Sua cabeça latejava de dor, tudo girava, se levantou lentamente com muito esforço e estava meio arfante.
-Uuu... o que aconteceu?...- Perguntou a si mesmo tentando lembrar do que aconteceu antes, lembrou que 34... Leonardo, tinha o mordido. E tinha doído muito.
Sua visão estava meio turva, ela demorou um pouco para estabilizar, e quando finalmente ela focou, percebeu que estava dentro de um tubo de vidro no meio de uma sala de experiências, ele conhecia muito bem essa sala. O que estava fazendo ali?
-Vejo que finalmente acordou.- Levou um susto com uma voz telefônica dentro só tubo.
Se virou rapidamente e viu Tuna sentado em uma cadeira no painel de controles da sala.
-O que estou fazendo aqui?!- Não sabia o que estava havendo.
-Bem... Você lembra que 343 saiu do controle aquele dia?-
-Dia? Por quanto tempo fiquei apagado?-
-Exatamente três dias.- Rafael ficou assustado.
-E por que isso?!-
-Você lembra que nós dissemos que ele tinha veneno nos caninos?- O castanho dentro do tubo acenou positivamente. -Então... eu estou encarregado de pesquisar o que ele faz, ele te mordeu bonito em seu pescoço, quando nós conseguimos neutraliza-lo, te encontramos caído no chão da jaula com a respiração acelerada.
Rafa fica pensativo.
-E... Os resultados são surpreendentes...- Tuna dizia apertando mais alguns botões. -Espero que você não se assuste.-
-Me assustar!? Como assim?!- ficou agitado e apavorado.
-Calma! Não quero que você fique nervoso ou assustado, algumas coisa do gênero... bem...- Respirou fundo- Passe a mão na sua cabeça-
Estranhando muito esse pedido, Rafa obedeceu mesmo assim, lentamente e passou a mão pela cabeça, mas ela não estava "normal", igual a um crânio humano, encontrou dois calos enormes e peludos. Se desesperou e seu coração começou a sair pela boca. Tateou mais o lugar e ficou pálido.
-Calma! Calma! Por favor!- Pedia Tuna com tranquilidade.
-O QUE É ISSO! -
-São orelhas! -
-Orelhas? Como assim, orelhas?! Tipo de cachorro?!- Rafa perguntava quase chorando de pânico.
-Não, de híbrido-
Seu mundo parou.
-E... Você... Também tem... uma cauda- Tuna dizia com preocupação em seus olhos.
De olhos arregalados, Rafa virou lentamente a cabeça para trás e viu uma cauda peluda bem macia que saia no final de suas costas.
-Merda merda merda merda merda!- o castanho entrou em pânico e começou a chorar de medo.- O que ele fez?!- Perguntou entre soluços.
-Bem... graças a você, nós conseguimos descobrir o que o veneno dele faz, é tipo os vampiros da ala 9, você se transforma se ser apenas mordido, e você Rafinha, foi o primeiro que ele apenas mordeu... em todos esses anos e ele sempre mordia para matar.- Tuna explicava tudo com muita calma, para não assustar mais o pequeno híbrido preso em um tubo de vidro a sua frente.- E parece que você tem os mesmos sintomas de um híbrido... Os olhos, eles ganharam alguns pigmentos amarelados, e eu fiz um teste, eles brilham no escuro, as suas orelhas e cauda são sensíveis ao toque, elas se mexem de acordo com suas emoções.- Apontou para as mesmas que estavam abaixadas.- Todo o sistema do seu corpo mudou, você agora tem até mesmo época de cio.- Rafa quase desmaiou com tudo aquilo.- Agora eu tenho que te levar para a jaula.-
- J-Jaula? ! Por quê?!-
-Pelo simples fato que você virou um híbrido, nunca mais encontramos outro no mundo inteiro com as equipes especiais treinadas para isso!-
-Mas eu sou um cientista!- Gritou, se levantando e batendo com os punhos fechados no vidro.
-Era... Agora você é um ser fantasioso, não pode mais ser um cientista.-
Rafael não sabia o que faria de sua vida, em um dia era um cientista humano fazendo o que ele mais ama e no outro, tinha virado um ser, uma coisa que ele cuidava.
-Não é nada pessoal, ok?! Mas eu tenho que te apagar...- Tuna nem esperou a resposta do pequeno e liberou um gás sonífero dentro do tubo, fazendo o híbrido tossir e tossir, logo em seguida perdendo a consciência aos poucos, até ficar tudo escuro novamente.
~
Estava de novo com a visão turva e com uma enorme dor de cabeça... Não aguentava essa dor. Quando sua visão se focou aos poucos, percebeu que estava dentro de um floresta numa jaula, ficou apavorado e olhou para todos os lados a procura de uma resposta. Ficou de joelhos com esforço para se levantar e olhou melhor ao redor, e reconheceu aquele lugar, era a jaula de 3.. Leonardo...
Ficou pálido de medo. Suas orelhas estavam abaixadas e cauda entre as pernas, tremia. Escutou alguns estalos vindo atrás de si e paralisou. Virou lentamente e viu o dono dos olhos escarlate a poucos centímetros de distância.
Leonardo começou a farejar e depois de alguns segundo finalmente disse: -Olá, bem vindo ao meu mundinho.-Sorriu ladino.
-Por que você fez isso?!- O maior deu de ombros.
-Só me deu uma vontade louca de te morder.- Farejou novamente o ar.- É que um alfa reconhece de longe quem tem a capacidade para ser um bom ômega.-
-Ô-Ômega?!- Parecia um fantasma de tão branco que estava.
-Sim, e você sabe o que eles fazem?- Rafa concordou lentamente com a cabeça.- Muito bem...- Se aproximou mais, fazendo Rafael olhar para o chão, não sabia o que iria acontecer.
-Os ômegas tem um cheiro bem forte.- Ele farejava mais e mais, fazendo o menor morrer de vergonha.- Você cheira a medo.-
-É óbvio que estou com medo!- levantou a voz e Leo não gostou disso- Você me mordeu e transformou minha vida inteira de cabeça para baixo! Por que caralhos eu virei ômega e não algo ou beta?!- Ele tinha estudado um pouco sobre Leonardo e sabia muito bem das categorias.
-Não levante a voz para seu alfa.- Disse com desdém, avançando para cima de Rafa, fazendo o mesmo cair novamente no chão e cobrir sua cabeça com os braços, e começou a choramingar. A cauda do maior começar a balançar e suas orelhas ficaram mais erguidas. -Submissão é o melhor aroma.- Sorriu de forma cínica.
Deu uma lambida no pescoço mordido do menor, fazendo o mesmo se arrepiar.
-O que foi isso?-
-Você é um híbrido agora.- Riu com um timbre rouco. -Um ômega.- Se levantou e andou em círculos, cercando Rafa como se fosse um presa fácil.- Mais tarde eu explico.- Disse desviando o olhar totalmente do menor encolhido a sua frente e olhou para a sala de controle, que agora tinha outro cientista ali, sentado na cadeira com uma prancheta na mão anotando tudo o que acontecia.
Esse novo cientista foi posto ali para anotar o que acontecia agora que tinha dois híbridos ali, já que Rafa não estava mais disponível. Ele estava cuidando dos dois agora e o que aconteceria com ambos, em todas as época, como Gunter e Tom sempre fizeram, fazer um relatório para a chefe de como eles se comportavam.
Leo começou a rosnar alto olhando para o cientista lá longe, deixando Rafa apavorado, sem saber o que fazer. O maior pegou Rafa pela cintura e o levantou, o levando para mais fundo da floresta, e não tirava o olho do cientista, que observava tudo surpreso e fazia mais anotações.
-O que você está fazendo?!- Começou a se debater dando vários socos nas costas do alfa, mas ele parecia nem se importar ou fazia até mesmo cócegas. -Eu vou te bater mais forte ainda se não me soltar!- Era carregado no ombro dele, como se não pesasse nada.
Quando chegou em uma área que ficasse fora do alcance dos olhos do humano, colocou Rafa com delicadeza no chão.
-O que foi isso?- Cruzou seus braços e perguntou novamente, se afastando alguns passos mas sempre mantendo contato visual com ele, não deixando nenhum movimento passar. Seu rosto estava cheio de irritação e mal humor.
-Malditos humanos anotando tudo sobre minha vida nesse lugar de merda.- Começou a ficar nervoso.- Hmm, acho que vou contar o que acontece... É óbvio que nunca vão encontrar outro híbrido, eu nunca mordi alguém, somente o alfa tem esse veneno que conseguem transformar em mais híbridos. Nunca tive a vontade de morder alguém; embora uma certa época seja sufocante isso.- Rafa não era bobo e sabia que ele estava falando do cio.- Mas agora não terei mais esse problema.- Ele disse animado e com um sorriso mostrando seus dentes afiados.- Não foi muito legal quando eles conseguiram me fazer dormir... sempre acontece muita merda, eu acordo numa espécie de cano de vidro... mas depois eles me apagam de novo e me jogam aqui. Eu não entendo esses humanos.- Era audível o remorso em seu tom.
Rafa apenas ouvia silenciosamente... Depois de tudo não sabia o que seria de sua vida... ela mudou drasticamente de um dia para o outro, não saberia o que iria acontecer com ele ali dentro daquela jaula, junto com Leo, que ficou décadas e décadas sozinho, passando coisas sozinho, e agora seria a primeira vez que ele teria alguém ali junto com ele dentro daquele lugar.
O instinto selvagem sempre fala mais alto.