Quanto Tempo o Tempo Tem?

By passarinhou

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Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito. Ana é o... More

Prólogo
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By passarinhou

Antes de tudo, deixe-me perguntar algo:

Vocês conhecem a história da caixa de Pandora?

Por que eu lembro muito bem de como tudo aconteceu.

Prometeu (aquele que vê antes) e seu irmão Epimeteu (aquele que vê depois) criaram os animais e os homens. Deram a cada animal um poder, como voar, caçar, coragem, garras, dentes afiados. O homem, originado por Prometeu a partir da argila, ficou sem nada por ser o último a ser feito. Prometeu deu um pouco de cada animal para o homem, mas faltava alguma coisa especial. Aquele que vê antes ensinou muitas coisas ao homem. Ensinou a domesticar animais, fazer remédios, construir barcos, escrever, cantar, interpretar sonhos e buscar riquezas minerais. Porém, enfureceu Zeus ao roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos homens. Zeus decidiu, então, vingar-se de Prometeu e dos homens.

Prometeu foi acorrentado a uma montanha. Sua condenação foi passar a eternidade preso a uma rocha, aonde uma ave viria comer seu fígado. Toda noite seu fígado se regeneraria e a ave voltaria no dia seguinte pra lhe comer o fígado novamente.

Para castigar os homens, Zeus ordenou que o Deus das Artes, Hefesto, fizesse uma mulher parecida com as deusas. Hefesto lhe apresentou uma estátua linda. A deusa Atena lhe deu o sopro de vida, a deusa Afrodite lhe deu beleza, o deus Apolo lhe deu uma voz suave e Hermes lhe deu persuasão. Assim, a mulher recebeu o nome de Pandora (aquela que tem todos os dons).

Pandora foi enviada para Epimeteu, que já tinha sido alertado por seu irmão a não aceitar nada dos deuses. Ele, por "ver sempre depois", agiu de forma precipitada e ficou encantado com a bela Pandora. Ela chegou trazendo uma caixa (não era necessariamente uma caixa, mas um jarro) fechada, um presente de casamento para Epimeteu.

Epimeteu pediu para Pandora não abrir caixa, mas, tomada pela curiosidade, não resistiu. Ao abrir a caixa na frente de seu marido, Pandora liberou todos os males que até hoje afligem a humanidade, como os desentendimentos, as guerras e as doenças. Ela ainda tentou fechar a caixa, mas só conseguiu prender a esperança.

Desde esse tempo a história de Pandora está associada com fazer o mal que não pode ser desfeito. Ali também está o nascimento do pensamento sobre o bem e o mal que a mulher pode causar.

É interessante perceber o motivo de a esperança estar presente entre os males trazidos por Pandora à Terra. Para algumas interpretações, a esperança está guardada e isso é bom.

Com quinze anos, Vitória leu pela primeira vez o conto da caixa de Pandora. Estava num acampamento organizado pelo colégio Santa Cruz e havia trazido consigo o conto que achou no meio dos livros de sua mãe.

Pensou, então, que seu coração era como a caixa: cheio de esperança. Ao olhar para o lado e ver Ana Clara e Paulo abraçados, sentiu como se em seu coração tivesse trancafiado todas as esperanças e ambições do mundo. Porém, com o passar do tempo, todos os segredos guardados em sua caixa imaginária haviam sido libertados pela boca de açúcar e coração de Ana Clara, e havia tomado coragem o suficiente para se declarar, dando a chave que faltava para Ana destrancar toda aquela bagagem que havia em sua caixa.

Mas, por ironia do meu amigo (o Destino) e tudo aquilo o qual eu já expliquei para vocês, cá estamos. Novamente, na estaca zero.

Novamente, numa nova caixa de Pandora em formato do coração de Vitória Falcão.

Enquanto Ana encarava Vitória com sua filha, a palavra "esperança" acalentava seu coração. Havia sonhado durante muito tempo sobre como seria esse reencontro e nunca imaginou que seria por meio de Estrela. Era como se fosse pra ser.

Como se tudo tivesse premeditado.

Bem, meus amigos, como eu já havia dito no começo dessa história: durante toda a minha existência, nunca vi duas almas tão apaixonadas quanto às das duas. Ao decorrer dessa história você poderá perceber que o amor se disfarça de muitas formas.

Em um minuto ou outro Vitória explica de forma breve á gerente e ao garçom responsável pelos pratos o que havia acontecido e estava recebendo apoio por parte do estabelecimento.

"Ana, é melhor você leva-la para casa." Vitória se redireciona á mulher depois de longos minutos voltados apenas a criança. "O que você faz quando ela tem crises?"

Ana não consegue falar, tampouco fazer qualquer outro movimento que não seja apoiar os braços na mesa e a cabeça em suas mãos enquanto sente as lágrimas molharem seu rosto.

Vitória suspira.

"Ei, Ana" chama, "eu sei que é difícil, mas preciso que tenha calma. Estrela precisa que você tenha calma, certo?"

Ana encara as orbes mel esverdeadas e suspira, desviando o olhar para a filha.

Inspira e assente: "Certo."

"Vou fazer essa dor parar, tá, linda?" Vitória diz a estrela, que permanece com os olhos comprimidos. "ei, ei, pequena. Você pode se machucar assim..."

Ana, quase que de forma automática, pega seu celular dentro do seu bolso e vai até o contato de Bárbara. Vitória parece perceber pois agarra o celular e desliga a chamada, deixando uma Ana Clara totalmente confusa.

"Deixa a Bárbara, mais tarde você diz isso tudo a ela. Deixa comigo..." Vitória diz, sem olha-la, "preciso fazer um registro de colapsos. Se a gente quiser que situações como essa sejam cada vez menos constantes, é preciso anotar cada vez que a Estrela tem uma crise, por que pode ajudar a entender as razões para o comportamento dela, entende?"

Ana assente.

"Não posso leva-las de volta para o teatro por que a chave reserva eu esqueci em casa e a outra está com uma das funcionárias que foi almoçar e só abre mais tarde. Eu faço uma massagem em Estrela para ela se acalmar um pouco mais e você me passa a resposta dessas perguntas."

Quando viu Ana assentir mais uma vez, Vitória percebeu que aquilo não poderia dar certo.

Nem mesmo ela sabia o que estava acontecendo. Quando a cacheada viu a pequena começar a gritar, o senso de proteção dentro de si gritou ainda mais alto. Vitória tinha um tipo de ligação o qual nem mesmo eu havia visto em mais ninguém com a criança – conseguia perceber em poucos gestos o que a garotinha queria.

Friederich Nietsche diz que a esperança é o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens. A esperança guardada dentro daquela pequena caixa dentro de si parecia querer transbordar.

Esperança do quê?

Um dia você descobre.

Ao chegar à casa de Vitória, a primeira coisa que a morena fez foi focar bem em cada canto. Não sabia quando estaria ali de novo e ver que a casa da nova Vitória a lembrava tanto a Vitória antiga, deixava-a feliz.

Acomodou-se no canto do sofá enquanto Vitória deitava Estrela de forma confortável na cama. Dentro de alguns minutos a cacheada voltou. Agora, sem a fantasia.

Vitória vestia uma regata salmão aberta nos lados e um short jeans. Seu cabelo tapava um pouco da sua visão quando começou a procurar pelas fichas de registros de colapsos que tinha espalhadas pela casa. Quando encontrou uma, sentou á frente da morena e a encarou.

Perguntas como "quais sinais de estresse ela demonstra?", "o que costuma aborrece-la?", "como você poderia prevenir uma futura crise?", foram feitas. Ana as respondia como um robô – parecia que desde a crise da filha, estiva desligada e apenas funcionava agora em modo avião.

"Ana." Escutou Vitória chamar e despertou da sua espécie de transe.

"Me escuta, tá?" começou e esperou a morena assentir para continuar, "Estrela só tem três anos e não será fácil. Hoje é ainda mais fácil do que será daqui alguns anos. Quando novinha, é mais fácil de ajuda-la a trabalhar tudo isso. Mas a cada ano completado as coisas serão ainda mais complicadas. Ela entrará na adolescência, entrará na vida adulta, e será sim, difícil. Mas eu preciso que você se jogue de corpo e alma para que possamos ajudar essa princesa, de verdade."

"Eu irei." Responde.

"Então eu acredito em você." Vitória pisca e Ana balança a cabeça como quem quer afastar pensamentos.

"Você quer fazer alguma coisa?" Vitória pergunta, "ainda são só três horas. Eu pedi para desmarcarem com os alunos de hoje no teatro. Caso queira eu ligo para a Barb-"

"Não liga..." a interrompe, "me conta sobre você. Faz tanto tempo."

"É, faz." Vitória entorta a boca.

"Me conta o que você fez durante esse tempo." Ana tenta.

"Trabalhei, estudei, essas coisas." Vitória responde um tanto quanto incomodada. Falar sobre mim, o Tempo, e principalmente com Ana Clara, a incomodava em níveis impossíveis de se imaginar.

"Não, tá, mas me conta direit-"

"Ana... Não." Rebate e Ana se encolhe. Vitória suspira, rentratando-se, "olha. Você acabou de voltar. E eu poderia falar em quantos níveis tudo isso me incomodou, mas prefiro não falar. Não hoje, não agora. Já aconteceu tanta coisa, Ana, que se eu tivesse de te dizer tudo, durariam dias. Eu prefiro que tu me conheça assim e se quiser, um dia tu descobre o por que de eu ter me tornado o que me tornei. Não me leve a mal, mas as coisas não são fáceis assim. Há um tempo crescente de coisas as quais você perdeu e esse tempo não vai voltar."

Como se Vitória tivesse dado-lhe um soco no estomâgo, Ana assente lentamente. Sorri, sendo acompanhada por silêncio constrangedor. A morena então lembra do conto favorito da cacheada.

Sorri.

"A sua caixa de pandora voltou?"

Vitória olha-a surpresa pela lembrança. Dá uma risada fraca e encara a morena a sua frente, que agora olhava para o nada.

"Sim. E é preciso paciência."

Ana assente e, após alguns segundos, levanta.

"Podemos ver Estrela?"

"Claro!" Vitória sorri ao lembrar da pequena.

Estrela estava dormindo no quarto de Vitória. Ana poderia jurar que o cheiro do quarto da loira era de grama molhada e mar á noite, o que não fazia sentido nenhum, mas em sua cabeça sim.

Enquanto olhava para a mulher que agora massageava de forma devagar as costas de Estrela, Ana Clara se perguntou se tudo aquilo que Vitória havia passado e que não queria contar agora envolviam situações sérias. Rezou lentamente para que não e se calou, pensando no que poderia vir a acontecer no dia de amanhã.

Lembram o que eu disse sobre a esperança?

Ela está presente até no pior caos.

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