Eu corria mais rápido a cada vez que o meu voo era anunciado repetitivas vezes nos altos falantes do aeroporto.
- Calma, Júpiter - minha mãe gritou ofegante atrás de mim.
Eu estou viajando de volta para Juilliard e estou atrasada para o meu voo. As aulas só irão começar em setembro, mas eu tenho que ir mais cedo para arrumar todas as papeladas e onde vou morar enquanto estiver estudando por lá. Serão dois meses para me organizar e voltar para casa antes da mudança oficial.
- Tenho que ir - aviso à todos que me acompanharam até o portão de desembarque.
- Dê notícias assim que pousar - meu pai pede e eu assinto. Cumprimento todos com abraços e beijos.
- Nós vamos morrer de saudades - as meninas dizem em um abraço em trio.
- Deixem de drama, dois meses passam voando - eu digo e elas riem. As solto para finalmente me despedir do Alec. O abraço e ele me aperta com força.
- Prometa que vai ligar para mim todos os dias - ele diz em meu ouvido.
- Eu prometo - lhe asseguro, sentindo um aperto no peito.
- Eu te amo tanto, Júpiter, nunca se esqueça disso - ele me solta para poder me beijar.
- Eu também te amo muito, mas eu tenho que ir - digo, tentando me soltar dele porque meu voo foi anunciado pela última vez.
- Adeus - ele diz, soltando a minha mão para que eu segure minha bagagem.
- Eu volto logo - sorrio e aceno para todos antes de desaparecer no corredor que me dava passagem para o avião.
(...)
DOIS MESES DEPOIS
Eu finalmente estava embarcando de volta para casa. Meu peito ardia pela saudade que eu estava da minha cidade e da minha família. Nesse curto período de tempo, muitas coisas aconteceram. Eu consegui me estabelecer em um apartamento, onde o divido com uma colega de universidade. O nome dela é Maria Alice, ela é brasileira e uma pessoa maravilhosa, assim como seu namorado, o Augusto. Eles se tornaram meus amigos e guias durante todo o meu processo de adaptação. Tocando no assunto, eu consegui me adaptar mais rápido do que realmente deveria. A única coisa que me deixa nervosa, com um irritável frio na barriga, é o pensamento de ser caloura em uma universidade tão famosa.
Quando eu atravessei os portões, fui surpreendida por balões e gritos vindo dos meus amigos e de meus pais. Todos estavam usando camisas ridículas personalizadas com uma foto minha. Gargalho.
- Filha! Que saudades de você, meu pequeno raio de sol! - meu pai diz e é o primeiro a me abraçar.
- Eu não acredito! - Atena grita quando nota algo.
- Você deixou seu cabelo no tom natural? - minha mãe pergunta com os olhos marejados e arregalados.
- Ficou bom? - pergunto, pegando uma mecha.
- Ficou maravilhoso - Louisa elogia exageradamente ao meu lado.
- Eu tinha esquecido como era o seu cabelo antes de todas aquelas tintas - Felipe confessa.
Meu cabelo, antes rosa e desbotado, agora estava castanho claro novamente.
- Você está parecida com sua irmã - minha mãe diz e me abraça mais uma vez. Eu sorrio. O procuro e não o encontro entre as pessoas que foram me recepcionar, suspiro pesadamente.
- Nós tentamos de novo, mas não conseguimos nenhuma notícia - Atena conta sobre o Alec.
Uma coisa triste e confusa que aconteceu no tempo em que passei fora foi o comportamento estranho do Alec. No primeiro mês, nos falávamos diariamente por telefone ou por chamada de vídeo, mas então o tempo foi passando, as chamadas pararam de ser tão frequentes e um dia ele simplesmente parou de ligar. Eu fiquei preocupada na primeira semana e pedi para que as meninas pedissem uma explicação por mim já que podiam o ver pessoalmente, mas ele e sua família sumiram da cidade. Ele me bloqueou de todas as redes sociais e não mandou notícias desde então. Eu tinha uma pontada de esperança de o ver sorrindo quando eu chegasse aqui, mas não foi isso que aconteceu. Pelo visto, nosso amor não foi forte o bastante para aguentar a distância.
- Júpiter? - vejo Nicolas se espremer entre as meninas para me alcançar, estávamos andando em direção ao estacionamento - Você precisa ir no telhado do hospital, tem algo lá esperando por você - ele murmura e eu franzo a testa.
- Isso é alguma brincadeira maldosa sua? - pergunto irritada.
- Eu juro que só estou realizando um pedido - ele levanta as mãos como se rendesse.
- O que tem lá? - pergunto com uma sobrancelha arqueada enquanto guardo as minhas bagagens na mala do carro.
- Você tem que ir para descobrir - ele diz e se retira.
O que diabos é isso? Uma brincadeira? Seja lá o que for, despertou minha curiosidade.
- Pai? - ele me encara - eu preciso ir em um lugar antes, então vocês podem ir na frente.
- Tem certeza, minha filha? - minha mãe pergunta.
- Tenho - sorrio, a tranquilizando. Todos entram em seus respectivos carros e dizem que irão me esperar em casa. Quando fico sozinha, peço um táxi e dou-lhe o endereço do hospital.
Assim que pisei naquele lugar, meu corpo inteiro se arrepiou quase que de imediato. Eu tinha muitas lembranças. Caminhei apressadamente entre os pacientes e os enfermeiros, até achar o elevador que me levaria até o último andar. Chegando no mesmo, passo pelo quarto em que minha irmã ficou por tanto tempo e vejo que o mesmo está ocupado por outra criança. Sigo meu caminho e subo os degraus, abrindo as grandes portas de vidro. Tomo um susto quando noto que tudo está exatamente como deixei na última vez que estive aqui. Sinto um nó se formar em minha garganta ao ver as minhas fotos com o Alec. Tudo permanecia do mesmo jeito, exceto por uma pequena carta sob uma pequena pedra e sobre um X marcado no chão.
- O que é isso? - pergunto para mim mesma enquanto a tomo em mãos. Percebo que se trata de algo vindo do Alec e sinto meu corpo estremecer ao identificar sua caligrafia.
E quando eu terminei de ler sua carta, eu senti. Eu o senti em meio a um vento passou por mim e bagunçou os meus cabelos. Eu senti o nosso amor quando lembrei da última vez que o beijei. E eu senti a dor da perda quando finalmente caiu a minha ficha de que eu nunca mais o veria. Então, suas palavras no dia da minha partida fizeram total sentido.
- Eu não vou esquecer - lhe prometo em meio à lágrimas, tendo a certeza de que seu amor estaria presente em todos os dias da minha vida.
Então, eu sorrio.
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Acabou e posso dizer uma coisa? EU NÃO DIGO É NADA. Eu sei que muitos de vocês certamente estão confusos e tristes, mas acontece é que eu sempre deixei pistas ao decorrer da história e esse final foi a única certeza que eu tive quando criei a história. Então não, eu não pretendo mudá-lo. Eu irei postar a carta em um capítulo à parte para quem não conseguiu visualizar pelas fotos por algum motivo. Se vocês quiserem saber como ficou a vida da Júpiter e de todos depois disso, eu posso escrever um epílogo. NÃO SAIAM DESSE CAPÍTULO SEM COMENTAR E SEM FAVORITAR, PLEASE!