- Rosas? – Pergunta Hernan.
- Sim. Rosas. Não essas rosas de floricultura. O cheiro parecia ser daquelas rosas que tinham plantadas nos jardins das casas das nossas avós. – Responde Margot.
- Ainda por cima, rosas de época? – Brinca Vitória que estava sentada ao lado de Margot em um dos bancos do Centro Espírita.
- Vitória, eu não estou brincando. Juro por Deus que eu estou falando muito sério, Seu Hernan.
- Fique tranquila, minha filha. Eu acredito em você. Algumas vezes, os irmãos desencarnados de boa luz, quando se aproximam de nós, emitem esse perfume de rosas. Você não precisa se preocupar.
- E todos que estão por perto sentem esse perfume?
- Nem todos. Mas isso também não quer dizer que eles não sejam merecedores de perceber a presença dos irmãos. Só não estão tão abertos a senti-los naquele momento. – Hernan dá um largo sorriso, se levanta, arruma a calça e fala para as duas. - Agora me deem licença que vou ter que organizar o trabalho da casa. Fiquem com Deus.
- Obrigado. – Responde Margot para Hernan.
- Flores de época. Quem diria... – Brinca Vitória.
- Flores que lembrei existirem no jardim da casa da minha avó, Vitória. Deixa de ser implicante.
- Eu sei menina. Só estou tirando graça contigo. Relaxa.
No outro lado do Centro, Hernan recebe Paulo e Andreia, que estão entrando pelo corredor principal.
- Que bom vê-los novamente por aqui.
- Eu precisava voltar aqui. E gostaria muito de conversar com o senhor sobre algo que aconteceu em minha casa esta semana.
- Pai, por favor. Não foi por isso que viemos aqui, hoje.
- E nem eu estou dizendo que você veio por isso, filha. Mas preciso falar com ele para que me ajude a entender o que aconteceu. Não quero lhe forçar a entender ou aceitar nada. Mas preciso de algum esclarecimento.
- Fique tranquila, minha filha. – Fala Hernan. – Estamos aqui para ajudar. Não será nenhum incomodo escutar seu pai. Fique à vontade, vou conversar com ele no jardim, assim teremos um pouco mais de privacidade.
Hernan abre um velho portão de madeira que separa o corredor do Jardim.
- Venha comigo. Aqui poderemos falar melhor. – Fala apontando para o Jardim. Ele e Paulo caminham para o Jardim, em direção à árvore de sapoti que fica no meio do gramado, enquanto Paulo começa a contar o que aconteceu no apartamento.
Andreia fica olhando para o Centro, se sentindo um pouco deslocada, com seus braços cruzados e sem saber exatamente onde se sentar.
- Você pode escolher qualquer um dos espaços livres nos bancos. Aqui não existem lugares marcados. – Fala Pedro que acabara de entrar no Centro.
- Obrigado Responde Andreia sem saber exatamente o que falar, ao se recompor do susto.
- Me desculpe. Não tive a intenção de lhe assustar.
- Não. Não se preocupe.
- Primeira vez no Centro?
- Na verdade é minha segunda vez. Acho que é por isso que ainda estou um pouco nervosa.
- Normal. Até hoje, às vezes, fico um pouco nervoso quando entro aqui.
- Você frequenta há muito tempo?
- Há alguns meses. Mas ainda estou começando a trabalhar. Acho que por isso é que fico nervoso.
- Trabalha aqui? Recebendo as pessoas?
- Não. – Responde Pedro sorrindo. – Na verdade não existem recepcionistas aqui. Todos que trabalham acabam recebendo e tentando ajudar às pessoas que vem pela primeira vez na casa. Mesmo que não seja sua primeira vez. Como é seu caso.
- É verdade.
- Mas, como lhe disse, fique à vontade e sente onde achar melhor. Alguns preferem sentar-se nas pontas dos bancos, perto do corredor central. Acham que assim receberão mais auxílio. Mas não é verdade. Todos que precisam receberão a ajuda necessária.
- Mas você ainda não me disse o que você faz aqui.
- Sou médium.
Andreia aperta mais os braços contra seu corpo e abaixa um pouco a cabeça, incomodada com a resposta de Pedro.
- Não precisa se preocupar. Eu não vou incorporar nenhum irmão aqui na sua frente agora.
- Desculpe. Foi uma reação impensada.
- Não precisa se desculpar. Muitos tem o mesmo tipo de reação. Muitos acreditam que pelo fato de um médium estar conversando com eles em um Centro Espírita, é sinal de que tem algo de muito errado com eles.
- Acho que eu sou uma dessas pessoas. Não é isso?
- Não. Imagina. Realmente foi só com o intuito de lhe ajudar. Vi que estava um pouco perdida, sem saber o que fazer, por isso vim falar com você. A propósito, me chamo Pedro.
- Meu nome é Andreia. Vim com meu pai que está conversando com aquele senhor ali no jardim.
- Seu Hernan! A melhor pessoa que ele poderia conversar para tirar qualquer dúvida e receber a ajuda que precisa.
- Como você sabe que ele está tirando dúvidas? – Pergunta Andreia um pouco intrigada.
- Fique tranquila, não é por causa da mediunidade que sei disso. Normalmente uma pessoa vem a um Centro Espírita para tirar dúvidas, receber esclarecimentos, receber ajuda. Dificilmente você vai encontrar alguém por aqui que veio passear. – Responde Pedro sorrindo.
- É claro. – Responde Andreia um pouco constrangida. – Desculpe.
- Não precisa se desculpar. Bem... Seja bem-vinda, mais uma vez, e fique à vontade. Preciso me sentar.
- Obrigado. – Responde Andreia estendendo a mão para cumprimentar Pedro.
- De nada. – Pedro estende sua mão para responder ao cumprimento de Andreia e quando a toca, em sua mente, surge imagens de um pequeno garoto andando em uma longa estrada que atravessa um descampado. É noite, e somente uma pequena luz acompanha o garoto, como se fosse uma pequena estrela ao lado do rosto. Pedro se aproxima do menino, mas este não consegue perceber a presença do rapaz ao seu lado. Seus olhos seguem fixos no final da estrada, tentando saber aonde ela chegará. A princípio, os únicos sons são dos passos do menino e do vento frio que sopra. Pedro não entende por que o garoto não tem medo. Até que escuta a voz do garoto que responde para alguém que Pedro não consegue ver.
- Eu sei vó. Não estou com medo. Vou continuar caminhando. – Fala o garoto. – Não consigo ver esse anjo que a senhora disse ter acabado de chegar, mas se a senhora diz que veio me ajudar, eu acredito. Obrigado anjo. – Fala o garoto acenando com a mão direita enquanto continua a caminhar.
Pedro abre os olhos, respira fundo e fala para Andreia, ainda com a voz presa pela respiração e com uma entonação diferente da que fala normalmente.
- O garoto... A avó o está ajudando. Mas não basta somente a ajuda dele. Onde está o pai? A provação é de todos. Todos precisam passar juntos para que possam evoluir. Por que ele não veio?
Assustada, Andreia puxa sua mão. - Por que você está me dizendo isso?
- Desculpe não foi minha intenção. Eu não sei lhe explicar o que houve. Isso nunca aconteceu antes. – Tenta se justificar, Pedro, ainda mais assustado que Andreia.
- O que está acontecendo? – Pergunta Paulo que voltava do jardim com Hernan.
- O senhor sabe muito bem o que está acontecendo. – Fala Andreia se virando para o pai irritada com a situação. – Foi o senhor que mandou ele me falar essas coisas.
- Do que você está falando? - Pergunta Paulo, sem entender a acusação da filha.
- O que está acontecendo, Pedro?
- Eu estava terminando de receber esta moça e quando fui me despedir dela apareceram umas imagens na minha mente, como se fosse uma mensagem para ela e acabei falando sem ter a intenção e ela se irritou com a situação e... – Tenta explicar Pedro para Hernan.
- Sem ter tido a intenção, não! Pelo menos fale a verdade. Ele e meu pai combinaram para falar tudo e tentar me convencer. – Interrompe Andreia.
- Desculpe, filha. Mas não fazemos esse tipo de "artimanha" aqui no Centro. Se você se acalmar, tenho certeza de que poderemos esclarecer tudo. Sente comigo e, me explique o que aconteceu.
- Eu estou muito nervosa. Desculpe, mas acho que não seria o momento certo para falar nada. Acho que o melhor é sair daqui.
- Se você for agora, não será bom para você. Venha vamos conversar. Me conte. Só me deixe ouvi-la. Se depois, você quiser ir, sem acompanhar o trabalho, não terá nenhum problema.
Um pouco relutante, Andreia aceita o convite de Hernan e eles caminham até um dos bancos que ficam encostados na parede do corredor principal da entrada.
Pedro e Paulo ficam perto da entrada do salão.
- Me desculpe. Minha intenção não foi de perturbar sua filha.
- Não se preocupe, meu filho. Ela está passando por muitas dificuldades e já está nervosa há algum tempo. Mas pelo menos me explique o que aconteceu para que eu possa entender.