A Companhia Negra

De pedroneto44

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A Companhia Negra é um grupo de mercenários com uma história que remonta a séculos. Numa tentativa de reviver... Mais

Apresentação
Legado - Parte 1
Legado - Parte 2
Legado - Parte 3
Legado - Parte 4
Legado - Parte 5
Corvo - Parte 1
Corvo - Parte 2
Corvo - Parte 3
Corvo - Parte 4
Corvo - Parte 5
Corvo - Parte 6
Rasgo - Parte 1
Rasgo - Parte 2
Rasgo - Parte 4
Rasgo - Parte 5
Sussurro - Parte 1
Sussurro - Parte 2
Sussurro - Parte 3
Sussurro - Parte 4
Sussurro - Parte 5
Sussurro - Parte 6

Rasgo - Parte 3

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De pedroneto44

Dei um passo atrás, tentando estimar a magnitude do investimento do Apanhador de Almas. Pude ver ouro em meio à montanha de prata. Uma das bolsas sangrava gemas brutas.

— Os cabelos — exigiu o Apanhador.

Caolho pegou os fios. O Apanhador os colocou nas laterais da cavidade, que tinha o tamanho de uma cabeça. Deu um passo atrás e deu as mãos a Caolho e Duende.

Eles fizeram magia.

Tesouro, mesa e pedra começaram a emitir um brilho dourado.

Nosso arqui-inimigo era um homem morto. Metade do mundo ia tentar receber aquela recompensa. Era grande demais para resistir. Até seu próprio pessoal ia se virar contra ele.

Eu vislumbrei uma única e mínima chance para Rasgo. Ele poderia roubar o tesouro para si mesmo. Seria difícil, porém. Nenhum profeta rebelde conseguiria derrotar as magias de um Tomado.

Eles completaram o encantamento.

— Alguém teste o feitiço — pediu Caolho.

Houve um estalo maligno quando a ponta da adaga de Corvo penetrou o plano das pernas da mesa. Ele praguejou, fez uma careta para a arma. Elmo estocou com a espada. Crack! A ponta da lâmina emitia um brilho branco.

— Excelente — concluiu o Apanhador de Almas. — Levem a carroça daqui.

Elmo designou um soldado. O resto fugiu para o quarto que Duende tinha alugado.

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Primeiro nós nos ajuntamos na janela, esperando que alguma coisa acontecesse. Isso ficou chato muito rápido. A cidade de Rosas só foi descobrir a condenação que preparamos para Rasgo depois do amanhecer.

Empreendedores cautelosos encontraram cem maneiras de tentar faturar o dinheiro. Multidões vieram apenas para assistir. Um bando dedicado começou a escavar a rua para chegar ao local por baixo. A polícia os expulsou.

O Apanhador de Almas se sentou ao lado da janela e não saiu dali.

— Tenho que modificar os feitiços. Não antecipei tamanha engenhosidade — disse-me certa vez.

Surpreso com minha própria audácia, perguntei:

— Como é a Dama? — Eu tinha acabado de escrever um dos meus rascunhos de fantasias.

Ele se virou devagar e me fitou brevemente.

— Algo que morderá aço. — Era uma voz de mulher despeitada. Uma resposta estranha. Então: — Tenho que impedi-los de usar ferramentas.

E lá se foi minha chance de conseguir um testemunho em primeira mão. Eu deveria ter imaginado. Nós mortais somos apenas meros objetos para os Tomados. Nossas curiosidades lhes são supremamente indiferentes. Eu me retirei para meu reino secreto e seu círculo de Damas imaginárias.

O Apanhador de Almas modificou as magias protetoras naquela noite. Na manhã seguinte havia cadáveres na praça.

Caolho me acordou na terceira noite.

— Temos um cliente.

— Hum?

— Um cara com uma cabeça. — Ele estava satisfeito.

Cambaleei até a janela. Duende e Corvo já estavam lá. Nós nos esprememos em um canto. Ninguém queria chegar muito perto do Apanhador.

Um homem atravessou a praça abaixo. Uma cabeça pendia da mão esquerda dele, presa pelos cabelos.

— Eu me perguntei quanto tempo ia demorar antes que isso começasse — comentei.

— Silêncio — sibilou o Apanhador. — Ele está lá fora.

— Quem?

Ele era paciente. Extraordinariamente paciente. Outro dos Tomados teria me castigado ali mesmo.

— Rasgo. Não denuncie nossa posição.

Eu não sabia como ele sabia. Talvez preferisse não saber. Essas coisas me assustam.

— Uma visita sorrateira tinha sido prevista — sussurrou Duende, guinchando. Como ele conseguia guinchar sussurrando? — Rasgo tem que descobrir o que está enfrentando. E não pode fazer isso de nenhum outro lugar. — O homenzinho gorducho estava orgulhoso.

O Capitão diz que a natureza humana é nossa lâmina mais afiada. A curiosidade e a vontade de sobreviver atraíram Rasgo a nosso caldeirão. Talvez ele fosse virar a mesa contra nós. Temos um monte de pontos fracos também.

Semanas se passaram. Rasgo veio várias vezes, aparentemente contente em observar. O Apanhador de Almas mandou que o deixássemos em paz, não importando o quanto ele se fizesse de alvo fácil.

Nosso mentor pode nos tratar com consideração, mas tem um traço de crueldade. Ele parecia querer atormentar Rasgo com a incerteza do destino que o aguardava.

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— Esta cidade está ficando louca por recompensas — guinchou Duende, em seguida fazendo uma de suas dancinhas. — Você deveria sair mais, Chagas. Estão transformando Rasgo numa indústria. — Ele me chamou até o canto mais afastado do Apanhador de Almas e abriu uma carteira. — Olhe só — sussurrou.

Ele tinha dois punhados de moedas. Algumas eram de ouro.

— Você vai acabar andando torto com esse peso — observei.

Duende sorriu. Seu sorriso é uma visão inesquecível.

— Faturei isto vendendo dicas de onde encontrar o Rasgo — murmurou ele. Depois olhou para o Apanhador e acrescentou: — Dicas falsas. — Duende pôs a mão em meu ombro. Teve de se esticar para conseguir. — Dá para ficar rico lá fora.

— Eu não sabia que estávamos nesta para ficarmos ricos.

Duende fez uma careta que deixou o rosto pálido e redondo dele coberto de rugas.

— O que é você? Algum tipo de...?

O Apanhador de Almas se virou.

— Só uma discussão sobre uma aposta, senhor. Só uma aposta — coaxou o pequeno homem.

Eu ri alto.

— Muito convincente, balofo. Por que você não se enforca, simplesmente?

Duende amarrou a cara, mas não por muito tempo. Ele é irrepreensível. O humor dele consegue superar até as situações mais difíceis.

— Merda, Chagas, você deveria ver o que o Caolho está fazendo — murmurou ele. — Vendendo amuletos. Eles garantem que se tiver um rebelde por perto, você está protegido. — Outra espiada para o Apanhador. — E funcionam mesmo. Mais ou menos.

Balancei a cabeça.

— Pelo menos ele poderá pagar as dívidas de carteado. — Isso era típico do Caolho. Passou uma temporada ruim em Meystrikt, onde não havia espaço para as costumeiras negociações de mercado negro. — Vocês deveriam estar plantando rumores. Mantendo a agitação, e não...

— Shhh! — Ele olhou o Apanhador de novo. — Estamos fazendo isso. Todos os botecos da cidade. Diabos, o disse me disse está completamente selvagem, lá fora. Venha, vou lhe mostrar.

— Não. — O Apanhador de Almas estava falando cada vez mais. Eu tinha esperanças de conseguir uma conversa de verdade.

— Azar o seu. Eu conheço um agenciador que aceita apostas de quando Rasgo perderá a cabeça. Você tem informações privilegiadas, sabe.

— Caia fora daqui antes que você perca a sua.

Fui até a janela. Um minuto depois Duende passou apressado pela praça abaixo. Ele nem olhou para nossa armadilha.

— Deixe que brinquem com os joguinhos deles — disse o Apanhador de Almas.

— Senhor? — Minha nova abordagem. Puxar o saco.

— Meus ouvidos são mais afiados do que seu amigo imagina.

Esquadrinhei o rosto daquele morrião negro, tentando capturar alguma pista dos pensamentos por trás do metal.

— Não é relevante. — Ele se ajeitou um pouco, fitando algo atrás de mim. — O submundo está paralisado pelo desespero.

— Senhor?

— A argamassa que sustenta a casa está apodrecendo. Vai desmoronar em breve. Isso não aconteceria se tivéssemos capturado Rasgo imediatamente. Eles o teriam transformado num mártir. A perda os entristeceria, mas eles teriam perseverado. O Círculo substituiria Rasgo em tempo para as campanhas de inverno.

Eu fitei a praça. Por que o Apanhador de Almas estava me contando isso? E tudo numa voz só. Seria a voz verdadeira do Apanhador de Almas?

— Porque você achou que eu estava sendo cruel por prazer.

Eu pulei.

— Como você...?

O Apanhador de Almas fez um barulho que passava por uma risada.

— Não, não li sua mente. Sei como as mentes funcionam. Eu sou aquele que apanha almas, já esqueceu?

Será que os Tomados se sentem solitários? Anseiam por companhia? Amizade?

— Às vezes. — Isso foi dito numa das vozes femininas. Era sedutora.

Eu dei meia-volta e olhei para a praça, assustado.

O Apanhador de Almas leu esse gesto também. Voltou a falar de Rasgo.

— A mera eliminação nunca foi meu plano. Quero que o herói de Forsberg acabe desacreditado.

O Apanhador de Almas conhecia nosso inimigo melhor do que suspeitávamos. Rasgo estava jogando o jogo de nosso patrono. O rebelde já tinha feito duas tentativas espetaculares e vãs de desarmar nossa armadilha. Esses fracassos haviam arruinado a reputação dele com os colegas viajantes. Pelo que ouvíamos falar, Rosas fervilhava com um sentimento pró-império.

— Ele se fará de tolo, e então os esmagaremos. Como um besouro nojento.

— Não o subestime. — Que audácia! Dando conselho a um dos Tomados. — O Manco...

— Isso eu não farei. Não sou o Manco. Ele e Rasgo são farinha do mesmo saco. Nos velhos tempos... O Dominador o teria feito um de nós.

— Como ele era? — Ponha ele para falar, Chagas. Do Dominador é só mais um passo até a Dama.

A mão direita do Apanhador de Almas se virou de palma para cima, se abriu e lentamente fez uma garra. O gesto me abalou. Imaginei aquela garra rasgando minha alma. Fim da conversa.

Mais tarde comentei com Elmo:

— Sabe, aquela grana lá fora nem precisava ser verdadeira. — Qualquer coisa teria funcionado se a multidão não pudesse pegar.

— Errado. O Rasgo tinha que saber que era real — interveio o Apanhador de Almas.

Na manhã seguinte, recebemos notícias do Capitão. Algumas novidades gerais. Alguns partidários rebeldes estavam entregando as armas em resposta a uma oferta de anistia. Alguns soldados da força principal que tinham vindo ao sul com Rasgo estavam se retirando. A confusão chegara ao Círculo. O fracasso de Rasgo em Rosas os preocupava.

— E por que isso? — perguntei. — Ainda não aconteceu nada palpável.

— Está acontecendo do outro lado — explicou o Apanhador de Almas. — Nas mentes das pessoas. — Haveria um tom de arrogância ali? — Rasgo, e por extensão o Círculo, passa uma imagem de impotência. Ele deveria ter entregado o Saliente a outro comandante.

— Se eu fosse um general dos grandes, provavelmente também não admitiria uma cagada — comentei.

— Chagas! — exclamou Elmo, surpreso. Eu geralmente não dizia o que pensava.

— É verdade, Elmo. Você consegue imaginar qualquer general, nosso ou deles, pedindo a alguém que assumisse seu lugar?

O morrião negro me encarou.

— A fé deles está morrendo. Um exército sem fé em si mesmo está mais derrotado que qualquer força vencida em batalha. — Quando o Apanhador de Almas escolhe um assunto, nada o faz mudar de ideia.

Eu tinha uma sensação curiosa de que ele seria o tipo capaz de ceder o comando a alguém mais bem-preparado para exercê-lo.

— Agora vamos aumentar a pressão. Todos vocês. Falem nas tavernas. Sussurrem nas ruas. Enterrem-no. Pressionem-no. Empurrem-no com tanta força que ele não terá tempo de pensar. Quero que ele fique tão desesperado a ponto de tentar alguma coisa idiota.

Eu pensei que o Apanhador de Almas estava no caminho certo. Este pedaço da guerra da Dama não seria vencido em um campo de batalha. A primavera se aproximava, mas os combates ainda não haviam começado. Os olhos do Saliente estavam todos voltados à cidade livre, esperando pelo resultado do duelo entre Rasgo e o campeão da Dama.

— Não é mais necessário matar Rasgo — observou o Apanhador de Almas. — Sua credibilidade está morta. Agora vamos destruir a confiança do movimento dele. — O Tomado voltou à sua vigília na janela.

— O Capitão disse que o Círculo mandou Rasgo sair — contou Elmo. — Ele não aceitou.

— Ele se revoltou com a própria revolução?

— Ele quer derrotar esta armadilha.

Mais uma faceta da natureza humana que trabalha a nosso favor. O orgulho excessivo.

— Peguem um baralho. Duende e Caolho andaram roubando viúvas e órfãos de novo. Hora de passar o rodo neles.

Rasgo estava sozinho, perseguido, assustado, um cão açoitado fugindo pelos becos da noite. Ele não podia confiar em ninguém. Eu tive pena dele. Quase.

O sujeito era um idiota. Só um idiota insiste em nadar contra a maré. A maré contra Rasgo estava piorando a cada hora que passava.

--------------------------

Eu apontei para as sombras perto da janela com meu polegar.

— Parece que está acontecendo uma reunião da Irmandade dos Sussurros.

Corvo deu uma olhada por sobre meu ombro e não disse nada. Estávamos jogando Tonk um contra um, ou seja, um passatempo bem tedioso.

Uma dúzia de vozes murmurava ali.

— Sinto o cheiro. Você está errado. Está vindo do sul. Acabe com isso agora. Ainda não. Chegou a hora. Ainda precisa de mais tempo. Abusando da sorte, o jogo pode virar. Cuidado com o orgulho. Está aqui. O fedor vem à frente como o bafo de um chacal.

— Queria saber se ele já perdeu uma discussão consigo mesmo.

Corvo continuou calado. Em meus dias mais ousados eu tentava fazê-lo falar. Sem sorte. As coisas iam melhor com o Apanhador de Almas.

O Tomado se levantou de repente, com um som raivoso emergindo de suas profundezas.

— O que foi? — indaguei. Eu estava cansado de Rosas. Estava enojado com Rosas. O lugar me entediava e me assustava. O preço de se sair naquelas ruas sozinho era a própria vida.

Uma daquelas vozes de fantasma estava certa. Estávamos nos aproximando do ponto em que o resultado da espera viria. Eu mesmo estava desenvolvendo um respeito relutante por Rasgo. O homem se recusava a se render ou fugir.

— O que foi? — perguntei de novo.

— O Manco. Está em Rosas.

— Aqui? Por quê?

— Ele sente o cheiro de uma grande presa. Quer roubar o crédito.

— Você quer dizer que ele veio se meter em nossa briga?

— É seu estilo.

— E a Dama, não...?

— Estamos em Rosas. Ela está bem longe. E não se importa com quem vai matá-lo.

Politicagens entre os vice-reis da Dama. É um mundo estranho. Não entendo as pessoas fora da Companhia.

Levamos uma vida simples. Não é necessário pensar. O Capitão cuida disso. Nós apenas seguimos ordens. Para a maioria de nós, a Companhia Negra é um esconderijo, um refúgio do passado, um lugar para se tornar um novo homem.

— E o que nós vamos fazer? — indaguei.

— Eu cuido do Manco. — Ele começou a organizar as vestimentas e os apetrechos.

Duende e Caolho entraram cambaleando. Estavam tão bêbados que precisavam se apoiar um no outro.

— Merda — guinchou Duende. — Tá nevando de novo. Mas que porra de neve. Achei que o inverno tinha acabado.

Caolho irrompeu a cantar. Alguma coisa sobre a beleza do inverno. Eu não conseguia entender a letra. Sua fala estava pastosa, e ele tinha esquecido metade dos versos.

Duende caiu numa cadeira, esquecendo Caolho, que desabou a seus pés e vomitou em suas botas, em seguida tentando continuar a canção.

— Cadê todo mundo? — murmurou Duende.

— Estão todos por aí. — Troquei olhares com Corvo. — Você acredita nisso? Esses dois enchendo a cara juntos?

— Aonde você vai, velho espectro? — guinchou Duende para o Apanhador de Almas. O Tomado saiu sem responder. — Maldito. Ei, Caolho, amigão. Não é isso mesmo? O velho espectro é um maldito, não é?

Caolho se sentou no chão e olhou em volta. Acho que ele não conseguia ver nada com o único olho que tinha.

— Isso mermo. — Fez uma careta para mim. — Mardito. Tudo mardito. — Algo do que ele disse soou muito engraçado para Caolho, e ele riu.

Duende se juntou a ele. Quando percebeu que Corvo e eu não tínhamos entendido a piada, assumiu uma expressão de muita dignidade e disse:

— Esses caras não são dos nossos, amigão. Estava mais caloroso lá fora, na neve. — Duende ajudou Caolho a se levantar, e os dois saíram cambaleando.

— Espero que não façam nada idiota. Ou mais idiota. Como se mostrar. Vão acabar sendo mortos.

— Tonk — disse Corvo e baixou as cartas. Por sua reação, era como se aqueles dois sequer tivessem aparecido.

Dez ou 15 mãos depois, um dos soldados que tínhamos trazido entrou correndo.

— Vocês viram Elmo? — inquiriu.

Dei uma olhada nele. A neve derretia em seus cabelos. Ele estava pálido, assustado.

— Não. O que aconteceu, Hagop?

— Alguém esfaqueou o Otto. Acho que foi o Rasgo. Eu botei ele pra correr.

— Esfaqueou? Ele morreu? — Comecei a procurar meu kit. Otto precisaria de mim mais do que de Elmo.

— Não. Mas foi um corte feio. Sangue pra caramba.

— Por que você não o trouxe de volta?

— Não consegui carregar.

Hagop estava bêbado também. O ataque ao amigo o tinha deixado um pouco mais sóbrio, mas aquilo não iria durar.

— Você tem certeza de que foi o Rasgo? — Será que o velho idiota estava tentando revidar?

— Claro. Ei, Chagas, vamos lá. Ele vai morrer.

— Estou indo, estou indo.

— Esperem. — Corvo estava remexendo suas coisas. — Eu vou junto. — Ele pesou nas mãos um par de facas extremamente afiadas, tentando escolher uma. Deu de ombros e meteu as duas no cinto. — Pegue um manto, Chagas. Está frio lá fora.

Enquanto eu procurava uma capa, Corvo interrogou Hagop quanto ao paradeiro de Otto e mandou que ele ficasse quieto no alojamento até Elmo aparecer.

— Vamos, Chagas.

Descemos as escadas. Chegamos à rua. O andar de Corvo é enganador. Ele nunca parece estar com pressa, mas você precisa ser muito rápido para acompanhá-lo.

Dizer que estava nevando era um eufemismo. Até mesmo nas ruas iluminadas mal dava para ver além de 5 metros de distância. Já tinha caído uns 15 centímetros de neve. Daquela pesada, úmida. Mas a temperatura estava baixando e um vento soprava cada vez mais forte. Outra nevasca? Merda! Já não tivemos o bastante?

Encontramos Otto meio quarteirão além de onde deveria estar. Tinha se arrastado até debaixo de uns degraus. Corvo foi direto até ele. Como o sujeito soube onde procurar, eu jamais saberei. Carregamos Otto até a luz mais próxima. Ele encontrava-se indefeso, estava inconsciente.

— Bêbado como um gambá — funguei. — O único perigo era morrer congelado.

Estava coberto de sangue, mas o ferimento não era grave. Alguns pontos de sutura dariam conta, e só. Carregamos Otto de volta ao quarto. Eu o despi e me pus a costurar antes que ele pudesse reclamar.

O comparsa de Otto estava dormindo. Corvo o chutou até que acordasse.

— Quero a verdade — exigiu Corvo. — O que aconteceu?

Hagop insistiu.

— Foi o Rasgo, cara. Foi o Rasgo.

Continua...

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