*Emma narrando*
Sabe quando dizem que a vida passa diante de nossos olhos na hora de nossa morte? Isso eu não posso confirmar, mas afirmo que uma sensação parecida perpassa nossa pele quando vemos a pessoa que amamos ajoelhada perante nós, falando a frase de nossos sonhos.
E é tão intenso que nos coloca perdidos num mar de bússolas, mas o único norte que procuramos se encontra à nossa frente. Coração a mil. De tantas expressões, mil palavras lhe faltam. A rápida sensação de que a gravidade foi embora e o chão não se encontra debaixo de seus pés, e, voando, você sente sua pressão caindo e sua alma lentamente esvaindo de seu corpo para encontrar-se com seu amor, seu espelho, ajoelhado à sua frente.
E é algo magnífico, faz-nos pensar que, no final, tudo realmente deu certo e conseguimos encontrar a tão sonhada alma-gêmea. E sua forma é admirável, e você sabe que, mesmo perdido num mar de dúvidas, seu reflexo nunca vai ser difícil de achar.
Se, em algum momento, você sentir em si que encontrou sua alma-gêmea, não resista. Não tente transformá-la em algo inferior ao que realmente é. Não tenha medo de tomá-la para si, porque é única e rara de se ver. Não passe sua vida buscando-a, espere o momento certo, pois o Mestre Tempo tem um tempo para tudo, e esse tempo é tido propriamente para que o Menino Destinos exerça seu trabalho.
Nós conhecemos tão pouco sobre a vida, o destino e o amor, mas pensamos que sabemos tanto. E, apesar de que, interiormente, aceitamos o fato de estarmos equivocados, continuamos insistindo no erro de dizer que, sim, conhecemos o amor, sabemos seu conceito. Sim, conhecemos o destino, sabemos seu conceito. Já vivemos muito, conhecemos a vida, sabemos seu conceito.
Mas, na verdade, passamos a conhecer mais sobre essas três variáveis que nos faz constantes quando aceitamos que estamos errados sobre elas. A profundidade da vida é desconhecida e, provavelmente, ninguém nunca vai viver o suficiente para experimentar o que ela guarda no mais profundo de seu viver.
A intensidade do amor é tão infinita quanto estrelas nas galáxias. E se achamos que vamos nos aproximar de viver um amor em intensidade completa, estamos enganados. A imprevisibilidade do destino não pode nem ser explicada por um mero humano, porque não conhecemos nosso futuro, não conseguimos reconhecer as coincidências e o acasos e, portanto, não podemos enxergar o espaço amostral e as possibilidades de nosso destino.
Casamento é uma sina, amar uma mesma pessoa para o resto da sua vida, querendo ou não, é relativo, pois não podemos garantir que nosso amor será satisfeito por esse alguém até o dia de nossa morte. Por isso, o matrimônio é uma sina, e deve ser levado com seriedade, lealdade e confiança.
Família é uma sina. Constituir família pode ser alegria para alguns, mas miséria para outros que não estão em condições. Mas famílias acontecem e o ensinamento familiar é a base para que um indivíduo se construa em moral e ética e para que se torne um bom cidadão e um bom profissional, pois é no lar que se constrói o caráter. Por isso, família é uma sina e deve ser colocada como prioridade diante de todas as outras dificuldades.
Se a minha história é contada, também será a sua, pois nós somos feitos de todos os passados, pretéritos passados de geração em geração até seu aperfeiçoamento. Somos frutos das histórias que ouvimos, contamos e vivemos e nossa imagem é uma reflexão de todas as identidades que um dia nos tocaram e fizeram a diferença em nosso ser.
Talvez o fato de eu não ter feito recíproco o sentimento de Charlie aborreça algumas pessoas, inclusive ele mesmo, mas eu certamente aprendi com ele, mesmo tendo apresentado somente uma parte de um sentimento, que não se desenvolveu. São lições que levamos conosco e que nos moldam.
Assim como o amor nos molda, assim como Harry me moldou e eu o moldei, até que nossas formas se encaixassem, como reflexos de um mesmo espelho e, por isso, eu tive certeza de que aquele pedido mesmo não era uma simples brincadeira do destino, era sua última jogada, xeque-mate.
E, por isso, eu disse sim. Porque não poderia simplesmente ignorar essa movimentação toda que aconteceu na minha vida para que eu o conhecesse, todas as jogadas desse xadrez, todas as palavras completas nessa cruzada, todos os atos dessa peça. Se tudo na minha vida carregasse consigo uma imagem e um nome próprio, seria Harry.
Talvez a profundidade desse texto incomode alguns, mas a necessidade de despejar-me em palavras era real. Talvez o fato de que estava transbordando em felicidade (e lágrimas) fosse um dos fatores para que a morfologia desses parágrafos surgisse. E eu estava transbordando.
Antes de Harry, meu amor era cheio de mim própria e, com ele, meu amor transbordou. Passou dos limites, me fez enxergar que certas coisas não podem ser impedidas e que, se é amor, que seja amado e seja carregado com cumplicidade e veracidade.
O tempo que passei separada dele, atendo-me à equivocada esperança de estar apaixonada por Charlie e poder me casar com ele, fez com que eu percebesse que não é tão simples. Não podemos escolher quem amamos, na verdade, o nosso amor escolhe aqueles que achamos merecer. Nosso amor escolhe amar quem ele, o destino e a vida sabem que seremos capazes de nos entregar, de corpo, alma e coração.
E, então, está feito o caos. São dimensões de sentimentos, escolhas e decisões que precisamos seguir. São inúmeras possibilidades, incontáveis caminhos e é assustador. É assustador como em seus sonhos, seus sonhos carregam forma de gente. É assustador como seu amor te incomoda e te faz carregar uma bagagem imensa nas costas, mas a dor é no coração. É assustador como ele é capaz de te fazer chorar, mesmo não tendo feito nada errado, pois você sentirá vontade de chorar pelo simples fato de que você sabe que, provavelmente, terá que sacrificar a si mesmo para sua felicidade.
É assustador como carrega tantos segredos, tantas semânticas trancafiadas no lugar mais escuro e solitário de sua mente. São as caras e bocas do amor, o filme de terror mais assustador já visto. E as alegrias passam a ser multiplicadas e a felicidade passa a ser real, pois é compartilhada.
E a síntese de tudo isso está ali, em um dos mais simples fonemas da língua portuguesa: o sim.
O mesmo sim que eu dei a Harry, e que Mary, da Escócia, deu a Francis. O mesmo sim que Ana Bolena deu a Henrique VIII e que resultou num dos maiores protestos contra a Igreja Católica quando ele criou a própria religião na Inglaterra para se casar com ela.
O sim que não é dito por nenhuma das vítimas de estupro ou violência. O sim que deve ser a resposta de qualquer órgão governamental quando uma mulher pede por direitos e proteção judicial contra abusos. O sim que deve ser respeitado quando é e quando não é dito.
Porque sim é concórdia e harmonia. Sim é cumplicidade. O amor é feito de sins e não da incapacidade de negar algo. O amor é feito de respeito e fidelidade, é saber pesar sins e nãos em situações adequadas. Na verdade, não só o amor é feito disso, também a vida se baseia nesse conceito de justiça cega e bem-guiada de sins e nãos.
E assim chegamos à conclusão. Digamos sim ao amor, ao destino e à vida e saibamos admitir que não os conhecemos por inteiros e que, cada dia é uma das partes da soma. E se soma, e se soma, e se soma e, talvez algum dia, venhamos a saber o resultado dessa soma de amores, destinos e vidas.
Mas, no fundo, sabemos que a resposta será um nada complicado sim. E assim, eu disse:
-Sim, Harry Howard, Lorde das Terras Altas, eu aceito, com toda a minha alma e coração, me casar com você.
******************<>*****************
Estou de volta, depois de um tempo afastada eu voltei e agora é para ficar. Como não me encontrei muito inspirada nesse tempo sem postar, resolvi esperar, porque é melhor não postar nada por um tempo e depois publicar um capítulo bom e que me agrada do que atualizar várias vezes com capítulos que não são nem lá, nem cá e que não demonstram nenhum sentimento ou profundidade.
E falando em profundidade, foi isso que eu tentei explorar nesse capítulo, que ficou um pouco mais curto que os anteriores. É certo que eu não sou a mestre em sentimentos profundos, mas não custava nada tentar. Espero que eu tenha comovido você ou, pelo menos, feito você sentir um pouco mais intensidade que nos últimos capítulos.
E, como sempre, eu peço que vocês não se esqueçam de votar e comentar (adoro os comentários de vocês) e, se puder (e quiser) compartilha o livro também! Nós recentemente chegamos a marca de 40.000 leituras e isso me deixou muito feliz.
E para quem não entendeu o conceito de reflexos do mesmo espelho, é simples: a Emma é a lagosta do Harry, assim como o Harry é a lagosta da Emma. Vou deixar vocês com uma música bem gostosinha. Um beijo de Nutella para vocês...
Fui!