Only God can judge you

By rakeool

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Um romance de faculdade. Nenhuma novidade. Acontece toda hora. Mas não com Lorena, cristã fervorosa que nunca... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capitulo 3
Capítulo 4
Capitulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Especial: They call you monster
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 9

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By rakeool

POV Jade: Festa-parte 2

Desci do palco com Tiffany e PJ, ofegante. Tinha sido absolutamente irado!

— Eu preciso de um copo de gim. — Tiffany declarou, guardando o querido baixo com cuidado na maleta.

— Eu também preciso de uma bebida, shows e fama estão cada vez mais cansativos. — Disse PJ, estalando os dedos das mãos, com um sorriso de canto.

—Então bora lá! —Passei os braços pelos ombros deles, aliviada por ter feito um bom trabalho.

Fomos até a mesa de bebida mais próxima, pegando os famigerados copos vermelhos. Tiffany pegou sua gim-tônica, PJ um mojito, e eu peguei um copo de rum com coca.

Eu estava usando uma fantasia de pirata providenciada pela Chloe, então é claro que eu não pude deixar de fazer a piada.

—Quinze homens, quinze homens sobre o caixão do defunto, yo ho ho, yo ho ho e uma garrafa de rum! —Imitei uma voz de pirata, levantando o copo.

PJ deu um sorrisinho pra minha ilustre piada e respondeu:

— Você é terrivel, Jade.

—Eu sei... — Pus as mãos na cintura e abri um sorriso orgulhoso. — A mais terrível dos sete mares! Arrrr!

Foi quando vi uma pessoa toda de laranja correndo em minha direção. demorei a notar quem era, mais a medida de que ela ia se aproximando eu percebi: Era Zoey.

—Jade!— Gritou ela, estridente. —Você estava INCRÍVEL!

—E aí raposinha!—Parei para a observar. Ela estava com uma fantasia de raposa mesmo. —Sua cara a fantasia, muito bom mesmo

—Obrigada pela ideia. —Zoey parecia mais feliz do que o normal.— PJ? Sua fantasia está ótima!

—Obrigado. — Ele respondeu com um sorriso convencido, camuflado na maquiagem de coringa.

— E Tiff!— Dessa vez pulou para um abraço apertado.— Nossa que saudade de você! Arrebentou lá.

—Valeu. — A amiga respondeu, fria como sempre, mas sem conseguir conter um sorrisinho.

Tiffany era meio fria e sei lá... Morta. Perto da Zoey então, ficava parecendo pior ainda. Era engraçado ver os dois extremos. Elas eram bem amigas, sempre ficavam nas festas juntas, mas Tiffany não era de esboçar qualquer tipo de coisa espalhafatosa, como Zoey fazia. No fundo ela é um amorzinho.

—Olha a música que eles colocaram! —Zoey olhou pra caixa de som que começou a tocar pouco tempo depois de termos saído do palco.— Essa música é irada! Bora dançar Tiff!

—Não, obrigada

—Ah, vem Tiffany! Essa música é boa!—Zoey insistiu, batendo o quadril nela, que estava mais preocupada em não derrubar a gim.

—Eu não sei dançar. —Declarou, decidida. — E você também não.

Zoey fez uma expressão extremamente ofendida, mas não deixava de ser verdade, ela parecia um bichinho dançando, tadinha.

— Ai, que grossa!—Zoey cruzou os braços frustrada.

Tiffany abriu um sorrisinho.

—Eu só tô brincando, idiota.— Garantiu passando um passo em torno do ombro dela

—Ai ai viu... — Resmungou a ruiva, com uma risada.

Ouvimos um barulho de cima do palco, nos viramos para ver, era David, que deu algumas batidinhas no microfone para testar.

—Atenção pessoal! —Ele falou, sua voz ecoando pelo pátio.

As pessoas abaixaram um pouco o volume da caixa de som por um momento, e focaram nele.

— Pois bem, eu gostaria de propor um brinde... —Ele levantou o copo plástico vermelho que tinha em mãos, em um movimento cambaleante.— Em nome da volta oficial do bimestre da Brown, abrindo com a festa mais irada de todas!

As pessoas gritaram em comemoração, David esperou os gritos baixarem, para voltar a falar:

—E eu gostaria de chamar aqui no palco, a garota mais incrível dessa festa, voces devem saber de quem eu tô falando! — David abriu um sorriso simpático ao público.— Vem cá Jenny!

A garota se aproximou do palco, provavelmente fervendo de vergonha, já que era bem tímida. Ela falou alguma coisa no ouvido dele, mas provavelmente foi ignorada, já que David colocou o copo no chão e segurou sua mão, a puxando para cima do palco, ainda segurando o microfone.

—Jenny...— David começou.— Nós nos conhecemos desde que entramos aqui, e desde então minha vida tem sido uma emoção atrás da outra. Você é a garota mais incrível que eu já conheci, e este tempo que nós temos ficando, só me fez notar o quanto eu quero você perto de mim. Então Jenny, eu queria saber... — O menino soltou sua mão, puxou um buquê de flores meio amassado que estava escondido atrás da capa de sua fantasia de super herói, e se ajoelhou. — Você aceita namorar comigo?

A plateia foi ao delírio. Aquilo surpreendeu todos, principalmente a menina, que estava perplexa parada na frente dele. Depois que os gritos baixaram um pouco, Jenny assentiu com a cabeça, abrindo um sorriso, enquanto levantava David. Então eles começaram um beijo apaixonado. Devia ser muito da hora estar no lugar deles, mas como espectadora, eu já estava rindo de tanto romance. Os gritos ficaram ainda mais altos que antes, e dessa vez vieram aplausos também.

Quando o beijo e a ovação acabaram, aumentaram de novo a música, ainda mais alta do que estava antes.

—Ai, que bonitinho né? — Comentei, sorrindo.

— É, um pouco espalhafatoso de mais. —PJ resmungou, sem parecer impressionado.

—De fato.— Concordou Tiff, colocando as mãos nos bolsos.

—Ai do que que vocês tão falando gente, isso foi lindo! — Zoey se pronunciou, com a voz embriagada. — Eu até tentei tirar um foto, mas estava muito ocupada me emocionando com o discurso, foi tão puro e do coração!

—Que drama. —Tiff rebateu, revirando os olhos.

—Drama nada!— Zoey virou e pegou um copo na mesa.— Eu só tenho coração, ao contrario de você.

—É, claro — Debochou Tiffany, com uma risadinha discreta.

—Gente, deve tá rolando a resenha ali do outro lado do pátio. —A ruiva se animou de novo. —Bora pra lá?

— Tá. — Respondeu ela. —Vocês vem?

—Eu vou — PJ virou o resto do shot, pegando outro cheio pra viagem.— Já tá na hora de começar a curtir a festa.

—E você Jade?

—Ah não... Eu tenho que encontrar uma pessoa. —Expliquei, olhando em volta.

—Ok, sabe onde nós encontrar então. Tchau! — Zoey se despediu, puxando a banda para o outro lado do pátio.

Andei pela festa em busca de Lorena. Será que ela tinha vindo mesmo? Eu não sabia, então só vaguei aleatóriamente, procurando. As pessoas paravam pra me cumprimentar as vezes, encontrei alguns conhecidos por ali, mas nada dela aparecer. Estava começando a desistir, até ver ali, parada do lado da mesa de salgadinhos, uma garota.

E não era a Lorena

Era a Sam.

Merda.

Eu não falava com ela desde que a gente tinha terminado nessas férias, ela estava... Diferente. Antes, ela tinha o cabelo cacheado e loiro na altura dos ombros, mas agora, ela tinha raspado o cabelo. Ela não estava careca, o cabelo dela cresceu um pouco, mas estava muito menor do que antes. Sua fantasia era de policial, e eu sinceramente quase não tinha a reconhecido ali.

Não sabia se eu deveria ir até lá dar um oi, as coisas me pareciam estranhas na minha cabeça, mas acho que não custava nada cumprimentá-la. Me aproximei dela. 

— Hum... Hey, Sam! Tudo beleza? —Cumprimentei — É... Gostei do cabelo, ficou da hora!

—Oi Jade!— Disse ela, parecendo ter sido pega de surpresa. Ela pôs a mão no rosto avermelhado. —M-muito obrigada...

"Ai meu Deus, espero que ela não tenha pensado que foi uma cantada" Pensei, cerrando os dentes.

—É... Como que você ta? — Perguntou, sem graça.

—  De boa, e você?

—Também. —Respondeu, com uma risadinha.

Um silêncio desconfortável pairou sobre nós duas, então na tentativa de tornar aquilo menos estranho, perguntei:

—Mas e aí? Como que foi aquele seu estágio de design e tal?

—Ah... Foi super legal! — Ela estava meio tímida até esse ponto, então se animou um pouco em um assunto seguro.— A gente teve vários trabalhos interessantes. Tinha um que a gente tinha que editar a página inicial de um blog. Aí a gente editava primeiro a parte de...

Me perdi no que ela estava falando ao ver quem estava perto da caixa de som, alguns metros atrás dela.

Lorena estava parada, vestida de marinheiro, segurado um copo vermelho de plástico bem ali.

"Wow. Ela tá muito gata." Pensei, engolindo em seco. "E nossas fantasias combinam." Me toquei, abrindo um sorrisinho. Pirata e marinheira, muito bom. Eu precisava ter feito essa piada.

Não consegui nem mais me concentrar no que Sam estava falando, eu só olhava pra Lorena apreciando cada detalhe de sua fantasia, ou ponderando sobre como sua expressão de "deslocada" era fofa. E então, sem que eu me desse conta, eu me atraí pra perto dela como um ímã.

— Hey! —Cumprimentei, olhando-a da cabeça aos pés, preparando minha postura confiante. —Parece que você tem uma tara por uniformes mesmo em, marinheira?

Ela virou de supetão, primeiro pareceu surpresa, depois deu uma observada em mim de cima a baixo, e assumiu uma feição irritada.

— Eu vou matar a Diana, meu Deus...—Rosnou, sem olhar pra mim. Seu rosto estava vermelho. Talvez por corar, ou por raiva, não soube dizer.

—Ah que isso, lobinha! — Sorri me apoiando com os braços cruzados na caixa de som. — Tá, ela combinou nossas fantasias sem avisar.— Olhei pra ela.—Mas ela te deixou tão gata! Dá um crédito pra ela, vai.

—Começou... — Lorena cruzou os braços, revirando os olhos.— Eu bem que estava estranhando de ter uma conversa de mais de 30 segundos com você sem nenhuma dessas.

— Se tá faltando flertes, não tem problema, eu posso cuidar disso... — Abri um sorriso malicioso, me aproximando dela.

— Não, a quantidade atual já está ruim o suficiente, muito obrigada. —Rebateu, e me olhou de cima a baixo rapidamente.  — E você poderia se afastar? Está me dando náuseas!

—Só porque você pediu com jeitinho. —Levantei as mãos e dei um passo atrás.— Mas então, lobinha, o que tá achando da festa?

—Ah... Tá tudo legal, vocês só são meio... Estranhos. —Explicou, soando sincera pela primeira vez na conversa.

— Estranhos?— Repeti, rindo.

—É... — Ela se apoiou na caixa de som também, nossos ombros quase se encontrando.— Teve uma garota que tentou beber uma garrafa inteira de bebida inteira sozinha. E ainda teve um cara que tentou entrar na festa que tinha um moicano verde e uma fantasia de Mickey. — Explicou —Além disso, ele parecia muito velho pra tá aqui, e estava desesperado querendo ver você tocar. Foi bizarro.

Eu sabia de quem ela estava falando, sabia muito bem.

—Ah, esse é o Kevin... — Expliquei, com uma risada sem graça. — Ele realmente é mais velho, se formou tem um tempo já, só que ele é fã da The Dark Sunset, então de vez em quando ele vem pra cá pra ver um show, ou pra falar comigo.

—Ele parecia meio obcecado.

—É, de fato ele é um pouco estranho, e talvez um pouco vidrado de mais na banda... — Tentei não fazer parecer tão ruim. — Mas ele é até legal, ele gosta de mim.

—Isso eu não duvido.— Lorena fugiu do assunto, fazendo uma pausa longa, como se tomasse coragem pra falar alguma coisa.— Mas falando em sua banda, eu amei Indie! Principalmente aquela primeira música, foi de mais!— Se empolgou, sem olhar pra mim. Então balançou a cabeça, se corrigindo.— Q-quero dizer... Não foi tão ruim...

— Que bom. — Murmurei, com um sorriso de canto. —Aquela primeira é uma de minhas músicas favoritas.

Estava feliz, ela tinha gostado, realmente tinha, dava pra ver.

— E aquela última música?— Continuou. —Tão triste né? Mas tão boa. E sua voz... Você realmente tem talento, serio, é incrível.

Fiquei um pouco sem graça, ajeitando o chapéu de pirata enquanto tentava conter o sorriso.

—Ah, obrigada... — Agradeci —E então? Já conheceu alguém por aqui?

—Algumas pessoas...— Murmurou, pensativa, antes de citar, metodicamente. — Zoey, Diana, Chloe, Tony, David e Jenny.

—Hm... ainda tá faltando algumas pessoas aqui na lista.— Brinquei, passando o braço pelo ombro dela. —Vamos lá, deixe que eu te apresento pro resto.

— Ok...

Então a levei para o outro lado do pátio.

• • •

Quando chegamos do outro lado do pátio, paramos primeiro em uma mesa e pegamos bebidas. Ela pegou um copo de ponche, não sei exatamente se ela sabia o quão forte aquilo era, mas era a única coisa que ela estava disposta a beber, então não falei nada.

Um cara atrás de nos chegou para pegar uma bebida também, e logo soube quem era o dono dos braços longos cobertos por um paletó roxo.

—E aí, PJ!

—Ooi! — Ele estava com uma animação pouco comum. Bêbado.

—Essa é Lorena. Lorena, PJ. — Falei, rindo.

—Oi oi novata, prazer em te conheceer! — Eu reconheceria aquele tom engraçado de quando ele estava bêbado a quilômetros de distância.

— O prazer é todo meu. — Lorena respondeu meio desconcertada.

—Cara, o quanto você bebeu? Você tá até interagindo com pessoas, tô te estranhando. — Brinquei.

— Muito! — Assegurou, soltando um soluço enquanto apontava para um canto onde se sentava uma rodinha de pessoas. — Tá rolando um drinking game lá, e eles escolheram logo o amigo whisky pra ser a bebida da vez.

Ele era do tipo de ficava perfeitamente consciente quando ficava bêbado, apenas ficava mais tagarela.

— Entendo, e aí? Beijou muitos caras, hein?— Perguntei, levantando minhas sobrancelhas sugestivamente enquanto dava um gole de minha bebida.

—Não, já te falei o que eu acho dos caras da Brown. Uns trastes. — Intensificou a última parte comicamente aborrecido.

—Você é gay? —Lorena perguntou, finalmente participando.

PJ virou pra ela vagarosamente

—O que você acha?— Rosnou, irônico.

—Só tem gay nessa faculdade?!— Lorena perguntou, incrédula.— Isso é um absurdo! Deus repreende!

Ai, Lorena, pra quê?

PJ estava incredulo, virou-se para encara-la.

—Você vai ver esse seu Deus já já se você não parar de falar merda.— Garantiu, quase que em ameaça.

—Gente calma!— Me intrometi, com um riso nervoso.— Pra que isso?

Ele me olhava em desaprovação, enquanto a outra estava de braços cruzados, revirando os olhos.

—Vamos fazer assim, eu vou afastar vocês dois, ok?

Eles não responderam anda, mas soube que tinha o consentimento de ambos. Segurei no pulso de Lorena, a arrastando para o canto perto das pessoas da rodinha.

—Eu não pretendia ofender seu amigo. —Ela falou, enfim — Eu só...

—Tá... Tudo bem, lobinha. — Respondi, respirando fundo.

Ela estava errada, eu sabia disso, mas eu não conseguia sentir raiva dela. Só precisava tirar essa idiotisse homofóbica da cabeça dela.

— Vou te apresentar as pessoas que não são o PJ, vamos pra lá.— Apontei para o grupinho não muito distante, e a levei. Ela não deu uma palavra a mais durante o percurso.

Chegamos lá, o pessoal estava rindo alto, demorando um pouco até nos notarem ali.

— Jade! —Chloe gritou, alterada. —Veio entrar na rodinha?!

—Na verdade, não.—Respondi, olhando pra ela. — Vim apresentar a novata. — Passei o braço sobre o ombro de Lorena, que já não parecia se incomodar muito com o gesto.

—Hum... Jade, eu já conheço eles, com excessão dela. —Lorena declarou meio tímida, apontando pra Tiff.

—Ah, essa é a Tiffany!— Apontei para minha amiga, tentando desviar a atenção do meu engano. —Tiff, essa é Lorena!

—Oi... prazer em te conhecer, eu acho. —Disse ela, apoiando a cabeça na mão para olhar para a caloura.

—É um prazer também... — Murmurou de volta, nervosa. —Você é a baixista, certo?

— Sou. — Ela respondeu, inexpressiva.

—Então, vocês vão entrar no jogo ou não?— Zoey perguntou, me encarando impacientemente.

Olhei pra Lorena e arquei uma das sobrancelhas, ela balançou a cabeça em negação de maneira quase que imperceptível.

—É, acho que não. Depois a gente vem. — Declarei, girando nos meus calcanhares.

Então nos afastamos um pouco dali e fomos para perto de uma outra mesa de bebidas.

—Acho que aquela Tiffany não gostou de mim.— Ela admitiu, passando a mão no cabelo. —Ela foi meio fria.

—Ah ela é assim mesmo, liga não. —Dei de ombros e abri um sorriso. — Enfim, me sinto realizada, agora que eu apresentei meu interesse romântico pro que faltava dos meus amigos.

Lorena revirou os olhos e balançou a cabeça.

—Mas sério, como você pode dizer que você gosta de mim se você nem me conhece?! Além de eu ser uma menina e... argh! — Ela perguntou, desistindo no meio do caminho do discurso bíblico. — A gente só se conhece a um dia.

— Ok — falei. —me fale sobre você, então.

Ela fez um cara confusa.

—E o que você quer saber de mim?

—Sei lá, só quero te conhecer.— Dei de ombros.— Tive uma ideia melhor, que tal a gente fazer um jogo?

— Que tipo de jogo...? —Ela perguntou, desconfiada.

—Um drinking game. Eu vou falar coisas sobre você, e se eu tiver certa, você bebe. —Expliquei, fazendo gestos figurativos. —E se eu estiver errada, eu bebo.

Lorena ponderou por um segundo, e respondeu:

—Ok, mas se prepare pra ficar muito bêbada, já você não sabe nada sobre mim.

—É o que vamos ver! — Abri um sorriso malicioso, e virei para mesa de bebidas — Ei, amigão!

—Sim, amigona?— O barman respondeu, me reconhecendo de visitas anteriores.

—Eu quero dois copos, e uma garrafa... — Parei por um segundo, olhando para Lorena, desafiadora — Da bebida mais forte que você tiver.

• • •

Pegamos a garrafa e os copos e nos sentamos no chão, uma de frente pra outra, em um dos cantos um pouco mais silenciosos da festa.

—Vamos lá. — Falei, me ajeitando.— Eu começo.

Lorena assentiu, em silêncio.

—Você... — Pensei um pouco, tamborilhando os dedos no joelho.— É filha única. Cresceu sempre tendo total atenção de seus pais.

Lorena me olhou, e aos poucos um sorrisinho despontou no canto de sua boca.

— Beba.— Ordenou, vitoriosa.

Enchi o copo e bebi de vez, era realmente forte, mas era bom.

— Então você tem irmãos? — Perguntei, com uma risadinha.

—Um só, Jacob. Tem oito anos e gosta de quadrinhos.— Explicou rápido, e prosseguiu.— Agora é minha vez, certo? Você... não era popular na escola.

Observei-a, manti uma "poker face" por um segundo, e então enchi o copo e bebi.

—Minha escola em New Jersey tinha pessoas especialmente chatas, eu não gostava muito de ter qualquer tipo de contato com eles. — Resumi, dando de ombros.— Minha vez. Você nunca matou aula.

Ela me olhou por um segundo, encheu o copo e bebeu. Sua careta ao ingerir o líquido foi extremamente engraçada.

— Isso... É horrível! —Ela falou, ainda sem conseguir tirar aquela careta do rosto.

—Alguma deveria ter filmado sua reação, sério!— Brinquei, sem conter minha risada.— Mas ok, sua vez

—Ok, hm... — Ponderou por um segundo. — Você não gosta de matérias de exatas.

—Beba. — Disse, sorrindo.

—O quê?! — Exclamou, incrédula.

—Fisica sempre foi minha matéria favorita, junto com biologia e química. —Contei. — E eu não gostava tanto, mas eu sempre fui boa em matemática.

Lorena, de um jeito sofrido, encheu o copo, e bebeu de novo.

—Eu vou demorar pra me acostumar com isso. — Ela fez novamente aquela careta.— Ponche era bem melhor que isso.

— Sim.— Abri um sorriso.— Certo... Você nunca entrou em uma briga a ponto de sair na mão.

Lorena se inclinou, falando com um sorriso audáz:

—Beba!

—Olha só a 'bad girl'! — Comentei, surpresa, enchendo meu copo.— Parece que você não é tão menina certinha e boazinha assim, lobinha. Alguém aqui sabe como ser radical.

Bebi tudo em um gole, nesse ritmo não ia demorar pra eu ficar bêbada.

—Ok ok... Minha vez —Lorena falou. —Hm... Você não era popular na escola, mas tinha um amigo que era sua valvula de escape. — disse ela — E mesmo com a distancia, mantem contato até hoje.

—Beba. — respondi —Nossa, que chute específico.

—Sério?— Arqueou a sombrancelha, desconfiada.

—Eu não tinha nenhum amigo no colegial.— Admiti, desviando o olhar. — Eu até andava com alguns meninos na maior parte do tempo, mas eu não sei se era uma relação forte o suficiente pra ser chamada de "amizade".

— Uau... —Ela parecia impressionada.— Nem parece a menina que tem até fãs perseguidores que eu conheci.

Dei uma risadinha envergonhada.

—Aqui é... Diferente, sabe? Sinto que posso ser quem realmente... Sou. —Expliquei, sendo mais sincera do que o previsto. — E agora... É minha vez?

Assentiu com a cabeça.

—Ok, então... Você odeia música country.

Ela me olhou com os olhos semi-serrados parecendo indignada.

—Como você sabe disso?— Ela perguntou.

—Sei lá, country não faz seu perfil. — Dei de ombros, com um sorrisinho.

Ela encheu o copo e enguliu tudo de vez, ainda estranhando o sabor, mas um pouco mais acostumada.

—Ok... Minha vez... —Soluçou. Ela parecia meio tonta, naquele momento, ela com certeza já estava bêbada. — Você... Odeia música pop?

Abri um sorriso.

—Pode beber.

—Pelo amor de Deus! Esse deve ser o quinto que eu bebo! — Resmungou, mau humorada. — Não gostei desse jogo.

Me aproximei dela.

— Pra quem estava cantando vitória no início, você parece bem derrotada.— Provoquei.

Ela encheu o copo dela e disse:

- Vá logo com a pergunta! - Virou o copo. - Aposto que essa você não acerta.

—Ok, então... — Murmurei, pensando por um segundo. Eu precisava de uma coisa que com certeza seria certa. — Você... Nunca viu nenhum filme do Tarantino.

Ela me olhou com uma cara extremamente frustrada, encheu o copo, e quando estava levando-o até a boca, estendeu o braço com copo cheio pra mim e disse:

—Beba!

—Você tá brincando comigo, né? — Agora era eu que estava surpresa. Eu duvidava até que ela soubesse quem era Tarantino.

—Não mesmo, pode beber!— Ela abriu um sorriso vitorioso.

—Ok, eu bebo... —Peguei o copo — Mas eu quero saber como, por quê e sobre que circunstâncias você, justo você, viu um filme do Tarantino.

Apoiei minhas costas na parede e estiquei minhas pernas, Lorena se sentou bem ao meu lado, com as duas pernas sobre as minhas.

—Ok, ok.— Respondeu, sorridente.— Eu estava na fazenda de meu avô, eu devia ter uns 16 anos, sei lá... —Contou.— E estava vendo que DVDs tinham ali pra assistir naquela noite chuvosa. Aí eu peguei um com a capa escrito "Pulp fiction" e perguntei ao meu avô se o filme era bom.

Ela deu uma pausa, e suspirou.

— Mas então, meu pai respondeu 'Não, não e não! Esse tipo de filme não é pra uma garotinha que nem você! Porque você não pega... o DVD do my little pony, e vai pro seu quarto?' - Forçou uma voz mais grossa, numa imitação tosca.— E ele ainda riu depois! — suspirou — Eu tinha 16 anos, e ele continuava me tratando como uma criança. Por isso, sem que ele percebesse, eu abri as duas caixas de DVD, e troquei os CDs. Então eu fui pra meu quarto, levando 'Pulp fiction' dentro da caixinha de my little pony, e assisti.

— Uau.— Exclamei.— Você é realmente uma rebelde de carteirinha. Mas e aí o que você achou do filme?

Lorena abriu um sorrisinho e mordeu o lábio, (foi bem sexy, não nego) olhou para os lados, como se pudesse estar sendo observada pro alguém, e sussuros perto de meu ouvido:

—Promete que não conta pra ninguém?

Meu corpo estremeceu ao ouvir a sentir a voz dela tão perto em meu ouvido, assenti, e ela novamente sussurou:

— É meu filme favorito.

Meu corpo estremeceu um pouco novamente, e eu abri um sorriso malicioso.

—Sua religião permite que você engane seus pais desse jeito, mocinha? — Perguntei, olhando pra ela de canto de olho.

—Não... —Falou ainda com um sorriso besta.

— Então acho que nós temos aqui a noviça rebelde! — Declarei, a piada saindo de minha boca junto com toda a dignidade que o álcool me tirava.

Pela primeira vez, vi Lorena gargalhar. Admito que me assustei um pouco. Ela estava rindo de minha piada? É pra todos verem os efeitos que o álcool tem no indivíduo.

—Nossa! Muito bom! — Ela não conseguia parar de rir, sendo entrecortada por soluços.

— Calma! — Falei, rindo. — Nem foi tão engraçado assim.

Mas ela não parava de rir, comecei a rir da risada dela, e ficamos nessa por um tempo.

Depois de um tempo nos paramos de rir e nos olhamos, e então eu abri um sorriso, pensando no quão bom era estar ali com ela.

Lorena abriu um sorriso também, ainda próxima a meu rosto.

—Sabe, eu falo pra todo mundo que meu filme favorito é 'o primeiro amor' — Declarou —só você sabe a verdade.

—Me sinto honrada. —Murmurei, respirando fundo. —Fique sabendo que seu segredo está a salvo comigo, lobinha.

—Tenho certeza que está. —Ela concluiu, com um sorrisinho.

Nós encaramos por um tempo, a vontade de me aproximar me queimava de dentro pra fora. Observei-a, aproximei um pouco o meu rosto, ela não esboçou reação. Tentei de novo, coloquei a mão delicadamente sobre seu rosto, arqueando uma de minhas sobrancelhas, como se perguntasse silenciosamente: "Eu posso?". E ela não assentiu, muito menos discordou, ela apenas fechou os olhos.

Eu deveria beija-la? Ela não me deu nenhum tipo de resposta concreta para saber se eu realmente podia, e ela estava claramente bêbada (não que nessa altura eu também não estivesse) Eu... Deveria?

"E desde quando você fica tão nervosa assim pra beijar uma garota?" Ouvi uma voz em meu pensamento "Se ela fechou os olhos, é porque ela quer te beijar, ninguém beija de olho aberto"
Ouvi também, então fechei meus olhos, e aproximei meus lábios dos dela.

Mas antes que nossos lábios pudessem se encostar, fomos interrompidas por um grito:

—O QUE É ISSO?!

Ah não, Sam.

Me levantei com um pulo, ajudando Lorena a se levantar com uma de minhas 

—Jade Chermont, quem é essa menina?! — Sam perguntou, furiosa.

—É Lorena, a novata... — Expliquei, piscando algumas vezes.

—Você por acaso está ficando com ela ou coisa do tipo?! — Sam estava ainda mais irritada que antes, se é que isso era possível.

Todo aquele show acabou por atrair a atenção de algumas pessoas ao redor para a gente.

—O quê? Porque você quer saber isso?!— Questionei, aborrecida.

—Porque VOCÊ me abandou, sem a menor consideração! E agora você vem falar comigo, e me ignora assim que vê uma garota nova, como se eu fosse nada!— Seus olhos se encheram de lágrimas.

"Merda, eu ignorei ela mais cedo" Pensei, já me sentindo mal. E agora?

—Você tem a mínima noção do que você me fez passar quando você terminou comigo?! Eu não consigo viver sem você, Jade. —Lágrimas desciam pelo meu rosto. — E você ainda pede transferência de quarto! Agora além de não ter mais você, eu estou no quarto de duas meninas INSUPORTÁVEIS! —Ela gritava, as pessoas volta olhavam atentas, só faltavam filmar. —Uma é a doutora sem doutorado, se acha melhor que todo mundo só porque faz direito. E a outra, é a otaku que não para de falar de anime e k-pop nem por um segundo! Você tem ideia do quanto ter que ficar no quarto delas agora é HORRÍVEL?

—PORRA! — Ouviu-se uma voz da multidão.

—Samatha, nós estamos bem aqui! —Ouviu-se outra voz.

As pessoas abriram espaço na multidão pra que elas pudessem vê-la.
Uma estava com uma fantasia de rainha de copas, e a outra estava com uma fantasia de alguma personagem de Sailor Moon. Seus nomes eram Charlotte e Delilah, se eu não me 

—Ai meu Deus... —Sam resmungou, com os dentes cerrados, virando-se para elas. —Tá bom! Vocês são chatas mesmo, agora vão embora!

As meninas lançaram olhares fuzilantes pra ela, e se perderam na multidão. Alguém teria problemas no dormitório.

—Você... — Sam se virou lentamente, e estendeu sua mão, dessa vez apontando pra Lorena, que estava logo atrás de mim. —VOCÊ! SUA VAGABUNDA!

Algumas pessoas foram até ela e seguraram-na, impedindo que ela avançasse em cima de Lorena.

— ELA É MINHA! VOCÊ NAO VAI FICAR COM ELA, TÁ OUVINDO? NÓS FOMOS FEITAS UMA PARA OUTRA, E NÃO VAI SER UMA NOVATINHA QUE NEM VOCÊ QUE VAI NOS IMPEDIR. A JADE É MINHA, OUVIU? É MINHA! — Ela berrava, antes de sua voz sumir, quando ela desabou em prantos, enquanto algumas pessoas a tiravam dali pra tomar um ar.

Oh, merda.

• • •

POV Lorena

Eu ainda estava tentando assimilar tudo que estava acontecendo, minha memórias estavam embaçadas desde o terceiro drink que eu tomei naquele jogo. E aquela menina gritando... Era sobre a Jade não é? Depois sobre mim, eu não sei, estava tudo confuso tentei ir até um banco e me sentar.

Aparentemente não tinha nenhum banco naquela festa (ou eu estava bêbada de mais para achá-los) então me encostei num canto, e torço pra que aquilo fase suficiente pra eu não cair chão tonta. Me perguntei onde Diana estava nesse momento. Ou se teria como eu sair dessa festa sem cair no chão e acabar ficando lá mesmo.

Estava parada encostada naquele canto, tudo estava girando, minha cabeça doia. Estava com vontade de vomitar, morrendo de sono, desejando naquele momento apenas ir para o meu dormitório, onde eu poderia me deitar. Vi um vulto vermelho na minha frente não precisava nem levantar a cabeça, ou estar sóbria pra perceber, aquele era Tony.

—Você deu um belo show ali, hein? Nem precisou falar nada, e provavelmente vai ser o assunto da semana.

Não respondi, não tinha mais forças para isso. O máximo que eu consegui foi levantar a cabeça e notar: Seus olhos estavam mais vermelhos que sua roupa.

—Eu tava analisando aqui... Até que você não parece tanto uma criança assim... — Disse maliciosamente olhando pro meu corpo. — Deixe-me ver para ter certeza se sim ou não...

Ele começou a subir a minha camisa, tentei impedí-lo mas ele era mais forte. Sua mão passeou por dentro de minha roupa lentamente. Me senti impotente, e fraca. Tentei gritar por ajuda, mas não consegui, eu estava em desespero, não havia nada que eu pudesse fazer.

Até que eu vi outro vulto atrás dele.

— Tony, que porra é essa?! — Era o menino de coringa, PJ, eu acho.

Eles trocaram mais algumas palavras que eu não consegui distinguir, e eu ouvi um barulho de um soco. Ouvi gemidos no chão, e logo após a única frase daquela conversa que eu consegui entender direito:

—Babaca.— PJ rosnou, olhando para baixo com certo desprezo.

Ele se virou pra mim.

—Desculpe por isso, Tony é um babaca, e tinha tomado alguma coisa bem forte... — Completou, olhando para o chão. — Você 'tá bem? Consegue andar?

Tentei dizer que sim, mas acabou saindo só um murmúrio de minha boca, eu realmente não tinha mais forças o suficiente.

—  Ok, vou levar isso como um não. — Ele me pegou no colo e saiu andando.— Vou te levar pro seu dormitório, ok?

E então nos saímos da festa.

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