Águas que passam, uma breve a...

By Francis_Lima

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Charles é um garoto como qualquer outro de sua idade. Morador de uma cidade pacata do interior do Nordeste... More

Prólogo
Capítulo 2 - A Possibilidade
Capítulo 3 - A Negociação
Capítulo 4 - Minha Primeira Venda

Capítulo 1 - A Feira

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By Francis_Lima

Teatro da UFRRJ
Seminário sobre carreiras   

Cheguei ao local bem cedo pois não podia me atrasar para um dia tão especial. Trazia comigo apenas minha inseparável mochila pendurada sobre os ombros por uma tira já surrada que embora sempre marcasse minhas camisas adoro tê-la por perto.

Me dirijo até o teatro da UFRRJ atravessando os corredores do prédio principal da universidade, chamado carinhosamente de P1 por todos que o frequentam. Algumas pessoas já circulam à espera do início do evento quando entro no teatro. Logo alguém começou a falar, passando a palavra ao Professor e meu amigo, Costa logo após alguns minutos.

O professou falava com uma certa eloquência e amor que aos poucos conseguiu comprovar sua fama de bom orador ao prender a atenção de todos ali presentes, nada que já não soubesse. O teatro não estava totalmente cheio, mas o público se animou com a fala do anfitrião gerando um ótimo clima para o próximo tema.

Assim que terminou sua fala, o professor Costa veio na minha direção e me conduz ao lado do palco, indicando onde deveria me sentar; aproveitou para me avisa que em breve eu seria chamado a falar para todos os presentes, algo que não demorou muito para se concretiza.

No início acabo revelando o meu nível de ansiedade assim que meu nome é anunciado pela mesa. Vou até o palco, fazendo um longo caminho por trás de algumas cadeiras ainda vazias, subo os três degraus da pequena escada que leva até o palco, sigo em direção à mesa cumprimentando todos membros presentes.

Me dirijo ao centro do palco, pego o microfone e então paro. Faço todo o percurso de cabeça erguida até meu destino. Respiro fundo e olho em direção aos presentes até onde minha vista pode ir. Respiro fundo mais uma vez e segurando forte o microfone me dirigindo a todos de maneira cordial sorridente. Comprimento os presente e começo meu discurso totalmente informal, é claro.

— Bom dia aos colegas presentes! Bom dia amigos. Gostaria de dizer o quanto me sinto honrado em estar aqui hoje. No dia que o professor Cláudio Costa, por quem tenho muito respeito e admiração, cogitou pela primeira vez a possibilidade de estar aqui, assim como estou agora, em pé diante de todos vocês. E... Bom, aqui estou eu. — Respiro fundo — Enquanto acertávamos tudo, ele me contou que queria fechar o ano com chave de ouro. E aí, fiquei animado. Que tal participar em grande estilo. Senti-me muito importante diante do convite. Então pensei em que poderia contribuir com essa turma maravilhosa de formandos, que são você.

Bem, isso me encabulou um pouco. Mas ele fez questão que viesse e participasse ativamente com vocês. Enfim aceitei, mas com uma condição. Que meu discurso fosse do meu jeito e direto para vocês. Isso o deixou curioso a época do convite embora acredito que esteja bem claro agora. — Deu uma leve olhada para o professor e continuei. —Bem, quando conversamos pela última vez sobre esse dia, discutimos muito sobre diversos assuntos, de certo com um maior destaque para a questão do mercado tradicional e primordialmente sobre a informalidade no país.

A ideia foi registrar a flutuação da mão de obra no Brasil nos últimos anos e as evoluções tecnológicas nesse período em contrapartida ao advento da informalidade do trabalho no país. Gosto das nossas conversas. — Olho novamente para meu amigo e professor, agora com um largo sorriso. — Nossa! Quando caiu a ficha, ao contrário de outras vezes que discordei de suas ideias e, eu discordei, admito que o fiz algumas vezes, tomei ciência da importância de estar aqui hoje com vocês. Acreditem! Admito que tenha pensado em ousar, lançando mão de minha experiência com o emprego informal adquirida ao longo dos anos, antes e durante o curso de administração.

Pra quem não sabe comecei a laborar muito cedo. Algo que fez e faz parte da minha vida agora, é claro. Com certeza importante. Mas o professor pediu que fosse verdadeiro, real. Então eu serei. Por isso resolvi contar-lhe essa história. Minha história. Me chamo Charles Falcão. Me formei por esta instituição há um ano atrás e neste dia tão especial para vocês peço alguns minutos de sua atenção.

O mercado de trabalho formal ou informal requer profissionais com conhecimentos e por isso irão te cobrar determinação, postura, perseverança, disciplina, etc. Foco. Agora esqueçam tudo isso e guardem essas palavras. Vamos, escrevam! As três coisas mais importante: O amor, a responsabilidade e algo pelo que lutar! Somente essas três coisas. Anotaram? Bom, o ano era 1988...

A Feira

Ano de 1988

Naquele dia tudo parecia tranquilo e sem problemas aparente até aquela menina me avisar que o tempo estava mudando. O céu estava cheio de nuvens escuras. Logo cairia muita água. Até aquele momento, converso que ainda não havia me dado conta do tamanho da encrenca que estaria me metendo. Talvez até soubesse ou até tivesse alguma certeza, mas toda aquela ansiedade tomava de mim a razão aumentando a adrenalina agitando tanto meu corpo como meus pensamentos.

Para um jovem com minha idade, que acabara de completar seus 14 anos de vida, tudo era uma nova aventura. Cheio de vida e energia para gastar tudo podia ser possível. Era o meu primeiro dia na grande feira livre de Goianinha, uma bela cidade localizada na microrregião do litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte. Uma feira livre que tradicionalmente acontecia todos os domingos a pelo menos uns 100 anos e ao longo do tempo se tornou uma das maiores da região.

Ela tinha uma característica marcante pela variedade de coisas que se podia encontrar por lá. Além de ser tradicional no sul daquele estado; começava muito cedo e praticamente terminava antes do entardecer.

Como em todas as feiras livres, era grande a movimentação de pessoas e dos banqueiros, _ Esperem, não os "banqueiros" de grandes Bancos, Instituições Financeiras, mas aqueles responsáveis por carregarem bancos de madeira feitos por ripas pregadas umas às outras, muito utilizados neste tipo de comércio.

Os preparativos começavam sempre um dia antes, colocando os bancos já arrumados em suas posições de sempre para o dia seguinte.

Entre um banco e outro que colocavam no lugar, falavam sobre a próxima festa da cidade e quem viria se apresentar para eles. "Quem sabe não vem esse ano a banda Saia Rodada" disse um enquanto o outro balançava a cabeça com uma alegria notável, só comparada à felicidade de uma criança recebendo doces no dia de "Cosmo e Damião!".

Faziam seu trabalho rápido porque logo os feirantes chegariam para arrumar suas mercadorias.

Era mágica na minha cabeça aquela situação toda. Tinham que arrumar logo suas bancas porque os clientes começavam a chegar muito cedo, poucas horas depois, e por volta do meio dia a feira praticamente já teria se encerrado, restando apenas alguns comerciantes finalizando o dia.

Eu havia chego à noite anterior, no sábado, que estava bem quente embora ainda estivesse no inverno daquele ano.

Enquanto descarregava os sacos de pipocas que usei para ensacar no dia anterior, ouvi uma voz doce que me embriagava o pensamento, dizendo o quanto estava cansada daquela correria, de toda agitação que dominava aqueles momentos que antecedem a feira de Goianinha.

Não me contive e virei para o lado observando aquela figura que me parecia um tanto quanto pitoresca: Uma jovem que bem chamava a atenção de todos que por lá passasse, fosse homem ou fosse mulher, tamanha era a beleza daquela menina e a tintura azul de seus cabelos.

Vestia uma camiseta cor branca já um pouco amarelada, talvez pelo tempo de uso, e um shortinho Jeans azul escuro.

Tinha por volta de um metro e cinquenta de altura aproximadamente, corpo de menina com curvas bem acentuada, cabelos na altura dos ombros e com uma pele fina como seda.

Era como eu a via naquele momento. Fiquei ali por alguns instantes como uma estátua, até que fui acordado pelos gritos de Josenildo, meu amigo e sócio naquela empreitada da feira livre: "Vamos Charles, acorda! Precisamos descarregar logo as mercadorias." Disse meu amigo balançando a cabeça e continuou" além dos sacos de pipocas há outra dezena de caixas para descer do caminhão".

— Você conhece essa garota? — Perguntei indicando a moça com a cabeça. Achei que conhecesse já que ele esteve naquela feira muitas outras vezes, o que foi confirmado com sua resposta.

— Conheço sim. Mas não é para o seu bico ¬— Respondeu balançando a cabeça em tom de reprovação.

Retruquei com um olhar, mas Josenildo não me deu atenção e então voltamos ao trabalho sem que eu a tirasse do meu campo de visão.

Aos poucos foi se afastando e sumiu entre os bancos que já estavam amontoados no final da rua.

Antes das onze daquela noite já havíamos terminado de descarregar e arrumar toda a mercadoria, e então era hora de descansar um pouco, dormir de duas a três horas para começar pra valer.

Rolei em cima daquele chão duro coberto por um saco transparente, o qual guardará depois de desensacar as pipocas e não conseguia tirar a visão daquela garota da minha cabeça. Era como se ela tivesse ali na minha frente, falando sem parar. Mas me concentrei no que era importante.

Era minha primeira vez na feira livre de Goianinha. Mal preguei os olhos e já percebi toda correria para seu início.

Meu amigo Josenildo já estava negociando nossas mercadorias e não passava das quatro da manhã.

Ninguém conseguia dormir. Virei para um lado e outro e dei uma leve piscada; fui novamente acordado pelos gritos do Josenildo, "Acorde dorminhoco, se não trabalho por você também!".

Naquele momento meu amigo já havia vendido todas nossas pipocas há um dono de bar que veio de um pequeno sítio da redondeza arrematar sacos de pipocas e salgadinhos em atacado para seu comércio.

Muitos comerciantes de outras cidades próximas aproveitavam para comprar produtos de toda variedade e revender em seus armazéns.

Em cada saco grande tinha por volta de 100 pequenos sacos de pipocas, que não passavam de 30 ou 40 gramas cada um. Eu não gostei muito da ideia de vender tudo no atacado, pois perdíamos no preço final. Se vendêssemos no varejo havia possibilidade de aumentarmos nosso lucro muito mais.

Embora tenha questionado meu amigo, qualquer negócio naquele momento me traria uma boa vantagem.

Tão logo ele fechou a venda me vi perdido naquele lugar. A uma hora de começar toda aquela movimentação habitual eu não tinha mais o que fazer.

"Não pode ser!" Gritei sem querer, mas de forma que todos puderam ouvir tamanha era a mistura de tristeza e alegria.

Nos trinta minutos seguintes percorri toda extensão da feira para conhecer melhor. Fiquei fascinado com a organização de tudo. Era uma área grande de comércio popular da região, com uma bela estrutura com bancos enfileirados em plena harmonia.

As filas de bancos, um do lado do outro, tinha início logo no começo da rua principal e acabavam na segunda rua paralela completando uma volta inteira na bela praça central; com uma ou outra banca ainda vazia esperando seus respectivos donos arrumarem suas coisas.

Estava com a cabeça repleta de ideias e um bolso cheio de trocados da venda das pipocas. Quando já cansado, parei perto de uma barraca de frutas e legumes para descansar um pouco. Uma barraca repleta de produtos.

Nesse momento Josenildo já havia se mandado no mundo, já que tinha me chamado pra conhecer uma lagoa que ficava ao redor da cidade onde meninas e meninos aproveitavam para se aliviar do calor tomando banho na água salobra da lagoa, mas recusei o convite embora muito atrativo haja vista o calor que se esperava para aquele dia. Algo que não se concretizou.

Na verdade, o que me interessava acima de tudo naquele momento era a feira da cidade que a muito esperava para conhecer.

Escorei-me na banca e fiquei observando o senhor que ainda arrumava apressado sua mercadoria, não somente legumes e verduras, mas condimentos estes que tomavam meu olfato pelo aroma que exalava. Fazia-me lembrar das tardes na casa da minha mãe, quando saboreava um gostoso prato de mungunzá polvilhado com canela em pó e o sabor diferenciado dos cravos-da-índia em uma tarde fresca no mês de junho.

Olhei para a placa de preços e vi que os condimentos tinham preços bem baixos. Fazendo-me lembrar das vezes que comprava tais mercadorias com minha mãe para tempero da comida e o quanto ela frisava a importância e a necessidade que aqueles itens tinham para uma dona de casa que preza por uma culinária decente e saborosa.

Na minha cabeça tinha duas situações: uma era a possibilidade de não participar de verdade da feira, já que nem começara e não tinha mais mercadorias para vender; a outra uma forte tendência de reinvestir meu pouco dinheiro com muitas chances de multiplicá-lo, e em fim fazer parte daquele momento que tanto esperei.

Não tive dúvidas e logo perguntei aquele senhor onde poderia adquirir mercadorias para revender, no início não me deu muita atenção porque estava ocupado terminando sua arrumação, mas enfim me respondeu sobre todas as perguntas que fazia, chegando ao momento que mal deixava o coitado respirar com todas as minhas indagações e curiosidades como o tema proposto. Minha cabeça estava cheia de novas ideias e possibilidades que nem mesmo ele fazia conta, mas era quem estava sendo assoberbado por minha ansiedade naquele momento. Por um ato de bravura e sorte daquele que me saciava fomos interrompidos por alguém que entrou no meio daquela conversa estranha onde ninguém se entendia.

Fomos interrompidos por seu sócio, conhecido por Zezinho, que foi frio e acabou me dando um balde de água fria com sua afirmação.

Segundo Zezinho, àquela hora e naquele lugar não encontraria esse tipo mercadorias para revenda em atacado, mas que no dia seguinte poderia me dirigir a outra cidade onde poderia comprar de tudo. Era uma cidade próxima onde ficava um polo industrial e onde muitos agricultores se encontram para vender suas mercadorias.

Mas minhas necessidades eram temporais e imediatas.

Essas informações não me atenderam, foi então que, olhando ao redor, identifiquei uma grande barraca repleta de grãos, pimenta do reino, cebolas, entre outros que me agradavam os olhos pelo seu colorido.

Era uma diversidade de produtos e em grandes quantidades que logo imaginei que lá poderia encontrar vendas em atacado. Não sabia eu ainda o quanto e como seria beneficiado naquela barraca, mas já me achava confiante numa saída.

"Eu percebi um certo silêncio entre os que me ouviam naquele teatro. Cheios de perguntas, porém preocupados em me ouvir continuaram sem interromper minha fala."

Olá, tudo bem? Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Deixe seus comentários. Eles são importantes. Responderei a todos. Se por acaso não acontecer me perdoe as vezes será necessário um pouco mais de tempo, obrigado. Leiam o próximo capítulo. Vai ser bom conferir. Grande abraço!

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