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Não trabalho sozinho, nunca trabalhei. Desde o início da minha existência contraceno nesta vida com uma velha amiga.

Seu nome?

Morte.

Morte trabalha mais do que eu, porém, a mesma colhe dos recursos que a ofereço. Nós costumamos dizer á aqueles que param para nos escutar que a vida é como um jogo de cartas, mas não ao qual estamos habituados. Neste jogo, eu dou as cartas.

A Morte embaralha.

Quando você chegou, avisei de todos os malefícios presentes nesta relação, e você escolheu permanecer.

Por isso, deixarei que a mesma tome conta do decorrer da história neste momento, pois os relatos a seguir são importantes para a construção desta história e não há ninguém com mais precisão para lhe deixar a par de tudo.

Acomode-se, sinta-se confortável, esteja atento.

E lembre-se: Todos nós já escutamos dizer que, quando a Morte conta uma história, é preciso parar para ouvi-la.

(...)

Fui presente na vida da família Falcão desde muito cedo. Manifestei minha primeira aparição quando o chefe da família se foi.

A perda de alguém para os humanos é sempre acarretada de dramas e melancolias, onde, na maioria das vezes, as lágrimas transcendem numa linha tênue entre o "o que poderíamos ter feito" e a real tristeza da perda.

Quando Isabel Falcão se foi, mais uma vez pude presenciar o pesar das crianças Falcão. Eram três, e naquele dia assumiam uma postura diferente das que eu havia visto, anos atrás.

A mais nova, Ana Beatriz, estava aos prantos, jogada aos braços da mais velha, Sabra, em busca de aconchego e acalento a qual eu havia acabado de tirar. A mais velha chorava baixo, o coração acelerado, as pernas bambas. Perguntava-me como conseguia sustentar a irmã acima de si quando mal conseguia manter-se em pé.

E tinha a do meio: Vitória. Vitória permanecia parada, os lábios travados, os olhos atentos como quem duvidam do que acabara de acontecer.

Eu aconteci.

Mas havia mais. Eu podia sentir de longe a dor que emanava o peito da grande Vitória.

Já tive de fazer meu trabalho na vida de muitas pessoas. Sejam pessoas ruins, ou pessoas boas.

Já tirei a vida de ladrões, traficantes e pais de família. Atuo de forma cautelosa e sem intenções.

Isabel Falcão fora uma grande mulher. Criou as três filhas sozinha e ambas muito se orgulham da criação que obtiveram. Quando houve a descoberta da doença, apenas sorriu, e esse sorriso só fora ficando mais fraco durante o processo, mas nunca se apagou.

Em muitas vezes senti a vontade de poder dar de volta a vida á aquelas pessoas, mas não podia.

Ocorro exatamente quando devo.

Encontrei Vitória exatamente três vezes durante a vida. A primeira, quando seu pai se foi. A segunda, quando sua mãe veio a óbito.

A terceira, deixo encarregada ao meu amigo Tempo. Ele lhes mostrará exatamente quando deve.

Observei a filha do meio dos Falcão durante muito tempo. Com o passar dos anos, deixou o cabelo crescer e assumiu uma postura tanto dura, quanto risonha. Sempre me perguntei como alguém que já me encontrou tantas vezes consegue enxergar a vida de uma forma única e objetiva.

Humanos são seres extremamente inteligentes, ambiguamente confusos e totalmente inconsequentes. Muitas das vezes, movidos pela paixão e pelo desejo insaciável de encontrar a famosa alma gêmea.

Quanto Tempo o Tempo Tem?Место, где живут истории. Откройте их для себя