A Impostora [Completo]

By Mila_Colen

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Um reino. Um príncipe. Uma escolha. Uma mentira. O reino de Costa Luna está ansioso para o noivado de seu pr... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6 (Príncipe)
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9 (Romeu)
Capítulo 10
Capítulo 11 (Príncipe)
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17 (Príncipe)
Capítulo 18
Capítulo 20
Capítulo 21 (Clarissa)
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24 (Príncipe)
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29 (Connor)
Capítulo 30
Capítulo 31 (Príncipe)
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capitúlo 35
Capítulo 36
Capítulo 37 - Penúltimo
Capítulo 38 - Fim
Bônus Especial!

Capítulo 19

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By Mila_Colen

Os olhos surpresos da rainha ainda me encaram, estão avermelhados e cheios d'água. Uma pontada de tristeza começa a crescer dentro de mim, e tento empurrá-la de volta, mas não tenho o menor controle sobre isso. Sou mesmo uma boba. Depois de tudo, e algo em mim ainda a enxerga como mãe...

Ela coloca apressadamente um pedaço de papel amassado dentro do livro que tem no colo.

- Meu nome é Chloe - corrijo. Não tenho a intenção de soar tão ríspida, mas acho que estou tentando é convencer a mim mesma a não sentir nada pela minha família biológica.

- Claro. Chloe. Sinto muito. - Ela soa decepcionada, e minha sensibilidade ataca novamente. Não precisava ter sido tão grossa.

- Tudo bem - eu a tranquilizo, tentando amenizar meu tom dessa vez. - Desculpe, não devia ter falado dessa forma. Acho que isso ainda é meio novo para mim.

Ela sorri, concordando com a cabeça.

- Sente-se - convida, batendo no espaço ao lado dela.

Eu me aproximo. Não sei mais o que estou fazendo, mas algo em mim simplesmente quer seu conforto. Sou mesmo uma boba por acreditar que ela me dará algum consolo.

Também está chorando, e minha mente parece mais preocupada do que deveria com isso.

Sento-me ao seu lado, e de repente, tudo parece seguir um curso diferente do que conheço. A visão do palácio mais ao longe me faz sentir deslocada, e algo em mim diz que a mulher ao meu lado se sente da mesma maneira.

- Costumava sentar aqui com minha mãe quando era menor... - Não sei muito bem porque digo isso, mas por algum motivo, sinto que posso confiar nela. Isso me assusta, mas inconscientemente me faz sentir segura. Simplesmente não consigo entender essa sensação.

Ela me oferece um sorriso, e até parece interessada.

- De fato é um lugar muito bonito - afirma ela, olhando para a paisagem a nossa volta.

- É sim... - concordo, juntando-me a ela. Uma lágrima solitária escorrega por sua bochecha, e mesmo sem o meu comando, meu coração se aperta. - Está chorando...

Ela sorri de forma simpática, com seu jeito todo delicado e elegante. Não aparenta ser muito velha, e sequer precisou de todas as plásticas que a rainha Victoria insistiu em fazer.

- E parece que não sou a única. - Ela aponta para meu rosto, e só então sinto as lágrimas em meus olhos. Não sei exatamente o que me deixa dessa forma, se é a lembrança da minha mãe, a visão de Dove caída com os olhos sem vida, ou mesmo a lembrança de Peter saindo do quarto com o semblante magoado. Talvez todos os três.

- É, mas isso é normal - informo enxugando as lágrimas. Ela ri. - Admito que sou uma chorona, e com a convivência vai perceber isso.

Ela me olha surpresa, um sorriso enorme se formando em seus lábios. Não entendo exatamente o porquê.

- Fico feliz em saber disso - afirma ainda rindo. - Mas deve haver algum motivo, mínimo que seja. Ninguém chora por motivo algum.

Seus olhos recaem sobre os meus, solidários, e eu simplesmente não quero mentir. Algo nela desperta uma confiança em mim que eu não quero sentir, mas também não consigo evitar.

- Acho que não sou forte o suficiente para isso - desabafo, alternando o olhar entre o chão e ela, que me olha atenta. - Você sabe. Isso. - Aponto para o nosso redor. - Ser princesa, as responsabilidades... os sacrifícios.

O dia de ontem se repete todo em minha mente em apenas alguns segundos. Sinto-me mais atordoada do que nunca, sentindo as agora tão familiares dores voltando aos poucos. O efeito do remédio está passando.

- Pois eu acho que é bem forte. – Ela se ajeita, e eu me viro para olhá, interessada, avaliando sua expressão a procura de alguma ironia, mas não encontro nenhuma. - Pode me olhar assim e pode não acreditar, mas você é. Sequer posso imaginar por tudo que passou. Era só um bebê quando seu pai te levou naquela noite horrorosa. Cresceu sob os cuidados de uma outra família, e não consigo imaginar a dor que sofreu por ter perdido sua mãe. - O fato de dizer mãe me faz sorrir. Apenas fico feliz que a veja assim. Ela nem parece reparar, apenas age naturalmente. - Está aqui fingindo ser sua irmã, uma irmã que nem conhece. Não deve ser fácil. Sophie cresceu com tudo que também deveria ser seu... E quero que saiba que ela não tem nada a ver com isso. Era toda protetora com você quando eram bebês. - Ela abre um sorriso fraco.

- Sabe, não fiz isso por Sophie.. nem por vocês - confesso. Sinto como se pedisse desculpas. Espero um olhar de reprovação, mas ela permanece impassível. - Queria poder dizer que sim, que fiz isso por vocês também, mas acho que não sou tão boa pessoa assim... Fiz isso pelo meu pai, pela minha amiga, e pela... por uma velha amiga.

Seus olhos capturam os meus, e ela percebe que há algo de errado. A rainha faz menção de dizer algo, mas então se cala. Talvez pense que não tem intimidade o suficiente para se meter. Talvez tenha razão.

- Sabe, Chloe... – Ela abre um sorriso, mostrando que está dizendo meu nome certo. - Forte não é ser imune a dor. Se tem uma coisa que aprendi em todos esses anos, é que não tem como fugir dela. Somos seres humanos, e a dor faz parte disso. De sentir. Mas você pode decidir seguir adiante mesmo a sentindo, e isso sim é ser forte. Não ser imune a dor, mas seguir em frente apesar de sentí-la.

Ela segura minhas mãos. Posso ver que lágrimas começam a se formar novamente em seus olhos.

Queria poder não me sentir assim perto dela, queria não me entregar tão facilmente, mas meu emocional se rende a atenção que sempre sonhei em ter dela. Sei que de modo algum esse sentimento se compara ao que sinto pela minha mãe, mas é bom mesmo assim, e faz cessar um aperto que sempre tive por não ter me procurado quando era menor.

- Esse é um peso que carrega, minha querida. Sophie também é assim, intensa. Acho que isso puxaram de mim. - Ela me olha orgulhosa e ao mesmo tempo triste. Mencionar o nome da filha a faz encolher os ombros, e seus olhos se escurecem assustadoramente. Sua filha está desaparecida, e com tudo que está acontecendo, eu me esqueci completamente de que ela tem total ciência disso. Ela não pode nem agir como se sentisse sua falta, porque ninguém mais pode saber. Por isso está escondida aqui... - Você pensa demais e sente muito profundamente. Isso é uma combinação perigosa.

Tenho dúvidas se está mesmo se referindo a mim ou a si própria. Pode ser que tenho mesmo puxado isso dela.

A rainha Annie respira fundo, recostando a cabeça no tronco da árvore atrás de si. Parece exausta, e nem consigo imaginar pelo que está passando no momento. Tenho milhares de perguntas, mas uma simplesmente toma conta da minha mente de modo avassalador. Quero saber por que foi logo se casar com o homem responsável por me tirar do castelo e pela morte do próprio marido. Meu pai já me explicou que era uma questão de apaziguar as rebeliões, mas eu nunca poderia imaginar viver ao lado de um homem como esse.

- Se casou de novo - eu a lembro, e ela sente minha confusão no tom de voz. Percebo pelo modo como me olha magoada, como se culpasse a si mesma, ou tentasse se desculpar. - Como consegue conviver com aquele homem depois de tudo... depois de tudo que ele fez?

Ela suspira, olhando para o horizonte como se lembrasse do passado.

- Tem razão, não consigo. - Ela se vira para mim, mas seus olhos não parecem mesmo me enxergar. - Não temos filhos por um motivo, Chloe. Ele tem uma amante e não me importo nem um pouco com isso. Nossa relação é estritamente contratual. Quando Henri morreu, me tornei um alvo fácil. Seu pai... - Ela para de falar, suspira de modo decepcionado. - Desculpe, sei que não o vê assim, mas ele amava muito vocês. Precisava ver. Aquele rei, um homem grande e respeitado como ele, chefe de um dos maiores exércitos do mundo, todo bobo e se babando inteiro por aquelas duas criaturinhas pequenas e frágeis.

Ela sorri com a lembrança, as lágrimas livres pelo rosto. Devolvo o sorriso, quase como um instinto, mais para alegrá-la do que pela afirmação em si. Era muito nova para me lembrar dele.

- Acredito em você - garanto a ela, que sorri de forma genuína. Percebo o quanto isso é importante para ela, e vejo em seu olhar a mesma dor que encontro no do meu pai quando fala da mamãe. - Parece um bom homem, queria ter tido a chance de conhecê-lo.

Sou sincera sobre isso. Minha mente começa a vagar nos diversos caminhos distintos que minha história poderia ter seguido. Não sei qual delas é melhor ou pior, mas com certeza a história perfeita seria a que a morte de muitos tivesse sido poupada.

A rainha Annie abre o livro que tem no colo e me estende o papel amassado que a vi lendo mais cedo.

- Li todas as cartas que sua mãe me mandou - ela me conta quando pego o papel com aparência velha e usada. - Tive que me livrar de todas, obviamente. Ninguém podia saber. - Posso ver a caligrafia delicada da minha mãe, e sinto dor no coração, tudo em mim voltando para o tempo em que ainda estava viva. A rainha aponta para a carta em minha mão. - Nunca consegui me livrar dessa. É minha preferida.

- Essa é... - tento perguntar, mas ela continua.

- Sua mãe foi um anjo que mandaram para mim, Chloe. Não foi sorte, foi o destino que fez com que tenha sido justamente seu pai a me salvar naquela noite.

- Talvez.

Ela aponta para o castelo.

- Ser uma mulher sozinha nesse mundo não é fácil. Estamos no século XXI sim, mas as pessoas ainda têm as mentes presas em valores e tradições antigas. - Nisso eu tenho que concordar. - Seu pai me protegia. Ele era diferente dos outros homens da realeza. - Ela tenta manter a voz audível, mas os soluços do choro a atrapalham vez ou outra. - Ele me tratava com respeito, como uma igual. Acho que sabe o quero dizer, já conheceu o resto da corte, e vejo como o príncipe Peter cuida de você. Ele não a vê como uma inferior, tem admiração nos olhos dele quando olha para você.

Novamente meu corpo quer sorrir, mas a ficha cai rápido, e tudo o que sinto é o peso das minhas palavras contra o príncipe.

- Sim, acho que sei o que quer dizer.

- Desculpe - ela pede diante da minha expressão magoada. - Não queria tocar em um assunto delicado justo agora que estamos finalmente conversando. Quem sabe quando Sophie voltar, vocês não podem... - Ajeito-me desconfortável na grama, ela tem certeza que a filha vai voltar. Olho para mulher esperançosa a minha frente, mas acho que meu olhar de pena a magoa ainda mais. - Minha filha vai voltar, Chloe. Sou a mãe dela, sei que vai.

Apenas aceno com a cabeça, de nada vai ajudar contrariá-la. Penso se ela realmente acredita nisso ou se é apenas algum tipo de negação de mãe. Não houveram pedidos de resgate, muito menos notícias dela no último mês. Meu pai e seus homens não acharam uma pista sequer do paradeiro da princesa.

Não vou dizer isso a ela, mas as chances de Sophie voltar são mínimas. E mesmo que isso aconteça, ou melhor, não aconteça, a verdade vai ser revelada, e todos vão conhecer a mim como a grande mentirosa que enganou todo o mundo, literalmente. Meu destino já está traçado, e para todas as possibilidades, eu serei dispensada quando deixar de ser útil para eles.

A rainha Annie tem razão, ser uma mulher nesse mundo da realeza não é nada fácil.

Uma senhora mais velha, vestida de servente, aparece ao longe pelas portas traseiras do castelo. Ela acena para a rainha, que gesticula dizendo que já vai.

- Fique com a carta. - Ela aponta para o pedaço de papel que seguro com toda a força nas mãos. - Te contei tudo isso para dizer que depois que seu pai faleceu, me senti sozinha. Ele era meu único amigo e me protegia. As cartas de sua mãe, por mais incrível que possa parecer, me trouxeram conforto. Ela se tornou uma amiga distante, e mesmo que eu não pudesse responder às cartas, algo me diz que ela sabia que eu as recebia. E ela não julgava, não acusava. Sua mãe me ajudou muito, Chloe, mesmo não sabendo.

- Ela ficaria feliz em saber disso. – Olho para a carta em minha mão. Minha mãe era assim, altruísta e sempre por aí a procura de atos generosos para realizar. Eu a amava. Ainda amo e sempre vou amar. Esse é o tipo de amor que não muda, não fica menor e nem a distância pode abalar.

Ela se levanta, dando tapinhas na parte de trás do vestido para retirar a terra e a grama.

- Recebi essa carta algumas semanas depois do meu casamento.

Ela me oferece um sorriso fraco e então vira de costas e caminha até a senhora de avental.

Meus olhos se voltam para a carta em minhas mãos. Tudo o que mais quero é abrí-la, mas meu corpo mais uma vez decide não obedecer, e minhas mãos sequer se mexem.

Tenho medo, de nada em específico e de tudo ao mesmo tempo. Não quero sentir mais a sua falta do que já sinto, não quero sofrer mais do que já estou sofrendo, e simplesmente não sou forte o suficiente para enfrentar o passado dessa forma. A rainha Annie está errada no final das contas. Não sou forte, não posso fazer isso.

Dobro a carta e a aperto forte dentro da mão. Quando estou de volta no quarto, meus olhos vão direto para a moldura em cima da mesa. A expressão sorridente da minha mãe ilumina toda a fotografia. Ao seu lado, eu e meu pai contagiados pelo mesmo sorriso. Minha pele clara contrasta com a bronzeada de ambos, e meus cabelos ruivos ainda não tingidos destacam em meio ao emaranhado de castanhos, mas diante daqueles sorrisos, ninguém pode dizer que não somos uma família.

Abro a moldura e posiciono a carta logo atrás da foto. Não estou preparada para ler e talvez nunca esteja, mas pelo menos ela estará sempre por perto, ao meu lado todas as noites.

Antônia entra no quarto alguns minutos depois. Não passa muito da hora do almoço, mas me parece que vivi uma semana só nas últimas horas.

- Onde está Romeu? - Ela olha em volta preocupada. Encolho os ombros. - Aquele ser irresponsável! Já devia estar aqui, ele e os ratos de laboratório dele. - Ela para de repente, analisando o que disse, e depois me encara, apontando o dedo em minha direção. - Se disser a ele que disse isso, você morre.

Levo minha mão à boca e finjo fechar um zíper.

- Não sei de nada.

- Ótimo.

A porta faz um estrondo de repente, e Romeu entra a largos passos com os braços cheios de tecidos, seguido de uma dúzia de estagiários.

- O que você não sabe? - ele me pergunta, depositado retalhos em cima da mesa.

- Que Antônia chamou os estagiários de ratos de laboratório - respondo quase que automaticamente.

A assistente real me lança um olhar chocado, e faço careta, erguendo as mãos em pedido de desculpas.

- Ouviram isso, ratos? - Romeu provoca. - A rabugenta de escritório chamou vocês de ratos de laboratório. Sinceramente, isso é um absurdo. - Ele se volta para Antônia. - Como ainda te deixam trabalhar aqui dentro?

Ela bufa, e então olha para mim, tentando ignorá-lo.

- Achei que não sabia de nada! - ela me acusa.

Encolho os ombros novamente.

- Ele me pressionou - defendo-me com uma expressão culpada no rosto.

- Ele te adestrou, isso sim.

- Não vai me defender? - exijo a Romeu, sem saber o que fazer.

- Eu não, adestrei mesmo. - Ele dá de ombros. - Agora senta e dá a patinha como uma boa menina, vai.

Mostro a língua a ele, que retribui o gesto, fazendo Antônia revirar os olhos diante da cena.

- Não - finjo firmeza.

- Ah, agora você decide ser rebelde? - Antônia reclama. - É meio tarde para se rebelar, não acha?

- Rata, vai brincar no tinder e fica quieta - Romeu a corta. Quando celular dela vibra, a assistente fuzila Romeu com os olhos, que observa a cena com um sorriso divertido no rosto, esperando sua ação. - E Chloe, senta e dá a patinha que preciso que façam suas unhas.

Ele gesticula para as mulheres da manicure, que se aproximam. Uma delas ergue a mão para que eu entregue a minha, e relutante, eu obedeço. Antônia faz um barulho irritado com a garganta, e volta a atenção para o celular. Romeu dá um sorriso satisfeito.

- Viram o que eu disse, ratos? Tudo uma questão de adestramento.

Ele começa a rir diante dos olhares que Antônia e eu lhe lançamos.

- Chega de enrolação, Romeu - a assistente o repreende. - Vamos lá pessoal. Previsão do tempo: Ele está passando.

Ela bate palmas agitada enquanto todos começam a se posicionar em seus lugares.

Romeu trança uma mecha do meu cabelo para servir de tiara, enquanto a manicure pinta minhas unhas com um rosa claro. Antônia permanece no telefone, organizando todos os detalhes do evento que nem me importei em perguntar sobre.

- Alguém pode me trazer algum remédio para a dor? - pergunto em voz alta. Os dois me olham preocupados, e faço gesto de que não é nada demais. - Só um pouco de dor de cabeça.

Antônia encosta as costas da mão em minha testa.

- Chloe, você está quente - avisa, nem percebendo que me chamou pelo verdadeiro nome.

- Anda passando muito mal ultimamente - Romeu constata, e ela concorda com a cabeça.

- Agora resolvem concordar em alguma coisa? - Jogo as mãos para o alto. - É só uma dor de cabeça. Estou bem.

- Está pálida.

- Mais pálida, ela quer dizer. - Romeu ri da própria piada, e a assistente lhe lança um olhar irritado. - Desculpe. Assunto sério. - Ele volta a fechar a cara.

- Estou bem, só um pouco enjoada. Não tomei café da manhã.

Os dois se entreolham desconfiados, e eu apenas reviro os olhos. Um estagiário chega com o remédio, e eu o tomo. Depois disso, Romeu e Antônia se tranquilizam e voltam a se distrair com as tarefas.

- O que vai ter hoje, afinal? - pergunto já quase pronta, quando eles começam a recolher as coisas.

- Mas é uma distraída mesmo - Antônia reclama, ajeitando a trança no topo da minha cabeça. – É dia da celebração da chegada da primavera.

Claro, como pude me esquecer? Desde sempre a chegada da primavera é um dos eventos anuais mais importantes de Costa Luna. O país inteiro se anima. Sempre foi o meu feriado favorito. As casas sempre enfeitadas de flores das mais variadas espécies, os desfiles nas ruas carregados de tinta e cores vivas, e a alegria de todos comemorando o que representa o fim do inverno e dos tempos difíceis.

Costa Luna nunca passa realmente por um inverno rigoroso. É um país bastante ensolarado na maior parte do ano, mas por algum motivo, esse evento é um dos mais alegres e característicos do país.

As cores dominam as ruas, e os sorrisos dominam os rostos. Pessoas dançando para todos os lados, festejando as conquistas alcançadas ou então a fé em mudanças para melhor. A alegria toma conta do reino e é sempre algo lindo de se ver.

- Não se preocupe - Antônia continua a me instruir. - O príncipe vai estar o tempo todo do seu lado. É importante mostrar a união de vocês em um momento feliz como esse.

- Claro. - Tento forçar um sorriso, mas ela não parece convencida.

- Vão dar uma entrevista ao vivo em rede nacional logo após a largada da Maratona de Primavera.

Antônia percebe meu desconforto mais uma vez, mas não diz nada. Tem seu modo 'assistente' ligado, e quando isso acontece, nada a desvia de suas obrigações. Ela volta a colocar o telefone no ouvido, e penso se não seria mais fácil comprar aqueles fones que já ficam na orelha.

Pensar em passar o dia todo com Peter me dá calafrios. Tenho medo de estar bravo comigo, mas sequer posso culpá-lo. Já devo confundí-lo por natureza, agora então deve achar que tenho algum problema. Se estiver magoado então será como uma tortura para mim.

Ele é meu melhor amigo. Não é o mesmo tipo de amizade que tenho com Mônica, e não sei bem explicar as diferenças e as semelhanças. Sei que é diferente, que me envolve de forma diferente e que me faz sentir de maneira diferente. Ele é meu amigo, e estou apaixonada por ele, mas no momento não tenho nenhum dos dois, e meu coração se aperta novamente.

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