A l g u n s m e s e s a n t e s d o m a s s a c r e.
Em sete anos a vida de todos muda. As pessoas evoluem em vários quesitos. Personalidade, corpo, mente, crença, sentimentos. Tudo muda. E não é diferente com absolutamente ninguém, talvez um dia, todos pensem: "eu serei o mesmo daqui por diante" ou "Eu serei assim para sempre", mas não é assim. Pau que nasce torto não morre torto. Não mesmo.
Muitas situações transformam as pessoas, os "bons moços" viram maus e os vilões podem vir a ser os bons. Aquela menina linda e magra, pode engordar e se sentir um lixo humano e aquele rapaz maromba do último ano pode se descuidar e ganhar vários quilos e fingir que ainda se acha impecável.
Sete anos depois de uma grande tragédia em minha vida, eu, Alana Sanchez também mudei, e muito. Além da minha personalidade, eu mudei de vida e país. Fui a Portugal, em busca de viver algo inovador com minha avó, Ivy e achei o que procurava. Também realizei sonhos que não sabia que tinha guardado em meu peito, espremidos com a opressão de um irmão controlador.
Pisei meus pés em solo distante e desconhecido e vi o sofrimento real, de perto.
Frio demais ou calor demais. Nada é na média quando você viaja em missões. É tudo muito intenso. Principalmente o amor. Isso é o mais intenso. Resgatar pessoas da morte, espiritual e carnal, é algo que você precisa estar pronto e ter maturidade para enfrentar. Não é fácil. Nunca será. Mas meu amor por Cristo cresceu de tal maneira que, sempre que eu pisava em terra nova, meu peito ardia, chamas de amor se acendiam em mim.
Talvez a imaginação leve a quem me olha pensar que eu fiquei bem, mas eu apanhei mais, muito mais e levo comigo essas marcas incríveis do que é servir a Jesus realmente. O que Pablo me fez nunca chegou perto de uma dor real. Não mesmo. Encontrei com muitos missionários que, morreram cruelmente nas mãos de radicalistas e invasores.
Vi crianças com seus olhos cheios de paixão por Jesus dizer: "eu não vou negar a Cristo, nunca" e aí serem mortas a sangue frio. Eu vi tudo isso acontecer e tudo o que passei com Pablo foi ficando para trás, foi levado pelo vento assim como uma flor dente-de-leão que, quando tem um sopro, por mais suave que seja, voa.
Eu não tenho mais tempo para bancos e ficar observando a vida passar. Eu tenho a necessidade em mim de permanecer de pé, ao lado de Cristo, fazendo o nome Dele ser louvado. Eu sempre soube que um dia, poderia fazer isso, por mais que demorasse dez, vinte ou trinta anos para conseguir isso, mas dentro de mim, eu sabia que ia conseguir.
Me pergunto sempre como meu irmão deve estar. Mas nunca o procuro, pois ouvia Deus dizendo ao pé do seu ouvido: Não é chegado o tempo. Me sinto culpada por ter sido tão egoísta a respeito dos seus sentimentos, mas há sete anos eu pensava apenas em me ver livre dele, assim como uma criança espera ansiosa o sinal da escola bater.
Eu estou, agora, deitada, no chão de uma tenda com minha cabeça apoiada em cima da pequena mochila que eu mesma levava para todo canto, meu corpo estava coberto apenas com um casaco que, graças a Deus, minha avó colocou na mochila, mesmo que eu não pudesse mais usá-lo, servia bem para aquecer minhas pernas e depois meus braços.
Enquanto não caia no sono, senti meu corpo se remexer, quase que sozinho, de um lado para o outro. Quando abri meus olhos, não estava mais no mesmo lugar, então eu soube: Deus queria falar através de um sonho.
Eu estava em uma ilha, perdida. Ao longe, um avião caído aos pedaços ali. Por mais que eu tentasse os movimentos não saiam. Eu era como uma espectadora nesse sonho. É como se eu não pudesse fazer nada além de observar, apesar de, nada estar acontecendo. Eu apenas sentia a pele congelar minha pele enquanto a noite caia sorrateiramente.
— É chegado o tempo. – Uma voz estrondou do alto, como um trovão, de repente.
Me assustei e, involuntariamente, abaixei-me um pouco, protegendo minha cabeça, era como se algo fosse cair em cima de mim. Me agachei e fechei meus olhos. Apertei-os bem e também segurei meu peito, minha respiração já estava se agitando, como se, eu tivesse acabado de correr muito rápido, por um longo tempo.
— É chegado o tempo! – A estrutura da terra na qual meus pés pisavam, tremeu e então senti como se meu coração fosse saltar.
O vento rugia a minha volta e a chuva começava a cair em cima de mim, nunca tinha visto uma tempestade como aquela. Trovões e até um terremoto me assolou durante todo o sonho, enquanto eu não podia ser nada mais que uma espectadora.
— Alana! – Mais uma vez, a poderosa voz falou e dessa vez seu nome foi chamado e então senti meu corpo começar a mover-se sozinho, prostrando-se.
— Eis-me aqui, Pai. – Respondi, reconhecendo a voz do Mestre.
Depois de algum tempo, percebi as lágrimas saindo dos meus olhos, desesperadamente. Meu corpo inteiro tremia. O sol estava indo, mas a chuva permanecia ali.
— É chegada a hora de você ir. Eu não quero mais que você fique aqui. Outras pessoas precisam de você e você precisa deles. – A voz. Agora um pouco mais branda, mesmo que com um poder claro no seu tom, falou.
— Sim, pai. Eu te obedecerei. – Respondi, sem contestar.
— Alana! Alana! – Meu corpo começou a ser balançado e então fui arrancada no meu longo sonho.
— O que? O que houve? – Levantei assustada, olhando para os lados.
— Porque você está toda molhada? – Olhei-me analisando a minha própria situação. Parecia que eu tinha saído mesmo de uma tempestade.
— E-Eu... Eu não sei. – Ele me olhou desconfiado
— Vem... – Ele estende sua mão e me puxou — Temos que nos esconder, o vilarejo está sendo atacado.
— Outra vez? – Perguntei, empurrando para longe o casaco que estava pendurado em minha perna, mesmo comigo caminhando.
— Sim. – Bufou. — Vamos logo!
Fomos até um porão que tinham preparado improvisado no subsolo. Tinham algumas crianças amedrontas, abraçadas com as pessoas que, talvez, não fossem nem seus parentes.
Ouviam-se os tiros. Os gritos dos homens caindo ao chão e a terra acima de nossas cabeças tremia e derrubava terra.
— Mama, estou com medo – O menino, que falava outra língua, abraçou a mãe com medo.
Depois de longas horas. O ataque tinha acabado, acima de nós, uma chacina. Era surreal ver tantos corpos pelo chão. Tanto de pessoas da aldeia, que se predispuseram a defender o seu povo e também quem estava ali para dizimar a todos, por serem cristãos.
Essa foi minha última missão aqui. Meu último momento longe dos meus avós e da pessoa que mais amo no mundo. Abri mão dela por um tempo longo para sair em missões pregando o evangelho.
Mas eu sei, que onde Deus esteja me usará em algo, grande ou pequeno, mas sempre estarei com o coração aberto para atender a voz do Senhor e sempre lutarei para conseguir fazer tudo que é para Ele de forma agradável e bem-feita. Sempre com um sorriso largo esboçado em meu rosto.
O amando mais do que tudo no mundo, pois Ele é o mais importante.
Não importa o quanto meu corpo e idade mudaram. E daí que agora eu tenho vinte e cinco anos e sou mais magra e cabelos mais curtos? Meu coração e meus pensamentos sempre vão estar no alto. Sempre em Jesus. Em adorá-lo com todas as forças.
Mas agora, Ele me deu uma nova ordem e eu sei que tenho que voltar para meu lugar de origem, onde tudo começou e onde algo novo será feito em minha vida.
Eu só espero que minha viagem de volta seja menos turbulenta.
Continua...
"Pois amar a Deus é obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são difíceis de obedecer"
1João 5:3
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N/A
Meu Deus, eu nem acredito no quanto vocês gostaram mesmo da minha história, eu sou, com certeza, a escritora mais feliz do mundo, graças a Deus e vocês ♥ Mais um capítulo postado para vocês... Espero que, para me ajudar, comentem muito e votem ♥
Até a próxima...