente. Credo, é um doce. - Eu sou a Susan.
- Muito prazer. - Respondi mecanicamente. - É verdade, como está a tua irmã, Zayn?
Ele arregalou os olhos e Susan arqueou a sobrancelha num gesto confuso. Oh! Pois, era suposto eu não saber! Será que ela sabe? É claro que sabe, é namorada dele, tem de saber.
- Ela está melhor, agora é uma questão de tempo até recuperar por completo. - Respondeu, sem me olhar diretamente. - Bom, nós temos de ir, até logo. Não te atrases. Adeus, Tris.
Zayn voltou-se rapidamente, arrastando Susan consigo, mas esta olhou por cima do ombro, acenando com a mão livre:
- Muito prazer, meninas! Rose, espero ver-te em breve. - Disse, piscando-me o olho.
Zayn puxou-a com mais força em direção à caixa, visivelmente constrangido.
O quê? Isto não faz sentido nenhum. Espera ver-me porquê? E porque é que ele está a agir de forma tão estranha comigo? Será que ontem fiz algo que não devia? Mas ele entretanto falou comigo por mensagens…porque me está a tratar assim agora?
- Caramba, que pernas. - Sussurrou Tris, olhando-me tristemente.
Peguei num Spongebob gigante e arrastei-o comigo para a caixa. Peluches nunca são demais e neste momento preciso de algo que me alegre.
- Eu sei. - Respondi, somente, esperando que ela não fosse ao jantar de logo à noite.
*
POV Zayn
- Estás louca?! - Berrei para Susan, assim que abandonámos a loja.
Ela sorriu, divertida e passou-me o braço em torno das costas.
- Zayn, ela é adorável! Agora percebo porque é que tens andado tão ocupado ultimamente.
Arregalei os olhos na sua direção e esperei que ela justificasse aquela idiotice que acabara de dizer, mas ela apenas riu alto. Subitamente o seu sorriso esmoreceu.
- Só não percebo porque foste tão pouco simpático com ela. Da maneira como me falas da Rose nos outros dias, seria de esperar uma receção mais calorosa. Além disso, ela odeia-me.
O quê?!
- Susan, o que é que estás para aí a dizer?! - Perguntei, confuso, ignorando propositadamente a primeira parte da pergunta.
- Ela pensa que eu sou tua namorada. - Explicou, rindo de novo.
- E isso é problemático porque…? - Ironizei.
- Porque ela está tão apanhada por ti como tu por ela.
Ok. Endoideceu de vez, só pode. Além de eu já ter mulheres a mais na minha vida, a começar por Emma, a passar por Susan e a terminar em Leila; eu nunca na vida me apaixonaria por além tão … eu sei lá. A Rose é uma miúda: ela é despistada, desajeitada, inconveniente e um pouco desvairada. A imagem dela a sair de trás dos peluches surgiu na minha mente e deu-me vontade de rir. Está tão bonita hoje. Tão informal… não, Zayn, pára de pensar nisso.
Além disso, eu não posso dar-me ao luxo de me apegar a ela. Já tive a prova de que isso pode acabar mal, e por isso é que é tão importante que eu permaneça distante e impessoal. Nos últimos dias, por alguma razão que não sei precisar, acabei por fazer precisamente o contrário e não devia ter agido daquela forma. Daí eu a ter tratado assim hoje, e daqui em diante terá de ser assim.
- Susy, deixa-te disso, sabes que não posso e…
- Não podes? Então queres! - Ela pulava histericamente no parque de estacionamento e eu começo a ficar realmente irritado.
- Claro que não! - Protestei, colocando a prenda de Emma na mala do carro. - Olha e se te deixasses de parvoíces e me ajudasses a pensar na preparação da festa da Emma? Está quase aí e eu não sei o que fazer! Ela nunca teve uma festa antes.
Ela sorriu enquanto entrava para o carro e ainda a ouvi balbuciar qualquer coisa acerca de eu estar a fugir ao assunto.
- Que tal uma festa de princesas? - Sugeriu, fazendo-me arregalar os olhos.
Festa de princesas? Tipo com montes de miúdas cheias de purpurinas, aos guinchinhos e a beber chá a fazer de conta com peluches?
- Susan, eu não sei se consigo lidar com isto! - Confessei dramaticamente. - Uma coisa é a Emma…eu estou com ela desde que nasceu e eu acho que vou sabendo adaptar-me… mas agora outras crianças?! Susan, tens de me ajudar, eu não consigo! E se aparece o Theo?! Rapazes? No quarto da Emma?! Além disso…eu acho que não posso fazer a festa lá em casa!
Ela riu-se das minhas preocupações, bastante legitimas na minha opinião, e depois falou:
- Sim Zazza, aposto que ele é aterrorizador, e que à primeira hipótese vai aproveitar-se da inocência da Emma! Deixa de ser tonto. Mas nisso concordo contigo, também não acho que devas fazer a festa lá em casa…
Ela compreende as minhas preocupações com a questão da segurança. Desde que aconteceu a situação com Jullie eu tenho umas certas reservas no que diz respeito a partilhar a localização da minha casa. Ela fica um pouco afastada do centro da cidade, numa zona relativamente calma onde dificilmente alguém daria por ela. Ainda assim, devo confessar que é bastante grande e luxuosa…
- Que tal se fizéssemos na quinta? - Sugeriu, referindo-se à quinta do Peter e da Elaine.
A ideia agradou-me e o resto do caminho foi passado a discutir os pormenores da festa da loirinha.
Assim que parei à porta de Susy para a deixar em casa ela sorriu sugestivamente:
- Vê se te divertes.
- De facto, os jantares da empresa são uma animação. - Ironizei, revirando os olhos.
- Isso é porque nunca estiveste em nenhum com a Rose. - Respondeu, saindo do carro antes que eu pudesse protestar.
Bufei, contrafeito, arrancando em direção a casa para ir trocar de roupa antes de ir para o jantar.
Verdade seja dita, eu não sei como é estar num jantar com a Rose, mas falta pouco para descobrir.
*
POV Rose
Entrei no hotel onde se iria realizar o jantar e olhei em volta à procura de Zayn.
- Rose! - Niall veio na minha direção e abraçou-me com carinho. Curiosamente, seria de esperar que estar junto a ele fosse extramente embaraçoso e constrangedor, mas ele consegue ser de tal forma adorável que não me perturba mesmo nada. - Estás tão bonita!
Corei levemente com o elogio e fiquei contente por o meu vestido estar a fazer sucesso (http://www.polyvore.com/dinner/set?id=123527592).
- Tu também estás bonito, Niall. - Retribuí.
- Escusas de tentar, estou igual a todos os dias! - Brincou ele, apontando para o fato preto e fazendo-me rir. De facto, no caso deles que andam de fato todos os dias não há muito por onde variar!
- Boa noite, Kurt Kobain. - Ouvi a voz irritante de Tinna e voltei-me na sua direção. Estava acompanhada das amigas do costume, todas elas envergando vestidos que mostravam mais pele do que tecido.
- Desculpa? - Questionei, confusa.
- Ouvi dizer que andaste a experimentar umas coisas interessantes. Então que tal é a sensação? - O tom provocador dela tira-me do sério e apetece-me esbofeteá-la até ficar sem base naquela cara de idiota, coisa que iria demorar algum tempo. Mas de que raio está ela a falar? Como é que ela sabe do meu suposto episódio estranho?
- De que estás a falar? - Perguntei, não deixando que ela me intimidasse.
Niall aproximou-se de mim e colocou-me a mão no ombro descoberto.
- Deixa Rose, anda. - Pediu, tentando afastar-me dali.
- Quero saber o que se passou! - Exigi, começando a perder a paciência.
- E eu quero que dispersem, pois estão a chamar a atenção e para isso chegou o seu desempenho de ontem, Miss Everdeen.
A voz de Zayn tomou-me de assalto e virei-me de repente, cruzando o meu olhar com ele por breves segundos.
Senti o meu coração acelerar e rapidamente as minhas bochechas me denunciaram, adotando uma tonalidade cor-de-rosa ridícula, que eu não vejo mas sei estar lá. Detesto corar tão facilmente!
O olhar de Zayn deteve-se uns segundos no meu, mas rapidamente se desviou, olhando na direção de Niall, que permanecia com a mão no meu ombro. Senti que Zayn me olhava de alto a baixo mas não consegui perceber se foi um olhar de aprovação ou não, o que me fez sentir insegura. Talvez o vestido seja demasiado curto e vulgar. Ou talvez esteja um pouco gorda para me andar a exibir desta forma.
- Vamos entrar. - Ordenou, autoritário, despertando-me dos meus devaneios.
Entramos em conjunto numa sala oponente e moderna, totalmente vidrada, que permitia observar a cidade com todas as suas luzinhas magníficas.
- Senta-te aqui, Rose! - Convidou Niall, guardando um lugar ao seu lado que eu aceitei prontamente. - Normalmente isto é uma seca mas aposto que contigo aqui vai ser diferente! Além disso temos de continuar a discussão sobre os ninjas.
Eu ri do seu entusiasmo mas subitamente fui interrompida.
- Miss Everdeen, tem de ficar ao meu lado.- Informou Zayn rudemente, apontando para o lado oposto da mesa. - As assistentes ficam junto aos diretores.
Vi que Niall fazia um trejeito aborrecido, encarando Zayn de forma pouco agradável.
- Oh Zayn, por amor de deus, deixa-te de merd...
- Estou à sua espera. - Zayn interrompeu Niall, dirigindo-se a mim, e virou costas antes de eu ter tempo de responder. Vi que Niall não estava particularmente contente.
- Não sei o que se passa com ele, está impossível hoje! - Sussurrou. - É melhor ires.
Levantei-me, contrafeita, e segui Zayn até à ponta da mesa onde um grupo de pessoas que eu não conhecia começava a sentar-se. Segui-lhes o exemplo, ficando ao lado de Zayn, e uma sensação de constrangimento tomou conta de mim. Ele falava alegremente com várias pessoas e eu não sabia bem como agir. Ao fim de alguns minutos ele levantou-se para ir cumprimentar alguém, deixando-me sozinha.
- Venho já. - Avisou rudemente, e sem esperar resposta virou-me as costas.
Imbecil.
Ainda estou à espera que ele me ajude a compreender o que se passou ontem mas não me parece que ele hoje esteja muito a fim de falar comigo.
- Boa noite. Miss Everdeen, certo? - Uma jovem que devia ter os seus 30 anos, sentada à minha frente, dirigiu-me a palavra, atraindo a minha atenção. Acho que a reconheço da empresa mas não sei quem é.
- Sim, sim, sou eu mesma. - Respondi, sentindo-me grata por ter alguém com quem falar.
- Muito prazer, o meu nome é Lilian. - Apresentou-se, com um sorriso amável. - É assistente de Mr.Malik?
- Sim. - Confirmei. - E pode chamar-me Rose.
Ela acenou e respondeu de seguida:
- Está combinado, Rose, também me podes tratar por Lilian, é claro. - Gosto dela, é uma companhia bem agradável! - Eu sou assistente de Mr. Horan.
What?
- Do Niall?! - Perguntei, olhando automaticamente na sua direção.
- Sim. - Confirmou com um sorriso.
- Mas então não devias estar junto a ele? - Perguntei, confusa.
Ela riu da minha pergunta e baloiçou a cabeça.
- É claro que não, porque haveria?! - Talvez porque segundo Zayn é suposto...
Oh. Ele quer-me à beira dele? Esse pensamento despertou qualquer coisa no meu interior e sorri involuntariamente.
- Oh, por nada, não importa. - Disse eu, olhando em volta à procura dele.
Vi-o ao longe, à conversa com alguém, e o meu olhar cruzou-se com o dele. Zayn despediu-se rapidamente com um toque no ombro, e começou a caminhar na minha direção. Em silêncio, sentou-se ao meu lado e começou a falar com Lilian e as pessoas em volta, sem sequer olhar para mim. Era quase como se eu não estivesse ali.
- Zayn. - Sussurrei, assim que encontrei uma oportunidade.
- Mr. Malik, por favor. - Respondeu, secamente.
Senti-me estúpida por pensar que ele fizera aquilo para me ter junto a si. Talvez apenas quisesse deixar-me desconfortável, como castigo por o que quer que eu tenha feito ontem.
- O que me aconteceu? - Perguntei, ignorando a sua resposta.
Ele olhou-me de relance e eu baixei os olhos, envergonhada.
- Estavas drogada.
- O quê?! - A minha voz elevou-se um pouco. - Eu nunca...
- Miss Everdeen, mantenha a descrição, já nos basta ter atraído as atenções para si no dia de ontem.
Foi como se me tivessem despejado um balde de água gelada em cima.
- Acha, portanto, que eu o fiz propositadamente. - A minha voz saiu com a amargura que eu pretendia, mas ainda assim não consegui ocultar a desilusão.
- Não. - Respondeu. - Se achasse, já a teria despedido. Só acho que tem um talento particular para atrair atenções e isso não me agrada.
- Porquê?
Ele permaneceu em silêncio, ignorando-me, e eu lancei uma nova pergunta.
- Quem foi que me pôs assim? - Perguntei, nervosa.
- Isso não interessa.
- Zayn! - Protestei, furiosa.
- Mr. Malik. - Repetiu, deixando-me fora de mim.
- Peço desculpa, não voltará a acontecer. - Respondi, tentando acalmar-me.
- Assim espero.
Falei um pouco com Lilian, enquanto Zayn me ignorava propositadamente, até que voltei a sussurrar-lhe.
- Da próxima vez que invadir a minha casa para fazer lasanha, ao menos lave a louça.
Ele esboçou um sorriso rápido que esmoreceu antes de chegar aos olhos. Pela primeira vez nessa noite, reparei no quão exausto ele parece: as olheiras em torno dos seus olhos denunciam uma noite em branco, e desejei saber que preocupações lhe tiram o sono à noite.
- Agradecia que não andasse a divulgar essas situações, caso não se lembre, apenas invadi a sua casa porque estava demasiado pedrada para poder entrar por si mesma.
Fervilhei de fúria mais uma vez, ao ouvi-lo falar como se eu tivesse alguma culpa de ter sido drogada. Niall, alguns lugares abaixo de mim, olhou-me nesse momento e ergueu a mão num gesto de quem pergunta se está tudo bem. Dava tudo para estar sentada ao seu lado na mesa... Oh, espera lá. Olhei em volta e vi que ainda havia gente a circular, dado que a comida ainda não começara a ser servida.
- Se me dá licença, creio ter um lugar livre daquele lado, e assim escuso de aborrecê-lo com a minha companhia.- Levantei-me cuidadosamente e senti a sua mão prender-me o braço.
- Senta-te. - Ordenou num sussurro. A sua expressão fria suavizou-se e os seus olhos brilhavam de forma intensa. - Por favor.
Uma onda de energia percorreu o meu corpo ao seu toque e senti-me corar instintivamente. Reunindo alguma coragem, soltei o braço de forma violenta e dirigi-me para junto de Niall.
- Posso? - Perguntei, levemente corada.
- Rose! Claro! Que se passou?!
Lutei contra as emoções que me enchiam a mente e respondi com uma calma artificial:
- Nada, está tudo óptimo.
Olhei na direção de Zayn e vi que ele também me olhava, furioso. Por alguma razão que eu desconheço ele queria-me ali, e desobedecer-lhe causou-me uma sensação de triunfo. Niall sorriu e logo me senti mais confiante, começando a falar com ele sobre assuntos variados. Será que ele sabe o que aconteceu ontem? E quem será o responsável por isto? Deixei o meu pensamento vaguear, recuperando algumas imagens difusas do dia anterior. Zayn a conduzir, ele a fazer a lasanha, a afastar o Gato da mesa, a aconchegar-me os cobertores...
Como é possível que alguém mude tanto de um dia para o outro?!
- E a Miss Everdeen, o que tem a dizer sobre isso? - Uma pergunta vinda de um homenzinho com bigode interrompeu os meus pensamentos. Ele estava junto de Zayn, no lugar que eu abandonara há poucos minutos.
- Peço desculpa, o que disse? - Perguntei, embaraçada.
- Estava a perguntar o que pensa sobre a anexação da web-create, a empresa de maketing, à LightDesign. - Repetiu ele, fazendo com que todos os olhares se voltassem na minha direção.
Zayn olhava-me de forma distante, quase indiferente.
- Eu...bem...
- Pergunte-lhe antes se ela é a favor da legalização da droga. - Tinna sorriu-me cinicamente e senti vontade de a atacar. Ela. Só pode ter sido ela.
Senti-me bloquear, e embora quisesse dizer algo as palavras não saíam. Olhei para Zayn em busca de apoio mas ele desviou o olhar para o telemóvel. A raiva que sentira por ele nos primeiros dias voltou com toda a força, e controlei-me por disfarçar as minhas emoções.
- Sim Tinna, talvez se a droga fosse legal, pudéssemos todos disfrutar mais da tua companhia, porque claramente aturar-te sem a ajuda de substâncias alucinogénias é tarefa difícil.
Alguns risos correram a mesa e o meu olhar cruzou-se com o de Zayn, mas logo o afastei. Senti o telemóvel vibrar na mala e tirei-o discretamente.
De: Zayn
Mr. Simmels, mau investimento, empresa recente, adiar.
Nem penses que te desculpas assim tão facilmente!
- Quanto à questão da anexação, Mr. Simmels, acho um mau investimento. - Ele abriu a boca de espanto e eu continuei. - Neste momento a LightDesign está numa posição muito favorável no mercado, enquanto a Web-create, visto que é demasiado recente, ainda tem pouca solidez. Juntar as duas poderia resultar, sim, mas é um risco demasiado elevado a correr. Na minha opinião devemos aguardar um pouco e verificar o processo de amadurecimento da empresa.
Várias pessoas concordaram em simultâneo, de entre as quais Zayn, que acenou discretamente com a cabeça.
A comida começou a ser servida e eu ia dar início ao meu jantar quando fui interrompida pelo retomar da discussão.
- Eu discordo. - Tinna ergueu a voz para contra-argumentar a minha posição. - Além de que questiono a legitimidade da opinião de alguém que nem se movimenta na área.
Contraí as mãos num gesto de fúria e respirei fundo, tentando acalmar-me mais uma vez.
- Tinna. - Niall repreendeu-a rudemente e senti-me grata por isso, embora não precise de proteção.
- Questionas a legitimidade da minha opinião porque é demasiado racional. Ambas sabemos da tua dificuldade em pontuar nesse campo.
- Chega. - Zayn bateu com o punho na mesa, encerrando a discussão.
- Preciso de um cigarro. - Sussurrei para Niall, levantando-me rapidamente.
- Rose? Tu fumas? - O espanto patente na voz dele não me passou despercebido, como se isso pudesse conspurcar a ideia imaculada que ele fazia de mim.
- Ocasionalmente. - Afastei-me da mesa e dirigi-me à varanda, mas vendo que estava cheia, optei por abrir a porta reservada ao staff, que dava passagem para o telhado do hotel. Dali podia ver toda a cidade de uma forma privilegiada, contemplando cada um dos seus edifícios maravilhosos e detalhados. O Big Ben apontava as onze da noite e inspirei profundamente antes de acender o cigarro.
Tentei pensar a partir de que momento é que eu deixei para trás os meus princípios para me tornar o tipo de pessoa que discute por indiretas numa mesa de jantar cheia de empresários famosos e calculistas. Lembro-me de quando terminei o curso, quando estava ainda cheia de sonhos acerca do meu futuro, quando achava que nunca na vida iria dedicar o meu tempo e paciência a um emprego que não me faria feliz. Mas aqui estou eu, literalmente na toca do lobo, a fazer algo que não gosto, com pessoas que não posso sequer suportar.
Lancei o fumo no ar e fiquei a vê-lo dissolver-se na minha frente, até que uma nova nuvem de fumo se juntou à minha e me fez sobressaltar.
- Não devias fumar, Rose, faz-te mal. - Zayn colocou o casaco sobre os meus ombros despidos, mas apesar de estar com frio, retirei-o bruscamente e devolvi-o.
- Miss Everdeen, por favor. - Respondi com violência, expelindo uma nova onda de fumo.
Ele riu um pouco mas logo recuperou a expressão fechada desse dia. Num gesto lento, tirou-me o cigarro da boca e atirou-o ao chão, calcando-o de seguida.
-Mas que...
- Não quero que fumes. - A sua voz grave provocou-me um arrepio e novamente ele tentou colocar-me o casaco dele sobre os ombros, mas mais uma vez eu afastei-me.
- Da última vez que verifiquei, ainda não te tinha conferido o direito de tomar decisões sobre a minha vida. - Disparei, voltando-lhe costas para que ele não conseguisse ver o quão difícil está a ser controlar as minhas emoções.
- Rose.
- Deixa-me! - Gritei, cruzando os braços sobre o peito. Está frio aqui.
- Quem é o Berny?
Demorei alguns segundos a processar a sua pergunta.
O meu corpo gelou e voltei-me lentamente na sua direção. Quando me apercebi do gesto que estava a fazer, já era tarde demais: a minha mão embateu com violência no seu rosto e o som do estalo preencheu o silêncio da noite.
- Não voltes a meter-te na minha vida. - Lágrimas de raiva escorriam pelo meu rosto e estava a preparar-me para ir embora quando senti uma mão segurar-me pela cintura. Ele puxou-me para si com violência e aproximou o seu rosto de tal forma do meu que uma corrente elétrica percorreu todo o meu corpo.
- E se eu quiser fazê-lo? - A sua voz rouca, a sua respiração controlada, o cheiro do tabaco misturado com o perfume caro, a proximidade dos lábios rosados e apetecíveis... Senti-me tonta com a intensidade da sua presença, e a força do seu braço em torno da minha cintura aumentou.
- Hmm...eu...
Ele riu fracamente e aproximou-se ainda mais, roçando levemente os lábios sobre os meus.
- Promete que não voltas a fumar. - Sussurrou, usando a mão livre para percorrer o meu rosto de forma provocante.
- Humm. - Eu queria continuar a olhá-lo, mas contra minha vontade, senti os meus olhos fecharem-se lentamente.
- Promete. - Os lábios dele afastaram-se dos meus e percorreram o meu maxilar, detendo-se junto ao ouvido.
- Prometo. - Repeti fragilmente.
- E promete que te sentas junto a mim. - Sussurrou contra o meu ouvido, limpando carinhosamente as minhas lágrimas com o polegar.
- Porquê? - Perguntei, recuperando a lucidez por uns momentos.
- Porque eu quero ter-te por perto. - Respondeu calmamente, e pegando no meu rosto preparou-se para colar os nossos lábios.
Palmas. O som de palmas solitárias ecoou no telhado, fazendo-nos afastar no preciso momento em que ele me ia beijar.
- Zayn e a assistente 2, num cinema perto de si. - Uma voz forte vinda das escadas chamou a nossa atenção, e assim que vi a pessoa que falara a minha boca abriu-se de espanto.
Um jovem parecidíssimo com Zayn, excepto na cor dos olhos, que são de um azul encantador, apresentava-se de forma contrastante com a nossa formalidade. À semelhança do tipo de roupa que Zayn usava nessa tarde, também este rapaz usava umas calças de ganga escuras e justas, uma t-shirt com uma frase ordinária que não irei reproduzir, e um casaco de couro preto, estilo motoqueiro, que lhe dava um ar rebelde irresistível.
- Disseram-me que tinhas vindo fumar, mas parece que te distraíste da tarefa.
Olhei para Zayn e vi que este empalidecera, afastando-se de repente, mas mantendo a mão na minha cintura.
- Borhan, por favor... - Zayn estava visivelmente perturbado. - Vamos falar em casa.
- Queridinha, Rose, não é? Queres ouvir uma história? - Borhan, se é assim o seu nome, ignorou os protestos de Zayn e começou a falar.
*