O que você faria se tivesse apenas mais um dia de vida?
A pergunta ainda ecoava na minha mente enquanto eu fitava o teto do quarto em meio à penumbra. E mesmo envolta por sombras, eu podia enxergar o sorriso bonito dele - bonito e cínico - como no momento em que me fez a pergunta sob o céu estrelado da varanda do quarto que dividíamos na pousada.
O vento castigava os meus cabelos, batendo de encontro à minha nuca e desfazendo o coque improvisado. Deixei meus olhos caírem para as pequenas flores arroxeadas espalhadas pela grama. Hugo ainda sorria e eu sentia seu olhar estudando o meu rosto. Eu sabia que ele estava zombando de mim outra vez, mas de repente, estava cansada demais para bater de frente.
Deixei escapar um suspiro antes de finalmente responder.
- Não importa.
Foi tudo o que consegui dizer. Esperei pela sua usual gargalhada ou por algum comentário ácido. Esperei, mas nada veio. Surpresa pela reação inesperada, ergui o rosto para fitá-lo e pela primeira vez o encontrei sério. E de repente, algo pareceu carregar o ar entre nós. Os olhos de Hugo prenderam os meus, em seguida ele levantou a mão direita e segurou meu rosto.
Prendi a respiração, completamente surpresa.
- Eu sei bem o que faria.
A pergunta permaneceu sem resposta. Ao menos naquele curto momento, mas apenas até antes daquela noite. Então, tudo mudara. E agora, encarando a escuridão do meu quarto, a resposta parecia ter o brilho de uma estrela na noite.
Se eu tivesse apenas mais um dia de vida, precisamente uma noite, eu amaria. Eu o amaria outra vez.