Devaneios e Narrativas Com Mu...

By Rliable_w_the_ladiez

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Oi gente, tudo bom? Cheguei de paraquedas no wattpad, mas nada que me impeça de ter um livro aqui. Bom, esse... More

A Escrita e o Escritor
Os 5 Passos
Bianca
O Belo Oceano
29 Segundos

42 passos

37 3 4
By Rliable_w_the_ladiez


Desde que me entendo por gente, passei a não confiar no ser humano. Egoístas, corruptos e amargurados, criaram um mundo onde existe paz baseada em guerras improváveis, beleza baseada em padrões e felicidade baseada em materialismo. Tudo tem o seu preço, tempo é dinheiro, e você sempre estará nas mãos deles, não importa que tipo de liberdade eles declarem. Como se não bastasse, eles fazem de vocês um deles, para que o ciclo continue. Entretanto, existem aqueles que escolhem não ser dardos para os alvos que eles designam, e eles os chamam de anarquistas, loucos. Alguns deles revolucionaram todo um sistema para fazer um mundo melhor, mas foram engolidos pela ganância. Outros criam um mundo com a própria mente e tentam viver de acordo com as próprias regras, e são chamados de sociopatas, psicopatas, doentes mentais. Eu sou um deles.

Nunca suportei a realidade. Então, em um ato desesperado e defensivo, criei o meu próprio mundo, um que pudesse agradar meu ser. Porém, negligenciaram a minha maneira de lidar com tudo e todos. E em uma guerra onde era só eu contra o mundo, eu não pude vencer.

A minha vida se resumia a quatro paredes e homens de branco que me davam coisas estranhas como pílulas, injeções...até mesmo comida. Quando eu não queria fazer os chamados "exames diários", me colocavam de castigo. Com um casaco que prendia meus braços, eles faziam coisas que nunca compreendi contra a minha vontade. Eu cresci tentando lembrar da família que tinha antes de tudo isso, mas os benzodiazepínicos não me deixavam lembrar de muita coisa. Porém, em uma certa manhã logo após um castigo, ele apareceu.

Surgiu um amigo, alguém que realmente se importava comigo. Ele conversava comigo quando os homens de branco iam embora e me explicou coisas que eu nunca havia compreendido. O porquê de eu estar ali, porque aqueles homens faziam isso, e porque ele agora estava lá para mim.

Logo após sua chegada, os homens de branco começaram a falar nomes como esquizofrenia e múltipla personalidade. Ele disse que eram os rótulos que eles davam para coisas que eu fazia, e também me disse para parar de falar com ele em voz alta - os homens de branco pareciam não gostar dele. Dessa maneira, eu conseguiria sair de lá.

O problema é que eles eram espertos. Com pranchetas cheias de coisas escritas depois de alguns procedimentos que em mim faziam, aqueles malditos papéis contrariavam minhas ações, e eu não podia enganá-los. Sem saber o que fazer, eu pedi ajuda ao meu amigo, já não encontrava alternativas para sair daquela prisão sozinho.

"Se me deixar assumir, resolverei seus problemas. Prometo suprir suas necessidades, e, dessa vez, o mundo será à nossa maneira. Mas você teria que ficar no meu lugar."

Eu nunca confiaria no ser humano,mas sabia que poderia confiar naquela voz amigável que me conduzira por tanto tempo. Desde aquele dia, eu não pude mais fazer escolhas. Por outro lado, eu nunca mais tomei nenhum Diazepam.

_____//_____

As coisas são feitas à minha maneira agora. Não mais na platéia, mas no palco exercendo meu espetáculo. Ele sempre foi fraco demais para a realidade, era questão de tempo até que cedesse.

Eu nos mantive vivo por muito tempo. Nos misturamos aos normais facilmente, mas ele se perdeu. Ingênuo demais, se cegou pelas coisas que o mundo oferecia. Eu sabia que ele iria se tornar como um deles, que no fim, seria rejeitado pelo mundo, se tornaria vazio e eu não poderia mais estar lá para protegê-lo. Como uma criança vendo brinquedos na vitrine, ele buscava por "felicidade" além de mim, a partir das coisas da vida.

Ele não me deu ouvidos, e conseguiu assumir de novo por um dia. Nesse um dia, falou com a garota da cafeteria que tanto conversava sobre comigo para conhecer. Ele sempre a observava e agora que a conhecera, queria assumir de novo. Sempre fomos nós dois contra o mundo, ele não podia simplesmente adicionar mais alguém.

"Foi a última vez que você falou com aquela garota. Nunca mais falaremos com ela, nunca mais iremos àquela cafeteria."

"A garota tem nome, e é Bianca. Ela é diferente, não vai nos rejeitar como os normais. Talvez ela veja o mundo como nós vemos."

"Ela é uma normal."

"Você não sabe se ela é uma normal"

"Mas eu não quero arriscar e descobrir o contrário. E se ela souber sobre nós? Ela vai nos colocar naquela salinha com o homens de branco e drogas pesadas que não vão me deixar falar com você. É isso que você quer? Viver naquele lugar pra sempre?"

"Me deixe ao menos vê-la mais uma vez."

"Se é o que tanto quer, há uma maneira de fazê-la ficar com a gente. Mas terá que ser à minha maneira."

_____//_____

E foi dessa forma que procedemos. Descobri todos os seus gostos e desgostos e a trouxe para ele. Mas, mesmo concordando que seria da minha maneira, chorou a noite toda no dia que a raptamos. Não suportaria vê-lo assim, então deixei ele assumir pelos 6 dias que ela ficou conosco.

Foram 6 dias. 6 dias em que ele queimava os dedos para cozinhar os pratos favoritos dela. 6 dias com discursos e declarações melosas pra ela. 6 dias discutindo comigo.

"Tudo sempre foi à sua maneira desde que saímos da sala branca, e quando eu quero escolher algo, você faz isso. Como pude confiar em você?"

Eu não respondi a nenhuma reclamação, mas no sexto dia, não consegui me manter calado. Tivemos uma discussão.

"Não podemos deixar ela aqui"

"Então liberte-a. Mas fique sabendo que quem irá nos prender dessa vez não serão homens de branco."

"Você me deixou em uma rua sem saída. Por que fez isso?"

"Tudo o que eu fiz foi pra te proteger. Ela é uma ameaça pra nós."

"ELA É UMA AMEAÇA PRA VOCÊ. SABIA QUE SE FICÁSSEMOS JUNTOS, ELA ME APOIARIA. VOCÊ SABE COMO ELA PENSA DIFERENTE. TALVEZ EU ME TORNASSE UM NORMAL"

"ENTÃO É ISSO QUE VOCÊ QUER? SER COMO ELES? VOCÊ NÃO JÁ SOFREU O BASTANTE?"

"Eu prefiro sofrer com eles do que sofrer com você."

"Você é um ingrato, imaturo, uma criança, mas eu não desisti de você. Vou te contar uma coisa: Não existe realidade onde você possa ficar com ela. Se soltá-la, é o fim. Só existe um jeito"

_____//_____

Naquele dia, ele me deixou assumir e não falou mais nada. Nós decidimos o que iríamos fazer. Não disse discurso algum, eu não conseguia fazer outra coisa sem ser chorar quando a via. Quando entreguei seu jantar, a abracei e chorei mais ainda. Ela, confusa, permaneceu estática.

No sétimo dia, quando chegou a hora, ele apareceu.

"A arma está na segunda gaveta da cabeceira. Eu a deixei carregada pra você."

"Porque não assume e termina com isso? Você sabe que eu não vou conseguir."

"Ela é sua responsabilidade. Seja homem e faça isso por nós. Não se preocupe, eu vou estar aqui pra você."

"Você sempre vai estar."

"Isso mesmo. Agora pega essa droga de arma e pare de chorar. São só 42 passos para chegar até ela,não é tão difícil."

Com os olhos inchados, eu fui.

-Eu queria ter ficado mais tempo com você. Não dessa forma, com total liberdade. Mas que realidade permitiria?- Assim que o disse, comecei a caminhar até ela. Ele não me deixou trocar não importa quantas vezes eu implorasse, mas contou cada passo.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10

"Porque está fazendo isso?"

"Achei que gostasse de contar"

11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20

"Cale a boca de uma vez, por favor"

21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30

"Ela aceitou melhor que você, até fechou os olhos"

"Cale. A. Boca."

31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40

"Estamos chegando, aponte o gatilho"

41, 42.

"BANG! Você ouviu como o som ecoou? A gente tem que colocar mais móveis nesse quarto."

"VOCÊ QUER PARAR? MATAMOS UMA PESSOA."

"Eu não, você matou, eu fiquei contando. Vê se para de chorar"

"Foi a gota d'água."

Ergui o gatilho para minha própria cabeça. Ele entendeu o recado e gritou milhões de coisas na minha cabeça, mas eu não sei ouvidos. Tentou assumir, mas eu nunca mais cederia. Aqueles foram os últimos passos que ele contaria. Essa foi a primeira vez que escolhi fazer algo à minha maneira. Eu espero encontrar uma realidade melhor agora.

_____//_____

AN: Oioi gente! Essa é a continuação do capítulo "29 segundos", o ponto de vista do assassino. Mais uma vez, um capítulo diferente e grande, mas eu não resisti. Como disse, os capítulos do livro mesmo que independentes estão interligados, acredito que agora tenham entendido melhor.
Vejo vocês no próximo capítulo! ;)

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