A Herdeira do Trono

By LauraaMachado

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E se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? De... More

Nota da Autora
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Pelo Bem do Trono
Capítulo 2 - De Todas as Pessoas do Mundo
Capítulo 3 - Baile do Século Vinte e Um
Capítulo 4 - Uma Ordem de sua Princesa
Capítulo 5 - Estou Aqui Por Você
Capítulo 6 - Convicções e Princípios
Capítulo 7 - Festa com Máscaras
Capítulo 8 - Caminho de Volta para Casa
Capítulo 9 - Celebração da Fênix
Capítulo 10 - O Maior Segredo do Mundo
Capítulo 11 - Reconhecimento
Capítulo 12 - Só o Primeiro Encontro
Capítulo 14 - Sua Única Opção
Capítulo 15 - Eles Sabem
Capítulo 16 - Seu Direito e Dever
Capítulo 17 - Inapropriado para Princesas
Capítulo 18 - Você Nem Imagina
Capítulo 19 - Todas as Formas de Comunicação
Capítulo 20 - Uma Questão de Honra
PERSONAGENS
Explicações

Capítulo 13 - Uma Garota Conversando com um Garoto

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By LauraaMachado

"Você sempre faz isso. Escolhe um pequeno detalhe sobre o cara e o transforma em um defeito enorme e inaceitável, só para não ter que conhecê-lo melhor."

Franzi minhas sobrancelhas, contrariada e confusa ao mesmo tempo. "Sempre?! Como assim, sempre?!"

Clare respirou fundo, bufando mais que qualquer coisa, e se deixou cair na poltrona à minha frente. "Não me odeie," alertou de começo, me deixando curiosa e um pouco apreensiva pelo que viria em seguida. "Mas, desde Reid, você sempre procura uma desculpa qualquer para desconsiderar algum cara romanticamente."

"Uma desculpa qualquer?! Esquecer-se de que, ao virar rei deste país, ele teria que realmente governá-lo não é uma desculpa qualquer."

Clare revirou os olhos. "Claro que é. Vocês estavam no primeiro encontro, Lola. Nem deveriam estar pensando no peso que tudo poderá chegar a ter."

"Ele acha que Ibiza é melhor que Ashland," olhei para cima, como se fosse encontrar uma explicação para isso no teto. "Ibiza, pelo amor de Deus!"

Mas ela não pareceu entender como aquele comentário era ridículo. "Patriotismo não é uma coisa ruim. Muito pelo contrário."

"Patriotismo pelo país errado," rebati, percebendo meu erro na hora. Ele não era de Ashland. Como eu poderia exigir que fosse patriota por algo além de sua pátria?

Ela também não deixou passar: "Você vai mesmo crucificar um cara por amor ao seu próprio país? Lola, por favor, esta é uma das coisas que vocês têm em comum. Aproveite."

Foi minha vez de revirar os olhos, mas só porque eu não tinha uma resposta. Até me deixei escorregar um pouco na cadeira e perder minha postura, o que eu normalmente abominava.

"Você precisa relaxar mais, se deixar conhecer os pretendentes sem ficar sempre os testando," ela continuou.

"Testando?!"

"Sim!" Para compensar minha falta de postura, Clare se sentou ainda mais ereta. "Eles são pessoas, Lola. Com defeitos, qualidades, sonhos e tudo o mais. Você precisa conhecê-los inteiros, não tomar uma decisão nos primeiros cinco minutos que passar ao lado deles. Eu me recuso a te deixar desistir de qualquer um, até mesmo Miguel!"

Me sentei direito, a mirando com tanta intensidade quanto ela me olhava, pronta para lhe mostrar que as coisas não eram tão fáceis quanto ela imaginava.

"Se fosse possível conhecer alguém completamente, Clare, eu nem estaria nesta posição," falei. "Ou, pelo menos, teria percebido que Reid estava longe de ser sincero ou fiel antes de aceitar me casar com ele."

Ela entortou a boca, pensando. "Nem todo mundo é duas-caras e está aqui só para te passar a perna."

Respirei fundo, relaxando outra vez. "Eu sei," admiti. "Mas sou péssima em tentar conhecer alguém. Ainda mais depois de ter quase me casado com um cara que só queria virar rei para depois colocar outra mulher no trono."

Clare fez um gesto no ar, desmanchando o assunto com a mão, antes mesmo de eu terminar a frase. "Vamos parar de pensar em Reid," pediu, como se lesse meus pensamentos. "Você precisa mesmo ser um pouco mais aberta a eles, Lola. Não se preocupe, ninguém acha que você vai entregar a coroa para o primeiro que te fizer rir ou te roubar um beijo." Assenti, ainda que não quisesse concordar completamente. "Então, aproveita para se soltar um pouco, falar de coisas menores. Nada de discutir situações políticas, relações internacionais ou qualquer coisa assim! Foque em comida favorita, arte, atividades divertidas. Quando estiver com eles, finja que você não é a princesa de Ashland, que está tentando assegurar sua posição na linha de sucessão do trono. Finja que é só uma garota conversando com um garoto. Duas pessoas tentando se conhecer. Fácil assim."

"Certo," foi tudo que consegui falar. "Fácil."



Já fazia dois dias desde meu primeiro encontro com Miguel, mas, depois de tomar café com Alaric, eu tinha me mantido quase o tempo todo refugiada com Clare dentro do meu quarto. Tinha criado a desculpa de que não me sentia muito bem e que ainda tinha um mês para conhecê-los. Prometi para mim mesma que daria uma chance a eles todos de verdade, se ao menos me permitisse mais um dia em meu quarto sem qualquer preocupação urgente.

Na primeira terça-feira do mês da Celebração da Fênix, tive que sair de meus aposentos e encarar o próximo encontro. Desta vez, usava um vestido ajustado azul marinho que ia até meus pés, salvo pela fenda que aparecia desde meus joelhos. Ele tinha sido o mais próximo de um consenso entre Clare e eu, de uma cor que ressaltava meus olhos, feminino o bastante para eu parecer mais aberta a um encontro, mas básico o suficiente para eu usá-lo de dia sem que ficasse com cara de fantasia.

Respirei fundo uma última vez antes de ir falar com o próximo pretendente da lista. De todos, ele era o que parecia mais inofensivo. E era exatamente por isso que tinha escolhido ir atrás dele.

Eu já estava prestes a me sentar ao seu lado quando Géraud finalmente me percebeu ali. Deu um pequeno salto com a minha presença, fechando rapidamente o livro bastante grosso que lia, e me olhou de lado, me provando que, até então, achava que eu era uma pessoa qualquer.

"Oh," soltou, o susto de me reconhecer ficando claro em seu rosto e no modo desajeitado que teve ao se levantar depressa. "Alteza."

"Olá," foi a primeira coisa que me veio à cabeça e, ao invés de me deixar pensar no quanto parecia aleatório começar daquele jeito, principalmente com ele tentando se adequar às regras de etiqueta, segui em frente. "O que você está lendo?"

Ele olhou para o livro e, apesar de meu interesse, o escondeu atrás das costas em seguida, usando a outra mão para domar o cabelo castanho que caía sobre seus olhos.

Pigarreou antes de responder: "Guerra e Paz."

Eu assenti, sentindo aquela posição, nós dois de pé um para o outro, terrivelmente desconfortável. Então, me sentei.

"Ótima escolha," falei, tão casualmente quanto imaginaria que as pessoas eram em encontros.

Géraud olhou para o banco de madeira por alguns segundos com receio, até ameaçou se sentar e se impediu a tempo de se afastar só mais alguns centímetros de mim. Parecia procurar em seu cérebro todas as regras que já tinha escutado sobre como se portar na frente de uma princesa e sentir que estava se esquecendo de alguma extremamente importante.

Quando finalmente se sentou ao meu lado, eu lhe sorri, quase não conseguindo que ele visse, de tão ocupado que ainda estava, tentando se ajeitar. Nossa vista dali era bonita, pois estávamos em um seguimento do corredor que costumava passar os dias daquele mês de portas abertas, deixando o jardim à disposição de quem quisesse admirá-lo sem ter que sair de dentro do castelo. Eu aproveitei para olhar para lá, dando tempo a Géraud de se sentir confortável na minha presença.

"A senhorita, hãn, já leu?" Assim que ouvi sua voz, me virei outra vez para ele.

"Por favor," pedi, fazendo uma expressão até bastante séria, "não me chame de senhorita. Me trate como uma velha amiga. Afinal, você é meu pre-" engoli a palavra na hora, a corrigindo com pressa em seguida, "convidado."

"Mesmo?" Perguntou, me dando a impressão de que não se direcionava a mim, e sim à ideia de me tratar como faria com qualquer amigo.

"Claro," falei, confirmando e lhe fazendo sorrir, ainda que de um jeito incerto. "E eu já li Guerra e Paz, sim," completei, respondendo sua pergunta.

O modo como me olhou, reagindo com certa admiração inesperada pela minha resposta, me fez relaxar um pouco mais.

Tinha algo em Géraud que parecia terrivelmente convidativo, uma falta de pretensão e uma humildade sincera que eram raras ali e que me deixaram confortável o suficiente para admitir: "Eu tenho uma fraqueza enorme por romances históricos e esse foi um dos primeiros que li."

Ele baixou a cabeça, deixando que seus olhos analisassem detalhes do livro que segurava. Já não parecia tão preocupado em tentar alisar com os dedos sua camisa amarrotada e dobrada até os cotovelos.

"Quantos anos você tinha?" Quis saber, me dando esperanças de que tudo estava indo tão bem quanto eu imaginava e que ele estava mesmo interessado em manter aquele assunto.

Nem tentei conter meu sorriso, ainda que ele não me olhasse muito. "A primeira vez que tentei ler, devia ter onze anos," admiti. "Mas desisti antes de passar da página vinte. Aliás, tentei ler e desisti várias vezes depois disso. Era demais para mim, ainda que eu quisesse ter atitudes e gostos de idades mais avançadas."

Ele também sorriu, me olhando de lado rapidamente e me incentivando a continuar:

"Quando li mesmo do começo ao fim, já tinha quinze anos, era bem diferente," não me deixei concluir que já tinha tido que aprender a viver sem minha mãe e que as coisas não eram mais tão fáceis como eu imaginava antes. "Foi quando minha paixão por coisas históricas começou de verdade."

"Eu adoro História," ele confessou, já me fazendo gostar ainda mais dele.

"Eu também," concordei. "Mas você estudou artes, não?"

Ele fez uma careta assim que ouviu a pergunta, uma que entendi como um bom sinal, como ele também gostando daquela conversa o bastante para não ter que forçá-la ou mentir detalhes com pouca importância.

"Não?" Eu quis confirmar.

"Estudei sim," ele acabou falando, passando a mão pelo cabelo como um jeito de distrair seu próprio nervosismo. Já virava seu corpo na minha direção, como eu fazia com ele para demonstrar minha dedicação àquela conversa. "Mas foi um pouco sofrido, não sou muito bom fazendo coisas com a mão. Na verdade," continuou antes que eu fizesse qualquer comentário, "já até tinha pensado em estudar mesmo História, mas minha parte favorita sempre seria história da arte."

"Eu gosto das duas," falei. "Gosto de comparar as roupas, as pinturas e os prédios aos momentos históricos. E, o que é um pouco vergonhoso, quanto mais tiver a ver com a história da realeza de qualquer país europeu, mais eu gosto."

Ele riu de um jeito descontraído e ao mesmo tempo um pouco contido que o deixava ainda mais adorável. Cheguei a pensar que Clare teria orgulho de mim, de como eu estava só focando no assunto e não tentava analisá-lo na minha cabeça com a coroa de meu pai na sua.

"Por que seria vergonhoso?" Questionou, me olhando de lado de um modo bastante compreensivo e amigável. Se ao menos todos os pretendentes fossem tão despretensiosos e convidativos quanto ele, tudo seria mais fácil!

Dei de ombros, deixando que meus olhos passeassem pela vista que tinha dos jardins e os convidados que podia ver. Foi impossível não perceber Alaric entre eles, sentado um banco próximo o suficiente da porta para me incomodar um pouco.

"Acho que as pessoas poderiam ver como vaidade da minha parte gostar de histórias assim, não sei," falei. "Mas o que eu gosto mesmo é de ver a diferença entre algumas realezas para a nossa, principalmente da diferença entre o que acontecia no passado e o que significa ser da realeza no século vinte e um," quando me virei para Géraud outra vez, ele assentiu como se absorvesse o que eu tinha falado e considerasse aquela opinião pela primeira vez. "Infelizmente, existem poucos livros de ficção sobre dinastias antigas ashlandesas. Poucos livros, filmes ou séries."

"Acho que não existe nenhum sobre a Bélgica," ele rebateu, me fazendo sorrir. Se já não soubesse de sua nacionalidade, o jeito que seu sotaque brincava com suas palavras seria o suficiente para denunciá-lo.

"Infelizmente, aliás," respondi. "Nisso, temos que admitir que o Reino Unido ganha. Eles sabem fazer mini séries de época maravilhosas. E eu tenho todas elas."

Só percebi que olhava para ele sem desviar há tempo demais quando ele mesmo baixou a cabeça para o livro que ainda estava em suas mãos. Me virei para o jardim discretamente, buscando algo que o aliviasse da sensação de ser observado, mesmo que eu quisesse observá-lo. Meus olhos encontraram Alaric outra vez, agora virado na nossa direção, deixando claro que nos via ali.

Foi impossível não estranhar, mas foquei em outra coisa:

"Aliás, eles fizeram recentemente uma sobre Guerra e Paz." Eu já estava começando a ficar desconfortável com a presença dele nos observando. "São só alguns episódios, mas foram muito bem feitos."

Sem perceber que nós estávamos cada vez menos sozinhos, Géraud continuou sem preocupações:

"Eu adoraria poder ver."

Tive uma ideia na hora, pelo menos de como fugir dos olhos curiosos de Alaric. "Se você não estivesse lendo o livro agora, eu te mostraria," admiti, me virando para Géraud.

Seus olhos caíram sobre o objeto, mais desanimado do que eu esperaria que ficasse. Seria realmente ótimo sair dali e ir à nova sala de cinema do castelo. Tanto, que meu cérebro começou a se vasculhar por ideias de outras séries que ele poderia gostar de ver.

"Agora quero passar todos os minutos de cada dia lendo para acabar o mais rápido possível," confessou.

Tive que baixar meu rosto para não me deixar sorrir demais. A diferença entre ele e Miguel era gritante e, apesar de não ter falado com todas as palavras, sua entonação denunciou que a maior parte de seu interesse em ver a série seria estar ao meu lado. Eu poderia estar errada, mas seu rápido olhar na minha direção me dizia que não estava.

Até entortei meu sorriso quando ele voltou a baixar o rosto. Fazia muito tempo que não tinha qualquer encontro que não fosse um desastre ou em que o cara não estivesse declarando abertamente seu interesse em mim, e era difícil saber direito como agir. Aquela era verdadeiramente uma conversa entre uma garota e um garoto, sem pretensões ou promessas. Só o primeiro passo para que se conhecessem. E eu não queria que acabasse tão cedo.

"Sei que não parece a ideia mais divertida do mundo," comecei, "mas, se você quiser, poderíamos ir assistir uma série sobre a Revolta da Páscoa na Irlanda." Ele voltou a levantar o rosto para mim, agora com uma expressão adorável de confusão em seus olhos. "Uma de minhas damas me trouxe e ainda não tive tempo de ver," expliquei. "Quer assistir comigo?"

Seu rosto se iluminou com a nova possibilidade, apesar de suas mãos ainda denunciarem seu nervosismo. "Adoraria."



Nosso caminho até lá foi registrado por uma câmera que nos seguiu um pouco de longe. Eu contei que aquela série, Rebellion, era a primeira que eu veria sobre a Irlanda naquele gênero e que Alicia, minha dama, tinha me alertado sobre não ser das mais emocionantes que eu já tinha visto. Mesmo assim, Géraud se manteve bastante interessado em descobrir um pouco mais sobre a revolta que começou a libertar o país do Reino Unido. Mesmo depois de eu garantir que tinha outros DVDs e que não precisávamos necessariamente assistir àquele, ele ainda queria dar uma chance a ele.

Eram cinco episódios de quase uma hora. Cinco horas garantidas para nós dois passarmos juntos dali para a frente.

A nova sala de cinema do castelo tinha sido renovada especialmente para mim. Por meu pedido - e das meninas, - uma pequena e estilosa cozinha tinha sido montada no fundo dela, com tudo que nós poderíamos querer durante um filme ou uma série. Assim que indiquei a porta para entrarmos, Géraud correu para abri-la para mim. Eu já estava sorrindo quando, ao me virar de volta para ele lá de dentro, percebi que a câmera também estava logo ali.

O cara que a segurava pediu para filmar nos dois lá dentro, mas eu só aceitei que fizesse algumas cenas rápidas no começo, sem som. Géraud parecia tão desconfortável quanto eu quando o cara nos filmou entrando, comigo explicando as renovações e a tecnologia disponível para nós. Me senti como uma guia turística e desnecessária. Só quando nós dois chegamos à cozinha e eu procurei o milho de pipoca mais próximo que Géraud pediu para o cara sair.

"Obrigada," falei assim que ele fechou a porta e nós ficamos sozinhos. "Preciso deixar que eles filmem a Celebração e principalmente a mim, mas nunca é minha ideia de divertido."

"Eu entendo," disse enquanto andava de volta até mim. "Você faz sua própria pipoca?" Perguntou, estranhando meu instinto de colocá-la dentro da máquina.

"Normalmente, não," admiti. "Minhas damas fazem por mim."

Ele assentiu, inutilmente levando as mãos aos dois cotovelos para empurrar para trás uma camisa que já tinha chegado em seu limite. "Como posso ajudar?"

Eu fechei a máquina, apertei os botões necessários para ela começar a funcionar e me virei para ele. "Hm," fiz, pensando ao mesmo tempo que passava os olhos pelos armários pretos da cozinha. "Acho que deveríamos começar decidindo os sabores."

Ele olhou também em volta, colocando as mãos atrás das costas. Queria tanto acreditar que já se sentia mais confortável, mas precisava aceitar que seria impossível não ficar nem um pouco nervoso.

Tive que sorrir quando ele perguntou: "Precisa ser um só?"

"Absolutamente não," falei. "Podemos fazer uma de sal, uma com queijo, outra com caramelo e uma quarta com alguma outra coisa doce."

Ele me olhou, dando de ombros de um jeito adorável em seguida. "Eu tenho uma confissão a fazer," disse. "Sou um pouco apaixonado por chocolate."

"Um pouco?" Questionei, já que seus olhos denunciavam que sua paixão era mais forte do que tinha admitido.

Ele sorriu, sabendo que eu o entendia.

"Sal, queijo, caramelo e chocolate?" Repeti para me certificar de que não estava me esquecendo de nada.

"Perfeito," respondeu, e nós passamos os próximos vinte minutos esbarrando um no outro naquela pequena cozinha para conseguirmos derreter o queijo e o chocolate e o açúcar que se transformaria em caramelo.

Cheguei a me esquecer de nosso objetivo, ou seja, da pipoca e da série, de tão entretidos que ficamos ao admitir nossos amores alimentícios. Falei de minha paixão por comidas de padarias e confeitarias e admiti minha fraqueza por algodão doce de todos os sabores. Até me deixei observar os traços clássicos e harmoniosos de seu rosto enquanto ele sorria à minha confissão e me contava de como precisava comer batata frita pelo menos uma vez a cada três dias, senão enlouqueceria.

Géraud era realmente bonito, mais do que ele parecia saber. Era magro, como Marc, mas mais baixo. Tinha os cabelos e os olhos castanhos e, à primeira vista, talvez passasse despercebido. Mas sua beleza tão inegável combinada com uma personalidade cativante o deixava ainda mais atraente.

Estava apoiada em um dos balcões, o assistindo tirar o caramelo do fogo, quando percebi que ele era o pretendente perfeito.

"Não garanto que esteja bom," ele disse, já se desculpando caso precisasse em um futuro próximo.

"É açúcar derretido," falei, "não tem muito como dar errado."

Ele olhou por cima do ombro na minha direção, um movimento que estava cada vez mais se dando a liberdade de fazer, e logo voltou à sua tarefa.

"Sou conhecido por estragar as receitas mais fáceis," admitiu.

Ele não era mesmo a pessoa mais habilidosa que eu já tinha visto na cozinha, tendo sido responsável por derrubar vários utensílios no chão e até alguns pedaços de chocolate no fogão. Mas ainda não trocaria aquele momento por pipocas impecáveis feitas por um chef famoso. Não era tanto o sabor que importava naquela hora.

Ele não só era o pretendente ideal, como eu tinha a impressão de que aquele encontro seria perfeito. Exatamente como devia ser, tanto para os parâmetros da Clare, quanto para os meus.

"E agora?" Ele disse, sem perceber que eu o observava e analisava tanto. "O que falta?"

Fui até seu lado para girar a colher eu mesma e sentir a consistência do caramelo, que tinha demorado muito mais para ficar pronto do que eu tinha antecipado. "Perfeito," falei, e ele pareceu realmente orgulhoso. "Agora só falta jogar em cima das pipocas."

Eu andei dando outras mexidas, por pura vontade e admiração de como aquele caramelo estava lindo e no ponto perfeito, quando ele deu alguns passos para trás. Ele me olhava com certa atenção e um sorriso calmo no rosto, o que deveria ser bom, mas acabou se tornando distração suficiente para que ele não visse onde estava se apoiando. Só percebeu quando seu braço encostou na máquina de pipoca, que se mantinha quente por ainda estar ligada, e soltou uma exclamação de dor.

Larguei da panela e da colher na hora, dando o único passo que precisava para chegar até ele e ver quanto tinha se machucado. A pele do braço, do cotovelo até perto do pulso, ficou bastante vermelha bem rápido.

"Doeu?" Perguntei, por puro instinto, já que ele claramente tinha reclamado da dor.

"Mais ou menos," disse, sem parecer querer admitir o quanto realmente o incomodava. Quando me deixei tocar em uma parte machucada e ele recuou, acabou falando: "Tá, dói um pouco. Mas podia ser pior."

Eu sabia que minha ideia de encontro perfeito estava rapidamente indo por água abaixo, mas não me importei. Teríamos tempo para repetir e sua pele ficava mais vermelha a cada segundo, aumentando também minha preocupação.

Sem que ele me desse essa permissão, o puxei pelo pulso para se aproximar da pia e colocar o braço embaixo d'água.

"Você precisa ir à enfermaria," falei depois de alguns minutos, mas ele balançou a cabeça. "É sério."

"Eu posso ir depois," ele disse, ainda teimoso, tirando o braço como se estivesse novo. "Não é tão grave assim. Eu quero ver a série."

Eu já estava à sua frente, mas fiz questão de focar seu rosto, o segurando pelos ombros. Era um toque mais próximo do que ele parecia estar acostumado a ter logo no primeiro encontro - ou o que quer que ele pensasse que estávamos tendo, - mas não me importei. Queria que ele me olhasse nos olhos e entendesse o que disse em seguida:

"Não pense na série. Nós podemos ver depois, ainda hoje mesmo. Mas não quero que veja com dor. Eu vou com você à enfermaria."

Ele balançou a cabeça, e eu tive que me perguntar se teimosia era uma de suas características principais. Mas, para a minha surpresa, respondeu:

"Não precisa, eu vou sozinho." Fiz menção de protestar, mas ele foi mais rápido: "Só me fala onde é, que eu vou."

Assenti, ainda que relutante. Se ele não estava confortável comigo o acompanhando até lá, eu tinha que entender. Não queria pressioná-lo, nem nada assim, mas ainda precisava admitir uma pequena decepção por não me deixar ir junto.

Assim que eu mostrei no mapa do castelo, que ele estranhamente carregava no bolso, onde ficava a enfermaria, Géraud me falou que entenderia se eu quisesse adiar o encontro para outro dia. Mas eu lhe garanti que o esperaria ali, preparando a pipoca e o DVD. Não usei essas palavras, mas a verdade era que me recusava a aceitar que aquele encontro incrível terminaria assim. Então só deixei que ele fosse com a promessa de que voltaria assim que possível.

Não era verdade, é claro, mas senti que tinha estado segurando o ar desde que ele tinha se queimado, pois soltei todo o que estava em peito quando fiquei sozinha. Já tinha até dado as costas para a porta quando a escutei se abrindo outra vez e me preparei para encontrar Géraud ali, tendo mudado de ideia sobre eu o acompanhar.

Mas, para minha surpresa - ou talvez nem tanto, era Alaric quem estava ali.


Nota da autora:
Antes de mais nada, quero pedir desculpas por não ter conseguido ainda responder os comentários de vocês! Vou me esforçar para responder todo mundo dentro dos próximos dias, mas a verdade é que ando sem tempo e acabo dando prioridade para escrever!
Enquanto não consigo responder, estou dedicando cada capítulo a quem deixar um comentário especial no capítulo anterior!

Por último, só queria avisar que a história da Lola com o Reid, sobre a qual a Clare menciona no começo desse capítulo, está no conto extra Tormenta, postado completo no meu perfil (lauraamachado). É interessante ler, apesar de que eu já vou explicar um pouco da história dele durante essa! Ou seja, é realmente um conto extra!
Espero que vocês estejam gostando! Deixem suas opiniões nos comentários e votem em todos os capítulos se estiverem!


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