Quanto Tempo o Tempo Tem?

By passarinhou

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Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito. Ana é o... More

Prólogo
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By passarinhou

"Vitória, essa mistura não!" Ana dizia, gargalhando, ao ver o conjunto de sabores de Vitória. A cacheada a acompanhou no riso, encarando-a.

"Sai daí, Ana! Maçã verde, morango e M&M, pra quê sorvete melhor?" indagou, "é uma explosão de sabores."

"Uma explosão de dor de barriga e algumas horas no troninho, isso sim!" Vitória a deu um falso olhar incrédulo e pôs a mão no peito, encenando uma dramatização barata.

"Então é isso que você me deseja?!" diz, "Não posso acreditar..."

"Deixa de drama, Vitória" Ana ri, revirando os olhos.

Vitória acompanha o ato com um sorriso de canto de boca.

"Drama?!" diz, "Então toma esse drama!"

A loira pega uma quantidade considerável de sorvete na colher e passa no rosto de Ana Clara, fazendo-a pular pela temperatura. De repente, uma mini guerra de sorvete e doces se instaura em uma das mesas da sorveteria, e ninguém ao redor consegue conter a risada ao olhar para as duas adultas, que agora pareciam ter tomado um antídoto que as faziam voltar no tempo.

"Vi, você me melou inteira!" Vitória entorta a cabeça, olhando para a menor. Era a primeira vez desde a volta de Ana Clara que a mesma a chamava por um apelido. Resolveu ignorar – afinal, era só um apelido. Certo?

"Você que pediu."

E então, se olham. Através daquele olhar e dos sorrisos de canto de boca era possível perceber o amor e a cumplicidade escondida por tanto tempo. Sempre se possuíram, apesar da distancia. Sempre se lembraram, apesar dos conflitos.

Não existe tempo para quem ama.

Ou será que existe?

Ana e Vitória lembram-me um casal que conheci, por volta do século XII ao VIII a.C. Esse romance passou-se na Grécia, há muito, muito tempo, quando os deuses ainda viviam entre os homens.

Havia na Grécia um rei que tinha três filhas. Todas belíssimas, formosas, e em idade para casar – naquela época, nunca entendi o por que da sina dos homens em ter, como ritual de passagem para uma mulher, o casamento. Ora, sim... Todas as filhas do rei eram belas, mas a mais nova delas, Psiquê, era mais do que bela. As palavras humanas não davam conta de descrever seus encantos e os milhares de pretendentes que chegavam ao reino, atraídos pela fama das irmãs, sentiam-se indignos diante dela e sequer ousavam pedi-la em casamento. O reino fervilhava, gente de todos os outros reinos vinham em romarias e se deixavam ficar pela cidade, apenas esperando ver a jovem princesa passar; músicas e poemas eram escritos em sua homenagem, mas Psiquê, no alto do castelo de seu pai, continuava solitária: nenhum homem podia se apaixonar por uma mulher bela como uma deusa. Mas, se Psiquê era comparada com uma comparada á uma deusa, algo ali não estava certo. Não para mim, é claro, mas para Afrodite: A deusa da beleza e do amor ficara irada.

Ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho Eros para fazê-la apaixonar por alguém, assim todas as homenagens seriam apenas para ela. Porém, fora questão de tempo para, ao ver sua beleza, Eros apaixonar-se profundamente por Psiquê.

Às vezes até mesmo eu posso pregar peças, não só Afrodite.

O pai de Psiquê foi consultar o oráculo de Delfos foi pois suas outras filhas haviam encontrado maridos e Psiquê permanecia sozinha. Manipulado por Eros, o oráculo aconselhou que Psiquê deveria ser deixada numa solitária montanha onde seria desposada por um terrível monstro. A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos.

Conformada com seu destino, Psiquê foi tomada por um profundo sono e conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale. Quando acordou, caminhou por um jardim até chegar a magnífico castelo. Parecia que lá morava um deus, tal a perfeição em cada detalhe. Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio onde todos os seus desejos foram atendidos por ajudantes invisíveis.

À noite Psiquê foi conduzida a um quarto escuro onde pensava que encontraria seu terrível esposo. Quando sentiu que alguém entrava no quarto, Psiquê tremeu de medo mas logo uma voz acalmou-a e sentiu os carinhos de alguém. O amante misterioso embalou-a em seus braços. Quando Psiquê acordou, já havia amanhecido e seu misterioso amante havia desaparecido. Isso se repetiu por várias noites.

As irmãs de Psiquê queriam saber seu destino mas o amante misterioso alertou-a para não responder aos seus chamados. Psiquê, sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorou ao amante para deixá-la ver as irmãs. Finalmente, ele atendeu ao pedido, mas impôs a condição de que não importasse o que falassem as irmãs, ela nunca deveria tentar conhecer sua identidade, caso isso ocorresse, ela nunca mais o veria novamente. Psiquê estava grávida e ela deveria guardar segredo para que seu filho fosse um deus, porém, se ela revelasse a alguém, ele se tornaria um mortal.

Quando suas irmãs entraram no castelo e viram tanta abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psiquê nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psiquê viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.

Ao receber novamente suas irmãs, Psiquê contou-lhes que estava grávida e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, elas convenceram Psiquê a descobrir a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto poderia ser um horrível monstro.

Assustada com o que havia dito suas irmãs, Psiquê levou uma lamparina para o quarto decidida a conhecer a identidade do marido. Esquecendo os avisos do seu amante, enquanto Eros descansava à noite a seu lado, Psiquê aproximou a lamparina para ver o rosto do seu amante. Para sua surpresa, ela viu um jovem de extrema beleza e admirada não percebeu a inclinação da lamparina que deixou uma gota de óleo quente cair sobre o ombro de Eros.

Eros acordou assustado e voou pela janela do quarto dizendo: - "Tola Psiquê, é assim que retribui meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e tornado-a minha esposa, tu me julgavas um monstro? Vá, volte para junto de suas irmãs, cujos conselhos preferiste ouvir. Não lhe imponho outro castigo, senão de deixá-la para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita." No mesmo instante o castelo, as belezas e os jardins desapareceram.

Inconsolável, Psiquê passou a perambular pelos bosques tentando encontrar Eros novamente.

O fim dessa história? Bom, proponho-lhe a procurar. Histórias de amor precisam ser descobertas, não só contadas.

Ana perambulou por São Paulo diversas vezes em busca de Vitória. Não uma Vitória física, mas em cheiros, em bares, em abraços, em canções – e nunca encontrou.

Quando casou-se com Mike, pensou em Vitória. Julgou ser apenas um flash do passado e a saudade de casa, mas, anos depois, percebeu que nunca fora isso.

Assim como Afrodite não premeditava que Eros apaixonaria-se por Psiquê, nem mesmo Ana premeditava de que a garota que conhecera criança seria o grande amor de sua vida.

Ana e Vitória agora encontravam-se sentadas olhando o por do sol. Conversavam sem se olhar, a atenção do momento era somente para o sol que agora dava lugar á noite. Estavam relativamente próximas e isso deixava a cacheada um tanto quanto nervosa, sentia que tinha 15 anos de novo, quando descobriu que, de fato, amava Ana Clara de uma forma romântica.

"E por onde anda o pessoal?" Ana pergunta entre uma colher e outra de sorvete. Havia apostado com Vitória que quem ganhasse pagaria uma outra rodada de sorvete – a mesma perdeu, mas a cacheada não aguentou e pagou ainda assim um sorvete para a morena.

"Caio está trabalhando numa companhia no Espirito Santo, Georgia tá em São Paulo... Você a encontrou alguma vez?"

"Que Georgia?"

"Georgia, uai. Estudava com a gente, jogava no time de futsal feminino do Santa..."

Ana pensa e acaba recordando-se de que Georgia foi a primeira garota a qual Vitória havia beijado. Durante muito tempo este fato a incomodou – queria que a primeira garota a qual Vitória ficou tivesse sido ela.

"Ah. Não." Responde curta e Vitória a encara, risonha, pelo tom ríspido.

"Eu não acredito que até hoje você não gosta da Geo por isso..." gargalha.

"É o que, Vitória? Me deixe, viu." Resmunga, ignorando a menção do apelido, "não tenho nada contra ela não."

"Ahhh, mas tem sim!"

Vitória continua rindo e Ana cora. Seu rosto, agora totalmente vermelho, entregava a vergonha. A morena aproxima-se da cacheada, e a mesma a fita, intrigada, cessando o riso.

"Que foi?"

"Agora você vai ver!"

De repente, Ana começa uma cessão de cócegas na mais alta e a mesma não consegue se segurar, gargalhando alto.

Á frente dos risos, o sol se põe, feliz.

A vida parecia estar tomando bons rumos novamente.

Ainda prolongaram o passeio um pouco mais, mas logo voltaram para casa de Ana. As duas queriam saber como Estrela estava, então, ao invés de deixar a morena na porta de casa, Vitória também entrou, sendo recebida, mais uma vez, por Mônica, seus irmãos e Bárbara.

"Você não tem casa não, rapaz?" Ana pergunta a Bárbara, que ri, jogando uma almofada na melhor amiga. Ana vai até a cozinha, deixando Vitória na sala com Luana e Bárbara.

"Vi, que poder é esse que você tem?! Ana está é bem feliz." Luana diz, olhando por cima do ombro de Vitória a irmã que agora conversava sorridente com a mãe.

"Eu não tenho nada, uai." Ri, "só voltamos a ser amigas."

"Amigas, sei." Bárbara ri.

"Sim, dona Bárbara, amigas!" Responde, dando um "soquinho" no ombro de Bárbara.

"Questão de tempo." Luana diz, "mas, Vi... Me diz uma coisa."

"O quê?"

"Quando que você vai contar?" pergunta, "sabe, sobre tudo o que já aconteceu, o motivo de você não ter ido para Sampa..."

"Não sei, Lu" admite, "não sei se é a hora."

"Entendo" responde, "mas, como Bárbara disse, é questão de tempo para as pombinhas ficarem juntas..."

"Luana!" Vitória a repreende, vermelha, fazendo as duas mulheres á sua frente gargalharem, chamando a atenção de Ana, na cozinha, "Seremos amigas, e é isso. E, pelo amor de Deus, ela é casada!"

"Oxe, Vitória, você não sabia qu-"

"Vi, quer ir ver Estrela?" Ana interrompe Bárbara, entrando na sala.

A menção do nome da pequena faz com que o semblante de Vitória passe de envergonhado, para iluminado.

"Sim!"

Ao chegar no quarto, quase que, automaticamente, Vitória agacha-se perto da pequena. Passa as mãos com cuidado nos cabelos da menor, nas temporas, e com a outra mão, afaga a mão da garotinha.

Ana observa tudo com zelo, mas é interrompida por seu celular, que vibra. No visor, o nome "Mike" aparece, e seu estomago se comprime.

Levanta-se e vai para fora do quarto, atendendo o celular de forma exasperada.

"Que é?" diz.

Seu casamento com Maicon não havia terminado de forma boa, e o resquício de amizade que existia havia sumido.

"Quero saber da minha filha."

Ana ri com escárnio, "você nunca quis, Mike."

"Mas nunca é tarde demais. Ela precisa de um homem na vida dela. Eu quero cuidar da minha filha, Ana Clara."

"Não foi presente por que quis. Meu pai é um ótimo homem exemplo para a vida dela..." Ana diz, e, ao observar Vitória sorrindo, dando carinho á sua filha, sorri antes de responder: "E, além do mais, Estrela já tem quem a cuide." 

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