A Babá Fantástica |REVISADO|

By annagabirezende

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Dália é uma mulher de 29 anos e se considera em eterno conflito. Se mudou e ganhou sua própria independência... More

[AVISO]
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38 - PARTE 1
CAPÍTULO 38 - PARTE 2
CAPÍTULO 39
Bônus
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
EPÍLOGO
[AVISO 2]

CAPÍTULO 35

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By annagabirezende

Dália Menezes


Christopher segura em meus braços e se levanta, minhas pernas parecem gelatinas e se embolam uma na outra de uma forma que preciso me segurar em seus antebraços, as lágrimas descem feito cascata por meu rosto e se a maquiagem que usei mais cedo não for a prova d'água, devo estar parecendo um palhaço assassino.

— Gatinha... — Levanta a mão e seca algumas lágrimas inutilmente. — Calma, okay? Me conta o que aconteceu, amor.

— Christopher, precisamos ir embora! — Exclamo e respiro fundo, passando os dedos pelo rosto bruscamente, a voz de Eduardo fica ressoando em minha cabeça, dizendo que vai resolver tudo, meu coração volta a bater descompassado e então abaixo a cabeça e murmuro sofregamente. — Por favor, Christopher... Por favor! Só vamos logo!! — Pego sua mão e me viro pra ir embora, olho para a mesa e vejo nossos novos amigos. — Sinto muito, gente. Vou manter contato, prometo, mas agora, preciso ver meus filhos. — Eles acenam e puxo minha mão ainda presa na de Chris, tento andar e não consigo, olho de volta para meu marido e ele solta minha mão. — Christopher?

— Vai indo, Lia. — Murmura calmo, como ele pode estar calmo? Meu humor muda de desespero para raiva, franzo as sobrancelhas. — Vai pegando o carro que eu vou pagar nossa conta.

— Tudo bem, não demora. — Já mais calma, me viro e pego minha bolsa na cadeira, me abaixo e beijo o rosto dos quatro rapidamente. — Tchauzinho.

Começo a andar e ainda posso ouvir ele se despedir e descer a escada do outro lado, em direção ao caixa. Desço os degraus me equilibrando nos sapatos e na vertigem que está começando a me atingir, chego na calçada e peço ao homem que recebeu o nosso carro alugado e ele se retira, acredito que para buscá-lo. Demora uns minutos e a vertigem parece estar ficando mais forte, quando sinto que vou cair e estico o braço para me apoiar na parede e sinto um braço passar por minha cintura, dou um pulo assustada e olho para o lado.

— O que foi? — Christopher questiona com o semblante preocupado, as sobrancelhas franzidas.

— Estou sentindo uma tontura. — Murmuro fechando os olhos e apoiando as mãos em seus braços.

— Deve ser por conta do susto, é o nervoso. — Ele começa e aceno respirando fundo. — Me conta. O que aconteceu, Dália?

— O Eduardo me ligou. — Murmuro agoniada, sinto-me arrepiar o corpo todo, o medo volta com tudo e não consigo parar de pensar nas crianças, uma lágrima desce de cada olho.

— Tá, e o que ele disse? — Pergunta secando meu rosto mais uma vez, os dedos grandes passando com suavidade por minhas bochechas, fungo.

— Ele sabe que nos casamos e está totalmente perturbado! — Seguro firme nas mangas de sua camisa e amasso entre meus dedos, me sinto impotente. — Me chamou de babá, como a muito tempo não chamava e disse que vamos nos ver em breve... Estou com medo! Com muito medo mesmo, e se ele fizer alguma coisa com as crianças? Não estamos lá e... — Solto o ar pela boca e ergo os olhos encarando os seus escuros e que sempre me dão força, então, pela primeira vez desde que a ligação foi encerrada, eu sinto raiva. — E eu estou com tanta raiva, quero bater tanto naquele infeliz, ele não nos deixa em paz! 

— Tudo bem, vamos tentar manter a calma. — Diz tentando me tranquilizar passando a mão em meus cabelos. — Não tem como ele estar em São Paulo, o Matheus não me ligou ou me avisou de alguma decisão precipitada de Eduardo. — Christopher explica e sinto a raiva tentar se multiplicar dentro do meu amago.

— Tá, Christopher! — Exclamo já de saco cheio, isso não me importa! — Mas não estou nem ai! — Explodo, quem liga para esse tal de Matheus, ele não me é garantia de nada! — Eu já te disse, estou indo embora, se você quiser ficar, fique à vontade. Mas eu não vou ficar parada enquanto eu sei que aquele doido pode ir atrás dos meus filhos. — Exclamo fora de mim, me afastando de seu corpo recuando alguns passos. — Ele já tinha me dito que era eu e as crianças, sozinhas desde o começo, não sei o que eu fui inventar... — Começo a resmungar comigo mesma e subo meus dedos até meu cabelo, meu coração bate desesperado, minhas emoções estão fora do meu controle. Sinto as mãos de Christopher segurar meus braços e coloco mais resistência, não vou ficar se é isso que ele quer e...

— Dália! — Exclama com urgência, posso ver um pouco de tristeza em seu olhar e posso sentir o desespero em sua voz, ele puxa minhas mãos, tentando afastar meus dedos da raiz em que aperto. — Quer parar e me escutar, por favor?

— O que? — Sinto as lágrimas encherem meus olhos de novo.

— Por que está achando que vou pedir para você ficar? — Questiona ainda olhando dentro de meus olhos, pisco cansada. — Nós acabamos de nos casar, Dália, somos um casal, somos parceiros e sempre foi assim! Antes mesmo de oficializarmos, porque o que fizemos foi só oficializar! — Sua voz abaixa agora que sabe que estou ouvindo, mas os olhos continuam presos ao meu, como se quisesse provar sua verdade. — Eu estou preocupado assim como você, sei que está nervosa, sei que seu desespero é válido, sei disso! Não estou menosprezando sua dor, sua tristeza, estou querendo que você se acalme, estando nervosa desse jeito, não vai conseguir chegar nem ao hotel inteira! — Chris que sempre parece calmo, agora parece estar nervoso, bem nervoso, respiro fundo e ele solta um suspiro. — E são nossos filhos! Ouviu? Nossos! São nossas responsabilidades, eu assinei aqueles papeis no mesmo dia e horário com você! Fiz pelos três e não só porque amo você, amo os três! — Sua mão direita larga meu braço e sobe até os meus fios de cabelo, ele afaga, ajeita, passa paz e carinho com um toque, fecho os olhos me sentindo mais calma. — Vocês são a minha família, poxa, pensei que isso já estava claro.

Solto um suspiro meio sôfrego, pendo minha cabeça para o lado com os olhos fechados e estico minha mão direita até a minha nuca e massageio com as pontas dos dedos; Chris está certo, realmente me exaltei e somente o fato dele ter entendido, dá relevância no quanto ele me conhece,  sinto uma culpa por ter dito aquilo sobre as crianças, ele vem caminhando conosco por dez anos sem pedir nada em troca, foi maldade da minha parte falar que eram meus filhos e que estávamos sozinhos. Fui explosiva e não pensei direito antes de sair falando bobagem, mas quem é a mãe que pensa racionalmente sabendo que os filhos correm perigo? Não conheço nenhuma e já deixei claro que não sou esse tipo de pessoa para qualquer tipo de situação, sou explosiva sempre e assim como fui agora, vou dar o braço a torcer e me desculpar com Chris.

Abro os olhos e me endireito, ele continua parado me observando, esperando que eu falar alguma coisa.

— Certo me desculpe, Chris. Eu me exaltei, entrei em completo desespero. — Acaricio seu rosto e então vejo pelo canto do olho nosso carro se aproximando. — Desculpe ter falado aquilo sobre as crianças, você tem direitos tanto quanto eu, fui egoísta, mas quero ir embora hoje mesmo, por favor! — Exclamo sucinta, Christopher me olha com carinho e sorri. — Estou falando sério, Christopher! Vamos pedir para o piloto do jatinho vir ainda hoje, na próxima hora seria essencial! 

Christopher solta uma risadinha e me puxa para seus braços, bem quando o homem se aproxima e entrega a chave do carro, agradecemos e assim, depois de acomodados e com os cintos, Chris volta a falar.

— Tudo bem, Lia, é normal perder o controle em momentos como esses. — Segura minha mão e leva até os lábios, beijando com carinho. — Mas não sei o piloto vai atender logo cedo, dei os dias de folga para ele. Qualquer coisa a gente gasta todo o dinheiro do Eduardo para alugar um helicóptero e nos levar até o aeroporto.  

— Estou tão preocupada com eles, Christopher! — Murmuro colocando a mão no peito e esfregando, um aperto desconexo. — Estou com um aperto estranho no coração, aqui sabe? Nessa região do peito. — Ele acena depois de olhar rapidamente em minha direção e depois volta a olhar para a avenida movimentada e cheio de luzes por toda a parte. — Algo aqui dentro está me falando para ir pra casa, estou sentindo que alguma coisa vai acontecer...!

— Minha mãe sempre diz que pressentimento de mãe é sério e sempre acontece. — Ele murmura e logo parece se arrepender pois me olha alarmado, sinto meu coração se agitar. — Calma, não significa que com a gente isso vai acontecer. 

Depois de quase quinze minutos, chegamos ao hotel e nunca fiz uma mala tão rápido, não arrumei de verdade só soquei as mínimas roupas dentro das malas enquanto Christopher fechava a conta do nosso pouco tempo hospedados, maldito Eduardo que não dá um minuto de descanso! No fim demoramos cerca de uma hora para conseguir falar com o piloto e agora mais uma hora até chegarmos no aeroporto e durante todo esse tempo eu só fiquei foi mais angustiada, liguei em casa diversa vezes e ninguém atendeu, logicamente eu estava tão fora de mim que não me toquei que as crianças estavam com Jaqueline e então nunca que estariam em casa.

Porém Christopher parece ter lido minha mente conturbada e acaba de me mandar mensagem, lá da recepção, avisando que ligou para Jaqueline e ela explicou que as três crianças foram normalmente para a escola, porque lá no Brasil são por volta das dez da manhã e aqui é seis horas da manhã.

Nem amanheceu direito, não durmo já tem horas e estou pilhada com quase todas as malas já em pé em frente a porta, só esperando Christopher terminar de organizar as pendências para eu me mandar deste lugar e encontrar meus filhos, não estou nem um pouco segura mesmo que Christopher continue afirmando que o tal de Matheus não disse nada.

Desligo o telefone, pedi um helicóptero para nos levar ao aeroporto, não estou ne ligando, se o Eduardo continuar me assustando a cada dia, vou gastar cada centavo dele para resolver as coisas que me atinge, a próxima vez que ele ligar vou gritar isso bem na cara medíocre dele. Termino de puxar o zíper da mochila de Chris, porque daqui a pouco o helicóptero pousa no heliponto aqui do hotel, pois antes mesmo de conseguir um para nos levar, eu liguei na recepção e pedi carinhosamente para eles concordarem e eles aceitaram, claro! Em dez anos comandando aquela empresa, eu aprendi a negociar, era isso ou a falência iria chegar mais cedo do que uma carta de cobrança.

Coloco a mochila para o lado na cama e me deito para esperar meu marido que já demorou demais pro meu gosto, abro o aplicativo de mensagens e entro na conversa de Jaque, começo a digitar perguntando das crianças quando a porta se abre e Chris entra dando risada, me viro no colchão e o encaro.

— Que foi? Tá rindo do que? — Pergunto confusa e curiosa.

— Uma hóspede ligou lá na recepção e pediu autorização para um helicóptero aterrissar no heliponto do hotel. — Continua o relato rindo e se joga na cama, ao meu lado, a mochila cai no tapete. — Vê se pode, a recepcionista chamou o gerente que ainda teve que ligar pro dono. Então a hóspede contou uma história que foi passada para o dono, e ele 'comovido', deixou. Essa é boa em negociar, não acha?

— Sim, ela é muito boa e posso afirmar com convicção que é boa em quase tudo que faz! — Murmuro o encarando com um sorriso sacana.

Christopher continua me encarando com um sorriso e então, com uns dez segundos seu sorriso vai sumindo até ele arregalar os olhos e me encara sério, mas não tão chocado.

— Foi você, não foi?! — Apoia os cotovelos na cama e me observa com a cabeça a poucos centímetros da minha que está apoiada no travesseiro. — É você a hóspede, né?

— Lógico! Eu amei sua ideia! — Ergo a mão e acaricio seu rosto ainda sorrindo, Chris beija a palma da minha mão. — Aluguei o helicóptero e pedi para entregarem o carro que alugamos, uma maravilha né? O que o dinheiro não faz? — O celular em cima do colchão começa a vibrar, pego e vejo na barra de notificação o piloto avisando ter chegado. Sorrio e me ergo, toco meus lábios aos de meu marido e apoio as mãos em seus ombros. — O piloto Jonas, chegou. Vamos!

— Dália! Não acredito que fez isso mesmo! — Começa a rir e levanta da cama me ajudando a levantar também, caminha até a porta onde coloquei as malas e dou a volta na cama para pegar a mochila e depois a minha bolsa. Vou até Chris que segura as duas malas maiores e eu pego a terceira e menor, ele sai primeiro e saio logo em seguida fechando a porta, trancando e entregando o cartão para o funcionário que deve ter subido com Christopher. Agradeço e entro no elevador com Chris, assim que as portas se fecham, ele coloca as malas no chão e me puxa pela cintura, solto um gritinho rindo pelo inesperado. — Eu te amo! Tenho a esposa mais fantástica do mundo! — Aproxima nossos lábios e me beija rapidamente, sorrio.

— E eu o marido mais prestativo de todos os tempos! — Beijo o canto de sua boca. — Também te amo, gatinho gostoso!

— Sou gostoso mesmo, tem toda razão! — Diz rindo, bato em seu braço e reviro os olhos.

— Engraçadão! — Tiro sarro fazendo uma voz parecida com a do Pateta.

— Você também é bem gostosa, a mais gostosa e dessa vez eu que afirmo, já provei! — Suas mãos descem rápido de minha cintura e apertam minhas nádegas, arregalo os olhos o encarando de boca aberta. Sua cabeça desce até meu pescoço e aspira, me arrepio toda e segura com força em seus bíceps. — E a mais cheirosa também, a minha flor mexicana mais excêntrica! —  Dá um beijo molhado na pele do meu pescoço e fecho os olhos bem na hora que o elevador para e as portas se abrem no terraço, abro os olhos e o solto num pulo quando escuto o barulho do helicóptero.

— Seu safado! — Acuso e ele me sorri ainda mais aberto com um sorriso meio safado e canalha, respiro fundo e pego a mala, arrumando a bolsa no ombro. — Vamos logo! Vamos pra casa! — Digo arrastando a mala até o helicóptero, que bagunça ainda mais meus cabelos com o vento gerado pelas hélices.

Não muito tempo depois, o piloto gentil nos deixa no aeroporto e bem menos tempo depois de toda a burocracia pelos seguranças, caminhamos pela pista em direção ao jatinho branco e cobre que brilha sobre a luz do sol, é uma linda aeronave que eu poderia muito bem apreciar mais se não estivesse com a mente tão perturbada! Não vejo a hora de chegar em casa e poder abraçar meus filhos, apertá-los e prede-los num lugar seguro até eu achar o estupido do Eduardo e quebrar todos os dentes que deixei sobrar da última vez!

ßāßā

Toco a campainha da casa de Jaque insistentemente, respiro fundo e volto a apertar o botão com os lábios apertados um no outro, afinal de contas, um dia que eu fiquei fora e todo mundo ficou surdo!

— Amor?! Calma... — Christopher fala atrás de mim.

Nem passei em casa quando chegamos em São Paulo, as malas estão no carro, Christopher dirigiu direto pra cá e sei que assim como estou morta de cansaço, ele também está só que não perdemos um minuto se quer! Aquele sentimento de que algo vai acontecer não passa! Preciso ver meus filhos bem e na minha frente para que eu me acalme e possa respirar.

— Christopher! Ninguém atende! Vou surtar a qualquer instante, não me peça calma, por favor! — Suspiro meio acabada e sem paciência. — Esse dia parece piorar a cada minuto! E a Jaqueline não atende essa porta! Ficou todo mundo surdo! — Encosto a testa na porta, estou tão cansada de tudo isso! Realmente não aguento mais... Sinto um mal estar, uma tontura e fecho os olhos com força, fiquei zonza de repente. —  Melhor ligar para alguém... 

—  Vou ligar, respira fundo. — Ele fala já pegando o celular do bolso da calça, então sinto ele se aproximar e segurar meu braço, abaixa a cabeça para ver meu rosto, fecho os olhos de novo. — O que você tem? Está passando mal? — Nego acenando umas duas vezes com a cabeça, ele não solta me braço, me ergo abrindo os olhos.

— Estou enjoada, nada demais. — Murmuro e aponto para o seu celular, indicando que ele ligue logo.

Christopher pede o número da casa de Jaque e enquanto dito, ele vai discando e eu tocando a campainha, nem posso tentar ligar, meu celular descarregou no meio do voou. Estou quase desistindo de gastar meu dedo nessa campainha quando a porta abre uns dois minutos depois, escuto Christopher murmurar um 'Graças à Deus', consigo soltar um riso meio abafada antes de olhar para quem está do outro lado da porta e abri a boca meio surpresa.

—  Ricardo?! — Exclamo numa mistura de revolta e choque, Christopher solta um suspiro estressado atrás de mim.

— Cara, você estava todo esse tempo aí? — Christopher pergunta com um pingo de raiva, acho que ele deve estar se perguntando se tem outra entrada para dentro do apartamento para não chutar o homem na minha frente, mas o Ricardo assente com uma tranquilidade que me irrita. Christopher perde a paciência e exclama. —  E não atendeu a bosta da porta, por quê?

Antes de Ricardo responder, o sino avisando a cegada do elevador soa por todo o andar e nos viramos a tempo de ver a porta do elevador abrir e duas pessoas saírem.

— Filha! — Grito passando de Chris e me abaixando para abraçá-la. —  Está tudo bem, minha princesa?

Olho para o corredor atrás dela e para dentro do elevador ainda parado e aberto, procuro Vinicius com os olhos e não encontro, aperto Julia ainda mais. 

— Cadê seu irmão? — Pergunto a Julia e levanto a cabeça olhando para Jaqueline ao nosso lado. — Onde está o Vinicius? — Pergunto meio acusatória.

— Ué, na escola! — Jaqueline fala no mesmo tom que eu. — Olha a hora Dália! Para de ser doida!

— Nossa! Verdade! Ainda não deu a hora. — Christopher fala pegando Julia de meus braços quando me levanto.

— Então por que a Julia está aqui antes da hora? — Pergunto cansada e meio sufocada, afasto o cabelo do rosto e os penteio com os dedos para trás. 

— Eu passei mal mãe. A professora disse que eu quase cai da cadeira. — Julia explica mexendo no cabelo de Chris. — A tia Jaque foi me buscar.

— Ah sim. Mas você está mesmo melhor, Julia? — Pergunto preocupada, esse mal estar repentino de Julia me preocupa. O médico anos atrás me disse que a saúde de Julia precisa ser muito bem cuidada, para que a anemia não voltasse. Por isso ela passa em consultas trimestrais para ter certeza de que está bem e saudável.

— Não acha melhor ir no hospital, princesa? — Christopher pergunta também preocupado.

— Acabamos de vir do médico, a tia Jaque me levou. — Abana as mãos e a cabeça em negativo depois questiona do nada para nós dois. — Eu tenho apresentação essa semana lembra?

— Claro que lembro, minha bebê. — Christopher aperta o queixo dela de brincadeira, movo os olhos rapidamente pra parede para disfarçar pois eu tinha esquecido!

— Lógico que eu lembro. — Levanto e encaro Jaqueline. — Quer que eu vá buscar Vinicius e Millena?

— Não precisa, só vim trazer Julia aqui para ela descansar. Já estava voltando para a escola. — Diz encarando Ricardo, o relógio no pulso e depois me encara confusa. — Não era pra você estar em Las Vegas agora?

— Ela quis vir embora. — Christopher explica antes de mim. — O diabo ligou para nos tirar a paz! — Diz entredentes, a raiva que ele demonstra faz eu e Julia o encarar meio surpresa, é raro ver ele com raiva. 

—  Ah! Então ele voltou? — Jaque pergunta indo em direção ao elevador e eu a sigo.

— Eu não sei, mas espero fielmente que não tenha voltado. — Desabafo e falo com Christopher antes que as portas se fechem. — Amor cuida de Julia que eu já volto, vou com Jaque buscar as crianças.

—  Beleza. Toma cuidado, qualquer coisa me liga, Jaqueline. — Diz sorrindo para nós duas, balançando o aparelho e se vira para Ricardo. — Tenho que ter uma conversa com meu camarada aqui. — Dá três tapinhas pesadas nas costas de Ricardo e junto os três entram no apartamento antes que as portas do elevador se fechem. 

— Então como foi? — Jaque pergunta fazendo um biquinho e balançando as sobrancelhas sugestivamente. — Me conta tudo! Todos os detalhes, até os mais picantes! — Solto uma gargalhada.

— Larga de ser safada, Jaqueline! — Falo rindo e começo a contar tudo que aconteceu, desde acordar perdida no hotel e sem saber de nada, escolher um dos vestidos, o motorista rabugento, os vários chocolates que comi no caminho por estar nervosa. A chegada no cartório, conhecer meus padrinhos de casamento, ir ao bar para comemorar e nós conhecermos melhor, até o momento que Eduardo me ligou e eu entrei no modo doida automático.

— Não acredito, que Christopher fez tudo isso! — Começa a rir livremente enquanto dirigi pelas ruas de São Paulo. — Você arranjou um marido, tão doido quanto você, Dália!

— Nem me fale, foi muita coisa pra minha cabeça, eu sempre gostei de Chris. Ele sempre esteve ali, sabe? Presente em todos os momentos, nos bons e nos ruins, foram dez anos que a companhia dele não era a distância, como antes dos gêmeos. — Conto sorrindo e ela sorri também. — Ele sempre me ajudou, desde que sai da casa dos meus pais, me apoiava nas loucuras e ideias de quando éramos crianças. Mas aí eu me mudei, nosso relacionamento, que já era confuso e quente, ficou distante.

— Então você se envolveu com o Fernando... — Jaque pontua e faço careta, perdi um tempo enorme mal resolvida com ele.

— Aquele traste, já estava envolvido com outra mulher e dizendo que estávamos tendo alguma coisa! — Reclamo e Jaqueline da risada ao meu lado. — Cuidei dele em todos esses anos e fui tratada daquele jeito, já podia estar casada com Chris, viajando por aí com ele e as crianças, perdi muito tempo! — Olho angustiada para o trânsito, o mal-estar e o pressentimento ruim voltaram com força total, agora que estamos chegando, massageio meu pescoço tenso e suspiro, olho no relógio e vejo que os dois já saíram da escola.

— Lia, não adianta ficar se torturando desse jeito, nada vai acontecer. — Jaque percebe meu sofrimento e tenta me tranquilizar. — Olha aí, começou a andar. — Ela então começa a falar de sua relação conturbada com Ricardo, enquanto entra no bairro onde se localiza a escola das crianças, é um prédio grande de cinco andares e um espaço enorme, eles atendem uma boa parte da região e tem uma organização fenomenal.

—  Eu só acho que você devia dar uma dura no Ricar... — Paro de falar quando vejo Millena no meio da rua em frente à escola. — O que a Millena, está fazendo no meio da rua? — Questiono estranhando, eles sabem como essa rua fica movimentada nesse horário, por isso foram instruídos a ficarem na calçada, perto do portão e do segurança.

— Não sei, mas vou saber agora. — Estaciona o carro atrás de Milli e juntas descemos do carro a tempo de ouvir o grito desesperado de Millena.

— VINICIUS! — Grita desesperada e se ajoelha no chão com as mãos entre os cabelos longos e cacheados. Arregalo os olhos ao ponto que me coração acelera dentro do peito, sinto uma falta de ar repentina enquanto corremos em sua direção. Praticamente me jogo aos seus pés e seguro seus ombrinhos até Millena perceber que somos nós e gaguejar o que eu mais temia.

— Levaram ele, tia! — Chora e aperta os olhos deixando mais lágrimas descerem por seu rosto, ela se vira para Jaqueline e se joga em seus braços ainda em prantos. — Levaram o Vinicius!!!

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