Capítulo 2

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Mesmo depois da conversa com o príncipe, chego adiantada. Isso, por mais estranho que pareça, é ruim. Eu tenho tempo demais para pensar em Peter e em como ele parece tão diferente do garoto garanhão e inalcançável que toda a mídia faz questão de espalhar.

É claro que eu vejo todas as garotas que o acompanham pelo castelo, não sou cega e nem desiludida sobre esse assunto. Peter, no entanto, não é o garoto mimado que sempre achei que fosse, é sensível e não tem tudo o que quer na palma da mão, o que o torna mais humano. Gosto disso.

Entro no prédio sem olhar muito para os lados. O porteiro me deixa passar, como de costume. Deve me achar uma antipática, nunca me viro para cumprimentá-lo. Não posso arriscar que me reconheça. A aula de dança é uma das poucas coisas que posso fazer fora do castelo, e me faz tão bem... Não quero nunca perder isso.

Pego o elevador, e um grupo de garotas vestidas de collant e tutu adentram rindo e conversando entre si. Elas me ignoram, como todos a minha volta. Não chamo atenção. Olho sempre para baixo, meus cabelos de cores chamativas estão tingidos de um castanho desbotado e o boné na cabeça disfarça meu rosto. Não me importo, nunca fui de querer ser o centro das atenções.

O elevador para em meu andar. As garotas se olham confusas e demoram um tempo para perceber que há alguém dentro dele além delas. Puxo o boné mais para baixo e seguro firme minha bolsa quando passo por elas, encarando o chão.

Sigo para a sala no fim do corredor, onde as luzes ainda estão apagadas e não há mais ninguém. A professora ainda não chegou. Largo meus pertences em um canto na frente do espelho e retiro o boné, guardando-o na bolsa, juntamente com meus sapatos.

Começo a me aquecer quando as luzes se acendem, e Dove entra com um sorriso no rosto

- Desculpe - ela pede, meio sem fôlego. - O metrô estava lotado. Como chegou aqui tão cedo?

Dou de ombros e desvio o olhar novamente para o espelho.

- Tive sorte, eu acho.

Ela apenas concorda, sem dar muita importância. Caminha até o som, onde deposita suas coisas no chão e calça as sapatilhas. É bonita e elegante. Nunca cheguei a perguntar, mas não deve passar muito de quarenta. Não que pareça, está em ótima forma.

Começamos pelo básico, aquecimento. Não temos muitas variedades de estilos para dançar. Grande parte necessita de um parceiro, e não temos esse luxo. Ela se esforça ao máximo. É uma ótima dançarina e uma ótima professora. Gosto muito dela. Lembro-me de vê-la conversando com minha mãe quando era pequena, e saber que eram amigas me faz sentir ainda mais próxima da minha mãe.

– Está melhor na questão da respiração. Andou praticando? – ela pergunta quando nos sentamos no chão para calçar os tênis.

– Bastante. O palácio pode ser meio entediante de vez em quando.

– Eu imagino – ela diz rindo.

Juntamos nossas coisas e saímos, ela tranca a sala atrás de nós. Decidimos caminhar até a Starbucks, uma cafeteria de sede americana que fica a alguns quarteirões do prédio.

– E então... – pergunto enquanto caminhamos. – Como estão as coisas com aquele cara do restaurante? Ele é chef, não é?

– Sim – confirma, com um sorriso no rosto. O brilho nos olhos já me diz tudo, mas deixo que continue. – Chloe, acho que dessa vez finalmente ele pode ser o cara.

Devolvo seu sorriso animando. Ela merece.

Dove é uma mulher batalhadora. Nasceu de uma família humilde do interior, e mesmo com todos os preconceitos, veio para a capital tentar seguir seus sonhos, posteriormente se tornando uma professora de dança de nome no mercado. Não é rica, mas é reconhecida na indústria de dança de Costa Luna, o que já é mais do que o suficiente para fazê-la feliz.

A Impostora [Completo]Where stories live. Discover now