Strange Destiny (Larry Stylin...

By larrypsyche

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Louis Tomlinson não poderia ter pedido nada mais simples a fonte de desejos. "Uma vida melhor." Ele sussur... More

Prólogo
1. Porta-retrato
2. Fraldas sujas & Dores de cabeça
3. Inúmeras constatações
4. "Outro" Louis
5. Espanta Monstros
6. Pensamentos confusos
7. Importar-se
8. Ritmo e marshmallow quente
9. Tensão Sexual
10. Feridas antigas
11. Pequeno Príncipe
12. Resfriados e beijos molhados
13. Pagando o preço
14. Malditas covinhas
15. Dedos entrelaçados
16. Encontro
17. Pé direito
18. Em todos os cômodos
19. Querer ficar
20. A fonte
21. Plano A
22. Fantasmas do passado
23. Segundas chances
24. Marido de outra realidade
25. Sir. Louis
26. Três segundos de coragem
27. Quebrando regras
28. Universo ao lado
29. Vamos jogar
31. Tela de Bloqueio
32. Seu cheiro
33. Chá da tarde
34. A Fera
35. Mal estar
36. Stitch
37. Presente de aniversário
38. Poça d'água
39. Mordida na canela
40. Plano B
41. Anjo Ranzinza
42. Outra realidade
43. Sempre seu
44. Por Jamie e Lily
45. Tesouro Ranzinza
46. Essa realidade
Epílogo
Agradecimentos
(Capítulo Extra) O Primeiro Halloween

30. Angústia

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By larrypsyche

"The most distance between two people is the misunderstanding."

**

A primeira coisa que senti naquela mesma manhã foi algo extremamente melado e nojento tocando a pele do meu rosto. Em um primeiro momento, acreditei que fosse apenas um pesadelo, porém, mesmo eu tentando de todos os modos me afastar, nada parecia funcionar.

Logo em seguida, portanto, meus olhos começaram a se abrir aos poucos e o peso do cansaço parecia querer fechar minhas pálpebras. A luz forte do sol naquele dia adentrava o ambiente sem pestanejar, não dando chance para que eu pudesse colocar o braço sobre meus olhos na tentativa de protegê-los.

Uma pontada dolorida atingiu minhas têmporas e gemi, sentindo um gosto amargo no estômago. Senti ânsia somente em mexer alguns músculos de meu quadril. Meu corpo todo doía e eu pensei naquele momento seriamente se a morte não seria algo mais fácil.

Eu estava com ressaca.

Uma bela de uma maldita ressaca.

Sirene estava com a língua de fora a centímetros de meu rosto. Mal humorado, fiz um gesto com a mão para que ela se afastasse, mas é claro que aquela nojenta não me obedecera.

Levantei um pouco mais de onde eu estava e abri ainda mais os olhos, lutando contra a luz forte que me cegava.

Foi então que comecei a lembrar do que tinha acontecido à noite e, com o susto, virei para o lado e encontrei o corpo de Harry deitado ali. Nós estávamos muito bem acomodados no chão da sala de estar, sob um cobertor, enrolados em mais três cobertas e completamente nus.

Apesar das pontadas insistentes em minha têmpora,meu coração bateu em disparada e minha boca se escancarou no mesmo instante. Logo em seguida, tentei organizar os acontecimentos de algumas horas atrás em minha cabeça.

Estava tudo muito, muito, confuso, porém eu sabia que eu não conseguiria esquecer nada do que tinha acontecido.

Eu, Niall, Harry, Zayn e Liam fomos a um pub.

Eu estava levemente bêbado e acabei bebendo um pouco mais na festa.

Eu fui dançar.

Tocou Time of my Life e Harry dançou comigo.

Nós dois saímos juntos do clube noturno e voltamos para o apartamento.

Nós dois bebemos tequila.

Nós dois jogamos.

Nós dois nos beijamos?

Por Deus! Sim, nos beijamos.

Nós dois transamos!

Meu rosto corou e, mesmo com a sensação de que iria morrer de enjoo dentro de poucos minutos, um sorriso se abriu em meu rosto.

Passei a fitar Harry deitado de bruços ali ao meu lado, a respiração suave saindo por sua boca levemente entreaberta e suas costas descobertas e marcadas por minhas unhas curtas. Senti uma leve fisgada em meu baixo ventre ao lembrar de nossos beijos e do modo com as mãos de meu marido exploraram meu corpo com desejo, porém a constatação de que eu tinha de trabalhar naquele dia me atingiu como um baque.

Com o coração em disparada dentro do peito, visto que fui tomado pelo medo de perder meu emprego e ter de ficar ainda afastado de meus filhos, olhei desesperado para todos os lados à procura de um relógio. Encontrei um de pulso que Harry sempre usava em cima da mesa de centro e conferi o horário.

6h45 da manhã.

Puta merda!

Puta merda!

Eu tinha de estar sete horas em ponto no orfanato. Sete horas!

Não vai dar tempo, não vai dar tempo, não vai dar tempo.

Apesar de meu desespero, congelei sem saber o que fazer.

Eu não queria acordar Harry.

Sentia medo de acordar Harry.

Afinal... E se ele reagisse mal? Não lembrasse do que tinha acontecido? Dissesse que tudo aquilo que tinha acontecido entre nós tinha sido um erro?

E se ele se fechasse de novo?

E se ele fizesse com que eu esquecesse como ele realmente era? Se ele demonstrasse apenas aquela fachada séria e calada?

Eu não queria que isso acontecesse. Definitivamente não queria.

No entanto, eu tive de tomar uma decisão.

Tive de arriscar tudo, pois, querendo ou não, uma hora Harry teria de acordar e encarar o que tinha acontecido enquanto estávamos bêbados. 

Além disso, eu não desejava deixá-lo ali e simplesmente ir trabalhar. Não seria justo, afinal, e eu estaria sendo um tremendo de um idiota com Harry.

Ele poderia levar uma chamada de atenção de seu chefe!

E o que Harry iria pensar se eu fosse embora daquele modo simplesmente por medo de sua reação?

Ele provavelmente acharia que eu é quem estava arrependido, sendo que eu nunca iria me arrepender daquilo. Nunca!

Foi então que, com cuidado e quase vomitando minha própria bile, pois, sim, eu ainda estava me sentindo péssimo pela ressaca, cutuquei o ombro de Harry, que nem se mexeu.

Pensei em desistir naquele momento, porém respirei fundo e cutuquei sua pele um pouco mais forte.

─ Harry... Harry. ─ Ele resmungou meio irritado. ─ Harry, acorda. Acorda, Harry!

Meu marido soltou uma série de resmungos antes de mexer seu corpo embaixo das cobertas e começar a despertar. Eu senti uma expectativa crescer dentro de mim, porém aquela sensação era meio angustiante e fazia meu estômago revirar dentro de minha barriga.

O medo de quando ele abrisse os olhos e constatasse o que tínhamos feito tomou conta de mim e passei a ficar constrangido, não sabendo ao certo como lidaria com aquela situação.  

O que eu faria se fosse rejeitado?

O que eu deveria fazer?

Os olhos de Harry começaram a abrir aos poucos e minhas bochechas coraram. Ele gemeu de dor de cabeça e fechou os olhos com uma das mãos, parecendo não conseguir processar nada e somente desejar uma morte rápida.

E eu sabia muito bem qual era o sentimento.

Mas, apesar de me sentir mal por ele, eu não podia esperar para que Harry despertasse calmamente e levando o tempo que fosse. Os minutos passavam no relógio e faltava muito pouco para o início de nosso expediente. Se não fosse graças a Sirene, aquela ridícula que eu amo tanto, talvez nós nos encrencaríamos seriamente com nossos chefes.  

Talvez nem desse tempo de chegar a nosso expediente naquele dia. Provavelmente teríamos ficado o dia todo dormindo muito bem aconchegados nos braços um do outro.

Não que eu não quisesse, mas eu era um mero cidadão da classe trabalhadora e dinheiro nenhum cai do céu. 

─ Harry, por favor, acorde! ─ Cutuquei sua pele tão macia novamente. ─ Temos que ir trabalhar. Estamos atrasados!

No momento em que exclamei aquilo, Harry levantou rápido pelo susto. Deixou escapar um resmungo pela dor que sentiu na cabeça e colocou a mão em uma das têmporas na tentativa de diminuir o incômodo.

Enquanto eu observava calado e medroso, Harry abriu bem os olhos e pareceu começar a tentar reconhecer o ambiente onde estava. Olhou para baixo, vendo os cobertores, a pele nua, o fato de eu estar também ao seu lado e nu e, por fim, seus olhos repousaram em Sirene, que estava com a língua para fora, o rabo abanando e as orelhas em pé.

Eu não sabia descrever sua expressão. Ele estava meio em choque, parecendo relembrar a respeito de tudo o que tinha acontecido entre nós.

Mordi o lábio inferior, aguardando por alguns segundos, porém, por mais que eu estivesse morrendo de sono, me mantive em alerta e com a consciência de que nós dois precisávamos levantar dali e ir nos arrumar para o trabalho.

As esmeraldas sonolentas encontraram meu rosto e Harry me encarou parecendo não saber o que dizer.

Ele estava assustado.

Porém eu não tinha tempo para lidar com isso.

Não.

Não agora.

─ O trabalho, Harry. Precisamos ir trabalhar. Já são quase sete horas. ─ Eu comecei a levantar e pegar as minhas roupas jogadas.

─ Ok. ─ Harry passou a fazer o mesmo e não nos olhamos durante o processo.

Enquanto eu vestia apenas a boxer e agarrava as várias peças de roupa para levar para meu quarto e jogar em um canto qualquer, Harry fez o mesmo com os cobertores, jogando-os em seguida em sua cama. 

Correndo de um lado para o outro, teve um momento em que consegui lançar um olhar rápido na direção de Harry e acabei notando que ele também​ tinha vestido apenas a boxer e procurava o que precisava do modo mais rápido possível.  Mesmo querendo ler em suas expressões que ele pelo menos lembrava do que tinha acontecido naquela noite, não consegui identificar nada de relevante, apenas uma ruga no meio de sua testa.

─ Vou tomar banho. ─ Informei, passando por ele rápido e com um pilha de roupas limpas.

─ Ok. Vou preparar alguma coisa para a nossa ressaca. ─ E então entrei no banheiro e soltei minha respiração. 

Eu me encontrava extremamente tenso. Não por estar atrasado para ir ao trabalho. Não, não por isso. Isso era o de menos. Eu me encontrava tenso por aquela situação constrangedora com Harry. 

Ele não iria falar nada? E se resolvesse quebrar o silêncio acerca do assunto, o que iria dizer?

Eu não queria pensar sobre isso. Definitivamente não queria. Preferia deixar aquilo em um canto esquecido em minha memória até ter de enfrentar de fato, visto que, além de eu estar sofrendo antecipadamente criando hipóteses sobre qual seria a reação de Harry, ainda não estou conseguindo me concentrar em mais nada, somente nas batidas agitadas de meu coração.

Decidindo esquecer por enquanto, apressei-me para tomar um banho, ou seja, passar apenas uma água no corpo e tirar um pouco dos resquícios daquela noite. Assim que terminei, portanto, me vesti, escovei os dentes e arrumei meus cabelos desgranhados em uma velocidade impressionante. Ainda sentia certo mal estar e ânsia e decidi que tomaria algum remédio qualquer, apenas para tentar me manter em pé naquele dia.

Saí do banheiro em seguida e logo me deparei com Harry e sua pilha de roupa esperando para tomar banho também. Surpreso, fitei seu rosto naquele momento e aquela íris esverdeada me observava de certo modo receoso. Harry então me estendeu um copo com algum tipo de vitamina, incentivando-me a beber. 

─ É para a ressaca. ─  Ele falou calmo e atencioso. ─ Beba o copo inteiro e depois tome um remédio para a dor de cabeça. Eu estou me sentindo um pouco melhor agora. ─ Sorriu minimamente e, no instante seguinte, entrou no banheiro. Antes de fechar a porta, hesitou e se pôs a falar novamente: ─ Vamos chegar um pouco atrasados, talvez uns quinze minutos, mas qualquer coisa é só dizer que perdeu a hora.

─ Sim, sim. Ainda bem que Sirene nos acordou. ─ Sorri.

Harry sorriu também, concordando com a cabeça, e fechou com cuidado a porta em seguida.

Respirei fundo mais uma vez e me forcei a manter minhas indagações naquele canto do cérebro, pois eu realmente precisava me apressar e não entrar em divagações e reflexões a respeito do que se passava na cabeça de meu marido. 

Tomei a vitamina que Harry havia preparado e lambuzei os lábios, pois aquela bebida realmente estava deliciosa. Enxaguei o copo em seguida, calcei um tênis meu qualquer que encontrei pelo caminho e peguei um remédio na mesinha de cabeceira para ver se a mal estar passava. 

Harry também não demorou muito tempo no banho. Em menos de cinco minutos saiu de dentro do banheiro devidamente arrumado e agasalhado para o trabalho e eu já estava na porta apenas o esperando para sairmos do apartamento e cada um seguir seu caminho. 

Se ele me perguntasse, eu não saberia ao certo responder sobre o motivo de tê-lo esperado. Talvez fosse pelo costume adquirido na outra realidade que resolveu aflorar após nossa aproximação naquele noite ou talvez tivesse sido porque eu realmente esperava que disséssemos algo no elevador sobre o que tinha acontecido, a verdade era que minha mente não iria desligar se eu não soubesse se Harry pelo menos se recordava dos beijos trocados.

No entanto, enquanto estávamos no elevador, Harry se manteve em silêncio e naquele ambiente só era possível escutar as minhas engolidas em seco. 

Sempre odiei silêncios constrangedores, porém naquele momento estava odiando ainda mais.

Por que Harry não falava nada? Por que?

Estava constrangido? Estava tentando lembrar do que tinha acontecido?

Se fosse isso, eu poderia ajudá-lo a recordar, pois, por mais que em alguns dos momentos existisse apenas uma lacuna em minha memória, eu me lembrava da maior parte do que tinha acontecido entre nós dois. Os nossos beijos, o modo como Harry tinha tocado em meu corpo, seus olhos presos nos meus, o fato de termos transado no sofá, no chão e na mesa de centro da sala de estar, a hora em que paramos e resolvemos dormir. Lembro também de Harry indo pegar o cobertor, dele trazendo e jogando um contra meu corpo, me recordo de sua risada, de quando nos enrolamos nas cobertas, do tempo em que ficamos cochichando, rindo e trocando beijos calmos.

Eu me lembrava. Lembrava-me do essencial.

Saímos do elevador e nos deparamos com o térreo do edifício. Harry deixou que eu fosse na frente, mas eu sentia que ele estava em meu encalço. Tentei me manter calmo e calado, eu não podia simplesmente falar sobre aquilo. Eu não tinha a menor ideia de qual poderia ser a reação de Harry, afinal.

─ Sobre, hm, o que aconteceu...

Harry começou assim que estávamos na calçada de frente para o prédio e virei meu corpo em sua direção no mesmo instante. 

Era agora. Era agora.

O que ele iria dizer, afinal? O que iria dizer?

─ Sim? ─ Tentei incentivá-lo.

─ Podemos conversar assim que voltarmos do trabalho hoje. ─ Disse mais uma vez de forma gentil.

─ Ok. Pode ser. ─ Forcei-me a sorrir, mesmo estando uma pilha de nervos e com o coração na mão. 

Inúmeros questionamentos jorraram em minha mente, porém me mantive calado. Nós dois iríamos conversar daqui a algumas horas e não havia razão para eu começar a tirar as minhas dúvidas. Não era o momento adequado para que eu perguntasse se Harry estava com raiva de mim e se ele achava que aquilo tinha sido um erro. Estávamos atrasados, afinal de contas. 

Pelo menos Harry se recordava do que tinha acontecido e isso era de fato muito bom.

Por querer calar meu cérebro, acenei em despedida pronto para ir embora. Dei um sorriso sem dentes e meio constrangido, porém, no momento em que eu girava meu corpo, Harry segurou meu braço com delicadeza, fazendo com que meu corpo voltasse a posição de antes.

Harry então curvou o corpo e seus lábios alcançaram minha bochecha, fazendo com que ele deixasse um beijo rápido de despedida na região. 

Surpreso, com o coração quase saindo pela boca e tentando não sorrir de orelha a orelha, corei intensamente no mesmo instante. Harry se afastou e observou minha reação, talvez esperava um empurrão ou um tapa que não aconteceu e, em seguida, acenou com a cabeça e se pôs a andar rápido na direção contrária para chegar o quanto antes ao corpo dos bombeiros.

Depois de suspirar e carimbar em minha testa o quão ridículo eu estava sendo ao agir como um bobo apaixonado, comecei a correr até o orfanato. Afinal, eu não poderia perder meu emprego de modo algum. Não quando era a única oportunidade no momento de estar perto de meus filhos.

**

Por sorte, a diretora compreendeu o meu atraso após eu dizer que quase tinha sido atropelado.

Eu sei. Era mentira, mas em minha defesa era uma mentira muito pequena e eu estava pensando somente no bem de meus filhos. 

Ainda compreensiva, a diretora me entregou um convite para o baile da Cinderela e meu rosto se iluminou no mesmo instante.

─ Pode trazer um ou uma acompanhante, Louis. ─ Ela me informou com um sorriso enquanto eu examinava com cuidado o envelope em minhas mãos. Era de um papel delicado e de cor rosa claro e havia como selo o desenho de um sapatinho de cristal.

Perguntei-me se as crianças do orfanato já sabiam da novidade, se Lily já sabia que se tornaria um princesa em poucos dias, mas não deixei que meus questionamentos escapassem de meus lábios, seguindo meu caminho assim que a diretora me dispensou. Estava prestes a começar meu dia de trabalho, porém, antes que eu pudesse sequer chegar à sala de limpeza, a educadora responsável pelos mais novos interrompeu meu caminho e pediu para que eu a ajudasse a cuidar das crianças naquele momento, pois ela precisava resolver uns assuntos particulares pelo celular. 

Ela ainda me avisou que ficaria na sala comigo e que os mais novos "não dariam muito trabalho", pois estariam ou dormindo no chão ─repleto de travesseiros confortáveis ao redor ─ ou concentrados assistindo ao filme de desenho.

Eu não reclamei, é claro. Era uma oportunidade única de estar perto de Jamie e não abriria mão disso. Por isso, segui a professora até o ambiente em que todas as crianças estavam e a primeira coisa que fiz foi deixar que meus olhos vagassem à procura de Jamie.

Assim que o encontrei, respirei aliviado.

Aquela era a minha melancólica rotina.

Acordar, encontrar com Harry na cozinha, desejar tocá-lo e nunca poder ─ hoje tinha sido uma exceção à regra, é claro, uma ótima exceção à regra ─, sair de casa, chegar ao orfanato com o coração na mão e achando que uma de minhas crianças tinha sido adotada, tentar encontrá-los, encontrá-los de fato e respirar aliviado.

Quando cheguei àquela sala, Jamie não me viu à princípio, pois estava concentrado demais discutindo com outro criança ao seu lado ─ e o empurrando também ─, fazendo com que eu tivesse de morder o lábio inferior para conter uma gargalhada. 

Fiz um sinal para a educadora, informando que iria me sentar mais próximo das crianças (de Jamie, principalmente, mas ela não precisava saber) e ela apenas concordou com um aceno vago, parecendo não prestar muito a atenção. 

Com cuidado e na ponta dos pés, andei por entre elas, vendo a maioria com sua chupeta ou mamadeira e com os olhos fixos na imagem projetada na parede, e finalmente quando consegui me aproximar o suficiente sentei atrás de onde Jamie estava muito bem acomodado em meio a uma pilha de travesseiros, balançando a chupeta e soltando uma série de monossílabas. 

Era o único bebê que ainda não estava quieto ali e quase chorei de orgulho pela personalidade forte que Jamie apresentava. 

Meu filho um dia iria me matar por encher meu coração de felicidade.

Sorri grande em seguida e cutuquei suas costas, esperando que Jamie virasse para mim, porém acho que ele não sentiu aquilo, fazendo com que eu tivesse de insistir e cutucá-lo novamente. Parecendo se dar conta de que alguém o tocava, Jamie virou o corpo de forma desajeitada em minha direção.

A reação foi imediata. Jamie sorriu grande, daquele jeito banguela e quase babando de sempre, e bateu palminhas animado.

Paba! ─ Gritou, fazendo com que eu enterrasse meu rosto entre minhas mãos.

Por que tão escandaloso? 

Estava querendo me denunciar?

Coloquei o indicador em frente aos lábios pedindo silêncio, porém Jamie achou extremamente engraçado e riu daquilo. Seu corpo tombou para o lado pelo modo como ele agora estava e meu filho começou a engatinhar sobre um dos travesseiros gigantes para chegar até mim. No entanto, ele parou no meio do caminho e me olhou de modo travesso.

─ O que está querendo aprontar, mocinho? ─ Perguntei num sussurro e o encarei desconfiado.

Ele deu risada e tombou a cabeça para o lado.

Go-gu-na-na-niii! ─ Soltou uma série de monossílabas antes de dar risada outra vez e começar a tentar se levantar para ficar de pezinho.

Receoso, mordi o lábio inferior no momento em que o observei apoiar as mãos no travesseiro, empinar o bumbum coberto por fralda e uma calça quentinha e levantar de forma desajeitada seu corpo para cima. Jamie me olhou surpreso ─ olhos arregalados, bochechas vermelhas e boca escancarada ─ no momento em que ficou de pé sem cair.

Antes de incentivá-lo para que viesse até mim, lancei uma rápida olhada para a educadora e notei que ela estava concentrada ainda em seus problemas pessoais. Voltei então minha atenção para Jamie e o chamei com as mãos, fazendo-o rir e colocar a mão sobre a boca em seguida.

Desajeitadamente, meu filho começou a dar um passinho por vez em minha direção e usava seus braços abertos para tentar se equilibrar.

─ Venha, Jamie. Venha! ─ Sussurrei e ele sorriu. ─ Papai está aqui. Não vou te deixar cair.

Du-ba-ba-bi. ─ Ele soltou as monossílabas novamente e estendeu os braços em minha direção, como se esperasse que eu o pegasse e não o deixasse cair.

─ Venha, venha. ─ Incentive-o outra vez. ─ Eu sei que você consegue.

Ele juntou as mãos, deu um gritinho e babou um pouco enquanto dava mais um passo para tentar se aproximar de mim. Eu estava sorrindo de orelha a orelha feito um bobo e, no momento em que Jamie estava a uma mínima distância, abracei-o e o segurei firme, fazendo-o soltar um gritinho de contentamento.

─ Você conseguiu, Jamie. Conseguiu! ─ Segurei seu corpo e deixei de um modo que ficasse de frente para mim. Ele já estava com a mão enfiada na boca, é claro. ─ Eu vou morrer de orgulho desse jeito. Você quer matar o papai?

Ele deu risada após eu fazer uma careta de sofrimento.

Sentei-o em meu colo e apontei para a projeção na parede.

Du-da-du... ─ Tirou a mão da boca e exclamou sério.

─ É?! ─ Eu não tinha a mínima noção sobre o que ele estava falando. ─ Você está gostando do filme, filhão?

Parecendo responder a minha pergunta, Jamie colocou o dedão na boca, repousou seu corpo contra o meu peito e seus olhos gigantes se prenderam no desenho que passava. 

─ Um dia vou te levar para Disney. ─ Falei mais para mim do que para ele. ─ Vou levar você e Lily para conhecer o Mickey. 

Jamie estendeu a mão gorducha para tentar agarrar seu paninho, porém, ao não conseguir ─pois estava muito longe de seu alcance ─, jogou o corpo todo para frente na tentativa de alcançá-lo.

─ Deixa que eu pego. ─ Falei para ele. ─ Aqui está. ─ Entreguei em suas mãos e Jamie enrolou o pano em seus dedinhos rechonchudos.

─ Ele gostou de você. ─ A educadora me deu um susto ao falar aquilo tão de repente. Virei minha cabeça em sua direção e vi ela ali parada atrás de mim. ─ James não costuma gostar de muitas pessoas. Na verdade, eu nunca vi ele ser carinhoso com nenhum adulto antes. E vive isolado por aqui. Não brinca com os outros bebês... 

Olhei para Jamie que agora fitava a professora com uma carranca.

Eu quase soltei uma gargalhada naquele momento. 

As sobrancelhas de meu filho estavam franzidas e seus lábios formaram um beicinho zangado.

Naaaaa! ─ Ele apontou o dedo para a educadora e olhou sério para mim. ─ Naaaaa! 

Eu não aguentei mais e dei risada. A educadora fez o mesmo.

Eu tinha de admitir...

Jamie é um Styles Tomlinson de carteirinha.

─  Eu não disse? ─ A professora reforçou. 

A mão gorducha de Jamie bateu repetidas vezes contra o peito, forçando-me a olhar para ele. Assim que o fiz, notei meu filho me encarar com seriedade e seu dedo estar apontado para a projeção na parede.

Jamie começou um discurso em monossílabas e tive de demonstrar estar prestando atenção ao que ele dizia, pois, em todas as vezes que eu olhava para a educadora e ria com ela, o bebê batia forte contra o meu peito e soltava um grito indignado e irritado.

─ A bruxa má fez tudo isso? ─ Questionei e ele fez uns gestos engraçados com as mãos, voltando a assistir o filme novamente.

─ Louis? ─ A educadora me chamou em um tom baixo. ─ Se quiser voltar a seu serviço, fique à vontade, ok? Eu me viro a partir de agora.

Ok... Eu não queria ir embora agora. Estava tão bom ficar ali com Jamie. Sua mão tinha agarrado meu dedo indicador, como se ele quisesse me prender ali, e eu também não desejava sair naquele momento e abandonar meu filho, que provavelmente começaria a chorar.

Eu não aguentava mais ver Jamie chorar.

─ Acho que vou ficar mais um pouco. Não quero sair e acabar fazendo esse bebê aqui chorar... E, além disso, estou gostando de assistir o filme com as crianças. ─ A professora deu risada, apesar de eu estar falando sério.

─ Tudo bem então. ─ Foi o que disse com um sorriso, sentando-se em seguida mais a frente, junto a crianças que acabaram por se aglomerar em seu colo.

Fiz cócegas na barriga de Jamie para chamar sua atenção, porém ele nem se moveu e continuou com os olhos presos ao filme. Tive então que colocar minha cabeça na frente de sua visão para que ele me olhasse.

Naaaa! ─ Resmungou irritado e levou sua mãozinha até meu rosto para tentar tirar minha cabeça de seu campo de visão. ─ Pa-ba... ─ Falou com um biquinho e mal humorado.

─ Você tomou conta do meu colo todo para que outras crianças não pudessem sentar nele? É isso? ─ Como resposta, apenas senti seus dedos beliscarem minha bochecha. ─ Você ama o papai? ─ Perguntei baixinho. ─ Ama? ─ Disse alegre e mordi seu dedo, fazendo-o rir um pouco. ─ Dá um beijo na bochecha do papai. Dá?

Ofereci minha bochecha e Jamie deixou seus lábios molhados pela saliva encostarem em minha pele. Depois disso, ouvi sua risada e dei um beijo em sua testa, que estava parcialmente coberta por uma franjinha. Afastei-me de meu filho e lancei uma rápida olhada para a professora. Ela estava concentrada demais com as crianças em seu colo para prestar atenção em mim. 

Suspirei aliviado.

Olhei novamente para Jamie em meu colo. Ele me fitava de boca aberta e sorrindo como nunca, fazendo com que eu não resistisse, desse mais um beijo em sua testa e, em seguida, mostrasse a língua para ele.

─ Eu ficaria o dia inteiro aqui com você. Sabia?

Da-da-da. ─ Falou animado, batendo a palma da mão em meu joelho algumas vezes.

─ Eu não quero ir embora... ─  Sussurrei para mim mesmo. 

Senti a sensação de vazio, angústia e desespero dentro do peito ─ aquelas recorrentes que apareciam sempre que eu estava prestes a ficar longe de minha família ─, porém tive de engolir em seco aquilo e fingir que estava tudo bem.

Meus pensamentos fugiram para Harry novamente e tentei manter as inúmeras perguntas silenciadas em minha cabeça, porém meu esforço foi em vão. Eu estava desesperado para saber o que ele estava considerando após passarmos a noite juntos. 

Pois eu desejava que ele escolhesse ficar comigo.

Desejava que ele considerasse a possibilidade de começarmos a desenvolver um relacionamento, pois eu não aguentava mais ficar longe daqueles que eu amava. 

Não aguentava mais ter de me contentar com migalhas. De ter de torcer para passar momentos assim com Jamie e Lily.

Estava ficando insustentável já.

**

Jamie dormiu em meus braços assim que o filme acabou. 

Ele parecia tão relaxado, tão feliz, que temi o momento em que acordasse e percebesse que eu não estava mais ali.

Que eu havia abandonado ele ali.

Que eu tinha o deixado como na vez em que esqueci ele e Lily na escola por uma hora a mais do que o previsto.

Sei que Jamie choraria tanto que acabaria exausto por isso, porém escolhi não pensar sobre aquilo, pois me sentiria ainda pior.

Foi então que decidi ligar para a senhora dona da caminhonete, assim que terminei o expediente, para esquecer aquela aflição dentro do peito. Eu estava tendo de lidar também com a angústia da espera para a conversa que teria com Harry sobre a noite que tivemos, porém me obriguei a focar em outra coisa que não fosse isso.

Não irei antecipar o sofrimento. 

Era esse o meu novo lema. 

Assim que cheguei, a senhorinha, cujo nome era Mary ─ como fui descobrir assim que apertei sua mão ─, estava a minha espera na porta do edifício onde morava. Ela era uma pessoa adorável, eu tinha de admitir. Vestia roupas bem quentes para o inverno rigoroso, mas todas muito coloridas.

─ Comprei um novo carrinho. ─ Foi a primeira coisa que me disse. Apontou para um pequeno modelo de cor avermelhada estacionado ali e sorriu grande. ─ Bonito que só.

─ Tão bonito quanto a caminhonete. ─ Lancei um sorriso a ela.

─ Ou quanto você, rapazinho. ─ Brincou, fazendo-me rir.

─ Eu não posso discordar da senhora. 

─ E nem deveria. Eu costumo ter razão no que falo. ─ Sua risada era gostosa de se ouvir e sorri ainda mais por isso. Seria bom fazer negócios com ela. Eu acreditava que sim.  ─ Agora vamos. Vamos até meu apartamento. Eu vou te passar as instruções de como lidar com Doroteia.

Minhas sobrancelhas arquearam.

─ Doroteia? ─ Indaguei confuso.

Quem diabos era Doroteia? 

Será que Mary estava confundido a razão de eu ter vindo até aqui?

Eu fui até lá para comprar a caminhonete e não sabe-se Deus o que... Uma gata? 

A senhora estava achando que eu desejava comprar um gato?

Sirene transformaria o animal em dois. Por Deus!

─ Sim, Doroteia, minha caminhonete. Que agora será sua, é claro.

Dei risada. 

─ A senhora deu nome a caminhonete?  ─ Questionei achando engraçado.

─ Claro que sim. ─  Ela disse como se fosse óbvio. ─ Ela funciona melhor, se a tratamos como se fosse da família.

Lancei um olhar para a caminhonete que estava estacionada atrás do novo carrinho de Mary e minha expressão demonstrava toda a minha incredulidade perante aquela revelação.

Sinceramente.

Se pegassem a minha história de vida provavelmente daria para fazer uma versão cômica de filme sobrenatural.

Louis Tomlinson e a Viagem a Outra Realidade.

Louis Tomlinson e a Maluca da Sirene.

Louis Tomlinson e a Caminhonete de Nome Doroteia Que Gosta de Ser Mimada.

Revirei os olhos para o carro ali estacionado, porém permaneci calado e segui Mary até seu apartamento para resolver o que faríamos sobre a questão da caminhonete a partir dali. 

Enquanto falávamos sobre o carro, percebi que tive um tempo muito bom com a senhorinha de cabelos curtos e brancos e risada divertida e gostosa de se ouvir. Ela passou um tempo me contando histórias do tempo em que era jovem e do amor que sentia por um rapaz petulante daquela época. Relembrava de modo apaixonado os momentos em que passou junto de seu amor secreto enquanto eles lutavam para ficar juntos e a família dele os impedia por Mary não ter condições financeiras para absolutamente nada. 

Os dois faziam promessas um ao outros. 

Inúmeras promessas.

Isso fez com que eu me lembrasse da promessa que Harry tinha me feito na outra realidade. 

─ Harry?

─ Sim, amor?

─ Você se apaixonaria por mim de novo? Quero dizer... S-Se... Se algum dia nós esquecêssemos um do outro, você se apaixonaria por mim de novo?

─ O que? M-Mas... Por que essa pergunta, amor?

─ Só me diga, por favor...

─ C-Claro... Claro, amor. Mil vezes em mil vidas eu me apaixonaria por você.

─ Em mil outros universos paralelos?

─ Em um milhão de universos paralelos. Nós estaremos juntos não importa em que realidade.

─ Você não pode ter tanta certeza...

─ Eu posso te dar a certeza, Louis. Eu me apaixonaria por você, independente do universo paralelo no qual estaremos. Você pode ter o cabelo roxo, pode pertencer a uma gangue... Você pode ser um carinha chinês e eu um americano conservador. Não importa... Eu iria te encontrar e me apaixonar por você quantas vezes forem necessárias.

Senti um mal estar por não poder mais desfrutar desses momentos com Harry. Por não ter mais a liberdade de me enfiar no meio de seus braços e dormir ali ou apenas conversar com ele. Pois, por mais que tivéssemos dormido juntos naquela noite, eu sei que eu não poderia chegar no apartamento e pedir para que ele viesse deitar comigo. 

Nós não estávamos juntos. 

Não mais.

Mary então começou a falar também das noites em que John, o rapaz por quem tinha se apaixonado, fugia de casa em plena década de 50 e se encontrava com ela em uma casarão velho abandonado. Mary estava vagando em suas memórias, relembrando mais para si própria do que para mim, e começou a contar sobre os beijos que tinha trocado com o homem e como sentia falta daquilo. 

─ Posso te contar um segredo? ─Harry sussurrou para mim aquela noite antes que eu pudesse sequer fechar os olhos e dormir. Eu tinha consciência de que dentro de poucas horas eu teria de acordar para ir trabalhar, porém não queria descansar. Era a última coisa que eu desejava. Estar ciente de que Harry estava deitado ali do meu lado e ainda sorrindo como nunca era o que me bastava.

─ O que? ─ Questionei curioso. Eu ainda sentia o gosto da bebida em minha boca e minha cabeça girava, mas eu não me importava nem um pouco com isso. 

Não com Harry. 

Os dedos de Harry se entrelaçaram aos meus e fiquei deitado de frente para ele. Estávamos sobre inúmeros cobertores no meio do chão da sala e parecia algo tão incrivelmente normal.

Quem nunca havia dormido no chão da sala antes?

─ Eu sonhei com você. ─ Harry revelou rindo. ─ Mas não conte para Louis. ─ Ele ainda estava bêbado, claro. ─ Ele me confunde.

 Mas eu sou o Louis─ Contei enquanto gargalhava. 

A expressão de Harry foi tomada por confusão, porém ele deu risada em seguida, tanto quanto eu.

─ Você é o Louis? ─ Ele riu, fazendo-me rir mais.

─ Enganei você! ─ Falei animado e alto. 

Harry fez sinal para que eu fizesse silêncio e voltou a sussurrar:

─ Eu sonhei com você depois que te tirei da árvore. Foi muito confuso. Nós dois morávamos em uma casa na árvore e éramos casados. O céu era colorido e o chão todo azul. Tínhamos dois filhos. Um menino e uma menina. Sirene também era um filho. ─ Ele falava como o segredo mais perigoso do mundo. ─ Eu quero filhos.

─ Eu também. ─ Revelei sério a ele. ─ Eu quero muito os meus filhos.

 John foi embora no início do verão de 58. Mudou-se para Cambridge com a família e depois disso eu nunca mais soube dele. Mary cortou a linha de meu pensamento ao dizer aquilo e voltei a prestar atenção no que dizia. Sua expressão demonstrava toda a tristeza interior e me senti por ela.

Eu não tinha do que reclamar, se fosse analisar o caso de amor de Mary e John.

Eles passaram um tempo juntos para, no final, algo separá-los. 

Ao contrário de Mary, eu soube de Harry após a quebra proposta pelo universo. E, mais que isso, eu morava com ele. No mesmo apartamento.

Eu poderia ter voltado àquela realidade e ele nem mesmo poderia existir. 

Eu não sei o que eu faria se Harry nem mesmo existisse.

Talvez eu desejasse não existir também, afinal metade de mim teria sido apagado do universo.

**

Quando cheguei à porta do apartamento naquele dia, depois de dirigir pela primeira vez nessa realidade a minha nova propriedade ─ Doroteia, a caminhonete cheia de personalidade  a angústia que me tomara durante grande parte do dia e me deixara com um péssimo ânimo para tudo bateu como um baque contra mim e tive de respirar fundo para adentrar o ambiente.

Assim que abri a porta, Harry levantou imediatamente do sofá e me fitou com uma expressão de certo modo aflita. Parecia querer resolver aquilo sobre nós o quanto antes, pois dava para notar que estava preocupado.

Engoli em seco e meu coração bateu de modo desconfortável dentro do peito.

 Hey. ─ Falou sem jeito.

─ Hey. ─ Eu disse desanimado.

─ Er... Hm... Você demorou. ─ Comentou e fingiu estar despreocupado quanto a isso. 

Uma mentira, é claro.

─  Eu fui comprar Doroteia. ─ Falei fingindo para Harry estar extremamente animado por isso.

Por mais que eu estivesse feliz por ter conquistado a caminhonete, a minha animação tinha se dissipado no momento em que aquela angústia me tomou. 

Eu sabia que havia algo que não se encaixa em meus planos. Algo que Harry revelaria que não me agradaria. Eu sabia no momento em que entrei e que notei a expressão de meu marido.

─ Doroteia? ─  Indagou confuso. 

─ É. Minha caminhonete. ─ Informei sem ânimo.

Harry soltou uma leve risada.

─ Você deu um nome para a sua caminhonete?

─ Não. ─  Acabei sorrindo um pouco. ─ A senhora de quem eu comprei é quem deu.  

─  Ah sim. Bem... É um bom nome.

─ Uhum... ─ Eu só estava esperando o momento em que ele jogaria a bomba.

Por mais que fosse doer, eu queria que acontecesse de modo rápido. 

Como tirar um band-aid.

Estava prestes a perguntar o que ele tinha para falar comigo, pois era visível que desejava conversar sobre a noite que tivemos juntos, mas Harry foi mais rápido.

─ Podemos conversar? ─ Foi o que perguntou.

 Pigarreei incomodado.

─ Yeah, claro. ─ Fui em direção ao sofá, fiz carinho na cabeça de Sirene e sentei no estofado.

As lembranças da noite anterior me inundaram de uma só vez ao ficar perto daquele sofá e respirei fundo. 

Aquilo seria difícil. 

Mais difícil do que eu poderia ter imaginado.

Como arrancar band-aid. Como arrancar band-aid.

Repeti algumas vezes em minha mente.

Eu sabia o que viria disso. Era óbvio. Harry me lançou aquele olhar que eu lançava antigamente para os casos que eu tinha. Lançou o olhar de quem diria "nós não daremos certo" e "não estamos em um relacionamento, você entende isso, certo?".

Eu era um caso para Harry. Um caso de uma noite. Era isso que eu era. 

E sinceramente eu não poderia reclamar. 

Não poderia reclamar, pois nós não estávamos juntos mais. Não éramos casados. 

Harry não tinha culpa. 

Nós ficamos em uma noite de bebedeira e noites assim sempre acabam em algo como "não é nada sério".

E por mais que para mim tenha sido a melhor coisa que aconteceu desde o momento em que encontrei a minha família naquela realidade ─ pois Harry é meu marido, a pessoa que eu amo ─ para ele eu era apenas um sujeito estranho que tinha entrado em sua vida após seduzi-lo no bar e o dispensado do pior modo possível. Entrei em sua vida e me instalei em sua casa, mesmo a contragosto seu.

─ Então... Sobre ontem à noite... ─ Ele começou a dizer. Respirei fundo e engoli em seco outra vez. Ok! Eu não iria chorar. Eu não iria chorar. Isso é patético! Eu não iria chorar!  Harry sentou na mesinha de centro e me fitou de modo sério. ─ Eu, bem, eu ainda estou confuso sobre isso, porque memórias vem e vão desordenadas aqui dentro. ─ Ele apontou para cabeça e sorriu um pouco. Logo em seguida, fechou a expressão, vendo que eu não retribui. Estava desanimado demais para isso. ─ Foi bom passar um tempo juntos, né?

─ Uhum... ─ Falei meio desmotivado e a expressão de Harry murchou um pouco. ─ Foi.

Eu não sabia o que pensar a respeito do que se passava na cabeça de meu marido, mas acreditava que não era algo bom.

─ Você achou mesmo? ─ Harry insistiu naquilo.

Por que ele estava insistindo naquilo? Era na esperança de que eu dissesse que nada aconteceria mais entre nós para que ele se sentisse menos mal por isso?

Para que ele não precisasse falar?

Eu não queria ouvir. Não queria. 

Desejava sair de lá e me trancar no quarto para ficar sozinho o quanto antes.

Lancei um olhar para Sirene e acreditei que talvez ela pudesse me salvar do que viria.

  ─ Harry, o que quer dizer? ─ Esfreguei a testa.

Eu também não queria fitar os olhos de Harry. Não queria vê-lo dizendo que nós não daríamos certo.

No entanto, ele pigarreou e ficou certo tempo em silêncio, o que me pareceu estranho. 

Por isso, tirei a mão do rosto e o olhei, esquecendo um pouco do medo que sentia.

Sua expressão estava indecifrável. Indecifrável como sempre.

Argh! 

Por que não me esforcei para conhecê-lo melhor na outra realidade?

Agora era tarde para chorar sobre isso.

Harry tinha uma expressão de quem estava considerando sobre algo. Considerando algo que eu não fazia ideia sobre o que era. Porém, quando viu que eu o observava, suas feições mudaram e por incrível que pareça eu entendi o que elas significavam.

Harry parecia ofendido. Magoado. Era uma expressão semelhante àquela de quando eu o humilhei no pub.

O que estava acontecendo?

O que?

─ Eu, hm, acho que foi uma boa noite, mas, você sabe, foi só uma noite? ─ Ele me olhou em expectativa, porém permaneci calado. Um pouco irritado por aquilo, sendo sincero. Ele bufou e não compreendi o motivo.Parecia impaciente comigo?   ─  E nós não daríamos certo juntos. ─ E ali estava a frase que me quebrou em pedaços. ─ Acho que, hm, poderíamos ser amigos, se não se opor, pois passamos um bom tempo juntos ontem, mas não daríamos certo juntos. Você tem, bem, planos provavelmente muito diferentes dos meus e... Eu, hm, não quero me envolver em um relacionamento agora com você. 

─ Ok. ─ Falei vagamente, engolindo o choro e tentando mostrar indiferença.

Seria loucura me ajoelhar no chão e implorar para que ele me amasse. 

Mas talvez essa loucura me impedisse de enlouquecer. 

  ─ Não quero, pois tenho que pensar em meus planos para o futuro. ─  Que não me incluem, é claro. Eu posso lidar com isso. Eu posso lidar com isso. Harry ficou em silêncio, esperando para que eu dissesse algo. Porém permaneci calado. Eu já me encontrava aos pedaços e tinha medo de que se abrisse a boca para dizer alguma coisa acabasse me despedaçando diante dele. Por isso, continuei encarando o chão e cutucando meu indicador enquanto implorava para que eu acordasse no dia seguinte na outra realidade.

─ Tudo bem. ─ Tentei mostrar mais uma vez a indiferença. 

─ Mas, hm... Você pelo menos quer ser meu amigo? ─ Perguntou incerto, parecendo até um pouco irritado comigo.

Como pelo menos? Não era eu quem estava dando o fora em alguém!

Respirei fundo e tentei me manter calmo. Em seguida, engoli em seco outra vez, obriguei que minhas lágrimas desaparecessem de meus olhos e levantei o rosto para fitar Harry.

Lembrei de meus pensamentos na casa de Mary sobre o fato de pelo menos ter Harry ali. De Harry existir nessa realidade. De Harry não ter desaparecido e levado uma parte de mim. 

Lembrei que Harry existia e isso era o suficiente para mim.

Realmente era o suficiente para mim.

Só de pensar em uma vida sem Harry nada fazia sentido mais.

E eu não queria perder Harry de novo. 

Não de novo.

Por isso disse:

─ Sim. ─ Sorri. ─ Claro que quero ser seu amigo, Harry.

Ele deu um sorriso um pouco aliviado.

Argh!

Quis bater em minha cabeça.

Por quê? Por quê? Por que não me esforcei para conhecê-lo melhor? 

Levantei do sofá, eu precisava ficar um pouco longe daquele estofado, e comecei a me dirigir ao meu quarto para tentar ficar apenas na companhia de Sirene.

─ Isso é bom. ─ Ele falou na tentativa de amenizar o clima constrangedor.

Parei na porta, lembrando do envelope que eu tinha em meu bolso.

─ Bem...  ─Comecei. ─ Já que somos amigos eu queria saber se, hm, você quer ir comigo ao Baile da Cinderela que terá no orfanato onde eu trabalho?

Olhei para Harry e suas sobrancelhas levantaram interessadas.

─ No orfanato? Baile da Cinderela? ─ Repetiu.

─ Isso. ─  Tentei ignorar as batidas doloridas de meu coração dentro do peito. ─ Quer?

─ Claro, yep. Vai ser legal. ─  Ele tentou demonstrar despreocupação, porém não acreditei. ─ Quando será?

─ Nesse fim de semana. ─ Seria bom Jamie ver Harry. 

Isso me deixaria feliz. Ver Jamie feliz me deixaria feliz.

─ Ok. ─ E entrou em seu quarto.

Assim que virei as costas, mordi o lábio inferior tão forte que chegou a doer. Tentei controlar a dor que eu sentia, mas foi em vão. Coloquei a mão sobre a boca enquanto uma lágrima rolava por minha bochecha e tentei controlar o soluço e o choro que ameaçava sair por meus lábios. 

Sirene não demorou muito para me alcançar e uivar baixinho e de forma triste.

-x-

Oi, amores, tudo bem? *saco na cabeça, morrendo de vergonha por ter demorado tanto para att*

Queria pedir desculpas pela demora. Eu tive de fazer um trabalho hoje que demorou mais do que o previsto. Por isso a demora para atualizar.

Me desculpem mesmo fazer vocês perderem o sono.

Não vou fazer promessas, pois não consigo cumprir, mas tentarei postar um pouco antes no domingo que vem, yeah?

Até a próxima, bebês.

Beijos!


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