A Herdeira do Trono

Por LauraaMachado

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E se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? De... Más

Nota da Autora
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Pelo Bem do Trono
Capítulo 2 - De Todas as Pessoas do Mundo
Capítulo 3 - Baile do Século Vinte e Um
Capítulo 4 - Uma Ordem de sua Princesa
Capítulo 5 - Estou Aqui Por Você
Capítulo 6 - Convicções e Princípios
Capítulo 7 - Festa com Máscaras
Capítulo 8 - Caminho de Volta para Casa
Capítulo 9 - Celebração da Fênix
Capítulo 10 - O Maior Segredo do Mundo
Capítulo 11 - Reconhecimento
Capítulo 12 - Só o Primeiro Encontro
Capítulo 13 - Uma Garota Conversando com um Garoto
Capítulo 14 - Sua Única Opção
Capítulo 16 - Seu Direito e Dever
Capítulo 17 - Inapropriado para Princesas
Capítulo 18 - Você Nem Imagina
Capítulo 19 - Todas as Formas de Comunicação
Capítulo 20 - Uma Questão de Honra
PERSONAGENS
Explicações

Capítulo 15 - Eles Sabem

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Por LauraaMachado


Eu estava otimista. Não era a melhor pessoa do mundo nesse sentido e me mantinha cuidadosamente otimista, mas precisava admitir que tinha boas razões para comemorar. Ou pelo menos para seguir os planos com os pretendentes.

Depois de meu encontro com Miguel no domingo, nenhum dos próximos foi realmente ruim. Géraud e eu terminamos o de terça-feira assistindo uma série diferente, uma das minhas grandes favoritas, sobre a vida de Henrique oitavo da Inglaterra. Nós só saímos mesmo da sala de cinema quando já passava das dez horas da noite e a própria Clarissa, que vinha se empenhando em se esconder, fez questão de ir me chamar.

Ele se provou, como eu suspeitava, adorável em todos os sentidos. Muito mais inteligente do que admitiria, um pouco romântico em alguns aspectos, mais realista em outros, e totalmente focado na arte em tudo que via. A sua favorita, como tinha me confessado, era a música. Fiz com que me prometesse que mostraria alguma canção que já tivesse escrito, apesar de achar um pouco constrangedor assistir alguém tocar sozinho uma música, mas ele aceitou. Me disse que precisaria me conhecer melhor antes, mas mesmo assim.

No dia seguinte de um encontro perfeito, nós combinamos de passar a próxima tarde andando pelo jardim e, por dica de Clare, acabamos colhendo juntos morangos dos arbustos mais distantes do castelo. Até mesmo a parte que mais me incomoda, ser observada constantemente, foi aceitável.

No dia de ontem, também andei pelos corredores com Alaric de manhã, contando o pouco que eu sabia sobre os quadros e a história da construção. Ele não mencionou nada sobre os outros pretendentes, e fiquei bastante satisfeita por isso. Eu estava otimista, porque, ainda que todo o resto desse errado, sentia uma certa segurança com ele e Géraud que me dizia que, se eu continuasse naquele caminho, chegaria aonde queria. Talvez este mês da Fênix não fosse tão terrível assim.

Já era quinta-feira, quase uma semana inteira tinha se passado desde que os primeiros convidados tinham chegado. Minha zona de conforto me falava para focar nos dois pretendentes de quem já estava próxima, mas sabia que precisava ir atrás dos outros. Como eu mesma tinha falado para Alaric, precisava de opções. Aquela era a maior decisão da minha vida, teria que tomá-la com cuidado.

Era por isso que descia as escadas laterais com tanta determinação naquela tarde. Depois de passar uma manhã conversando com outros convidados, principalmente os familiares de alguns dos pretendentes, sabia que precisava de outro encontro espontâneo, e, segundo Maggie, Niels estava na biblioteca.

Já tinha meu plano. Eu casualmente esbarraria nele, questionaria sobre o que estava lendo, sobre seus interesses além do exército, sobre como era pilotar um avião. Apesar da imagem bastante rígida que eu tinha tido dele ao conhecê-lo quando chegou ao castelo, achava-o também muito interessante. Já podia imaginar que tipo de conversa teríamos, como ele provavelmente seria o melhor a entender um pouco do título e do cargo que teria se eu o escolhesse. Não devia ser das pessoas mais fáceis de começar a conversar, mas apostaria que era um dos melhores a continuar na conversa.

Descia o último lance de escadas com certa pressa e um pouco de apreensão de chegar na biblioteca quando ele já tivesse saído, quando tive que brecar logo no segundo degrau. Subindo pela direção contrária a mim, estava Trevor. Sua surpresa ao me encontrar pareceu até intrigá-lo pelo jeito que me olhou.

"Olha quem está por aqui," disse, subindo os degraus devagar, enquanto eu descia com um pouco ainda de pressa.

"Cartwright."

"Se não é a herdeira do trono ashlandês," ele se abaixou para me fazer uma reverência, mas eu só passei por ele e continuei descendo. "Ei, eu fiz alguma coisa?"

Parei quando estava a dois degraus abaixo dele. Se minha missão era ter qualquer interação com um pretendente, Trevor seria tão bom quanto Niels. Salvo pelo fato de que eu tinha total intenção de adiar qualquer encontro entre nós dois o máximo que fosse humanamente possível.

"Eu só estou com um pouco de pressa," falei, me virando educadamente para ele, que assentiu.

"Claro," disse, apoiando em seguida com um cotovelo no corrimão, como se tivesse intenção de ficar ali por horas. "Você precisa ir atrás do seu futuro marido."

Não saberia dizer se ele percebeu quando todo o sangue fugiu de meu rosto, mas respirei fundo discretamente e levantei meu queixo na sua direção, me dando a desculpa de que era porque ele estava tão mais alto que eu. Quando, na verdade, só queria me certificar de que não tinha nada na minha expressão que denunciasse meu interesse em considerá-lo como um pretendente.

"Você não acredita mesmo em tudo que colocam nos jornais, não é?" Perguntei, com o tom mais próximo que eu conseguia de indicar que estava era questionando sua inteligência.

Mas Trevor era melhor que isso. E, infelizmente para mim, sinceridade era uma de suas características principais. Ou seja, falar das coisas como são, independente do quanto isso possa afetar as pessoas à sua volta.

"Você realmente acha que eu precisei ler algum jornal para saber?" Ele riu. "Não é minha primeira vez na nossa corte, Lola. E eu ainda apostaria que você mesma foi a responsável por disseminar esse rumor."

Balancei a cabeça. "Você me conhece tão mal, é bastante triste de se ver."

Ele não se deixou convencer. "Vamos lá, de qual outro jeito vocês conseguiriam trazer tantos convidados para cá?" Perguntou. "Tem que admitir que esse mês inútil aqui no castelo não é dos mais divertidos."

Ele estava certo que todas as celebrações do mês não se concentravam somente aqui, ou até mesmo somente em Wentnor, e que raramente alguém vinha desde o começo do mês para ficar até o final, quando os eventos mais importantes aconteciam de verdade. Mas poderia ter sido um pouco mais delicado, não?

"É por isso que eu nunca te vejo por aqui?" Perguntei, em vez de lhe responder, sem me deixar abalar.

Ainda que quisesse adiar qualquer encontro com ele, não pude deixar de notar que ele quase nunca se mantinha no castelo. Desde domingo, não participou de um jantar sequer.

Ele apertou os olhos para mim, me mirando divertido. "Sentiu minha falta?"

"Pelo contrário, comemorei sua ausência," rebati, tentando fingir que não tinha percebido que ele me olhava direto desde que eu tinha me virado para ele.

Para minha surpresa, sua resposta foi levantar as mãos no ar. "Eu admito, tenho passado mais tempo fora do castelo do que aqui. Wentnor é a melhor cidade do mundo."

Revirei os olhos. Ainda que ame meu país, Wentnor era completamente diferente do resto de Ashland e do clima bastante europeu que ainda cultivávamos.

"Você fala isso porque nasceu aqui."

"Por acaso," ele me corrigiu. "Nasci aqui por acaso. Dois meses antes de meus pais voltarem a Holfburg das férias de verão."

"Que é bem melhor que Wentnor, aliás."

Ele sorriu pela discussão que nós já tínhamos tido milhares de vezes, mas que fazia tempo que não tínhamos. E então, antes mesmo de abrir a boca outra vez, só pelo jeito de desviar os olhos na direção do corredor antes de voltar a me encarar, eu soube que ele mudaria o assunto.

"Você sabe que pode falar a verdade para mim, né?" Perguntou, se explicando em seguida: "Sei que está procurando um marido, e eu posso te ajudar, Lola." Na hora, senti o resto do mundo ficar levemente embaçado, só pela possibilidade de ele falar o que eu achava que falaria. "Estava até esperando a hora que você viria conversar comigo sobre isso, aliás."

Engoli em seco, tentando não perceber que ele parecia se aproximar um pouco mais do meu rosto. "Sobre o quê?" Questionei, obrigando meu rosto a não dar indícios de já ter pensado naquela opção.

Quer dizer, para que conhecer outros pretendentes quando eu tinha crescido com um? Quando eu tinha dado meu primeiro beijo escondida embaixo da escada onde estava naquele instante com ele?

Antes de me responder, Trevor ainda me olhou como quem não conseguiria acreditar que eu ainda fingia não entender do que ele falava.

"Sobre você precisar se casar com alguém, oras," ele continuou, quase sussurrando. "Eu sou a pessoa perfeita para te ajudar!" Dessa vez, ele se esticou para trás para abrir os braços e estufar levemente o peito. "Posso conhecer cada cara por quem você se interessar, descobrir mais sobre eles e te contar os podres."

"Certo," foi a palavra que eu apostaria ter saído de minha boca, apesar de não ter sentido na hora qualquer confirmação ou controle sobre ela.

"Posso começar já te avisando que Stefan Dietrich é gay com certeza."

Revirei os olhos, ignorando a sensação pesada na minha cabeça por ter entendido completamente errado aonde ele queria chegar com aquela conversa.

"Você fala isso, porque ele é bonito."

Trevor levou uma mão ao peito. "Eu posso admitir que ele é bonito! E o cara que eu vi ele beijando no banheiro masculino ontem também deve concordar."

Bufei, mais pela frustração de tentar entender que Trevor não se via como um pretendente do que por Stefan. Era só mais uma razão para eu não o considerar, enquanto minha escolha fácil parecia cada vez mais distante.

"Sobre quem mais quer que eu descubra?" E o pior de tudo era que ele se mantinha casual, como se eu me casar com ele fosse uma ideia tão lúdica, que nunca passaria pela sua cabeça.

"Quem disse que eu estava considerando Stefan?" Perguntei, para me ganhar tempo. Minha vontade era de sair dali, mas precisava de mais alguns segundos para me recuperar.

"Até eu o consideraria," Trevor brincou. "Mas é sério," ele se endireitou, como um sinal de que aquela conversa estava para terminar, "me deixe te ajudar. Você já deve estar mega ocupada com todos os problemas do Sul, agora que está aqui."

Aquele, sim, era um assunto capaz de me distrair e interessar.

"Quais problemas do Sul?"

Trevor perdeu qualquer rastro de que estava brincando menos de um minuto atrás e franziu suas sobrancelhas para mim, mais sério do que eu achava que ele conseguiria ser naquele momento.

"O Sul de nosso país é muito mais pobre do que o Norte, princesa," falou, seu tom mais condescendente do que eu gostaria de ouvir. "Imagino que saiba que a maioria das cidades aqui ainda estão longe de serem consideradas de primeiro mundo."

Levantei meu queixo mais no ar. "Claro que sei."

"E que a taxa de desemprego aqui dobrou desde o ano passado," ele continuou, me dando certa raiva de seu jeito de falar comigo como se eu fosse completamente alheia a todos os problemas, ou ao menos fizesse questão de ignorá-los. Como se estivesse me preocupando em procurar um marido por puro capricho.

"Acredite, Trevor, não existe um único problema neste país sobre o qual eu não esteja ciente," apesar de não fraquejar em nenhuma palavra, não era realmente verdade. "Mas ainda não sou a rainha de Ashland."

Apesar de parecer ter muito mais para me falar, ele acabou por só assentir. E então, de um jeito mais intencionalmente bem feito do que antes, se curvou em uma reverência, voltando a subir os degraus da escada para se afastar de mim e continuar no seu caminho.

"E eu falei sério," disse logo que chegava ao topo, depois se virou para me encarar uma última vez. "Você é minha mais velha amiga, Lola. Seria uma honra servir a você e a Ashland uma última vez."

"Uma última vez?"

Ele nem deveria ter percebido o que tinha falado, mas acabou dando de ombros para minha questão. "Já terminei meu ano obrigatório no exército. Não volto nunca mais," completou, me deixando com um sorriso no rosto.

E a culpa de não estar trabalhando durante este mês aqui, quando nosso país ainda tinha tantos problemas a serem resolvidos.



Não sabia quanto tempo tinha se passado, mas, quando voltei a andar na direção da biblioteca, fiz pouca questão de me apressar. Ainda me deixava remoendo o que Trevor tinha falado, sua completa falta de interesse em ser um dos pretendentes. Kyle costumava brincar que nós acabaríamos nos casando quando ainda éramos pequenos, o suficiente para ele me dar meu primeiro beijo e me fazer me apaixonar pela primeira vez, ainda que de um jeito totalmente besta de adolescente. Por que era tão difícil para ele me ver daquele mesmo jeito agora?

Estava prestes a passar pelas portas da biblioteca, já me obrigando a deixar todo o assunto de Trevor de lado, quando uma criada se apressou para se colocar na minha frente.

"Alteza," ela disse, se abaixando para me fazer uma reverência rápida sem olhar em meus olhos. "Srta. Simpson requisita sua presença no banheiro feminino."

Aquela era a última coisa que eu esperava de qualquer pessoa, até mesmo de Clarissa. Mas, na hora, soube que era porque ela ainda estava se escondendo. Respirei fundo por toda sua situação e só pedi para que a criada me indicasse qual era o banheiro.

"Eu já tive reuniões em diversas salas estranhas na minha vida," falei, entrando nele e encontrando Clare sentada em um sofá no canto de frente às pias, "mas esta definitivamente ganha."

Ela relaxou visualmente ao me perceber ali, soltando os ombros. "Eu não sei o que fazer," admitiu, enquanto eu me sentava ao seu lado.

"Deixe-me adivinhar, Kyle?" Assim que falei seu nome, ela franziu as sobrancelhas ao máximo e assentiu. "Os irmãos Cartwright estão dando bastante trabalho hoje, hein."

Sua expressão ficou confusa por um segundo, - o suficiente para ela decidir que a curiosidade de descobrir do que eu estava falando não valia tudo que precisava desabafar.

"É uma bola de neve, Lola. É uma terrível bola de neve que eu não sei parar!"

"Mentir sempre é."

"Mas é bem pior do que eu achava que seria," ela puxou os pés para cima do sofá e abraçou os joelhos. "Tive que falar para todo mundo da cozinha fingir que tinha uma Karen trabalhando por ali."

"Tá brincando?"

"Jonah disse que Kyle tinha perguntado por ela-"

"Jonah?"

Clare até entortou o rosto antes de responder. "O cozinheiro principal. Você não o conhece?" Dei de ombros, então ela continuou. "Ele me garantiu que Kyle não pergunta sobre quem ela é, mas que quer saber onde ele está! E agora todo mundo diz para ele vir falar comigo, mas o que eu vou dizer?"

Respirei fundo, segurando-a pelos ombros. "Que a Karen não existe e que era você no baile."

Ela arregalou os olhos na hora. "Você é louca? De jeito nenhum! Já decidi que nunca vou admitir."

Revirei os olhos.

"Minha ideia era dar o máximo de tempo possível entre a festa e a próxima vez que ele me vir, só para me certificar de que não vai se lembrar de nada daquela noite," sua teoria era completamente sem sentido, e o mais assustador era o quanto ela acreditava que daria certo. "Mas agora ele está insistindo em me encontrar de qualquer jeito! Se eu não conhecesse os criados e os guardas melhor que ele, estaria perdida."

Na hora, um pensamento me veio, uma simples curiosidade que nada tinha a ver com o assunto:

"Você conhece um tal de Marc Hynes?"

Clare me olhou de um jeito quase ofendida, de tão surpresa. Quer dizer, como eu me atrevia a falar sobre algo que não fosse o Kyle e seu pânico naquela hora?

"Sim, ele é um dos cozinheiros novos aqui," falou, balançando a cabeça. "Acho que é quem cuida da confeitaria e da padaria. Por que você está me perguntando isso?"

"Só para saber."

Estava claro em seu rosto que ela tinha muitas questões para mim ainda, mas as dispensou outra vez para voltar ao que realmente lhe importava.

"Tem como a gente focar agora?" Pediu. "Eu não sei o que eu faço!"

"Já falei mil vezes o que você deveria fazer!" Me defendi. "Continuar me pedindo a mesma coisa e esperar que eu responda de jeitos diferentes é a nova definição de insanidade, Clare. E não acho que este diagnóstico esteja tão longe assim de ser verdade."

Ela baixou as pernas com tudo. "Finge que contar a verdade para ele não é uma opção, porque não é. O que eu faço?"

Me virei para a frente, só para apoiar as costas no encosto do sofá. "Você já disse que vai se esconder, continua assim."

"Mas e quando ele me encontrar? O que eu falo?" Sua voz estava bastante aguda. "E se ele me encontrar assim que eu sair daqui?"

"Diz que você nunca ouviu falar nessa Karen aí," respondi.

Ela fez uma careta. "Já disse para os criados confirmarem que eu sou a única pessoa que a Karen conhece de verdade."

Me virei para olhar para ela na hora com cara de quem não conseguia acreditar que tinha mesmo feito aquela besteira.

"Foi a melhor ideia que eu tive, tá?" Se defendeu. "Na época, meu problema era conseguir controlar as mentiras que os outros falariam dela. Foi meu jeito de ter certeza de que ele não descobriria que ela não existe."

"Só Kyle mesmo para cair nessa. Algum dia você vai ter que me explicar por que gosta tanto dele assim!"

Na mesma hora em que falei isso, ela levou as mãos ao rosto. "O que eu faço?" Perguntou de novo, mais como se pensasse em voz alta do que realmente se direcionasse a mim.

"Entre em um DeLorean e volte no tempo."

"Este é o melhor filme que já foi feito," ela nem tirou as mãos do rosto para defendê-lo, o que foi bastante fofo e característico da sua parte.

"Ou diga que ele acabou de desencontrar com ela," assim que falei, em compensação, Clare abaixou os braços para me olhar. "Diga que a Karen acabou de ir tomar banho, que foi ao mercado, que está empinando pipa no telhado do castelo," para esta última sugestão, Clare apertou os olhos, a estranhando. Era essa minha intenção ao dizer algo tão ridículo, mas que ela ainda tinha grandes chances de usar no estado desesperado em que se encontrava. "Se ele é tonto como é, vai demorar um bom tempo para perceber que ela não existe."

"Será?" Clarissa parecia mais calma, claramente considerando minhas ideias.

"Ou você pode só dizer que Karen tem namorado e que ele deveria desistir dela de vez. E talvez sair com você."

Ela mordeu o lábio, sem dar atenção à minha provocação. "Não, acho que ele iria querer falar com ela de qualquer jeito. Sei lá, talvez tentar convencê-la de que ele é melhor que o namorado inexistente."

"Ela é inexistente. Esta é uma conversa de loucos," me virei para Clare, meu tom acusatório. "Você está me levando junto nessa sua insanidade!"

Ela até fez cara de quem sabia de sua culpa, mas não podia evitá-la. "Me distraia," pediu. "Me faz pensar em outra coisa, por favor. O que aconteceu com Trevor?"

Soltei todo o ar que tinha e voltei a me virar para a frente e me apoiar no encosto. "Ele sabe exatamente o que eu estou fazendo, sabe que só estou aqui para encontrar um marido."

"Todo mundo sabe, Lola. Estava no jornal."

"Mas ele, em compensação, não consegue nem pensar na possibilidade de ser um pretendente." Antes que ela precisasse perguntar, eu expliquei o que ele tinha falado. Falei de Stefan e de como Trevor tinha se voluntariado para descobrir mais sobre os outros, aproveitando para garantir que eu era sua amiga. E só amiga.

Clare não pareceu se abalar. Pelo contrário, quando terminei de contar, estava ainda mais relaxada. "Lola, ele não está te dispensando," falou. "Só está tentando conhecer a concorrência."

"Não parecia."

"É claro que estava. É impossível que ele não tenha pensado em se casar com você nem uma vez na vida. Por favor, né? Vocês estavam praticamente prometidos quando criança."

"Então ele só mudou de ideia," rebati. "Pensou bastante sobre o assunto e decidiu que não tinha o menor interesse em se casar comigo e agora está tentando deixar isso do jeito mais claro possível sem ter que realmente falar as palavras."

Mas não consegui convencer Clare. "Eu ainda não desisti dele. Tenho certeza de que muita coisa ainda vai acontecer."

"Você não consegue desistir de ninguém, não acho que seja muito parâmetro."

Ela ficou um tanto inconformada. Até abriu a boca para rebater, mas a porta do banheiro foi escancarada com tudo na mesma hora, fazendo com que nós duas déssemos um salto de susto.

"Princesa, graças a Deus! Onde vocês estavam, caramba?!" Madison correu até nós, deixando sua frustração ganhar de seus modos quando pegou em minha mão e me puxou com ela para sair dali. "Você precisa vir comigo."

"Maddie! O que você pensa que está fazendo?!" Meu tom saiu bem mais autoritário do que eu planejava, mas ela não se importou.

Só parou de me puxar na metade do caminho para sair dali e me mirou, tentando passar toda a gravidade do problema em seus olhos.

"Eles sabem, Lola," disse, sua voz tão trêmula quanto eu me senti com o baque de suas palavras. "Eles sabem sobre o rei."

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