A cortesã do rei ( Degustação)

Od autorajessicamacedo

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Melhor colocação #4 em ficção histórica livro completo na Amazon ou em formato físico https://www.editorapor... Více

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Obrigada!

Capítulo 4

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Od autorajessicamacedo

Catherine sentiu os galhos secos quebrarem sob seus pés e o vento cortante lhe ferir a pele frágil dos ombros expostos pelo vestido.

Corria tanto que os troncos, galhos e folhas viravam um borrão escuro que a seguia como sombra. Tirava forças de onde já não era mais capaz de encontrar para dar cada passo seguinte. Com uma cesta de palha abraçada junto ao corpo, movia-se mais estabanada do que nunca.

Era noite de lua minguante e a pouca luz tornava ainda mais árduo o seu caminho. Olhou para trás, tentando identificar junto aos vultos o contorno de seu perseguidor. Contudo, Catherine nem sabia quem ele era. Olhou para uma de suas mãos, doloridas, sujas com terra e sangue. Então percebeu que não eram suas mãos ou mesmo ela quem corria. Não! Poderia ser a mente de Catherine, mas era sem dúvidas outra mulher.

Um choro escapou do cesto e a mulher tentou niná-lo enquanto corria. Por pouco não torceu o pé em uma raiz que se sobressaltada da terra.

Continuou correndo até atravessar a floresta. Logo após o fim das copas, avistou um convento, construído como um forte no alto da colina.

Afastou o cesto para ver o pequeno bebê que dormia calmamente e respirou aliviada. Ela vai ficar em segurança...

Catherine acordou com o barulho e o brilho de um raio, que com um clarão iluminou todo o quarto do rei.

Ela se remexeu na cama ao limpar da testa o suor frio que escorrera. Os malditos sonhos estavam ficando cada vez mais frequentes e dessa vez foi diferente: além de ter certeza de que a mulher na floresta não era ela, soube que não se tratava de algo que aconteceria no futuro, mas sim, de um passado que já fora esquecido.

Levantou da cama do rei e recolheu suas roupas espalhadas pelo chão. Colocou sua camisola e esgueirou-se para fora do quarto indo até seu próprio.

O sono de Frederick era tão pesado que ele nem ouviu o ranger pesado da porta ao ser movida.

Catherine se apoiou na porta do quarto pelo interior enquanto respirava fundo. Talvez fosse só um sonho, ao menos dessa vez. Mas ao se lembrar da visão do convento, Catherine se perguntou se o bebê na cesta não era ela, se a mulher, cujas lembranças vira, não era sua mãe. Caso sim, qual era o perigo que a mulher tanto temia ao ponto de abandonar ao destino a própria filha?

As velas apagadas deixavam o quarto na penumbra, mas a lady não tinha medo do escuro. Caminhou até a cama. Sentia vontade de escrever mais uma das cartas as quais sabia que a mãe nunca ia ler. Contudo, estas cartas eram a única ferramenta que possuía para desabafar, ser sincera de verdade sem medo de colocar sua cabeça a prêmio.

Como desejava confidenciar a alguém o que aconteceu no baile da noite passada. Porém, nas mãos de alguém que não fosse de sua extrema confiança, o segredo sobre o beijo trocado com Peder, mesmo contra a sua vontade, poderia ser sua sentença de morte. Frederick era um homem gentil com Catherine, mas o ego e orgulho do rei era conhecido por suas cortesãs e todo o restante do reino. Ela nos braços de outro homem seria tudo como traição tal como um conselheiro que entrega informações privilegiadas a outro reino.

Precisava esquecer a estranha sensação que era ter os pesados lábios de Peder sobre os seus, bem como o calor que a consumiu como fogo. Ele era só um lorde insano e as sensações foram provocadas pelo ardor do medo, tinha de ser.

Catherine colocou a mão sobre o coração que palpitava no peito e respirou fundo, sentindo seus seios se moverem para baixo. Se tinha amor à sua cabeça trataria de manter esse homem longe de seus pensamentos e principalmente longe do alcance dele. Se o imprudente tinha intenção de ser decapitado não a levaria junto, ela não permitiria.

Peder girou na cama e observou a janela onde os raios faziam reluzir as gotas de chuva que escorriam pelo vidro.

Voltar à corte da Dinamarca após tanto tempo lhe pareceu melhor do que esperava. Após a aquisição de terras tiradas da igreja católica, após o país ter se tornado protestante, e com a sua brilhante inteligência para gerir negócios ele estava prestes a se tornar no nobre mais rico, e os demais, por interesse, apinhavam-se ao redor dele quase lambendo suas botas. Entretanto, o que mais o deixou feliz ao retornar para a corte foi a bela visão de lady Catherine. Mulher linda...

Riu sozinho ao lembrar da selvageria dela.

Ajeirou-se na cama cruzando os braços atrás da cabeça e os usando como apoio.

Dormia mal com barulho e os trovões da chuva, que chegara de madrugada, deveriam ser incômodos, mas não foram pois sua cabeça estava perdida nas belas curvas que lhe marcavam a memória.

- Frederick, seu bastardo. Não pode sempre ficar com os melhores vinhos, vossa alteza.

Peder era um conquistador e Catherine era a mulher à altura de seus galanteios. O desafio perfeitamente arriscado no qual se jogaria de cabeça. Que Frederick arrumasse outra amante, aquela beleza divina seria de Peder e ele estava ansioso pelo desafio de fazê-la ceder e ir além do limiar do medo.

O raio que iluminou o quarto revelou o sorriso largo no rosto do nobre. Era tão bom em conquistar mulheres quanto era com terras.

- Catherine, vejamos até onde consegue resistir.

A manhã seguinte ao baile foi um dia estranho para um início de primavera. O sol que costumava ser fraco, mas que aparecia timidamente entre as nuvens, não quis dar o ar de sua graça. Estava tudo assombrosamente cinza.

Catherine já estava de pé, tinha dúvidas se havia dormido em algum momento após deixar o quarto do rei. No entanto com o nascer do dia cresceu a esperança de que todos os tormentos do baile ficariam para trás. Que os pensamentos em Peder seriam esquecidos.

Não esperou que sua criada lhe trouxesse o desjejum, estava sem fome e ansiosa por ocupar a cabeça e se livrar dos assombros pensamentos sobre uma possível punição.

Com uma pressa notada pelos criados, Catherine atravessou corredores e escadas até o ateliê de Merriam. Quando apoiou a mão sobre a porta, estava um tanto ofegante. Mas ajeitou o cabelo e a postura antes de entrar.

A condessa quase espetou o dedo em uma agulha com o susto provocado pelo estrondo das portas se abrindo.

- Catherine! O que faz aqui tão cedo? – Colocou o tecido que bordava sobre uma mesa na lateral da sala e se levantou.

- Perdoe-me se é tão cedo. Eu estava bem ansiosa.

- Ansiosa para que, querida? Não me recordo de estar lhe preparando outro vestido.

- Não é isso, Merriam. Frederick me permitiu ajudá-la.

A condessa gargalhou.

- E porque a cortesã do rei que pode possuir qualquer coisa que deseje, espetaria seus dedos e ganharia calos nas mãos ajudando-me a fazer vestidos?

- Meus dias são bem tediosos. Acredite.

- Mãos ásperas podem ser de desagrado do rei.

- Ele pouco se preocupa com as minhas mãos. – Catherine bufou.

Merriam olhou para os seios fartos que eram exibidos pelo decote do vestido e compreendeu as palavras de Catherine.

- Tudo bem. Tenho muito trabalho e não vou negar uma boa ajuda.

Catherine abriu um largo sorriso.

- Por onde começo.

- Pode ir cortando os tecidos daquela pilha ali. – Merriam apontou para os que estavam sobre um caixote de madeira. – Em baixo do tinteiro tem as medidas de algumas damas.

A condessa ajeitou um fiapo do cabelo desgrenhado que fazia coçar seu rosto e retomou o bordado. Mas com o canto de olho, não parou de observar Catherine. Poucas vezes viu a lady tão empolgada com algo. Já que era assim, seria ótimo para Merriam tem uma ajudante, já que sua última aprendiz havia se casado e ido para o campo.

- Não imaginei que gostasse do laboro.

- No convento onde cresci fazia um pouco de tudo. Então não me importo quando preciso usar minhas mãos e cabeça para algo além de portar joias e servir o rei. – Catherine dobrou um pedaço do tecido que acabara de cortar.

- E serve muito bem já que é a amante favorita dele.

- Acho que tive apenas a sorte de nascer bonita. Uma vez que sempre fui uma completa inexperiente guiada por ele.

Merriam riu.

- Tem sorte. Meu marido é um velho cansado que a muito já não cumpre mais seus deveres conjugais.

- Sorte? – Catherine arqueou as sobrancelhas. – É a única dama de respeito que me acha uma mulher de sorte. Todo o restante da corte me vê como uma prostituta que são obrigadas a engolir.

- Meras convenções. Em parte podem estar certas, mas aposto que muitas a invejam, minha querida. A forma como o rei lhe olha provoca fúria nelas.

Catherine balançou a cabeça em negativa e voltou a cortar os tecidos, sem delongar o assunto. Não via as coisas como a condessa. Sabia que para Frederick ela não era mais do que os anéis que carregava nos dedos ou a coroa em sua cabeça, um objeto para ser usado e deixado de lado da forma que melhor convir ao rei.

Foi uma das melhores manhãs para ela desde que se mudará para o castelo. Sentiu-se verdadeiramente útil e não pode ocupar sua mente com pensamentos infrutíferos.

Quando seus dedos já estavam doloridos de tanto dobrar tecidos das mais variadas espessuras, Catherine se lembrou da fome.

- É melhor ir ao refeitório. Já me ajudou o bastante por hoje.

- Está bem. – Catherine terminou de ajeitar os tecidos e viu que sua barriga doía. Precisava de uma boa refeição.

Ajeitou os cabelos soltos um tanto desgrenhados pela atividade.

- Nos vemos amanhã, Merriam.

Catherine deixou o ateliê cantarolando. Não se importou com os olhares atravessados que sempre recebia das damas de bom nome ou das senhoritas solteiras com quem cruzava pelo caminho. Sorriu para a lady Anelise ao trombar com ela no corredor e a baronesa virou o rosto como se fosse uma ofensa. Entretanto Catherine continuou andando e sorrindo, balançando a saia de seu vestido azul marinho.

Até o dia nublado e com possibilidade de chuva pareceu mais belo depois de uma manhã produtiva. A vida no palácio seria melhor coso desfrutadas de mais dias como aqueles.

Chegou ao refeitório e serviu um prato e uma taça de vinho. Sentiu em um dos bancos, numa extremidade da mesa que a deixava sozinha.

Os lordes bebendo e jogando cartas viram-se mais uma vez abobados pela presença deslumbrante da cortesã.

Catherine deu um risinho antes de partir o pão com as mãos e dar uma boa mordida. Homens podiam ser tão tolos... Desejavam-na e temiam na mesma medida. Será que a possibilidade de decapitação os excitava.

- Está bom esse faisão, lady Catherine? – A voz fez Catherine pular de susto e quase jogar a taça de vinho em si mesma.

- Lo... Lorde Oxe. – Engasgou com o pão e começou a tossir.

- Cuidado para não se sufocar. – Ele deu algumas batidinhas nas costas dela.

Catherine respirou fundo ao recuperar o ar. Sua garganta ainda ardia pelo engasgo.

- O que quer aqui, lorde Oxe?

- Por favor, apenas Peder?

- Para mim continua sendo lorde Oxe. Reconheço o meu lugar. – Ela cerrou os dentes, rosnando para ele com fúria. – Não cabe a alguém como eu chamá-lo pelo nome, duque, marquês ou seja lá qual título possui.

- Tenho condados e ducados, além de muitas outras terras. Então pode me chamar da forma que preferir.

Idiota, exibido! Catherine se levantou deixando para trás o prato e a taça de vinho. A raiva que o lorde Oxe provocava nela a fizera perder a fome.

- Arrume um jeito de se matar sozinho, milorde.

Peder abriu um sorriso ao ver o quanto ela era durona é isso o fez gostar ainda mais do jogo.

Antes que ela se afastasse demais, segurou-a pelo pulso. Fez os olhos pantanosos encontrarem os seus verdes como uma campina. As pupilas de Catherine dilataram e ela sentiu a boca ficar seca, dando-lhe uma vontade de passar a língua pelos lábios.

- Solte-me! – Ela rosnou tentando puxar o braço assim que recuperou o fôlego. Conteve o grito ao perceber que boa parte dos nobres no refeitório a encarava.

A contragosto, Peder soltou o pulso fino e delicado.

- Encontre-me na parte mais afastada do jardim esta noite. Ou continuarei encontrando-a onde todos os olhos podem nos ver.

Catherine não o respondeu, apenas deixou o refeitório pisando firme e bufando de raiva. Talvez devesse contar a Frederick e deixar que aquele nobre imbecil fosse decapitado sozinho... Parou no meio do corredor ao engolir em seco. Não! Seria tolice. A palavra de uma cortesã contra a de um nobre? Não tinha a ilusão de vencer essa disputa. Peder facilmente reverteria a situação ao seu favor e a cabeça de Catherine é que seria decapitada.

Por que não me temia tanto como a maioria dos nobres da corte? Debruçou-se sobre a janela, observando o grande lago que cercavam o castelo.

Teve um bom ano de paz desde que Frederick a trouxera para o conforto dali. Nunca mais passou frio, fome ou sede. Se era grata ao rei, não sabia, pois de certa forma pagava por tudo em uma moeda que muito agradava ao soberano.

- Minha filha! Onde está minha menina?

Catherine encostou na parede com o susto que lhe provocou a condessa que saiu correndo desesperada pelo corredor, tropeçando na saia do próprio vestido. Atrás da mulher histérica, jurou ver uma criança. Talvez a diabinha só estivesse pregando uma peça na mãe. Mas arqueou as sobrancelhas ao ver que a menina estava translúcida e mais ninguém no corredor pareceu vê-la.

Balançou a cabeça. Não deveria ser nada. Já bastava suas preocupações com o insano do lorde Oxe.

- Vossa graça?

Frederick nem moveu a cabeça dos papéis à sua frente para fitar o homem parado junto à porta.

- Entre.

- Desculpe-me interrompê-lo, majestade. Mas temo que esse assunto seja importante.

O rei largou a filha amarelada que estava entre seus dedos e encarou os olhos cor de amêndoas do chefe de sua guarda.

- O que foi, homem?

- Mulheres tem desaparecido do castelo, tanto nobres quanto criadas. Temo que algo possa estar acontecendo e está inflando pânico na corte. Hoje a baronesa de Ikast estava desesperada atrás da filha mais velha.

- Talvez a menina só tenha saído para um passeio no castelo. Em breve ela aparece. – Frederick pegou a pena e molhou na tinta sem dar a devida atenção ao assunto.

- Outras mulheres já desapareceram antes.

- Talvez um chá. – Frederick deu de ombros. Tinha assuntos mais importantes para se preocupar. Como Érico da Suécia, uma terra que deveria ser sua.

- Vossa graça...

- Do que precisa de mim? – Frederick cruzou as mãos sobre a mesa e encarou-o.

- De sua permissão para investigar.

- Então vá! Faça o que lhe convir, mas não me perturbe com tolices.

- Obrigado, majestade. – O homem se curvou e deixou o escritório.

Catherine passou o resto da tarde perturbada com seus pensamentos. Respirou fundo, e o dia havia começado bem...

Não sabia o que era pior: as provocações de lorde Oxe ou a estranha visão da menina. Debruçada sobre o sofá, observando o tempo passar pela janela, perguntou se não passava de alguma confusão de sua mente. Não era a primeira vez que via algo que não deveria estar ali. Talvez fosse o momento de procurar o seu amigo curandeiro.

Deixou o quarto, intrigada. Mas de certa forma estava contente pelas preocupações com o que vira tirarem de sua mente a raiva que está sentido de Peder Oxe. Lorde idiota!

Saiu do quarto e caminhou pelos corredores no momento em que os criados passavam para acender as tochas. Já estava ficando escuro, mas era uma das coisas que Catherine não temia. Perto de tudo pelo qual já passara, a falta de luz era algo insignificante.

Após atravessar escadarias e longos corredores até uns área entre as mais remotas do castelo, encontrou uma pequena porta no fim de um corredor quase coberto pela penumbra da noite. Deu duas batidas leves na porta úmida e coberta de mofo.

- Catherine! – O homem que abriu tinha um largo sorriso como se já soubesse quem era.

Ele, baixo e magro, não passava de um velho faminto diante dos olhos de quem não o conhecia. Catherine sabia que ele comia como um touro e os ossos, aparentes na face e no restante do corpo, não passavam de uma tendência estranha.

- Entre, menina. – Ele puxou mais a porta e passou as mãos cheias de rugas pelos desgrenhados cabelos brancos, numa inútil tentativa de ajeitá-los.

Catherine passou para dentro e o velho bateu a porta com força.

Havia apenas uma pequena vela acesa sobre uma mesa rudimentar, coberta por folhas e frascos, assim ela mal via os olhos, pequenos e fechados pelas rugas, do home.

- Precisa de mais elixir, milady? Achei que tivesse lhe dado o bastante da última vez.

- Não, ainda tenho. Tomo uma colherada com o desjejum como me aconselhou. Vim por outro motivo.

- Algo com o rei? Ele tem lhe feito algum mal? Sido bruto na hora de satisfazer-se.

Catherine bufou. Por que sempre tinham que pensar no rei?

- Não, nada tem haver com ele. – Catherine abraçou-se sentindo um estranho frio de repente. – Algo estranho sempre aconteceu comigo, mas agora tem se intensificado.

- Sente-se um pouco. – O velho apontou para uma cadeira meio bamba.

Catherine assentiu. Equilibrando-se um pouco quando tudo balançou.

- O que quer dizer com algo estranho?

- Sempre tive sonhos que eram mais do que sonhos. Alguns se realizavam... – Catherine buscou os olhos do homem mesmo no escuro, buscando ler as reações dele, mas não conseguiu ver nada. – Além disso, vejo vultos de pessoas que não deveriam estar mais ali. Imaginei que com toda a sua experiência e sabedoria pudesse me dizer se estou ficando louca.

- Louca? – O velho riu. – Não está ficando louca. Na verdade, senti que possuía algo especial desde a primeira vez em que lhe vi.

- O que quer dizer com isso, Nostradamus?

- Os sonhos e os vultos só podem significar que tem um dom muito especial. É uma vidente.

Catherine arqueou as sobrancelhas.

- Hã? Não estou entendendo. Está me dizendo que sou uma bruxa?

- Oh, não, bruxa não! Os bruxos podem ser reconhecidos pelo olhar. Eu saberia. Mas uma vidente é uma simples mortal dotada com uma fagulha de magia. É esplêndido! Achei que o meu povo a muito estivesse perdido.

- Seu povo? – Catherine recusou o corpo para trás de forma involuntária. Não estava entendendo nada e a cada palavra, Nostradamus a assustava mais.

- Sim, druidas, minha querida. Druidas! O povoado que eu vivia se perdeu a muito tempo antes que eu viesse morar no castelo. Não tive mais notícias de ninguém e meus dons curativos me garantiram comida e um canto quente para dormir.

- Quer dizer que tem sonhos como eu?

- Não, não! Apenas uma boa habilidade de curar. Especial, mas não mais do que o seu. É uma escolhida entre os escolhidos. Há muito tempo, os druidas eram um bom povo que respeitava e protegia a natureza, é os deuses se compadeceram de nós. Deram há alguns, pequeníssimas fagulhas da magia deles, nossos dons.

Catherine engoliu em seco. Não imaginava que o assustou tomasse aquele rumo, mas estranhamente ganhou um pingo de esperança com a possibilidade de saber mais sobre o próprio passado, uma vez que jamais conheceu seus pais.

- Então meus sonhos são mesmo visões?

O velho apenas assentiu, levando uma mão ao joelho cansado.

- E os vultos? São mesmo... – Ela estremeceu com a terrível possibilidade.

- Sim. São aqueles que já deixaram seus corpos, mas estão ligados ao mundo físico esperando que a pendência que possuem com os vivos.

Ela se empalideceu e Nostradamus riu ainda mais.

- Não se preocupe, criança. Essas almas nada possuem para quererem lhe causar algum mal.

- Tem certeza?

- Já lhe machucaram alguma vez?

Catherine balançou a cabeça em negativa.

O velho sorriu. Seus dentes eram amarelos e faltavam alguns. Mas para Catherine, ele era o homem mais gentil naquele castelo.

- Não tenha medo. Apenas agradeça e aprenda a usar esse seu dom de vidência ao seu favor e daqueles que lhe são caros.

- Obrigada, Nostradamus. Conversar contigo foi-me de grande valia.

- Sou seu eterno servo, milady. – Ele se curvou brevemente.

Catherine riu.

- Tenha uma boa noite.

- Que os sonhos lhe guiem.

Ela sorriu para o curandeiro antes de abrir a porta e deixar o quarto.

O corredor cumprido estava escuro. Os criados não se preocupavam em acender as tochas naquele lugar, ou talvez apenas temessem o velho excêntrico. Só tinham coragem para procurá-lo quando o desespero batia à porta e mais nenhum outro método convencional havia funcionado.

Embora a fizesse tropeçar nos próprios pés algumas vezes, o escuro era um aliado de Catherine. Afugentava as damas medrosas e a encobria dos olhares carregados de julgamentos.

Feliz com a explicação de Nostradamus. Tomou o rumo para os seus aposentos.

Peder estava escorado em um arbusto, olhando para o reflexo da lua minguante no grande lago que circundava o palácio. A brisa vinda com a primavera, estava cada vez menos gelada, e tocava a pele exposta com mais suavidade.

A gola de seu jerkin de veludo estava lhe incomodando. Desejou arrancá-lo e ficar apenas com o gibão que usava por baixo. O nobre se conhecia bem, as roupas só começavam a incomodar quando estava impaciente. Olhou para a lua e respirou fundo.

Acreditava que a provocação feita a Catherine, seria o bastante para que ela viesse encontrá-lo. Já que ela temia tanto a ira de Frederick, a cortesã não se arriscaria e ia se apegar a única oportunidade de se ver livre de Peder. Mas ela não apareceu.

Isso fez ele pensar que talvez a dama tivesse percebido o seu jogo. Que ele a provocaria até que cedesse aos encantos.

Besteira... Riu sozinho. Apesar de uma cortesã, ela parecia não saber coisa alguma sobre tais jogos de sedução e temia a fúria de Frederick.

Peder gostava de uma boa luta de espadas e como isso fazia seu corpo vibrar, e o jogo que estava tecendo com Catherine deixava-o se sentindo da mesma forma.

Era um viciado em jogos de todos os modelos, a justa era o seu favorito. Estar sobre um cavalo e derrubar o oponente com uma lança o excitava. Mas seduzir uma bela mulher, era outro jogo viciante. Na justa, derrubava o oponente no chão. Já quando seduzia, o destino das mulheres era aquecer seus lençóis.

Suas riquezas e o fato de ainda estar solteiro o tornavam uma isca e tanto. E ele sempre sabia usar essas cartas.

Não seria o medo tolo de Catherine que a impediria de se tornar mais uma conquista de Peder. A estimada amante do rei, odiada pelas mulheres e temida pelos homens, seria sua por uma noite, talvez algumas, depois enjoaria e a devolveria aos cuidados do rei.

Olhou mais uma vez pelo jardim e não a viu. Girou o anel em seu dedo e tomou o caminho de volta para o castelo.

- Não veio até mim, lady Catherine. Então terei a honra de bater a sua porta.

Catherine saiu da tinha e Diana a esperava para secá-la e vesti-la com uma camisola de seda e um penhoar.

Diante da penteadeira, a criada desembaraçou os longos cabelos negros da lady e os deixou soltos.

- Eu posso me retirar agora, milady?

- Sim, tenha uma boa noite. – Catherine se virou para Diana e sorriu.

- Obrigada.

Assim que ouviu o som da porta sendo aberta e fechada logo em seguida, Catherine se olhou no espelho. Uma vidente... Então era isso o que era? Ao questionar-se, fitando seus olhos pantanosos exibidos pelo espelho, sentiu ainda mais falta da mãe que nunca conheceu. Se a mulher estivesse ali, teria descoberto isso antes.

A conversa com Nostradamus lhe deu muitas respostas, mas gerou novas perguntas e aumentou a chama de curiosidade sobre suas origens. Por quê sua mãe a abandonou e do que corria?

Estava prestes a se levantar atrás do tinteiro e papel para escrever mais uma das dezenas de cartas que jamais seriam lidas pela mãe, quando a porta se abriu num rompante. Imaginou que fosse algum dos criados de Frederick e que ele a solicitava. Mas quando se virou para a porta, seu sangue congelou nas veias...

O castiçal acesso a um metro da porta revelou, em meio a sombras duras, o rosto de seu maior fantasma. Ao contrário dos outros, esse estava bem vivo.

- Lorde Oxe... – O nome do nobre saiu falhado por entre os lábios trêmulos da dama assustada.

Peder sorriu. A luz da vela fazia brilhar Deus olhos verdes e dava um tom alaranjado aos seus cabelos loiros.

- O que diabos faz aqui, milorde?! – Catherine falou rápido e quase gritou.

- Tinha um compromisso comigo e não apareceu. Lembra-se? Vim exigir-lhe boas justificativas.

- A única justificativa que encontro é que não passa de um louco.

Catherine se levantou para expulsar o homem de seu quarto. Se as más línguas o vissem ali estaria perdida.

Assim que tentou empurrar Peder para fora, ele foi mais rápido fechou a porta e segurou Catherine pelas mãos, fazendo-a girar e empurrando-a contra a madeira.

- Pensa que consignável expulsar-me com tanta facilidade? – Ele a mantinha firme pelos braços o que impedia Catherine de se mover ao sair daquele embaraço.

- Solte-me! – Ela se debatia. – Saia daqui ou acabarão lhe vendo.

- O que acha que acontecerá se continuar gritando?

Catherine cerrou os lábios e engoliu em seco. Ele tinha razão.

- Criados de Frederick podem vir me chamar e vê-lo aqui. – Sua voz foi vários tons mais baixa, quase um sussurro.

O coração de Catherine estava disparado no peito, em meio a raiva e o medo.

- Vi o rei indo para o quarto da jovem rainha. A final ele precisa cumprir seus deveres conjugais ao menos algumas vezes por ano e prover herdeiros ao reino. Ele não precisará de que o aqueça nessa noite. Já eu...

- Solte-me, milorde.

- Frederick é tão bom assim? Para amá-lo desse jeito deve lhe ser um amante espetacular.

- Eu não o amo... – Catherine mordeu os lábios após se dar conta de seu deslize. Admitir aquilo, ainda que em meio ao calor do desespero, poderia ser seu pior erro.

- Oh, não? – O sorriso nos lábios de Peder se tornou ainda maior.

- Frederick é um bom homem. – Catherine tentou se retratar enquanto ainda tentava se soltar. Contudo, as mãos dele eram fortes e firmes, e ela era incapaz de vendê-lo.

Onde o lorde a tocava com firmeza e força, Catherine sentiu um estranho calor e ardência que lutou para reprimir.

- Se ele é um bom homem ou não, pouco me importa. Eu quero saber se ele é um bom amante.

- Isso não lhe desrespeita!

- Antes dele jamais provou outro homem, estou certo?

Catherine se recusou a responder, mas a hesitação nos olhos dela bastou para Peder. O lorde abriu um sorriso malicioso bom lábios que somado a penumbra do quarto deixou ela ainda mais amedrontada.

- Eu posso lhe mostrar o prazer poucas damas provaram. – Ele a mordiscou na orelha e soprou uma lufada de ar quente que a fez se arrepiar e estremecer.

- Afaste-se de mim, lorde Oxe. – Catherine tentou empurrá-lo de um jeito descoordenado, devido aos braços presos, mas estava sem forças devido ao estranho magnetismo que possuía aquele homem.

- Ou o quê? Contará ao rei? – Em meio a uma provocação debochada, ele mordiscou-a na base do pescoço.

Catherine sentiu todo o seu corpo queimar. Aquela tentação só poderia ter vindo direto do inferno para atormentá-la.

- Se alguém nos ver seremos mortos.

- Eu não tenho medo da morte, muito menos de Frederick. – O olhar de Peder era desafiador e cheio de si, isso a fez ter ainda mais certeza de que ele era um louco.

A cada instante o lorde a sentia ceder mais em seus braços. Era mais valente do que a maioria de suas conquistas, precisava dar esse crédito a ela, no entanto, Peder sabia bem como vencê-la.

Catherine podia ver os fios de sua sanidade serem quebrados como gavinhas fracas de uma planta jovem. Peder conseguia descontrolá-la ao ponto de jogá-la em um terrível dilema: seu corpo ansiava por descobrir até onde iriam as sensações provocadas por ele, mas sua mente, condenava firmemente a presença do lorde ali.

- Permita-me mostrá-la.

Peder tinha sua boca colada na orelha de Catherine. Suas palavras atearam mais fogo no corpo dela. As mãos firmes escorregaram dos cotovelos, contornando a lateral do corpo até a cintura, apertando-a de maneira dolorida. A cortesã arqueou o corpo contra a superfície da porta e estremeceu. Peder não a segurava mais pelos braços, mas ela se sentiu paralisada.

Ele mordiscou-a na orelha enquanto deslizava uma das mãos para cima, pelo ventre, coberto apenas pela macia seda, até o vale entre os seios, não os tocou, apenas contornou a região com a ponta dos dedos e fez Catherine suspirar.

Ela quase implorou para que ele agarrasse seus seios com as duas mãos e os apertasse com força, como Frederick fazia. Mas conteve esse forte impulso.

Ao ver os olhos arregalados, a poça semiaberta da lady levemente ofegante seus lábios foram até os dela. Roubando-lhe outro beijo. Dessa vez ela retribuiu, aceitando a língua quente. O sabor doce como o mais puro néctar deixou claro o motivo dela ser a favorita do rei. A pele era suave, os lábios tão macios que dava vontade de beijá-los para sempre. Sem a relutância do primeiro beijo, pode senti-la melhor. Sim, aquele era o melhor jogo que já havia jogado...

A batalha interna de Catherine se fundiu quando as sensações foram mais fortes do que qualquer questionamento. Maldito seja Peder Oxe!

Num momento, ele estava esfregando o membro rígido entre as pernas de Catherine, arrancando dela leves gemidos e fazendo desejá-lo onde não deveria; no seguinte ele havia a largado e se não fosse pela porta, Catherine teria ido ao chão.

Ofegando e desnorteada, ela o encarou como se não soubesse o que havia acontecido, o motivo pelo qual o lorde parou.

Catherine mordeu os lábios para não deixar escapar a pergunta. Seu peito subia e descia em uma respiração descompassada. A forma como Peder a encarava com um sorrisinho de vitória fez com que ela desejasse esbofeteá-lo.

- Tenha uma boa noite, lady Catherine. Tenha calorosos sonhos comigo. – Peder puxou a porta para deixar o quarto e a fechou logo em seguida.

Ela caiu de joelhos sobre o chão áspero e frio. Sua testa brilhava contra a luz por estar coberta por uma fina camada de suor.

- Maldito seja! Maldito.

Seu corpo todo ainda queimava, ansiando pelo de Oxe.


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